No Brasil, cerca de 8% das crianças e 3% dos adultos possuem alergia alimentar segundo estimativa da Associação Brasileira de Alergia. O maior desafios dessas pessoas é ter a certeza de que os produtos que vão consumir não têm alérgenos ou traços deles, mas a rotulagem dos produtos à venda nos supermercados não ajuda.
Assim, os alérgicos ou os pais de crianças com alergia frequentemente são obrigados a buscar informações nos Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC), que nem sempre passam informações corretas.
O filho caçula da advogada Maria Cecília Cury Chaddad, Rafael, tem alergia alimentar múltipla. Movida pelo caso familiar, ela se aproximou de outras mães e pais que viviam o mesmo problema e, juntos, lançaram, em fevereiro de 2015, a campanha Põe no Rótulo, com o objetivo de reivindicar rotulagem correta dos alimentos e de produtos de higiene. A proposta é que os rótulos destaquem de maneira clara e visível os alérgenos, ou traços deles, contidos nos alimentos.
Nessa entrevista, Maria Cecília fala sobre a campanha, as ações que estão sendo desenvolvidas, o rótulo ideal para atender às necessidades das pessoas alérgicas e a proposta de regulamentação da rotulagem que está sendo debatida na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A rotulagem destacada de alérgenos é regra em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Chile e na União Europeia.
Rede Mobilizadores – O que é a campanha Põe no Rótulo e qual seu objetivo?
R.: O Põe no Rótulo surgiu com o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população para a questão da rotulagem de alérgenos, pleiteando que os rótulos destaquem a presença dos principais alérgenos alimentares, quais sejam: leite, soja, ovo, trigo, peixe, crustáceos, amendoim, que são os alimentos responsáveis por 90% das reações alérgicas no mundo, além do milho, que tem se mostrado como um importante alergênico no Brasil.
Rede Mobilizadores – Quando e em que contexto a campanha foi criada?
R.: O movimento nasceu da experiência de famílias de crianças alérgicas que vivenciam diariamente a dificuldade para comprar um produto no mercado: comida, produto de higiene pessoal… Horas lendo rótulos, ligando para Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC), confirmando com outras mães se a informação que o SAC passou é segura. Sem falar nas reações sem explicação aparente, que foram resultado do consumo de produtos com rotulagem insatisfatória.
Do estreitamento de laços entre algumas destas mães, da união de experiências profissionais, surgiu um grupo menor que idealizou a campanha e, desde fevereiro de 2015, a página está no ar no Facebook, e já tem mais de 81.500 curtidas. A campanha está também no Instagram e no Twitter.
Rede Mobilizadores – Que ações estão sendo desenvolvidas? Já tiveram retornos positivos? Quais?
R.: O grupo envolvido na campanha atua em algumas frentes, como criação de conteúdo para mídias sociais, moderação dos posts, participação em eventos para divulgação da alergia alimentar e da relevância da rotulagem destacada de alérgenos, elaboração de material informativo, como a cartilha para consumidores e o guia para escolas, além da efetiva participação do grupo nos debates junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Rede Mobilizadores – Quais os principais resultados da consulta pública realizada pela Anvisa em 2014?
R.: O debate da proposta de regulamentação da rotulagem destacada de alérgenos ainda não foi finalizado (a Anvisa pretende fazer uma audiência pública para reunir presencialmente interessados antes de publicar o texto final no Diário Oficial).
Contudo, mesmo sem a aprovação da resolução, já notamos que algumas empresas já mudaram seus rótulos e que alguns serviços de atendimento ao consumidor também estão melhor preparados para atender ao consumidor que tem alergia alimentar – o que confirma a viabilidade daquilo que temos pedido em nossa campanha.
No entanto, reforçamos que, apesar destas pequenas mudanças que estão surgindo isoladamente serem benéficas, enquanto o assunto não for tratado por todas as indústrias de maneira uniforme, o consumidor fica em situação de risco ampliado, pois é levado ao engano de crer que todos os rótulos trariam as informações com o mesmo grau de precisão.
Rede Mobilizadores – Como deveria ser o rótulo ideal para atender as pessoas com alergia alimentar?
R.: Atualmente, muitas informações contidas nos rótulos são trazidas com nomenclatura menos acessível ao consumidor leigo (caseinato, whey, albumina, lecitina, por exemplo). Além disso, temos muitos casos de produtos contendo traços de alérgenos sem o devido alerta no rótulo, o que gera reações, por vezes muito graves, em consumidores mais sensíveis.
Buscando ultrapassar os desafios e as deficiências dos rótulos, as famílias procuram pelos serviços de atendimento ao consumidor e nem sempre conseguem a informação que precisam. Há empresas cujo 0800 não aceita chamadas de celulares (mas boa parte das dúvidas surge durante as compras); o atendimento não é 24 horas (mas as compras nem sempre acontecem em horário comercial); há empresas que não orientam bem os atendentes, que se limitam a dizer que a informação está no rótulo ou que a questão deve ser encaminhada ao médico (como se o médico tivesse conhecimento sobre a linha de produção para avaliar risco da presença de traços de alérgenos).
Assim, em vista deste cenário, o rótulo ideal é aquele que não induz o consumidor a erro, no qual as informações são facilmente identificáveis inclusive por leigos. Deste modo, a sugestão apresentada pela Anvisa nos pareceu muito benéfica: informações sobre alergênicos destacadas em uma moldura de fundo branco como nesta imagem:
Rede Mobilizadores – Quais os principais problemas enfrentados pelas pessoas com alergia, especialmente as crianças, ao consumir um produto que tenha um alérgeno?
R.: Como já mencionado, há dificuldades na leitura dos rótulos e também nem sempre é possível encontrar a solução junto aos canais de atendimento ao consumidor.
E qual o impacto desta realidade? Como o tratamento da alergia alimentar passa necessariamente pela adesão à dieta, aquele que consome inadvertidamente um produto contendo ingrediente alergênico (independentemente da quantidade) poderá apresentar reações, que vão desde sintomas gastrointestinais, respiratórias, podendo chegar a reações gravíssimas como edema de glote ou reação anafilática, com risco à própria vida de quem tem alergia alimentar.
Entrevista concedida à: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa
Existe uma grande dificuldade em relação a leitura e a compreensão dos dados que vem nos rótulos dos produtos.
Realmente a dificuldade na leitura dos rótulos causa grande impacto, pois nem sempre o SAC consegue sanar a dúvida do consumidor.Acho que além dos ingredientes estar mencionados em linguagem técnica científica,também deve estar na linguagem simplificada para o consumidor.
Quando leciono a disciplina de Serviço de Alimentação para alunos do Curso Técnico em Guia de Turismo, tem um documento importante que deve ser preenchida pelos turistas que é a ficha médica confidencial , nela o turista coloca a informação sobre presença de alergias/intolerância alimentares, pois quando o guia chegar no restaurante deve informar ao proprietário o ocorrido para que não ocorra incidentes durante a viagem, essa oficina e a leitura desses textos tem ampliado o campo de visão sobre o assunto. Modelo ficha médica http://pt.slideshare.net/KARLLAUNA/ficha-mdica-confidencial?qid=9253ec0d-e459-4229-af41-779c8046ce72&v=qf1&b=&from_search=2