Ao passar de consumidores a produtores, os artesãos da comunidade de Quixabeira, em Água Branca, Alagoas, vêm aos poucos conseguindo lucrar com os trabalhos produzidos no tear elétrico, implantado pelo COEP Nacional na comunidade.
Apesar de ter recebido a máquina em 2003, a comunidade só começou a utilizá-la em 2008, quando alguns moradores conseguiram apoio da prefeitura, por meio de um projeto de incentivo a atividades artesanais de pequenos grupos e associações produtivas. Foram promovidas capacitações teóricas e práticas oferecidas pelo Sebrae Alagoas e pelo Instituto Xingó. Os participantes aprenderam sobre associativismo, trabalho em grupo, produção artesanal, operação de teares manuais, além de produção, confecção e montagem de peças.
Agora, o trabalho do grupo de artesãos locais Fios em Tramas começa a render frutos e alcança visibilidade, sendo comercializado em feiras e eventos na região.Quem nos conta esta história é a presidente da Associação de Moradores de Quixabeira, Maria da Conceição Campos, mais conhecida como Ceiça. Nesta entrevista, ela fala sobre as mudanças pelas quais a comunidade vem passando desde o início do Programa Comunidades Semiárido, implementado pelo COEP Nacional. Ela destaca que reativar a associação de moradores e instalar um tear, propostas do Comitê, foram fundamentais para a reorganização social da comunidade.
MobilizadoresCOEP – Quais as principais características da comunidade de Quixabeira?
R.: A comunidade de Quixabeira está localizada na zona rural de Alagoas, no município de Água Branca, a 304 Km de Maceió, e nela vivem cerca de 80 famílias, que contam com uma escola e um posto de saúde.
Nos últimos anos, foram instalados na comunidade, por meio do Programa Comunidades Semiárido*¹, uma miniusina de beneficamento de algodão (máquina que permite a separação da pluma e do caroço e enfardamento da pluma), um telecentro (ambiente composto por computadores conectados à internet que tem orientação de um monitor capacitado para atender os usuários) e um tear elétrico (máquina que faz a tecelagem do algodão).
Mobilizadores COEP – Qual a principal fonte de renda e ocupação das famílias da comunidade?
R.: Anos atrás, a produção de algodão era a principal fonte de trabalho e renda aqui na região, mas as dificuldades em épocas de seca desestimulavam os agricultores que perdiam toda a produção. Hoje, trabalhamos com o beneficiamento do algodão, artesanato e com a agricultura de subsistência, com o cultivo de milho, feijão e mandioca.
Mobilizadores COEP – Como a comunidade trabalha com o algodão?R.: Como disse anteriormente, a comunidade já cultiva o algodão há um bom tempo, mas não havia muitas perspectivas até a implantação da miniusina de beneficiamento. Com ela, passamos a vender a pluma do algodão por cerca de R$ 6, o quilo. Antes, vendíamos o algodão não beneficiado por apenas R$ 1,20.
Apesar da miniusina, não temos como utilizar o algodão beneficiado para a produção de fios. Então, compramos rolos de fios de algodão em lugares específicos para usarmos no tear.
MobilizadoresCOEP – Atualmente, além do algodão, o que mais a comunidade produz? R.: A comunidade produz feijão, milho, mandioca, cria animais de pequeno porte (ovinos e caprinos) para o consumo próprio e para complementar sua renda. Atualmente, com os cursos de capacitação, passamos a produzir também produtos artesanais voltados à tecelagem e à confecção de tecidos industrial e artesanal.
Mobilizadores COEP – O que mudou com a chegada da máquina de tear? Quando começou a produção e como aconteceu a capacitação dos moradores locais?
R.: Apesar de ter recebido a máquina em 2003, a comunidade só começou a utilizá-la em 2008, quando alguns moradores conseguiram apoio da prefeitura, por meio de um projeto de incentivo a atividades artesanais de pequenos grupos e associações produtivas.
Inicialmente, 40 pessoas se interessaram em aprender a manusear o tear. Foram promovidas capacitações teóricas e práticas oferecidas pelo Sebrae Alagoas e pelo Instituto Xingó. Os participantes aprenderam sobre associativismo, trabalho em grupo, produção artesanal, operação de teares manuais, além de produção, confecção e montagem de peças. O curso durou cerca de um mês, e os artesãos passaram a produzir redes, tapetes e mantas.
Mobilizadores COEP – Quais as principais dificuldades e como têm sido resolvidas?R.: A nossa principal dificuldade no início foi com relação à capacitação dos moradores interessados em trabalhar com o tear. Tivemos bastante dificuldade em conseguir profissionais que pudessem nos orientar e nos capacitar na confecção das peças, na tecelagem, na questão do acabamento dos produtos. A solução foi buscar no município vizinho aqui de Água Branca, Caraiberas, que fica em Pernambuco, profissionais aptos, pois a cidade é um polo e possui tradição em artesanato têxtil.
Implementamos também a capacitação continuada, através de parcerias com artesãs de Caraibeiras, que nos ajudam repassando sua vivência e experiência em tecelagem. Assim, a gente vem conseguindo melhorar a qualidade dos produtos.
Mobilizadores COEP – A comunidade está organizada em uma associação? Quais são as conquistas desta articulação entre os moradores e como ela tem contribuído para incrementar as vendas?
R.: Sim, a chegada do COEP na comunidade nos incentivou a organizarmos uma associação dos moradores locais, abrindo caminhos para a implantação de diversos projetos. Uma das conquistas desta associação foi justamente a criação do Algodão e do grupo de Tecelagem, que leva o nome Fios em Tramas. Com estes grupos, estamos conseguindo resolver os problemas da nossa comunidade e aprendendo a buscar soluções. Através das parcerias, estamos crescendo, abrindo portas e trazendo para a comunidade novas possibilidades de trabalho e desenvolvimento.
MobilizadoresCOEP – Quais são os produtos artesanais produzidos em Quixabeira e como é escoada a produção?R.: Produzimos cobertores, mantas de algodão cru e colorido, redes, tapetes e cortinas. Para aumentar a visibilidade de seus produtos, os artesãos fecharam uma parceria com uma rádio comunitária da região para divulgar as atividades da associação e as peças que produzem. A produção é comercializada em feiras livres, exposições, eventos regionais, como o Festival de Inverno da cidade, em fóruns e eventos do COEP, e também pela venda direta na comunidade. Já vendemos até para Portugal!
Mobilizadores COEP – Qual é o próximo passo? R.: É ir adiante e poder começar a inovar a produção que ainda é pequena, porém significativa, fortalecer novas parcerias que possam garantiroutras oportunidades, de profissionalização na atividade, gestão e empreendimento neste setor.
Podemos considerar que muito já vem sendo feito, pelo grupo de Artesanato, pela parceria do COEP, através do Poder Executivo, do Instituto Xingó e pela própria associação local.
——————-*1 – O Programa Comunidades Semiárido é uma iniciativa do COEP, articulada com departamentos governamentais, entidades paraestatais e universidades, cujo objetivo é promover o desenvolvimento social e econômico de comunidades rurais na zona semiárida do Nordeste.
——————–Entrevista para o Grupo de Fortalecimento ComunitárioConcedida à: Flávia MachadoEditada por: Renata Olivieri