Marcos Carmona, coordenador de projetos do COEP no Semi-árido, nos conta nessa entrevista a parceria estabelecida com seis universidades públicas do Nordeste e o CNPq para implantação do projeto Universidades Cidadãs, uma iniciativa que tem possibilitado a interação de jovens estudantes com a realidade de comunidades rurais e a troca de conhecimentos e experiências.
Mobilizadores COEP – Como surgiu o Projeto Universidades Cidadãs?
R. Desde 1999 trabalhamos no semi-árido nordestino em projetos de desenvolvimento comunitário. Tudo começou com o trabalho em conjunto com as comunidades para a reintrodução da cultura do algodão, tradicional na região, mas que há tempos vinha perdendo potencial na agricultura familiar por falta de manejo adequado e por questões econômicas. Ao longo do tempo, a iniciativa foi se estendendo a um número maior de comunidades, hoje são 38, e o escopo também foi ampliado. Além do algodão, são desenvolvidas ações para geração de trabalho e renda, organização comunitária, convivência com o semi-árido, inclusão digital entre outros pontos.
Paralelamente, o COEP já tinha uma experiência em trabalhos conjuntos com universidades. Tínhamos um contato interessante com o professor Guilherme Soares, da Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE), que já colaborava na execução e avaliação dos projetos no semi-árido. Assim, em 2005, iniciamos o estabelecimento de parcerias com várias universidades do Nordeste que pudessem incrementar o trabalho realizado nas comunidades. A idéia era incentivar os processos de organização comunitária, otimizar a identificação das potencialidades e demandas comunitárias e compartilhar conhecimentos das universidades com as comunidades e também o conhecimento das comunidades com as universidades.
Mobilizadores COEP – O que é o Projeto Universidades Cidadãs?
R. Diria que se trata de um esforço conjunto entre o COEP, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), universidades e comunidades pelo desenvolvimento socioeconômico dessas últimas. O apoio do CNPq é fundamental ao projeto. Através de um convênio, são oferecidas bolsas a uma parcela importante dos participantes discentes e docentes. A rede conta hoje com seis universidades: Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal de Pernambuco (FRPE), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Regional do Cariri (URCA). Cada universidade atua em seu estado, exceto a Federal de Sergipe que dá apoio a Sergipe e Alagoas. São oito professores e mais de 40 estudantes entre bolsistas e voluntários de uma gama variada de cursos.
Através da atuação das universidades foram realizados diagnósticos participativos, capacitações em diversas áreas de interesse – como piscicultura, informática e música – e, estão sendo estruturados pequenos projetos com o objetivo de dar um impulso inicial à organização de grupos produtivos já existentes ou com potencial para se consolidar, entre outras ações nas comunidades.
Acredito que o projeto oferece uma grande oportunidade de intercâmbio e produção de conhecimento a todos os participantes. Além do grande impulso no trabalho de organização comunitária, outro grande dividendo é o incremento na qualidade da formação dos estudantes que passam a reconhecer os cenários reais onde irão atuar e se envolvem fortemente com a extensão.
Mobilizadores COEP – Como foi o processo de implementação do projeto?
R. Iniciamos em conjunto com o professor Guilherme Soares uma busca por professores das demais universidades que tivessem vivência e interesse em extensão e no desenvolvimento de projetos sociais. Normalmente, o contato inicial se dava pela pró-reitoria de extensão. Aos poucos surgiram os novos parceiros. A operacionalização da rede se tornou possível graças a uma parceria com o CNPq que oferece bolsas a uma parte importante dos professores e alunos envolvidos. É importante notar que a atuação dessa rede de universidades se dá no âmbito de um programa que integra diversos projetos executados pelo COEP com parceiros, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), Eletrobrás e Programa GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão.
Mobilizadores COEP – Como o Projeto Universidades Cidadãs complementou as atividades que já vinham sendo desenvolvidas nas comunidades ?
R. Creio que através da atuação das universidades tivemos um incremento em nossa capacidade de ação, podendo atender outras demandas das comunidades no que toca à geração de renda, por exemplo. Trabalhamos em comunidades rurais, tradicionalmente produtoras agrícolas, mas neste meio outras atividades também são viáveis além da produção de algodão e mamona, que são focos tradicionais de nossa atuação. Hoje, há grupos de mulheres customizando roupas ? adicionando bordados e apliques em peças industriais, tornando-as peças diferenciadas e com maior valor agregado ?, grupos criando peixes para consumo e comercialização, outros produzindo objetos artesanais, grupos musicais, entre tantas outras atividades. Outro foco que acho importante destacar é a valorização da organização comunitária, o incentivo à mobilização das comunidades em busca de seus direitos e de seu desenvolvimento. Todo o trabalho está permeado por essas questões.Leia também a entrevista com o coordenador nacional do projeto Universidades Cidadãs, Guilherme Soares.
Entrevistaconcedida à: Fernanda VillaEdição: Eliane AraujoEsperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.
Ótima a entrevista, bastante clara onde todos podem entender do que se trata, afinal essa rede cresceu tanto que complica um pouco as pessoas, ou seja, ficamos sabendo de que? de quem? estão falando .