Fazendinha, minhocário, viveiro, borboletário, horta orgânica, oficinas de reciclagem. Estas são apenas algumas das atividades desenvolvidas pelo projeto de educação ambiental ?Cheirinho de Mato?, no Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, em Aracaju (SE). Em sete mil metros quadrados que se integram ao espaço da escola, crianças, jovens e adultos têm contato direto com a natureza e tomam consciência da importância de cuidar do meio ambiente em que vivem.

O criador e coordenador do projeto, o professor de Biologia e Educação Ambiental, José Bezerra Neto, foi aluno do Colégio e tem sua trajetória profissional vinculada à proteção da natureza. De acordo com ele, no ?Cheirinho de Mato?, a educação ambiental é abordada de maneira sistemática e transversal, nos diversos níveis de ensino. Além disso, as atividades são desenvolvidas durante o ano inteiro, integrando os alunos e obtendo reflexos também em suas residências.

Os alunos do projeto participam ainda de aulas de campo, oficinas, ações de arborização e reflorestamento, recolhem lixo de praias e rios, fazem trilhas e outras atividades que lhes permitem aplicar e multiplicar o conhecimento adquirido.

Mobilizadores COEP – De que forma a educação ambiental, no contexto escolar, contribui para o sistema educativo e o bem-estar coletivo?

R.: Através da educação ambiental na sala de aula, os alunos são conscientizados sobre os problemas que envolvem o meio ambiente. Além disso, no caso do nosso projeto, desenvolvemos oficinas onde aprendem sobre a importância de economizar água, energia, fazer coleta seletiva do lixo, plantar árvores, respeitar os seres vivos, denunciar as empresas que poluem o meio ambiente, além de cobrar dos governantes o cumprimento das leis que protegem a natureza etc. Tudo isso ajuda a promover uma mudança de comportamento, faz com que o aluno perceba a sua integração com o meio ambiente e a responsabilidade que possui na sua conservação.

Mobilizadores COEP – Como e quando começou o projeto de ?Cheirinho de Mato??

R.: Desde que comecei a lecionar como professor no Colégio Arquidiocesano, senti a necessidade de sair do ambiente de sala de aula. Comecei desenvolvendo um trabalho de educação ambiental com aulas ao ar livre, levando os alunos para o pátio da escola, depois dando aulas em áreas de preservação ambiental e revisões para o vestibular na Serra de Itabaiana. Havia um incentivo da escola, pois os alunos ficavam fascinados com aquela novidade, mas, ainda era algo tímido.

Só depois que implementei alguns projetos como o ?Aprenda na Fazenda? [no qual recebíamos milhares de alunos de escolas públicas e privadas para visitas ecológicas de um dia ou acampamento de final de semana] o Mundo dos Insetos e o Vale dos Dinossauros [réplicas do artista plástico Ivo Gato, que possibilitaram conhecer cada detalhe da anatomia dos animais], na Fazenda Boa Luz, e da sua repercussão dentro e fora do estado [através das reportagens do jornal O Globo e do programa da Xuxa], foi possível chamar a atenção da coordenação do Arqui, que me convidou para desenvolver um projeto ambiental dentro da escola, no Argui-farolândia [na unidade do Arquidiocesando no bairro de Farolândia, em Aracaju (SE)].

No dia seguinte, quando fui medir o local disponível para o projeto, percebi a existência de um terreno vizinho à escola, mas que até então não era usado. Fiquei apaixonado pelo tamanho do terreno baldio, e comecei a desenhar em folhas de papel a estrutura do projeto, mesmo sem saber se poderia usar aquele terreno. Com o tempo, a ideia foi aceita pela coordenação e depois pela direção da escola. Foi assim que nasceu o projeto ?Cheirinho de Mato?, pioneiro no estado no desenvolvimento de atividades ligadas à área de educação ambiental.

O projeto, implantado em 03 de março de 2006, é um laboratório a céu aberto, com quase sete mil metros quadrados integrados à escola. O ?Cheirinho de Mato? foi concebido por mim, que também sou o responsável pela execução de todas as atividades do laboratório.

Mobilizadores COEP – Alunos de que segmentos participam do projeto?

R.: No Arquidiocesano, a educação ambiental é abordada de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão ambiental de forma interdisciplinar. Participam do projeto alunos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio.

Mobilizadores COEP – Que atividades são desenvolvidas pelo projeto?

R.: As atividades do ?Cheirinho de Mato? não se limitam ao laboratório do colégio. Ao longo de todo o ano, os alunos são envolvidos em práticas de educação ambiental em sua própria residência, nas oficinas de campo [expedições pedagógicas, exposições fotográficas, arborização de praças e avenidas, ações de reflorestamento, trilhas nas serras de Itabaiana e da Miaba e em oficinas para universidades e escolas públicas]. Temos uma horta orgânica, farmácia viva, fazendinha, minhocário, borboletário, oficinas de reciclagem, dentre outras atividades. A ideia é formar e mudar conceitos a respeito da preservação ambiental e multiplicar esses conhecimentos.

Mobilizadores COEP ? Como funciona a farmácia viva?

R.: A farmácia é uma coleção de plantas medicinais que são indicadas para o tratamento de alguns tipos de doenças, a exemplo de gripes, resfriados, problemas estomacais e dor de cabeça. Nessa oficina, os alunos conhecem várias espécies de plantas medicinais, seu cultivo, técnicas de manipulação e suas aplicações. Depois, levam para casa as plantas, acompanhadas de sua ficha técnica com todas as informações e recomendações sobre seu uso.

