A mobilização social é a participação da sociedade, gerando benefícios coletivos. Nesta entrevista, o sociólogo e gerente da Unidade de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional, Juarez de Paula, fala sobre mobilização, seus princípios, heranças culturais brasileiras e o que é necessário fazer para manter um grupo unido e estimulado.
Além disso, ele destaca, que a mobilização acontece quando existe um interesse coletivo em alcançar determinados objetivos e que, para haver envolvimento de todos, é necessário planejamento de médio e longo prazo, e um pouco de criatividade. Identificar as lideranças, as pessoas certas na comunidade que podem atuar na mobilização dos grupos também é fundamental. Valores como democracia e transparência devem estar semprepresentes.
Mobilizadores COEP – O que é mobilização social? O que ela envolve? R.: A mobilização é uma reunião de esforços, fatores ou recursos. No caso, a mobilização social é uma reunião de esforços entre pessoas de uma sociedade visando interesses comuns, como por exemplo, colocar em prática projetos sociais.
A mobilização social envolve a identificação de lideranças locais. E quando falo em ?lideranças?, não estou me referindo apenas àquelas pessoas que ocupam formalmente cargos de direção em entidades ou organizações sociais. Estou falando também daquelas pessoas que são ?formadoras de opinião?, ou seja, aquelas pessoas que influenciam o modo de pensar e se comportar de diferentes grupos.Mobilizadores COEP – O que faz com que as pessoas se mobilizem em torno de uma causa ou de um empreendimento? E o que as desmobiliza? R.: O principal motivo em torno de uma mobilização é o interesse das pessoas envolvidas. Este interesse pode ser mais ou menos legítimo, tudo depende do objetivo pelo qual as pessoas estão se mobilizando. Por isso, é necessário deixar claro qual é o interesse coletivo, da maioria, em torno daquela reunião, procurando atender às necessidades concretas de todos os envolvidos.Costumo citar dois fatores principais vistos como heranças culturais brasileiras que levam à desmobilização. O primeiro deles é o que chamamos de ?déficit da cultura cooperativa? ou pouca cultura de cooperação. Não tivemos esta prática de indução do trabalho cooperativo em nosso país. O tipo de cultura disseminada aqui é o da competição dentro da escassez. Vários ditados populares atestam o que eu estou falando. Um exemplo é o dito: ?Farinha pouca, meu pirão primeiro?! O segundo é que, no Brasil, as pessoas não se veem como sujeito perante o Estado e tendem a achar que todas as atitudes devem partir dos governos. Outro fator para a desmobilização nas grandes cidades, principalmente nas periferias urbanas, é a atribulada vida que as pessoas levam em função do trabalho, que as ocupa boa parte do dia: gastam horas no trânsito, têm afazeres domésticos, sobrando pouco tempo para se dedicar a outras atividades.Mobilizadores COEP – O que é preciso para manter as pessoas unidas e em sintonia com os interesses do grupo? R.: No Brasil temos a cultura dos resultados imediatos. E sabemos que mudanças exigem planejamento para que a execução ocorra de forma esperada. Os japoneses sabem fazer isso muito bem: executam seus projetos minuciosamente para que tudo saia como planejado. Por isso, é necessário saber lidar com esta característica da cultura brasileira e planejar os projetos de forma a ter pequenos resultados que estimulem o grupo de forma continuada. É preciso ter um planejamento de médio e longo prazo para alimentar o processo de mobilização.O papel de um facilitador, ou seja, de alguém experiente do grupo que faça o planejamento, é de fundamental importância para que a estratégia alimente os interesses de todos e mantenha o grupo unido. O facilitador deve ter a capacidade de enxergar e trabalhar os interesses divergentes, de modo que todos fiquem unidos.Mobilizadores COEP – Os aspectos culturais interferem na capacidade de mobilização de uma comunidade? De que forma? R.: Os aspectos culturais são decisivos e num país continental como o Brasil as diferenças são grandes. De um modo geral, as comunidades rurais são mais solidárias, mais cooperativas. Nas cidades, as pessoas