Baixo nível de atividade física e mudanças no padrão alimentar, com aumento do consumo de alimentos com alta densidade energética, estão entre os fatores que vêm contribuindo para o aumento de sobrepeso e obesidade entre a população brasileira.
De acordo com a nutricionista Elisabetta Recine, professora adjunta da Universidade de Brasília (UnB), a prevenção e controle do aumento da obesidade entre os brasileiros, e das doenças dela decorrentes, precisam e devem ser tratados nas famílias e escola, no entanto, o ambiente e a sociedade em geral também precisam contribuir.
Rede Mobilizadores – De acordo com dados do IBGE de 2011, 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres brasileiros são obesos, e 35% da população do país está com sobrepeso. Quais as principais causas deste cenário?
R.: Têm-se levantado algumas razões para o aumento constante e consistente nas prevalências de excesso de peso na população brasileira. Estes fatores podem ser agrupados em dois grandes grupos: mudança nos padrões de realização do trabalho – cada vez mais sedentário e mecanizado -, e a tradicional baixa atividade física em horários de lazer e até mesmo o aumento do lazer sedentário (televisão, computador etc). O outro grupo de fatores envolve mudança no padrão alimentar: aumento no consumo de alimentos com alta densidade energética, representados principalmente por alimentos industrializados.
Rede Mobilizadores – De que forma os hábitos alimentares e o aumento do poder de consumo podem influenciar o quadro?
R.: Como mencionado anteriormente, o aumento no poder de consumo tem levado a população em geral a consumir alimentos industrializados. Analisando o quadro abaixo esta tendência fica bem clara.
Rede Mobilizadores – A entrada da mulher no mercado de trabalho tem alguma relação com o aumento do sobrepeso e da obesidade entre os brasileiros?
R.: Este tem sido um fator mencionado, mas não estudado ou analisado profundamente. Na verdade, o que aconteceu foi uma mudança estrutural na maneira como a sociedade e, portanto as famílias, se organiza. Por um lado, levando a uma mudança no padrão de consumo – não apenas do tipo de alimentos, mas no modo como nos alimentamos, por exemplo, mais fora de casa, mais alimentos prontos ou semiprontos etc. E, por outro, o alimento e a alimentação se configuraram como uma área de atividade econômica importante, gerando uma pressão para determinados padrões. Por exemplo, a valorização, o status de se consumir determinado produto, ou comer em determinado estabelecimento comercial. Na minha opinião, a maior participação da mulher no mercado de trabalho formal é mais um elemento deste processo.
Rede Mobilizadores – Diante dos números, pode-se dizer que a obesidade é um problema de saúde pública no país? Quais as principais doenças crônicas dela decorrentes e suas principais consequências?
R.: Certamente é um problema de saúde pública instalado no Brasil e em praticamente todos os países do mundo. A Organização Mundial da Saúde trata o tema como “pandemia” [epidemia que atinge grandes proporções, podendo se espalhar por um ou mais continentes ou por todo o mundo]. A obesidade é uma doença em si e um fator de risco para doenças cardíacas, hipertensão arterial, diabetes e vários tipos de câncer.
Rede Mobilizadores – De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, a velocidade de crescimento do sobrepeso e da obesidade na população de menor renda é maior. Na sua opinião, a que se deve isto?
R.: O acesso de grandes parcelas da população ao mercado de consumo levou as empresas a enxergarem uma oportunidade de abertura inédita no país. Há estratégias de marketing e linhas de produtos específicos que foram desenvolvidos para estes novos consumidores. Geralmente, são produtos com apelo de consumo e baixíssimo ou nenhum valor nutricional.
Rede Mobilizadores – Segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), há comunidades brasileiras que ainda convivem ao mesmo tempo com insegurança alimentar e obesidade. Como explicar tal situação?
R.: Os avanços e melhorias nos indicadores de qualidade de vida e saúde não foram homogêneos na sociedade brasileira, os grupos populacionais mais vulnerabilizados, como os indígenas, quilombolas, populações do Semiárido, não tiveram o mesmo acesso às ações públicas. As iniquidades continuam e requerem ações específicas para estas pessoas.
Rede Mobilizadores – Até que ponto, a publicidade, em especial no que diz respeito às crianças, pode ser responsabilizada pelo crescimento dos índices de obesidade no país?
R.: Sabe-se que a publicidade de alimentos dirigida às crianças contribui para a formação de hábitos alimentares não saudáveis. A publicidade utiliza-se de elementos do imaginário infantil para valorizar produtos não saudáveis.
Rede Mobilizadores – Qual deve ser o papel da escola e da família na disseminação de hábitos de alimentação mais saudáveis? Até onde vai o poder de mediação familiar no que diz respeito ao que as crianças vão comer?
R.: Um tema desta complexidade não é responsabilidade de um único setor ou sujeito social. Família e escola são importantes para a formação, valorização e prática de hábitos saudáveis. No entanto, aspectos estruturantes da sociedade precisam também ser alterados. Nenhuma família ou escola, por melhores que sejam, podem garantir isoladamente hábitos saudáveis; o ambiente e a sociedade precisam “contribuir” para a prática saudável do indivíduo e não dificultar, como vem ocorrendo.