A farmácia viva é uma atividade rica, à medida que crianças, jovens e adultos passam a conhecer espécies de plantas medicinais de sua região, o cultivo, técnicas de manipulação e suas aplicações. É uma forma de se disseminar a cultura popular.

Qualquer escola pode ter uma farmácia viva. Dependendo do espaço e da quantidade de alunos, as plantas medicinais podem ser cultivadas em jarros feitos de garrafas PET ou em pneus usados como canteiros.

Mobilizadores COEP ? O que os alunos aprendem com o viveiro de mudas?

R.: No viveiro, os alunos aprendem a preparar mudas, conhecem espécies de mata atlântica e caatinga e compreendem a importância desses ecossistemas. Trabalhamos com mudas de árvores nativas pela sua importância nos biomas em questão. As mudas são usadas pelos alunos em reflorestamentos de mata ciliar e atlântica. A partir das experiências no viveiro, podemos conversar com os alunos sobre práticas sociais com foco nas questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. Desse modo, a educação ambiental ganha uma abordagem socioambiental, como a que está expressa no Programa de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.

Mobilizadores COEP ? O que as experiências na horta orgânica proporcionam aos alunos?

R.: A horta é um espaço onde os alunos aprendem técnicas de jardinagem sobre o cultivo de várias hortaliças, como couve, cebolinha, coentro, pimentão, cebola etc. Os alunos passam a conhecer os estágios de crescimento destas hortaliças, como preparar o solo, o plantio das sementes e mudas, o controle biológico das pragas, a irrigação, a colheita e o preparo das hortaliças para o consumo.

As hortaliças são usadas na cozinha experimental e/ou são levadas para casa pelos alunos, onde podem repassar à família receitas de como prepará-las. Durante algumas ações ambientais, os estudantes participam da implantação de hortas em creches públicas. Com o conhecimento adquirido, eles e suas famílias passam a ter uma alimentação mais equilibrada e saudável.

Mobilizadores COEP ? A escola possui também um borboletário e um minhocário. Por favor, fale um pouco sobre estas atividades.

R.: O borboletário é um ambiente cercado por telas, onde ocorre a criação de borboletas. Para se ter um borboletário, é preciso um ambiente de, no mínimo, 4m2 com vários tipos de plantas que possuam flor. É uma atividade que permite aos estudantes conhecerem mais sobre esses fascinantes insetos e seu ciclo de vida.

Já no minhocário, os estudantes aprendem a importância das minhocas para o solo e sua relação com o meio ambiente. Além disso, levam o húmus produzido pelas minhocas e o utilizam como adubo nas plantas da sua residência. Podemos fazer um minhocário, construindo canteiros com tijolos ou com troncos. Devemos preenchê-los com esterco de gado curtido, que será o alimento da minhoca vermelha da califórnia.

Mobilizadores COEP ? Como são as oficinas de reciclagem?

R.: Nas oficinas de reciclagem, promovemos a coleta seletiva e/ou reutilização dos materiais feitos de papel, plástico, metal e vidro produzidos na escola ou na residência dos alunos. Usamos os produtos da reciclagem na fabricação de jarros e brinquedos. Além disso, grande parte do produto obtido na reciclagem é doada para a Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (CARE). A experiência permite que os estudantes conheçam mais sobre a geração, coleta e destino dos resíduos sólidos. Os alunos e familiares são estimulados a fazer a reciclagem também em suas casas.

Paralelamente, são realizadas expedições pelo rio Sergipe (rio que banha Aracaju) parando nas margens e nas ilhas para coletar o lixo encontrado. Os alunos também do Dia Mundial de Limpeza de Praias e Rios. Levar alunos à praia e/ou ao rio para fazer com eles a limpeza é de suma importância, pois permite o conhecimento da realidade que os cerca, permite que vejam a quantidade de lixo que é jogada nas praias e rios, para que dessa forma sejam despertados sobre aimportância da preservação do meio ambiente. Além disso, como eles são agentes multiplicadores, acabam transmitindo isso aos pais e à população em geral.

Mobilizadores COEP ? O que os alunos vivenciam na fazendinha?

R.: A fazendinha do colégio possui galinhas, patos, marrecos, pavões, porquinhos da índia, coelhos, jabutis, ovelhas, cabras e vacas. Ela é formada por recintos adaptados para cada espécie de animal. Os alunos passam a conhecer mais sobre os animais da fazendinha, o manejo, como vivem, qual a alimentação ideal, etc. Os alimentos produzidos ali são vendidos aos pais de alunos, e o dinheiro é usado para a manutenção do projeto.

Mobilizadores COEP – Como foi receber o Prêmio Socioambiental Brasileiro em 2009?

R.: Com esse prêmio [dado pela Academia Brasileira de Arte, Cultura e História], o projeto ganhou reconhecimento pelas atividades que realiza. Foi muito importante para reforçar o nosso compromisso com a causa ambiental.

Mobilizadores COEP ? Diante das atuais mudanças climáticas, quais os principais desafios para o futuro?R.: A sociedade em geral tem consciência de que é preciso fazer algo diante da realidade do aquecimento global, mas muitas vezes encontra dificuldades para assumir práticas transformadoras que levem à mudança de hábitos no seu cotidiano. Precisamos de mais educação ambiental para promover sensibilização, conscientização, mobilização e atuação na sociedade.

Entrevista concedida à: Renata OlivieriEdição: Renata Olivieri