costumam ter uma postura mais competitiva. Os nordestinos são um povo acolhedor, mais festivo. Já os sulistas são mais reservados. Estas diferenças regionais e as características de cada lugar precisam ser levadas em conta. Porém, de um modo geral, o brasileiro é solidário e cooperativo, e está aberto a receber informação. Acredito que estamos passando por um bom momento atualmente no país, no qual os brasileiros estão ficando mais confiantes quanto a seu potencial.Mobilizadores COEP – Quais atividades podem ser desenvolvidas para estimular a mobilização, especialmente em comunidades de baixa renda? R.: Devemos partir sempre de interesses coletivos, mais importantes para as pessoas envolvidas no grupo para estimular a mobilização. Um olhar de fora, ou seja, pessoas que não são da comunidade talvez tenham dificuldade em identificar os interesses prioritários de cada grupo.Outra forma de estimular a mobilização é partir das potencialidades de cada comunidade para fortalece-las. É o que chamamos de ?mapa do bem?. Através da identificação de um potencial produtivo, estimulamos a participação das pessoas para discutir assuntos que podem desenvolver sua comunidade, conseguindo mais atenção dessa forma. Ou seja, em vez de se unir para discutir os problemas de falta de infraestrutura da comunidade, reunir-se para discutir as potencialidades daquela comunidade, que vão alavancar e fortalecer o grupo. Mobilizadores COEP – Quais os princípios que devem nortear um grupo de pessoas ou entidades que desejam atuar conjuntamente? R.: Existem dois valores fundamentais que devem estar presentes na união de um grupo: democracia e transparência. A democracia é um modo de se conviver com as diferenças. O conflito dentro de um grupo não pode ser visto como um ponto negativo, pois ter visões diferentes, reconhecer argumentos, dialogar, todos são processos legítimos que fazem parte da democracia e fortalecem o grupo.A transparência é palavra e atitude de ordem quando se trata de informações que sejam de interesse de todo o grupo. Não podem existir assuntos proibidos ou informações sigilosas.Mobilizadores COEP – Como fortalecer processos de mobilização incipientes? R.: É difícil responder a esta pergunta sem saber o que está causando a desmobilização, mas acredito, de um modo geral, que a identificação das pessoas certas para atuarem como lideranças dentro de um grupo pode fazer a diferença. Nas comunidades mais pobres, por exemplo, os jovens mais empreendedores e inquietos vão embora primeiro, em busca da realização de seus sonhos. Os que ficam são os mais acomodados. Eu diria que precisamos atrair esses jovens e aproveitar o seu potencial para mudar as perspectivas de futuro dentro de suas próprias comunidades. As mulheres também merecem atenção, pois elas têm uma presença muito forte dentro de sua comunidade e costumam conhecê-la melhor do que os homens, por terem uma ligação maior com a casa, a família, os vizinhos.Mobilizadores COEP – É comum existirem diferenças socioeconômicas, políticas, religiosas e culturais entre as pessoas que compõem um mesmo grupo ou uma mesma entidade. O que fazer para que essas diferenças não se tornem fatores de desmobilização? R.: O grupo precisa definir claramente sua identidade, ou seja, qual o motivo de estarem juntos e quais são os objetivos comuns a todos. Se um grupo se organizou para discutir linhas de ônibus para a comunidade, a opção religiosa ou o time de futebol de cada um não podem interferir nos interesses coletivos, nesta identidade comum.Mobilizadores COEP – As associações, cooperativas e outros tipos de organizações coletivas, muitas vezes, esbarram na falta de interesse de seus integrantes em freqüentar e também em participar das reuniões a respeito de seus próprios interesses. Como mudar este quadro e estimular a participação de todos? R.: Estamos acostumados a pensar em reuniões de pessoas de forma acadêmica, onde todos permanecem sentados e uma só pessoa falando. Herdamos isso da escola. Porém, podemos transformar a reunião em algo prazeroso, estimular a participação, a brincadeira, o lado lúdico das pessoas. Devemos tornar a reunião uma situação agradável, onde as pessoas sintam-se