Joyce Andrade, coordenadora técnica da Casa da Acolhida Marista, nosconta nessa entrevista as características do projeto que atende residentes das comunidades do Borel e da Formiga, situado no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro; os objetivos das trocas solidárias; eos efeitos positivos deste trabalho para os educandos.
Mobilizadores Coep – O que é o Projeto Casa da Acolhida Marista?
R: O Projeto Casa da Acolhida Marista é responsável por atender crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. Para isso, buscamos uma participação proativa da sociedade, garantindo deste modo, os direitos já constituídos por lei, como por exemplo, o direito a educação, ao lazer e ao esporte desses jovens.
Mobilizadores Coep – Qual o objetivo das trocas solidárias?
R: As trocas solidárias acontecem na Casa da Acolhida desde dezembro de 2002. Essas trocas têm como objetivo a promoção social dos educandos e suas famílias. Ao promover as trocas solidárias, a Casa da Acolhida busca uma distribuição mais igualitária de roupas, alimentos e matérias escolares entre os estudantes e seus familiares. Sobretudo, quando sabemos que grande parte desses jovens vive com uma renda mensal inferior aum quartodo salário mínimo.
Mobilizadores Coep – Como surgiu e qual a proposta da moeda social Marista?
R: Ao conhecer a proposta política de uma Economia Solidária, iniciamos o trabalho com grupos em situação de exclusão. A partir desse ponto, repensamos o consumo, a produção, a comercialização e, desse modo, buscamos construir novas relações sociais e principalmente relações econômicas. As trocas acontecem mensalmente no Bazar Legal. Nesses encontros, trocamos materiais recicláveis pela moeda social Marista, efetivando, assim, as trocas necessárias. Para permitir uma maior possibilidade de intercâmbio, construímos o lastro da moeda social Marista, tendo como correspondência horas de trabalho e objetos reaproveitados do cotidiano. Mobilizadores Coep – Qual o perfil da população atendida pelo Projeto?
R: Hoje, atendemos residentes das comunidades do Borel e da Formiga, situado no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. A grande parte desses educandos atendidos pela casa são jovens negros ou mestiços e, em sua maioria já perderam algum membro da família no conflito urbano. Outro grande grupo é composto por mulheres – chefes de família. Desse quantitativo mais de 65% das famílias desenvolvem atividades em espaços informais de trabalho, 20% sobrevivem com renda de projetos sociais mantidos pelo Município e pelo Estado, como bolsa-social, cheque-cidadão, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Benefício de Prestação Continuada, etc. Apenas 15% têm seus direitos trabalhistas garantidos.
Mobilizadores Coep – Qual sua avaliação sobre o impacto deste trabalho para a essa população?
R: Há mudanças que são percebidas claramente nas famílias que participam do Bazar Legal e das reuniões mensais dos Clubes de Troca do Estado de Rio de Janeiro. Entre elas, crescimento na participação das atividades realizadas pela Casa da Acolhida Marista; fortalecimento do vínculo mãe-filho; empoderamento do grupo, buscando alternativas para os problemas da comunidade; inserção em novos espaços de trabalho que garantammelhor sustento da família e aumento da capacitação profissional; melhoria na habilidade para trabalhar em grupo; troca de experiência com outras comunidades,inclusive rurais, que possuem clubes de trocas.Trocamos, por exemplo,materiais reciclados por materiais escolares com alunos do Colégio São José. Hoje, sabemos que, quando pensamos em troca, pensamos em trocar experiências, afetos, necessidades, ideais e até novas formas de vida. Descobrimos assim, que um outro mundo é possível, e que nossos direitos serão respeitados, quando participamos efetivamente na construção desses novos espaços. Nesse processo, toda a equipe participa do trabalho, realizamos grupos de estudo sobre o tema, e vivenciamos no cotidiano a perspectiva da Economia Solidária,ao trabalharmos em equipe e com as famílias, de pensar o outro, no consumo, na preservação da natureza, e nos desafios diários quando trabalhamos com um grupoem extrema exclusão.