Rede Mobilizadores – O incentivo à prática esportiva pode ajudar a amenizar o problema? O que deveria ser feito?
R.: Sem dúvida, o aumento da atividade física é um fator de proteção e que pode contribuir para a redução do excesso de peso. Medidas básicas são: construir/recuperar espaços de atividade física nas escolas, valorizando esta prática no currículo escolar, construir/recuperar espaços públicos de lazer e atividade física nas cidades, estimular a oferta de atividade física nos ambientes de trabalho, entre outros.
Rede Mobilizadores – E quanto ao Plano Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade? Sob quais eixos se apoia e quais seus principais objetivos?
R.: Na verdade, o Plano Intersetorial foi discutido, em outubro de 2012, no Consea, mas, até o momento, não foi lançado oficialmente pelo governo, o que é lamentável. O plano foi desenvolvido por um grupo intersetorial do executivo com a participação do Consea. Ele poderia ser inovador por já ter sido planejado nesta perspectiva e também por considerar a obesidade uma doença social multideterminada. Propõe ações que contemplam todo o sistema alimentar, isto é, da produção ao consumo.
O objetivo Geral do Plano é prevenir e controlar a obesidade na população brasileira, por meio de ações intersetoriais, promovendo a alimentação adequada e saudável e atividade física no ambiente que vivemos.
Eis seus eixos de ação:
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo
Realmente muitos são os fatores que faz com que as pessoas estejam acima do peso ideal. Mas enquanto as pessoas não tomarem uma decisão de mudança, e não começar a praticar hábitos saudaveis sua saúde estará em uma corda bamba. A decisão de mudança precisa começar c/ cada um. Dizendo muitos nãos aquilo que não é saudavel e muitos sim p/ aquilo que é saudavel.
é interessante observar que nossa relação com a comida mudou. Antes tínhamos de investir nossa energia para obter o alimento. Não obtínhamos determinados alimentos fora de sua época natural, esperávamos pelo tempo. Hoje a obtençao do alimento depende de um movimento rápido e na maioria das vezes impensado, pois a relação com a comida deixou de ser uma questão de sobrevivência, mas de satisfação e status.O modo de vida deixou de priorizar a obtenção do alimento como um esforço familiar e comunitário, um processo natural. Hoje as mães se sentem culpadas se não oferecem as marcas da moda aos seus filhos em quantidades e em momentos em que deveriam estar brincando, correndo,gastando calorias, mas são mantidos dentro de casa em frente à televisão que os bombardeia com a noção de que todas suas vontades devam ser atendidas imediatamente e com toda a variedade de sabores, cores e quantidades que a mídia propõe.Não vejo propaganda de cenouras, couves ou espinafre sem agrotóxicos e nem de suco natural de beterraba…Se oferecer a uma criança a escolha entre um pacote de balas sabor maçã e a fruta natural, que é vitorioso?
Acho que a industria alimentícia tem uma parcela de contribuição no crescimento da obesidade.Se continuar nesse rítmo não chegaremos a nenhum lugar.
Essa realidade Joana D’Arc, nós observamos inclusive nas familias beneficiarias de programas de transferência de renda, pois aumentou muito entre eles o consumo de produtos industrializados.
Cada vez mais as industrias investem na palatabilidade e assim vão fidelizando os consumidores.
abços,
como obesa que sou sinto que encontra ajuda através do sus não dá,e o preconceito existente acaba empurrando o obeso a um abismo ainda maior,ai vem essa vida corrida de cada dia ,e as desculpas de cada um,amanhã,daqui a pouco…e nunca faz nada pra melhora.
A mídia exerce uma influência muito grande no imaginário das crianças e dos adultos. Comer determinado produto, almoçar em determinado local demonstra um certo “status” gerando uma necessidade de externalizar o poder de consumir. Acredito que fazer uma agenda e ter anotado tudo o que se consome no dia e as atividades físicas realizadas pode promover uma rotina saudável e assim, conscientizar que é possível e importante mudar. É interessante observar que o consumo diária é as vezes três vezes mais do que gastamos de calorias. Tudo é uma questão de reeducação e adotando este hábito saudável, com certeza as pessoas estarão melhorando também a sua saúde financeira. Lenira Domingues Ferreira
O apelo da mídia para os alimentos concentrados em calorias também contribuem para o aumentos da obesoidade. Outro fator dificultador para acesso alimentação saudável é o alto custo dos vegetais. Uma boa opção é a agricultura sustentável. Muito se tem que fazer para melhorar a qualidade da alimentação dos brasileiros.
Com o aumento do poder aquisitivo, da população de baixa renda, se reintegraram ao mercado de consumo, as pessoas por falta de esclarecimento, entendimento, quanto a alimentação saudavel e adequada, se sente com estatos para adiquiri e consumir produtos não saudavéis:(bolachas recheadas, com muita gordura/sal; arroz e macarão não integral; alimentos pré-prontos de sabores muito apetitosos, degustando os com muita proriedade e pelo prazer de poder estar a consumilos, desconhecendo os danos que esses alimentos podem trazer para todas as pessoas da família, ou a quem esses pratos sejam preparados. È necessário a orientação sobre: Segurança Alimentar Saudável, já nas escolas do ensino
fundamental, e em dodas as outras fazes do ensino, fazendo parte do curicúlo escolar.