Na comunidade Pão de Açúcar, em Várzea Branca, no Piauí, a criação de uma associação comunitária mostrou que a união em torno de objetivos comuns traz benefícios e melhorias para a população local. Desde sua implantação, em 1999, a chegada da luz elétrica é uma realidade consolidada e apenas um dos objetivos conquistados. Geovane Brito, morador, conta como a comunidade vivia e como ela se desenvolveu após a implantação da Associação de Desenvolvimento Comunitário da Localidade Pão de Açúcar (ADCLPA), criada com o apoio do COEP Nacional. A agricultura de subsistência e a criação de ovelhas foram incentivadas na região, possibilitando a geração de trabalho e renda na cidade, bem como o fortalecimento comunitário. E o telecentro comunitário possibilitou o acesso à informação e conhecimento.Mobilizadores COEP – Apesar de ter começado a ser povoada na década de 50, a história de Várzea Branca (PI), localidade onde está a comunidade Pão de Açúcar, registrou grande parte do seu atual desenvolvimento a partir dos últimos quatro anos. De que forma se deu este avanço?R.: A organização da comunidade se deu através da criação da Associação Comunitária, firmando parcerias com vários órgãos governamentais e não governamentais. Desde então, houve uma grande participação das pessoas nas decisões coletivas em busca de melhorias e do crescimento e fortalecimento comunitário, envolvendo todos os moradores sem discriminação, conseguindo atrair projetos e benfeitorias para a comunidade, por meio do contato com os órgãos competentes.A chegada do COEP Nacional também foi fundamental, pois aplicou uma metodologia de trabalho bem diferente das já vistas pelos moradores, fazendo com que nos capacitássemos para nos inserirmos em políticas públicas do município, estado e do governo federal para o combate à pobreza e desigualdade social. Assim, pudemos ter acesso a programas sociais que beneficiam as famílias da comunidade, com a concessão de microcrédito para pequenos agricultores familiares em suas lavouras e a criação de animais. Hoje a comunidade está em pleno desenvolvimento, mas basicamente, a melhoria está associada à atuação de ONGs e à presença do COEP, bem como à Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e à Caixa Econômica Federal.Mobilizadores COEP – Quais as características da região (sociais e geográficas)? E quais as principais atividades desenvolvidas?R.: A região, e principalmente nossa comunidade, é composta por agricultores familiares de baixa renda, a maioria com renda média inferior a um salário mínimo. Estamos localizados no Semiárido, no polígono acentuado da seca, em planícies entre os Parques Nacionais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões. Boa parte dos moradores vive da agricultura de subsistência e criação de animais de pequeno porte com um plantel aproximado de 1200 animais. A apicultura é uma das principais responsáveis por boa parte da renda das famílias num certo período do ano. Mobilizadores COEP – De que forma se deu a criação da Associação Comunitária e quais os seus objetivos na época?R.: A criação da Associação Comunitária aconteceu por meio da mobilização de algumas pessoas que foram encorajando outras a nos unirmos e a formamos um grupo, já que a comunidade tinha um grande número de moradores. A Associação de Desenvolvimento Comunitário da Localidade Pão de Açúcar (ADCLPA) foi criada em 16 de maio de 1999, com 32 sócios. Nosso primeiro objetivo era o de conseguir energia elétrica para a comunidade. A partir de então, começaria a batalha, que teria fim com o alcance do objetivo em 2002/2003. Nesse momento, todas as pessoas que fazem parte de nossa comunidade perceberam o poder que eles tinham unidos.Mobilizadores COEP – Antes da criação da associação, como as dificuldades comuns eram enfrentadas? R.: Naquela época, meus pais e muitos dos fundadores contam que as dificuldades eram enfrentadas de uma forma estranha: o clientelismo político predominava de uma forma muito visível. Tudo era feito por políticos que tinham lá seus interesses, e isso fez com que durante muito tempo o nosso povo vivesse à mercê de ações de pessoas que na verdade só queriam se aproveitar da inocência das famílias que viviam isoladas de tudo, sem comunicação e sem informação. Mobilizadores COEP – Na sua opinião, qual a importância que a união dos moradores teve para o fortalecimento da comunidade? Cite exemplos. R.: Basicamente toda, pois esta união mostrou para o povo da nossa comunidade o poder que elas detinham em mãos e também que eles foram manipulados por terceiros durante um bom tempo. Com a união, foi possível conquistar muitos espaços e obras e passar por uma transformação para chegarmos até onde chegamos nos dias atuais: conseguindo os projetos e parcerias que hoje atuam na comunidade. A evolução estrutural e a mudança nas atitudes das pessoas se devem à união que a associação trouxe para a comunidade, fortalecida com a chegada do COEP entre 2006 e 2007. Mobilizadores COEP – Com a chegada do COEP na comunidade, o que mudou? R.: