O novo Grupo Comunicação e Mobilização Social tem como patrona a publicitária Nádia Rebouças. Em 1991, sua agência, a Rebouças & Associados, foi contratada para fazer a programação do Aterro do Flamengo para a ECO 92, o que a permitiu entrar em contato com a questão do meio ambiente, do social e passar a trabalhar para ONGs. Em 1993, ele integrou-se à equipe da Campanha Ação da Cidadania, contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Recentemente, esteve envolvida no lançamento de uma campanha contra o racismo e em outra que denuncia a violência contra a mulher. Nesta entrevista, ela fala sobre o papel estratégico da comunicação em todos os setores da vida e também como instrumento de mobilização da sociedade para as causas sociais como o uso racional da água e da energia, defesa dos direitos da mulher, prevenção a AIDS, entre tantos outros temas.
Mobilizadores – Na sua opinião, qual a importância desse novo espaço, lançado no Mobilizadores COEP, para agrupar pessoas interessadas no tema da comunicação e mobilização social?
O mundo cada vez mais exige que nos tornemos capazes de formar redes e a comunicação é estratégica para isso. Ela pode levar a humanidade a um novo patamar, ajudando-a a amadurecer e passar a ser mais consciente de suas escolhas. Todos têm de aprender a fazer comunicação estratégica, por isso, um espaço dedicado à discussão e aprofundamento desse tema é não apenas atual como de extrema importância.
Mobilizadores – Que assuntos a seu ver têm maior relevância nesse momento para aprofundar o debate sobre a questão da comunicação e da mobilização social?
Eu enxergo a comunicação como uma forma de educar. Os comerciais nos ensinaram a consumir bebida, a fumar, a um monte de coisas que não faziam parte da nossa vida e agora fazem. Mas a comunicação também pode ser utilizada para ensinar outras coisas. Se estamos querendo que as pessoas usem a água e a energia de forma racional, é possível usar a publicidade para isso. Assim, você pode vender um comportamento, um estilo de vida mais responsável, utilizando as mesmas ferramentas usadas para vender produtos. Portanto, o marketing de idéias busca levar as pessoas a refletir sobre questões que não estão sendo tratadas corretamente. Um exemplo é o meio ambiente. Há muita informação nova para ser discutida e ainda muitos comportamentos que precisam mudar. O mesmo se pode dizer de temas como uso de drogas, armas, AIDS, violência contra mulher e racismo.
Estamos desenvolvendo uma campanha sobre racismo em que perguntamos para as pessoas na rua: ?Onde você guarda seu preconceito??. E o espantoso é que ninguém diz: ?Eu não guardo?. Todo o mundo diz algo. A campanha acaba tendo um papel de instigar uma mudança social. Não queríamos produzir só um filminho, com um ator ou um esportista negro famoso. Há anos se faz assim, e a realidade não mudou. É preciso pensar o problema sob um novo ângulo.
Mobilizadores – Com o crescimento dos movimentos sociais, quais os principais problemas enfrentados e qual a importância da comunicação na permanência e consolidação destes movimentos?
Eu creio que estamos vivendo um movimento de mudança profunda na história da humanidade. Durante as últimas duas décadas, o crescimento da participação em organizações cresceu exponencialmente. As pessoas começaram a perceber a importância de se organizarem por temas, interesses comuns. Isso representa uma força para a atuação social. A chegada do mundo virtual favoreceu essas associações. Quando juntas, as pessoas são capazes de refletir sobre seus temas comuns, e pouco a pouco, foram aprendendo a construir juntas uma visão de futuro, traçar objetivos, metas. As ONG´s, por exemplo, são hoje uma força mundial real ao lado das empresas multinacionais. Elas têm marcas, fazem campanhas defendendo suas idéias. Essa é uma característica muito própria dessas mudanças de ciclo da humanidade. A comunicação circula. Há troca. Isso potencializa nossas reflexões e gera novas oportunidades de encontrarmos novas soluções.É a era da conversa e da diversidade percebida, consciente.
Mobilizadores – A grande mídia é vista como um espaço privilegiado para a exposição dos movimentos e projetos sociais, mas quando se fala em mobilização social qual é, relativamente, a importância da grande imprensa e do trabalho de comunicação mais dirigido?
A mídia de massa tem uma capacidade de mobilização irrefutável. O que provamos nos últimos anos é que a internet já é uma mídia de massa para os formadores de opinião mundiais. Nós, privilegiados desse tempo, temos, portanto, uma enorme responsabilidade em efetivar mudanças. As mudanças precisam acontecer rápido porque a tragédia ambiental e social está claramente demonstrada. Por outro lado, nos últimos dois anos percebe-se mudanças muito interessantes na mídia de massa no Brasil. Tendo a pensar que a maior consciência social e ambiental dos profissionais de comunicação e cultural está mudando a TV brasileira. Há indícios que estamos muito envolvidos numa estratégia ampla de mudança, levando novas reflexões para toda a sociedade. Não abro mão de nenhuma forma de comunicação. Precisamos de todas e de planos estratégicos de comunicação que sejam eficazes no marketing de idéias. É importante a imprensa, é importante a propaganda se conscientizar de que, no fundo, criam crenças, estilos de vida e valores. Podemos escolher os alimentos para nossas mentes e corações, como hoje já estamos mais conscientes da alimentação para o físico.
Mobilizadores – Nos fale um pouco sobre o trabalho de comunicação que a Sra. vem desenvolvendo para empresas e organizações sociais? Qual tem sido o principal foco desse trabalho?
Comecei a trabalhar em propaganda em 1972 numa das maiores multinacionais brasileira, a Lintas, e logo pude perceber que propaganda é um tipo de comunicação. Descobri a importância da rádio corredor e com isso a importância da comunicação para a gestão. Foi um salto perceber a importância da comunicação para os relacionamentos das empresas com seus fornecedores, clientes, comunidades de influência. Hoje a Rebouças & Associados não é uma agência de propaganda. Nosso foco é cuidar do antes da propaganda. Seja descobrindo estratégias diferenciadas para posicionar marca, ou para mover empresas para seus objetivos. Assumimos todas as formas de comunicação para todos os públicos como estratégia para a transformação. Nós olhamos, ouvimos as pessoas de uma organização, percebemos, assim, aonde estão as dores, incompreensões e planejamos que comunicação utilizar para levar à mudança desejada. Isso pode ser feito com funcionários, clientes, consumidores (que eu chamo interlocutores), comunidades. Podem ser empresas, ONG´s ou cidades. Qualquer forma de organização vai se beneficiar ouvindo seus participantes e diagnosticando a partir daí o mix de comunicação e o que deve ser falado e tocado para dinamizar processos de transformação.
Em 1991, minha agência foi contratada para fazer a programação do Aterro do Flamengo para a ECO 92. Nosso trabalho era preparar o evento para receber todas as ONGs internacionais. Aí eu descobri uma nova tribo, que não sabia que existia: as organizações não-governamentais. Tomei contato com a questão do meio ambiente, do social e passei a trabalhar para ONGs. Eram clientes novos, que queriam vender não um sabonete, mas uma idéia. Eu começava, então, a trabalhar com o que eu chamava de marketing de idéias.
Em 1993, integrei-me à equipe da Campanha Ação da Cidadania, contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Normalmente construímos com as equipes os planos de comunicação, porque também aprendemos que as pessoas são mais criativas e capazes do que os modelos rígidos e pouco educativos de gestão acreditam. Nosso trabalho é altamente gratificante porque potencializamos negócios emponderando gente.