estimuladas a participar, sem negar os conflitos que eventualmente possam existir. Costumo dizer que ?sem alegria não é sustentável?! E é verdade. Para ir àquela reunião cansativa da associação, o cansaço físico é motivo para desculpa, mas se um amigo chama para tomar um chopp, ninguém se recusa! É claro que não podemos comparar as duas coisas, mas podemos sim transformar a reunião do grupo em algo mais prazeroso.Recentemente, fiz uma reunião com 600 pessoas e um aparelho portátil permitiu que todas dessem suas opiniões a respeito do que estávamos perguntando, ou seja, a tecnologia possibilitou que tomássemos diversas decisões e todos se sentiram parte do processo. Sei que numa comunidade pobre não existe acesso a este tipo de tecnologia, mas existe o cara que toca violão, e outras ferramentas e ideias que podem estimular a participação das pessoas.Mobilizadores COEP – Quais as características mais evidentes nas comunidades em que existe uma mobilização efetiva e um engajamento das pessoas em tornos dos temas de interesse coletivo? R.: Acredito que a autoestima e a confiança das pessoas envolvidas seja determinante para uma mobilização efetiva. Existe toda uma cadeia onde a confiança entre as pessoas de um grupo leva à cooperação e a uma maior organização. Em consequência da organização, temos uma maior participação e também um maior controle público, ou seja, quanto maior a participação da sociedade, maior é a amplitude da esfera pública. No caso de uma associação, a transparência gera confiança.Mobilizadores COEP – Como o Sebrae atua na mobilização das comunidades visando o desenvolvimento comunitário? Poderia citar exemplos práticos? R.: Há mais de dez anos, o Sebrae atua na mobilização das comunidades e tem como metodologia de trabalho o Desenvolvimento Territorial. De forma resumida, seguimos quatro etapas para o desenvolvimento de nossas ações. Numa primeira etapa, identificamos as lideranças locais, juntamos estas pessoas e capacitamos o grupo protagonista das mudanças. É importante citar que toda mudança depende mais das pessoas da comunidade e menos de pessoas de fora dela. Numa segunda etapa, fazemos o ?mapa do bem?, identificando as potencialidades de negócios, produtos, pois o foco do Sebrae está nos negócios e na geração de trabalho e renda. Na terceira etapa, realizamos o planejamento estratégico, uma espécie de plano para detectar o que pode ser melhorado, quais os prazos, os recursos, os potenciais parceiros, em prol do desenvolvimento daquela comunidade. Na quarta etapa, colocamos o projeto em ação. Em todo o Brasil, são 170 casos de sucesso com projetos de Desenvolvimento Territorial.Para saber mais sobre o assunto, acesse:- Sebrae – Desenvolvimento Territorial – Blog Territórios em Rede, da Unidade de Desenvolvimento Territorial (UDT) do Sebrae NacionalEntrevista para o Grupo Mobilização SocialConcedida à: Flávia MachadoEditada por: Eliane Araújo
A mobilização de uma comunidade rural, aqui no Amazonas, se dá principalmente em torno de um problema que afeta a todos, e também é comum, de início, a rejeição de alguns pois não acreditam mais em certas instituições públicas.
Por isso é importante um trabalho de base, com as instituições não governamentais como Igrejas, Sindicatos, Escolas, Etc., e algumas governamentais que realmente atuam com seriedade.
Mas é preciso atuar de forma participativa, onde todos devem ter vez e voz, e também manter um calendário fixo de reuniões, e procurar não quebrar a confiança do povo local.
Hoje já existem experiencias exitosas que podem ajudar na construção participativa do conhecimento, para solução dos problemas ou também trabalhar as potencialidades locais sempre com Transparencia e totalmente democrático.
Em Santa Cruz de Goiás, estamos na quarta etapa com o SEBRAE
Realmente, manter a atenção de pessoas em reuniões que são importantes, tem que se ter muita habilidade. Ainda se o assunto for polêmico e não deixam que o outro conclua a sua opinião… mas é possível buscar estratégias para que as reuniões sejam proveitosas.
Djael Dias Consultor de agronegocio do sebrae Bahia.
Gostaria de conhecer algumas tecnicas ludicas para se trabalhar com comunidades rurais.