Nesta entrevista ao Mobilizadores COEP, Márcio Simeone Henriques, relações públicas e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fala um pouco sobre o papel da Comunicação nos projetos de mobilização social e comenta o campo de atuação do Programa Mobiliza, realizado na UFMG, e que gera bons resultados.
Mobilizadores COEP – De que formas a comunicação pode contribuir para a consolidação de projetos sociais?R. – A comunicação é componente fundamental dos projetos sociais mobilizadores, não apenas por ser essencial para geração dos vínculos de um grupo mobilizado, mas também para o próprio posicionamento das diversas causas no espaço público.Assim, lidar com a mídia e com os vários dispositivos de comunicação dirigida é uma necessidade central para o desenvolvimento dos projetos.Mobilizadores COEP – Como surgiu o programa Planejamento de Comunicação para Projetos de Mobilização Social e como ele atua? Quantos projetos já tiveram suporte do Programa? E quais os principais resultados obtidos?
R. – O Mobiliza surgiu através de demandas de extensão apresentadas ao curso de Comunicação Social da UFMG, em 1999. Uma das primeiras demandas foi a do Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina. Este trabalho, inicialmente realizado com o envolvimento de alunos de graduação em disciplina do curso de Comunicação, foi desafiador, pela necessidade de elaborar um planejamento de comunicação específico, que fugia às regras do planejamento de relações públicas padrão. Assim, começamos a lidar com este problema, buscando criar um modelo que favorecesse o conhecimento do processo de mobilização através da comunicação e a geração de estratégias mobilizadoras mais efetivas. O interesse era o de ir além da função de divulgação e publicização do projeto. Queríamos compreender a dinâmica comunicacional presente em projetos mobilizadores, muito mais do que o trato com a mídia ? como em assessorias de comunicação convencionais. Chegamos, então, à produção de conhecimentos que foram reunidos no livro ?Comunicação e Estratégias de Mobilização Social? e ministrados em vários cursos de extensão e à formulação de planos de comunicação para diversos projetos de extensão com este mesmo caráter: projetos ligados ao Programa Pólo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e ao Programa Pólos de Cidadania. Também pudemos discutir estas idéias e dar capacitação a projetos externos à Universidade, para órgãos públicos, empresas e entidades do Terceiro Setor (com destaque para a Secretaria de Estado da Saúde, Polícia Militar de Minas Gerais, Fundação CDL Pró-Criança e Banco do Brasil). Ao todo, nos três últimos anos, foram realizadas 37 atividades de capacitação e seis de assessoramento. Todas as atividades possuem grande articulação com o ensino de graduação, o que trouxe resultados reconhecidamente positivos para a formação de dezenas de estudantes, seja através das disciplinas, seja como estagiários dos diversos projetos. Gerou também projetos de pesquisa de iniciação científica e mesmo de Mestrado, além da coordenação editorial da coleção Comunicação e Mobilização Social, da Autêntica Editora. Mobilizadores COEP -O senhor citou oprograma Pólos de Cidadania. Em que consiste e como é desenvolvido?R.- O Pólos de Cidadaniatambém éum programa da UFMG. Eledesenvolve a inter-relação das atividades de ensino, pesquisa e extensão, para promover a inclusão social e a emancipação de grupos e indivíduos com histórico de exclusão e trajetória de risco.Atua em parceria com outras instituições públicas e privadas de ensino superior e da administração pública. A metodologia utilizada nas açõesrealizadas peloPólos fundamenta-se no relacionamento permanenteentre ação social e investigações com o entrecruzamento e retro-alimentação de resultados. A comunidade atua diretamente para a redução dos índices de pobreza urbana e de riscos sociais.Mobilizadores COEP – Em linhas gerais,que tipo de mobilização social o projeto Manuelzão gerou?R.- O Manuelzão é um Programa de Extensão da UFMG, de caráter multidisciplinar, de iniciativa do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade. Sob o lema saúde, meio ambiente e cidadania, o projeto nasceu com o objetivo de mobilizar a população dos 51 municípios da Bacia do Rio das Velhas, na região central de Minas Gerais, de forma a revitalizar este que é um dos principais afluentes do Rio São Francisco. Todo o trabalho envolve constantes estratégias de sensibilização, educação ambiental e mobilização não apenas da sociedade civil organizada como também de toda a população, seja em ações diretas nos vários comitês Manuelzão, seja na atuação nas instâncias políticas relativas à gestão dos recursos hídricos. O que se vê é que, nos últimos anos, tendo em vista a necessidade de ação intersetorial e a articulação entre Estado e sociedade civil para a solução dos graves problemas de recursos hídricos, torna-se indispensável uma mobilização de longo alcance para fazer cumprir as políticas públicas ? inscritas na legislação e, mais além, gerar uma atenção permanente para com a situação das bacias hidrográficas. A mobilização do Manuelzão se dá através da constituição de comitês, ao longo dos municípios cortados pelo Rio das Velhas, mas também ao longo de suas sub-bacias. Neste intento, tem obtido muitos resultados, mantendo uma interlocução permanente entre estes comitês. Um exemplo de ação mobilizadora intensiva foi a realização, no segundo semestre de 2003, da expedição ?Manuelzão desce o Rio das Velhas?, que ganhou grande repercussão local, pela iniciativa dos vários comitês e até mesmo repercussão nacional, através da mídia. Este trabalho prossegue, e seus resultados têm-se ampliado em todas as áreas.
Mobilizadores COEP – Como projetos de pequeno porte, sem tanta disponibilidade financeira, podem se utilizar de recursos da Comunicação para gerar co-responsabilidade entre seus participantes?R. – De fato, se considerarmos a distribuição desigual dos recursos de comunicação através da mídia, teremos o problema de expor publicamente determinadas causas de interesse público e fomentar a participação dos mais diversos atores. Entretanto, o processo de mobilização é, em si, um processo de comunicação, de constituição de vínculos de solidariedade entre estes atores, pelos mais diversos meios. O reforço desses laços pode, de certa forma, criar uma potência coletiva capaz de posicionar para a sociedade certos temas importantes sobre os quais se requer a atenção do maior número de pessoas, num sentido transformador. Acreditamos que é preciso focar o processo comunicativo envolvido nessa movimentação e não apenas os grandes dispositivos da mídia. A geração da co-responsabilidade será possível por intermédio da construção de ambientes de conversação e cooperação, que dependem, primariamente, da disponibilidade desses atores e de suas estratégias para dar legitimidade à causa e convocar aqueles que potencialmente podem contribuir para uma ação em rede.
Mobilizadores COEP – Que projetos o Programa apoiará no ano de 2006?R.- Em 2006 o Mobiliza dará suporte a atividades realizadas pelo Programa Pólos de Cidadania. Além disso, prepara quatro novas publicações na coleção ?Comunicação e Mobilização Social?.Mobilizadores COEP -Quais os títulos da coleção já publicados? R. “Comunicação e Estratégias de Mobilização”; “Mobilização Social: Um modo de construir a democracia e a participação”; e “Visões do Futuro: responsabilidade compartilhada e mobilização social”. Os livros têm distribuição nacional e também podem ser comprados diretamente no site da Editora Autêntica.