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A menina que doa livros na rua

30 de maio de 2016

O relato dessa história começa quando a avó materna do fotógrafo Paulo Pampolin trocava por livros os créditos dos carnês do Baú da Felicidade – uma das marcas mais conhecidas do Grupo Sílvio Santos.

Os livros eram entregues para a mãe do Paulo, que lia as histórias para ele e seus sete irmãos. “Éramos uma família bastante humilde, meu pai foi caminhoneiro e minha mãe sempre acreditou muito nos livros. Eu a fazia ler tanto para mim que decorava as histórias”, relembra.

Mesmo nas condições difíceis da época, a mãe de Paulo, percebendo o quando o filho gostava de leitura, permitia que ele escolhesse quais os livros e quantos desejasse e os pagava com a venda de gelinho – um picolé caseiro preparado dentro de pequenos sacos plásticos.

Tempos depois, o leitor voraz se tornou o pai de uma garotinha que completa 10 anos neste 1º de junho, bastante conhecida por doar livros na rua. Como Paulo repetiu o exemplo que aprendeu com a mãe, de oferecer à filha acesso irrestrito aos livros, depois de lidos eles começaram a se acumular na estante. Foi então que Giovanna Zambaldi Pampolin pensou em uma solução, que logo se tornou o projeto “A menina que doa livros”.

Giovanna ganhou do pai o primeiro livrinho para brincar aos 5 meses. Desde então, nunca faltou leitura, exemplares distribuídos por toda a casa e, desde o projeto, entregues por eles aos domingos em um viaduto bem conhecido de São Paulo, o Minhocão.

Paulo conta que Giovanna é cercada por uma família de adultos leitores. Além dele, mãe, avó, a atual esposa de Paulo, todos influenciaram para que Giovanna desenvolvesse o hábito da leitura. Conheça mais dessa história na entrevista que Paulo concedeu ao Mobilizadores.

Rede Mobilizadores – Como aconteceu a iniciativa “A menina que doa livros”?

R.: A Giovanna passa um final de semana comigo, outro com a mãe. Em um dos finais de semana que ela veio para casa, ela me disse que estava com a estante cheia de livros que ela já tinha lido. Ela disse que queria doar os livros.
Sugeri levar em uma biblioteca pública, mas ela disse que queria doar na rua. Para Giovanna, se levasse os livros para uma biblioteca, eles sairiam de uma estante para ficar em outra e isso ela não queria. “Na rua – ela disse – vou entregar os livros para quem vai ler”.

Aos domingos, nós costumamos passear no Minhocão, um viaduto em São Paulo que é fechado para os carros neste dia da semana. Além de ser o lugar que a gente frequenta para passear de bicicleta, gosto de lá porque é uma área onde existe muita diversidade. Pessoas de todas as classes sociais, todos os credos religiosos, todos os gêneros. E é uma convivência muito saudável, eu gosto de levar a Giovanna para conviver com essa diversidade. Com isso, se cria o respeito por aquilo que não é igual a você.

Voltando aos livros, na época, minha filha estava lendo o livro “A menina que roubava livros”. Inspirada nele, ela escreveu em uma cartolina “A menina que doa livros”. E em outra cartolina, “livros grátis”, “pegue o seu”, frases do gênero.

Enchemos um carrinho de feira de livros – delas e meus – e fomos pela primeira vez. No Minhocão, colocamos as cartolinas espalhadas e os livros no chão.

Rede Mobilizadores – Como foi a reação das pessoas?

R.: Nas primeiras vezes, as pessoas achavam que era pegadinha, que tinha câmera escondida. Livros novos, claro, que nós acabávamos de ler mas estavam intactos. Então as pessoas não acreditavam que era para doação.
A única condição que a Giovanna sempre impôs para as pessoas é a de que elas devem ler o livro e depois doar para outra pessoa, para não quebrar essa corrente de doação. Então são livros para circular.

