O Banco Palmas, situado no Conjunto Palmeira, em Fortaleza (CE),é um projeto de desenvolvimento, voltado para a geração de ocupação e renda, com um componente social de mobilização dos moradores. Nesta entrevista, o Coordenador Geral do Banco Palmas, Joaquim Melo fala da experiência desenvolvida pela Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras e sobre o Sistema Integrado de Crédito, um projeto de incentivo para que a população localacesse o Microcrédito.
Mobilizadores Coep – Como surgiu a idéia do Banco Palmas?
R: O Conjunto Palmeira é um bairro situado na Zona Sul da cidade de Fortaleza (CE), nordeste do Brasil. Possui trinta mil habitantes, caracterizados pela pobreza econômica: 80% das famílias têm renda familiar abaixo de dois salários mínimos. Em 1997, a pobreza econômica em que viviam as famílias do bairro era devastadora. Para enfrentar este quadro de miséria, a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeira (ASMOCONP) resolveu implantar um projeto de desenvolvimento local, voltado para a geração de ocupação e renda, com um amplo componente social de mobilização e organização dos moradores. Este projeto recebeu o nome de Banco Palmas – Banco Popular do Conjunto Palmeira. O Banco Palmas criou vários subprojetos, que objetivam a melhoria da qualidade de vida dos moradores.
Mobilizadores Coep – Conte-nos sobre os objetivos e as ações desenvolvidas pelo o Banco Palmas.
R: A estratégia central do Banco Palmas foi criar uma rede local de Economia Solidária que coloca no mesmo espaço os pequenos produtores locais e os consumidores. Atualmente, essa rede conta com 90 empreendimentos do bairro, entre comerciantes, produtores e prestadores de serviço, além de 1.500 famílias que são sócias da ASMOCONP. As mulheres do bairro foram as que mais tomaram a iniciativa de usufruírem as oportunidades da Rede Solidária. Organizadas em grupos ou individualmente passaram a fazer pequenos empréstimos no banco e a abrirem negócios produtivos, tais como: a criação de pequenas empresas comunitárias de confecção (Palmafashion), artesanato (Palmart), material de limpeza (Palmalimpe), limpeza de ambientes (Palma serviços de limpeza) e produtos naturais (PalmaNatus). Hoje, o Banco Palmas desenvolve várias frentes de trabalho. Um delas é o Laboratório de Agricultura Urbana, um espaço na sede da Associação de Moradores onde são cultivadas plantas medicinais, hortaliças e criação de galinha caipira. Comporta também um minhocário e um tanque de compostagem de lixo, tudo numa perspectiva orgânica e agroecológica. Nesses seis anos, o Banco Palmas já gerou no Conjunto Palmeira 1.200 ocupações.
Mobilizadores Coep ? O que é Palmatech?
R: A Palmatech é um espaço, localizado na sede da Associação, que oferece oficinas e cursos variados na área de capacitação profissional, gestão de empresas solidárias, criação de redes e instrumentos de Economia Solidária enfatizando a cultura da cooperação. Atualmente a Palmatech desenvolve uma Capacitação para mil jovens chamado Bairro Escola de Trabalho. Esse nome se dá pelo fato dos jovens aprenderem uma profissão em 150 empreendimentos do bairro, cadastrados no banco Palmas. Dentre estes inclui-se industrias, comércios e serviços, quase todos na informalidade.
Mobilizadores Coep – Como se dão os clubes de trocas e as compras coletivas?
R: O clube de trocas é uma articulação entre produtores, prestadores de serviço e consumidores do bairro, que se reúnem semanalmente para trocarem seus bens e serviços, utilizando uma moeda social. Hoje a moeda social chama-se PALMAS e circula diariamente na comunidade. Quem compra com palmas tem um desconto que varia 2 a 10% nas lojas do comércio local. Nesse sentido, as compras coletivas são uma estratégia que organiza os pequenos produtores do bairro para, juntos, comprarem os insumos de sua produção, barateando os custos.
Mobilizadores Coep – Sabemos que um dos grandes desafios, enfrentado peloBanco Palmas foi o de criar um programa de crédito para a população desfavorecida. Gostaríamos de saber como vocês superaram essa dificuldade e de que modo a população do Conjunto Palmeira tem acesso ao microcrédito?
R: O Banco Palmas incentiva o Microcrédito para produção, comércio ou serviço, através do Sistema Integrado de Crédito. No caso de Palmas, o Microcrédito é para quem não pode acessar as fontes de financiamentos “oficiais” por causa da burocracia, exigências quanto a fiador, nível de renda, patrimônio e outras normas bancárias. Por isso, o Banco Palmas não exige documentos, nem garantias cadastrais e concede créditos no valor máximo de R$ 3.000,00 (três mil reais). Outra iniciativa foi a criação de um cartão de crédito comunitário criado pelo Banco Palmas para estimular o comércio local, com funcionamento apenas no bairro. Para nós, a experiência do microcrédito é muito mais que emprestar dinheiro. Buscamos um sistema integrado de produção, serviços, consumo e comercialização.
O Banco Palmas é uma prova que a mobilização e a organização da (s) comunidades é de fundamental importância para enfrentar e resolver os problemas inerentes as mesmas.
Achei bastante interessante, inclusive por ser uma tecnologia social com possibilidade de multiplicação em comunidades, claro que obedecendo as características próprias de cada uma. O escopo do projeto poderia ser disponibilizado a rede? de que forma foram levantando as atividades a serem desenvolvidas na comunidade, por exemplo?
Olá Sassa,
Obrigado pela participação.
Em breve, disponibilizaremos as informações.
No momento, sugiro que você acesse a seção de textos do grupo. Nela você encontrará dois textos sobre o Banco Palmas. O primeiro, “Banco Palmas” de Joaquim Melo. O segundo, “Conjunto Palmeiras: Palco de Práticas e Acordos Solidários” de Fernanda Rodrigues.
Um abraço,