A partir do manuseio responsável da palmeira do ouricuri, mulheres da Associação de Artesãs do Pontal do Coruripe, lugarejo a 80 Km da capital alagoana, geram renda e melhoram a qualidade de vida de suas famílias e comunidade.
Elas produzem desde bolsas de palha até pufes de linho e comercializam seus produtos em todo o Brasil. Já ganharam o prêmio TOP 100 de Artesanato do Sebrae duas vezes e vêm conquistando o mercado exterior com a criatividade e qualidade das peças produzidas.
De acordo com Jacqueliny Martins, coordenadora do Projeto Sebrae de Artesanato em Alagoas, que apóia a iniciativa, mais do que retorno financeiro, a associação trouxe para a vida destas mulheres melhoria na auto-estima e reconhecimento. O sucesso na venda dos produtos da associação vem contribuindo para romper com o preconceito em relação ao trabalho artesanal, muitas vezes menosprezado na região.
Nessa entrevista, a presidente da associação, Maria José de Souza, fala um pouco do trabalho destas mulheres que, mesmo sem saber, estão trazendo maior equidade de gênero para sua comunidade e futuras gerações.
Mobilizadores COEP – Quando surgiu a associação? Com que objetivo?
R.: A associação surgiu em 1999. O trabalho com a palha da palmeira de ouricuri já existe há muitos e muitos anos. É uma atividade tradicional na região, que as mulheres do Pontal do Coruripe vêm passando de geração em geração. A associação surgiu quando artesãs de Coruripe receberam uma encomenda de mil viseiras feitas de palha de ouricuri. Dezenove mulheres se juntaram para atender ao pedido e procuraram a prefeitura e o apoio de instituições como o Sebrae-AL, que ajudaram a consolidar a ideia.
A Usina Coruripe, também parceira da associação, cedeu o prédio em que montamos a associação, a oficina e a lojinha. A prefeitura paga um salário-mínimo à presidente da associação, para despesas de deslocamento a feiras etc., e o Sebrae atua em vários elos da cadeia produtiva, desde a orientação/capacitação das artesãs até a abertura de novos mercados.
Mobilizadores COEP – Que produtos são fabricados com o linho e a palha do ouricuri? Quanto custam em média? Como escolhem o que produzir?
R.: Podemos trabalhar só com a palha, só com o linho ou com os dois juntos. Temos peças cruas e tingidas. Produzimos bolsas, porta-trecos, carteiras, suplás, cestos, caixas para presentes, mandalas e pufes. Quanto ao preço, é estabelecido por metragem. Digamos, uma mandala de 80 cm é vendia por R$ 80,00 em média. Nosso produto mais caro é o pufe. Manufaturado em linho cru, ele custa R$ 250,00.
O Sebrae nos capacita por projeto. Por exemplo, em 2008, fomos orientadas para produzir uma linha de produtos para a Coleção Alagoas – cama, mesa e banho. A coleção contou com o trabalho de outras associações. Nós desenvolvemos as cestarias para completar os produtos de bordado de cama e mesa disponibilizados na coleção.
Recentemente, também criamos, junto com o designer enviado pelo Sebrae, uma coleção para o Hotel Radisson, em Maceió. Fizemos quatro protótipos para os quartos do hotel ? bandeja para garrafa, cestinha para ficar em cima do frigobar, porta-papel para rascunho e cestinha para pia do banheiro. Os protótipos foram aprovados, e confeccionamos 800 peças para o hotel, inaugurado em novembro de 2009.
Mobilizadores COEP ? Onde a associação consegue a matéria-prima para sua produção?
R.: Compramos a maior parte de pessoas da região que vivem dessa extração. A usina também fez o replantio da palmeira em sua sede, em Coruripe, e o que vem de lá não precisamos pagar. Mas esta produção muitas vezes é insuficiente para atender à nossa demanda.
Mobilizadores COEP ? A extração da palha é feita de maneira sustentável?
R.: Na maioria das vezes, sim. A Usina de Coruripe, por meio do Instituto para o Desenvolvimento Social e Ecológico (Idese), atua na conscientização da comunidade local sobre esta extração. No instituto tem um ?mateiro?, um biólogo natural, que não fez faculdade, mas conhece as espécies da região como ninguém que acompanha a extração, explicando à comunidade que é preciso tirar um olho da palmeira de cada vez. Se retirarem todos os olhos juntos, a planta morre e aí eles não vão ter como conseguir sua principal fonte de renda que vem da palmeira de ouricuri.
Mobilizadores COEP ? Quantas mulheres trabalham na associação? Qual sua jornada de trabalho?
R.: Hoje, a associação conta com 25 mulheres, que trabalham três horas diariamente. Nos finais de semana, há uma escala. Trabalham quatro artesãs no sábado e quatro, no domingo.
