O Programa Empreender – Unir para Crescer, promovido pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, em parceria com o Sebrae, propõe uma nova forma de associativismo para fortalecer os micro e pequenos produtores e empresários. Por meio da criação de Núcleos Setoriais de empresas de um mesmo segmento, os empreendedores estão descobrindo o mérito de atuar em parceria e de enxergar as demais empresas não como concorrentes, mas como aliadas. Rodrigo Ramos, coordenador do Empreender no estado do Rio de Janeiro, fala dos objetivos do programa e dos benefícios obtidos pelas empresas e pelas localidades onde elas estão situadas.
Mobilizadores COEP – O que é o programa Empreender?
R. Implementado em mais de 800 municípios brasileiros, o Empreender propõe a constituição de Núcleos Setoriais de empresas de um mesmo segmento a partir de suas Associações Comerciais e Empresariais – ACEs. Nesses Núcleos, os empresários, moderados por um consultor, reúnem-se para discutir problemas comuns e buscar soluções conjuntas para a busca de novos mercados e tecnologias. A partir dessa interação, eles passam a adotar novas posturas frente aos desafios atuais e futuros e surgem novas lideranças empresariais. Porém, o que reflete com fidelidade o espírito do programa é a forma de associativismo que ele propõe. É basicamente dentro desta visão que o Empreender atua. Por ela, ninguém é obrigado a participar de um Núcleo Setorial. O convencimento vem pela nova visão de parceria, na qual o concorrente, longe de ser um adversário, pode se tornar um aliado importante. No final de 2006, mais de 35 mil empresas se reuniam em todo o país para discutir os problemas que enfrentam no cotidiano, numa demonstração de que o programa funciona. Por ser simples, eficiente, e adaptável à realidade das micro e pequenas empresas e ACEs, o Empreender se tornou um programa presente em todas as unidades federativas. É promovido nacionalmente pela CACB – Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, em parceria com o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas, responsáveis pelas ações nacionais e diretrizes do Programa. Nos estados, é promovido pela Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado em parceria com o Sebrae local. Em cada estado há a presença de dois coordenadores, um ligado à Federação das Associações Comerciais e outro ligado ao Sebrae, responsáveis por coordenar e avaliar o programa, gerir recursos, formar alianças estratégicas de apoio junto a bancos e governos, identificar e selecionar os municípios para inclusão no Empreender, e selecionar consultores.
Mobilizadores COEP – Qual o foco do Empreender e como funciona o “novo associativismo” proposto pelo programa?
R. O foco do programa são as micro e pequenas empresas, um segmento que representa 98,7% das empresas constituídas no país, emprega mais de 70% da mão-de-obra e, contraditoriamente, enfrenta grandes dificuldades para sobreviver. A saída para essas dificuldades passa pelo novo associativismo proposto pelo Programa Empreender. Os resultados de pesquisas técnicas realizadas pelo programa demonstram que as empresas devem se unir para crescer. E que essa união – formalizada nos Núcleos Setoriais – deve permitir a inserção do pequeno empresário em um mercado cada vez mais competitivo e dependente das novas tecnologias. Nos Núcleo Setoriais, os micro e pequenos empresários de um mesmo segmento discutem problemas comuns e planejam ações para solucioná-los. Essas ações impedem o isolamento das empresas e trazem benefícios imediatos: melhoria nas relações empresário-fornecedor, ênfase na qualificação dos colaboradores, busca por atualização tecnológica e, como conseqüência, aumento da renda e geração de novos empregos. Uma receita de sucesso cujo ingrediente principal é a visão do concorrente como parceiro, e não mais como adversário.
Mobilizadores COEP – Qual o perfil dos Núcleos Setoriais?
R. Nos Núcleos Setoriais, o setor de serviços corresponde a 47,1%, sendo os Núcleos de Salões de Beleza, Automecânicas e Artesanato os mais numerosos. O segmento do comércio participa com 34,9%, com destaque para os mercados, mercearias e supermercados. Já 13,6% pertencem ao setor industrial, sendo o Núcleo de Confecções o mais expressivo. E 4,4% pertencem ao segmento agropecuário. No estado do Rio de Janeiro, o programa atende a 1.014 empresas em 21 municípios, que participam de 65 Núcleos Setoriais (5% Agropecuária; 15% Comércio; 6% Indústria; 2% Multisetorial; 54% Serviços; 18% Outros). Entra ano, sai ano e as estatísticas continuam a confirmar a microempresa como o grande empregador do Brasil. Somente essa constatação já justificaria todo o esforço do Empreender. Afinal, emprego, é, talvez, a grande urgência social do início deste século.
Mobilizadores COEP – Qual o volume de empregos gerados pelas empresas participantes do programa?
