A presidente da Associação de Moradores Quixabeira, em Água Branca (AL), Maria da Conceição Campos, mais conhecida como Ceiça, fala sobre as mudanças pelas quais a comunidade vem passando desde o inicio da implementação do Programa Comunidades Semiárido pelo COEP em 2002. Ela destaca que a ideia de reativar a associação de moradores e instalar um tear, propostas do Comitê, foram fundamentais para a reorganização social da comunidade.
Mobilizadores COEP ? Quais são as principais características da comunidade Quixabeira?
R.: A comunidade é composta por 80 famílias e está localizada na zona rural de Alagoas, no município de Água Branca, a 304 Km de Maceió. Anos atrás, a produção de algodão era muito praticada, mas as dificuldades em épocas de seca desestimularam os agricultores que perdiam toda a produção. Hoje, vivemos do cultivo de milho, feijão e mandioca. Nos últimos anos, foram instalados na comunidade, por meio do Programa Comunidades Semiárido¹ , uma miniusina de beneficamento de algodão [máquina que permite a separação da pluma e do caroço e enfardamento da pluma], um telecentro [ambiente composto por computadores conectados à internet que tem orientação de um monitor capacitado para atender os usuários] e um tear [máquina que faz a tecelagem do algodão].
Mobilizadores COEP ? Quais os principais problemas da comunidade? O que já conseguiram resolver?
R.: Os principais problemas são: informação, educação e conscientização para o desenvolvimento comunitário e oportunidades de geração de trabalho e renda para que as pessoas não procurem alternativas de emprego fora da comunidade. Para tentar resolvê-los, visitamos escolas, incentivando os professores a usarem o telecentro, na realização de pesquisas e trabalhos escolares. Divulgamos também o telecentro para nossos associados, para que tragam seus filhos para visitá-lo.
Além disso, três jovens usuários do telecentro foram convidados para participarem do Programa Pró Jovem Campo² e estão sendo capacitados em agroextrativismo, que é o conhecimento de atividades produtivas rurais para geração de renda. Também oferecemos aos associados a oportunidade de participarem do sistema de criação de ovinos e caprinos³ , que ocorre com o acompanhamento técnico do COEP. Ainda temos a miniusina de beneficiamento de algodão e o tear.
Mobilizadores COEP ? O que mudou na comunidade com a chegada do COEP?
R.: Quando o COEP chegou, em 2002, a comunidade estava sem movimentos ou associação comunitária. O COEP nos trouxe uma proposta de organização, perguntando se queríamos; nos apresentou seus critérios, e a comunidade aceitou. Com isso, houve uma articulação para saber quem participaria e assumiria a associação, que já existia, mas estava desativada. Então, começaram a trabalhar se reunindo numa capela e logo depois num galpão que tinha sido construído para instalar a miniusina de beneficiamento de algodão. Depois de um tempo, foram instalados o telecentro e o tear.
Mobilizadores COEP ? Como a comunidade trabalha com o algodão?
R.: Como disse anteriormente, a comunidade já cultiva o algodão há um bom tempo, mas não havia muitas perspectivas até a implantação da miniusina de beneficiamento. Com a miniusina, passamos a vender a pluma do algodão por cerca de R$ 6 o quilo. Antes vendíamos o algodão não beneficiado por apenas R$ 1,20.
Apesar da miniusina, não temos como utilizar o algodão beneficiado para a produção de fios. Então, compramos rolos de fios de algodão em lugares específicos para usarmos no tear. Produzimos cobertores de solteiro, mantas para sofá, tecidos para redes e já chegamos a fazer cortinas também. A produção é vendida na própria comunidade e em feiras nos municípios e cidades vizinhas.


Mobilizadores COEP ? Como e para quê você tem mobilizado a comunidade?
R.: Organizo reuniões quase todo mês com o comitê mobilizador, monitores e com a comunidade. Nas reuniões com o comitê mobilizador e monitores, é organizado o plano de trabalhos da comunidade com a construção de uma agenda de atividades sociais, como, por exemplo, a arborização da praça e a reforma do gesso do telecentro. Nas reuniões com a comunidade, programamos bingos, sorteios e outras formas de obter recursos para realizar as atividades planejadas.
Mobilizadores COEP ? Que canais ou meios você utiliza para mobilizar o poder público? Quais os resultados já obtidos?
R.: Desde o início de 2009, convido as secretarias [municipais] e o prefeito para participarem das reuniões e assembléias comunitárias. Enviamos um ofício para o gabinete do prefeito com as demandas da comunidade e já conseguimos, por exemplo, a reforma do posto de saúde e a ajuda de custo para os quatro monitores do telecentro.
Mobilizadores COEP ? O que o COEP tem feito pela comunidade hoje?
R.: Nós contamos com a presença de um agente de desenvolvimento comunitário [pessoas que trabalham mobilizando e prestando assessoria técnica na comunidade], que sempre visita a comunidade, promove oficinas sociais, participa de nossas reuniões e ainda dá assessoria técnica aos participantes do sistema de criação de ovinos e caprinos, implementado pelo COEP.
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¹ O Programa Comunidades Semiárido é uma iniciativa do COEP, articulada com departamentos governamentais, entidades paraestatais e universidades, cujo objetivo é promover o desenvolvimento social e econômico de comunidades rurais na zona semiárida do Nordeste
² O ProJovem Campo é um projeto do Governo Federal que busca fortalecer e ampliar o acesso e a permanência dos jovens agricultores familiares no sistema educacional, promovendo elevação da escolaridade – com a conclusão do ensino fundamental – qualificação e formação profissional, como via para o desenvolvimento humano e o exercício da cidadania. ³ A criação de caprinos e ovinos é uma atividade tradicional na região nordestina, que serve para subsistência e geração de renda para as famílias atendidas. O sistema de criação de caprinos e ovinos é baseado na distribuição de lotes de três ou seis animais matrizes (fêmeas), sem raça definida, às famílias. A cada 24 matrizes é entregue à comunidade, sob a responsabilidade da associação local, um reprodutor de raça (Puro de Origem ? PO), para o cruzamento com as matrizes, visando o melhoramento genético do rebanho.Entrevista concedida à: Rafael MedeirosEdição: Renata Olivieri e Eliane Araújo