As pessoas questionavam. “Você comprou esses livros e vai doar?” Sim, vou. “Mas livro é caro!” E eu sempre respondo que um livro só é caro se ele for lido por uma única pessoa. Quanto mais pessoas lerem o mesmo livro, mais o preço de dilui.

Rede Mobilizadores  – É uma boa reflexão.

R.: Sim, depois as pessoas foram se acostumando com a presença da Gigi. O interessante é que quando a história se tornou conhecida e surgiram os primeiros jornalistas, quando começou a aparecer muita gente, a Giovanna não entendia porque a imprensa queria falar com ela. Ela me dizia: “Papai, só porque eu doo livro?” Ela não via nada demais ou pensava que estava fazendo algo diferente ou de grandioso. Ela acha que está fazendo o que tem que fazer, porque desde muito nova entendeu que doar o que não usa mais – roupas, calçados, brinquedos – é um processo natural.

Um dia eu perguntei pra ela o que os amigos da escola acham dessa atitude de doar livros e ela: “- Ah! Eu esqueci de falar pra eles”. E eu achei perfeito, era a resposta que eu queria. Se ela não fez questão de contar para os amigos, é porque entende como uma atitude normal e é assim que tem que ser.

giovannaRede Mobilizadores – Vocês passaram a também arrecadar livros para doação?

R.: Muitas pessoas se sensibilizaram com a história e trouxeram livros para a Giovanna doar. Hoje nós temos em casa muito mais livros do que tínhamos quando começamos a doar.

As pessoas entram em contato para oferecer livros, nós agradecemos de coração, mas explicamos que não temos mais onde colocar e também não temos como transportar para o Minhocão.

Teve uma família que fez contato conosco dizendo que eles estavam indo embora para outro país e que eles queriam doar a biblioteca deles para nós, com mais de mil livros no acervo.

Então, o que eu e a Giovanna temos dito para as pessoas que se sensibilizaram com a história dela e gostariam de fazer uma colaboração, é que elas não precisam centralizar em nós. Elas podem fazer a doação na região onde moram.

O ideal é que “a menina que doa livros” se torne um grande projeto, se torne “as pessoas que doam livros”.

Um dia desses eu estava conversando com a Giovanna no metrô e ela teve a ideia de, por exemplo, distribuir livros em estantes instaladas no metrô, nos terminais de ônibus.

Rede Mobilizadores – Quem é esse leitor que vocês encontram rua?

R.: As pessoas que têm o hábito de ler já frequentam bibliotecas e livrarias. A ideia de doar na rua é muito bacana, porque encontramos um outro tipo de leitor. De repente aquela pessoa que não tem o hábito de ler, passando por ali na rua, “tropeça” em uma capa de livro que ela gosta e a mágica acontece.

Um dia uma senhora passou de bicicleta, parou, e nos falou: “Me sensibilizei tanto com a história dessa menininha que vou até ler um livro. E faz mais de 20 anos que eu não leio um livro”.  E depois disso, ela já voltou diversas vezes e levou outros livros. Então já valeu a pena a gente não ficar esperando.

Quando cada um faz um pouquinho, e esses pouquinhos se somam, talvez daqui há alguns anos tenhamos deixado o país melhor.

Entrevista concedida à Sílvia Sousa

Editada por Eliane Araújo

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Comentários

2 comentários sobre “A menina que doa livros na rua”
  1. Neta says:
    02/06/2016 às 1:56 pm

    Exemplo assim e muito raro ter incentivo da leitura,como u mundo ficou tao moderno que as coisas virar u mundo da imaginação nossa fantástico u que ela fez,sem falar na ideia de doação de livro nas ruas se todos que tivesse livros em casa gaudado e passa-se para frente u mundo teria mas leitores e gente com mas facilidade de estudar como Giovane e outros por ai que vimos que tem essas ideias boas so basta ter um pouco de imaginação.

    Responder
  2. Josefa Amanda do Nas says:
    31/05/2016 às 12:40 pm

    Linda ação dessa menininha tão jovem mas com mente de adulto.Se todos os jovem pensassem dessa forma o mundo seria muito mas melhor.

    Responder


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