R. Aproximadamente 37% das empresas participantes do Empreender informaram que empregam de um a três trabalhadores. Analisando as faixas segundo o segmento, identifica-se que uma parcela de 38,7% das empresas do setor de comércio e de serviço emprega de uma a três pessoas. Interessante observar que 2,7% das empresas informaram não possuir empregados, sugerindo que o próprio empreendedor desenvolve o trabalho ou que o trabalho é exercido pela família ou pessoas sem registro em carteira. Dentre os participantes dos Núcleos Setoriais, 72% participam do Empreender há menos de 18 meses. Esse curto espaço de tempo não impediu que 41,2% das empresas aumentassem seu faturamento. Apenas 2,3% dos pesquisados registraram retração do faturamento. Segundo os empresários, a situação econômica e o aumento da concorrência são os principais fatores responsáveis pela diminuição do rendimento das empresas. Na pesquisa nacional, 1.514 empresas informaram o percentual da variação positiva no faturamento e 31,7% (11,8% do universo pesquisado) afirmaram que o aumento do faturamento foi de 5% a 10%. No levantamento da variação no número de empregados, muitos empresários informaram o quantitativo, e não a variação percentual, 12,5% das empresas contrataram mais pessoas após ingressarem no Empreender, enquanto que apenas 2,4 % informaram que sofreram diminuição no quadro de pessoal.
Mobilizadores COEP – Qual foi o setor que mais se destacou em 2006?
R. O Núcleo Setorial de Produtores de Orgânicos de Vassouras, na Região Médio Paraíba Fluminense, recebeu, em 2006, o Prêmio de Núcleo Setorial Destaque do Brasil, concorrendo com mais de 35 mil empresas, que participam do Empreender em todo o país. O Núcleo surgiu no final de 2004, quando 10 produtores agrícolas de Vassouras decidiram se unir para buscar soluções para os seus problemas comuns. Vassouras é um município onde um dos setores principais da economia é a agricultura familiar e como a produção orgânica tem ganhado espaço no mercado, ficou viável organizar os produtores locais para produzir nesse sistema. Valorizando a produção e, conseqüentemente, atuando em um mercado mais seleto, buscaram em conjunto um retorno financeiro maior, bem como fomentar a preservação do meio ambiente e uma melhor qualidade de vida para os produtores. A partir da união, os produtores conseguiram buscar a Certificação ABIO, o planejamento da produção e vendas em conjunto e, no ano 2007, receberão o certificado em Boas Práticas Agrícolas (Senai – Embrapa). O resultado dessa união foi a geração de emprego e renda para as famílias dos produtores e dos trabalhadores (todos são registrados) e todo o manejo é feito com base na cultura de produção orgânica, respeitando todos os stakeholders (meio ambiente, colaboradores, parceiros etc.).
Mobilizadores COEP – Que resultados as pequenas e médias empresas têm obtido?
R. Segundo pesquisas realizadas nacionalmente, pode-se afirmar, pela avaliação da melhoria na qualidade de produtos e serviços, que 82,2% obtiveram aumento de competitividade. Uma parcela de 67,3% dos entrevistados respondeu que conseguiu aumentar o número de clientes. Para 58,2% dos entrevistados, a empresa aumentou o mix de produtos ofertados. A troca de experiência, um dos principais objetos do Empreender, foi confirmada por 88,2% das empresas pesquisadas. Um percentual de 59,2%, afirmou que houve melhoria na negociação com fornecedores. Para 59,8% dos entrevistados houve melhoria na organização da produção de serviços, número bastante significativo considerando que 24,5% responderam que não houve necessidade de mudança na organização da produção. Para 35,7% dos pesquisados, houve um ou mais tipos de aperfeiçoamento tecnológico, destacando-se o segmento da agropecuária, no qual 48,6% informaram ter havido esse aperfeiçoamento. Um percentual de 54,8% das empresas pesquisadas aumentou o mercado de atuação, sendo que essa expansão se deu, principalmente, no mercado local – 76,4%. Foi expressiva a quantidade de empresas que aumentou o mercado no estado, cabendo ressaltar que os produtos e serviços de 1,7% das empresas conquistaram mercados internacionais.Nas empresas participantes há redução de custos, maior oportunidade de aperfeiçoamento profissional, maior interação dos empresários, melhoria na qualidade dos serviços prestados, melhoria no atendimento e relacionamento com clientes. Para as ACEs, maior credibilidade junto aos empresários associados, aumento do número de associados, aumento da receita e maior representatividade na comunidade.
Mobilizadores COEP – Qual a repercussão desses resultados na localidade?
R. O Empreender é, antes de mais nada, uma proposta de desenvolvimento, que não se restringe ao universo das empresas e ACEs. O empresário da micro e pequena empresa é, sem dúvida, o primeiro beneficiado com as ações dos Núcleo Setoriais, mas a indução do desenvolvimento expande-se como um onda por todos os setores da sociedade. Núcleos Setoriais atuantes significam fortalecimento da economia local, modernização, ganho de qualidade, assimilação e desenvolvimento de tecnologias. Quem ganha, no final das contas, é a localidade, na forma de melhoria das condições de vida de sua população. No município, há aumento do número de empresas formais e, conseqüentemente, dos impostos arrecadados, maior interação entre o município e os empresários, geração e manutenção de empregos.
Considerei a entrevista interessante, porque mostra atuação das peuenas e médias
empresa na economia da região trazendo beneficids, como a melhoria na qualidade
dos produtos ofertados, geração de emprego e renda, entre outros.