Mobilizadores COEP ? Quanto ganha em média uma associada?
R.: Elas ganham por sua produção. Hoje, uma artesã que trabalhe bem, com qualidade, pode tirar pelo menos R$ 400, 00 por mês.
Mobilizadores COEP ? Onde os produtos da associação são comercializados?
R.: A produção é comercializada em vários estados brasileiros. A Tok & Stock, por exemplo, revende nossos produtos em suas diversas lojas. Também participamos de feiras. Em janeiro, estivemos na 15ª Artnor, em Maceió, por intermédio do Sebrae e da usina. A Artnor é uma das maiores feiras de artesanato do Brasil. Foi muito bom. Vendemos bastante e tivemos várias encomendas. Também exportamos as peças para os Estados Unidos, Holanda, Japão e França.
Mobilizadores COEP – No seu ponto de vista, o que a associação trouxe de positivo para as artesãs?
R.: Bom, aqui na cidade, cerca de 90% das mulheres trabalham com o artesanato da palha do ouricuri. Mas é na associação que são encontradas as peças mais criativas, bem acabadas. Afinal, as artesãs recebem orientação do Sebrae. Então, nossos produtos entraram no mercado de forma competitiva: com preço e qualidade. Já ganhamos, inclusive, o prêmio TOP 100 de artesanato*, criado pelo Sebrae, duas vezes, em 2007 e 2008.
Alguns depoimentos de artesãs da associação
?Não posso ficar sem fazer ouricuri. Já mudei de emprego, mas não tinha jeito, voltava para o artesanato. Acordo e já pego a palha. Pra você ter uma ideia, tenho uma cirurgia na visão para fazer, já paguei, mas ainda não tive coragem porque terei que passar um tempo sem trabalhar. Sou apaixonada por esta arte?.
Artesã Maria da Luz. Ela, com 62 anos, e desde criança observava a mãe fazendo artesanato com a palha da palmeira. Aprendeu a confeccionar as peças e hoje não consegue parar.
?Aprendi a fazer de tanto ver minha mãe trabalhando. Quero ser advogada quando crescer, mas vou ensinar aos meus filhos a fazerem artesanato com ouricuri. Não quero que essa cultura se acabe. Apesar de ser uma criança, Thamires já se preocupa com a possibilidade de um dia a produção artesanal se acabar. ?Se o homem continuar desmatando, pode ser que a palha de ouricuri se acabe um dia, e muita gente não vai ter como sobreviver, porque aqui o povo vive ou do artesanato ou da pesca?.
Thamires Matildes é filha de uma das artesãs da associação. Pela manhã, vai para escola e, à tarde, ao invés de brincar, prefere ir à associação fazer costureiros, peça que mais gosta de confeccionar.?, afirma Thamires. A irmã menor de Thamires também já ajuda na produção.
?Participamos de oficinas e capacitações que o Sebrae oferece e isso tem contribuído para que a produção se torne cada vez mais elaborada. Além disso, o Sebrae tem nos incentivado a entrar em novos mercados. Participamos do prêmio TOP 100 de Artesanato, criado pela instituição, e ganhamos pela segunda vez. Com ele, teremos visibilidade em todo o Brasil??
Edilene Souza, artesã e ex-presidente da associação.
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* O prêmio tem como objetivo reconhecer e valorizar o trabalho realizado por artesãos de todo o país, selecionando as 100 unidades produtivas mais competitivas do Brasil. O TOP 100 leva em conta os processos produtivos com foco no mercado. São avaliados critérios como inovação, adequação ergonômica dos postos de trabalho, adequação ambiental, eficiência produtiva e responsabilidade social. Para as artesãs, estar na lista dos 100 melhores grupos artesanais do país significa entrar para a vitrine do artesanato mundial.Entrevista concedida a: Renata OlivieriEdição: Eliane Araujo
Meus parabens vocês fizeram um trabalho muito bom.
Gostei das pesas continuem fazendo mais pesas e continuem divulgando elas por que eu tenho certeza esta fazendo muito cusseço.Meus parabens mais uma vez ….
Olá! Esse trabalho é o suprassumo que toda mulher precisa viver. A organização e acreditar é o fundamental ,sem contar que não buscaram nada fora, trabalharam com o que têm de melhor.
Parabens!
E muito importante temos como objetivo e valorizar trabalho belissimo que e o artesanato vc estao de parabens pelo exelente trabalho poderia espô mais
jailda 24/02/21
Parabéns pelo trabalho de todas, essa máteria foi excellente.
achei essa entrevista interessante,mas vocêis deveriam mostrar mais peças…….parabéns pelo trabalho.