Praticamente tudo, desde a forma como as pessoas se comportam. O enriquecimento dos laços entre as pessoas e famílias se tornou algo muito forte e interessante. Agora, estamos sempre de braços dados para enfrentar todos os desafios encontrados. A mobilização das pessoas se tornou freqüente, sempre em busca de parcerias que vão trazer melhorias para comunidade e para a vida das pessoas. Sem falar que os projetos implantados na comunidade mudaram muito a parte estrutural, trazendo inclusive comunicação e informação através da inclusão digital.Mobilizadores COEP – Quais os principais projetos implantados pelo COEP e de que forma isso contribuiu para a melhoria de vida dos moradores? Quais resultados já obtidos? R.: Entre os projetos, podemos citar a criação do Comitê Mobilizador, o projeto de ovinocaprinocultura (criação de cabras e ovelhas), o Telecentro Comunitário e o Viveiro de Mudas. Inicialmente, com a formação do Comitê Mobilizador, houve um trabalho de mobilização fortíssimo para que as reuniões, eventos e ações do COEP e de qualquer outra instituição aconteçam fazendo a diferença. Depois, o projeto de criação de animais. Nossos agricultores decidiram criar ovelhas e isso contribuiu para que as famílias se motivassem e começassem a criar animais, buscando inclusive parcerias para receber capacitações, conseguindo melhorar o rebanho, gerando também renda e segurança alimentar e, consequentemente, melhorando a vida das pessoas. O telecentro comunitário, que é a base de todos os outros projetos, fez com que construíssemos uma sede para nossa associação, trouxe comunicação e informação, possibilitou a famílias pobres terem o acesso à educação, que antes era coisa de gente rica, e foi uma das maiores conquistas. Talvez, este seja o maior benefício para nossos moradores e filhos, pois, com a chegada do telecentro, já temos filhos de agricultores cursando a universidade, inclusive eu que estou estudando Ciências Biológicas. O telecentro trouxe a inclusão digital para a comunidade e se tornou o símbolo de referência para o município de Várzea Branca do Piauí. É um símbolo de luta por melhorias na comunidade e funciona como centro comunitário para acolher todos com o propósito de educar.O Viveiro de mudas nos fez entender que a vida não se restringia apenas a fazer derrubadas para efetuarmos os plantios de milho, feijão e mandioca. Ele nos ensinou a enfrentar os problemas das mudanças climáticas e a entender que, se nós fizermos a nossa parte, plantando muitas árvores, com certeza, os nossos filhos terão uma vida com mais qualidade e poderão respirar ar puro por muito mais tempo. Ensinou-nos também que é preciso preservar o meio ambiente e, para tanto, a Jornada das Comunidades fez com que fizéssemos uma visita ao nosso ponto turístico local, ministrando uma aula sobre meio ambiente e mudanças climáticas para conscientizar mais ainda a nossa juventude. Ao retornar, esses jovens retransmitiram o aprendizado para seus pais.
Mobilizadores COEP – O que mudou no cotidiano comunitário com a implantação do telecentro?R.: Mudou tudo na rotina das pessoas. Tornou-se a atração principal da comunidade. Os jovens têm um local onde ir para ampliação de seus estudos e diversão. Depois que o telecentro foi instalado já houve alunos da comunidade com aprovação em vestibulares. Para melhorar ainda mais a vida dos moradores, foi criado o grupo de monitores e também alguns portais que esclarecem melhor a todos sobre muitos aspectos que vão desde a orientação na escola até a formação de jornalistas comunitários através do portal das comunidades. Recentemente um morador da comunidade foi premiado pela publicação de uma matéria no portal. E a gente tem muita orientação do Agente do COEP que atua na comunidade, que está sempre pronto para ajudar a todos os monitores, dentro e fora do telecentro. Mobilizadores COEP – O que a comunidade tem feito em relação à preservação do meio ambiente? R.: A associação está sempre fazendo palestras que abordem o tema meio ambiente, como desmatamento, o destino do lixo da comunidade. Com a chegada do viveiro de mudas – que veio contribuir muito para que tenhamos a oportunidade de produzir mudas para o reflorestamento da comunidade -, em vários locais já foram plantadas árvores, e estamos em busca de parceria com o poder público para a coleta seletiva do lixo da comunidade, e sua reutilização por parte dos moradores.Mobilizadores COEP – Quais os próximos passos a serem dados? Quais os projetos em andamento? R.: Um dos primeiros é a transformação do telecentro num grande centro comunitário onde poderemos oferecer cursos de informática básica para todos os moradores da comunidade e comunidades vizinhas. A associação está com um novo projeto que é conseguir um trator agrícola para a comunidade e, com isso, melhorar a vida dos agricultores daqui. E também estamos pleiteando a renovação da tubulação para o abastecimento de água.———————Entrevista para o Grupo Fortalecimento ComunitárioConcedida à: Marcelo Copelli / Flávia MachadoEditada por: Eliane Araujo.