A criação da Associação Acredito em Você foi inspirada no livro “O Banqueiro dos Pobres”, de Muhamed Yunus. A instituição, que atua em São Paulo, apóia empreendedores comunitários, concedendo empréstimos sem juros e oferecendo cursos de capacitação. Nessa entrevista, a presidente da Associação, Marcia Gyurkovits, fala sobre o perfil e as principais necessidades dos empreendimentos apoiados e conta como a relação de confiança – estabelecida entre ONG, entidades parceiras e empreendedores – garante a concessão dos empréstimos e a consciência de que seu pagamento permite que outro beneficiário tenha uma oportunidade.Mobilizadores COEP – Qual o perfil dos empreendedores nas comunidades de baixa renda e quais suas principais necessidades?
R. O perfil dos empreendedores é bastante diversificado, mas o foco de atuação é sempre a auto-sustentabilidade. O que se busca é auxiliar no desenvolvimento e na sedimentação de atividade que possa prover o sustento do beneficiário e de sua família, quando possível. Dessa forma, por exemplo, se alguém faz um curso de manicure, mas não tem recursos para a aquisição do material de trabalho, a Acredito em Você empresta esse recurso por meio de suas entidades parceiras. A devolução do valor é feita sem envolver quaisquer juros e em prestações compatíveis com a capacidade de geração da renda proveniente do trabalho. A maioria dos beneficiários é composta por mulheres que, neste momento, estão voltadas às atividades de formação e estruturação de serviços como manicure, cabeleireira e cozinheira. Prestamos ajuda ainda a jovens músicos, que são conduzidos por um maestro, em uma entidade parceira denominada Associação Evangélica do Brasil.
Mobilizadores COEP – Qual a importância das entidades parceiras no contato com os empreendedores?
R. A “Acredito em Você” é uma associação jovem, legalmente constituída em 22 de abril de 2004, sem vínculos religiosos ou políticos, cuja atuação está bastante ligada às entidades parceiras, dentre as quais podemos citar a Associação Evangélica Beneficente, o Centro de Profissionalização de Adolescentes Padre Belo – CPA e a Fundação Francisca Franco. A rigor, são nossas parceiras que nos ajudam a detectar as necessidades dos beneficiários e a atuação da Acredito objetiva sanar essas necessidades através da realização de cursos técnicos, profissionalizantes e outros que contribuam para a formação profissional do indivíduo; do apoio na compra de equipamentos, ferramentas, matéria-prima ou mercadorias necessárias para o exercício de atividade geradora de renda; e ainda da compra de acessórios e outros objetos de uso pessoal que sejam fundamentais para a plena habilitação do indivíduo ao trabalho, como óculos ou aparelhos auditivos. Enfim, as necessidades são muitas e Acredito em Você tenta minimizá-las tanto quanto possível.
Mobilizadores COEP – A Acredito em Você nasceu após a leitura do livro “O Banqueiro dos Pobres”, de Muhamed Yunus. Qual a relação do surgimento da associação e o livro?
R. O livro foi a fonte inspiradora do projeto que acabou por se materializar na “Associação Acredito em Você”. Não obstante inexistir qualquer vínculo com o Banco Grameen, a obra de Yunus mobilizou a mentora do grupo, Cecília Berner, que buscou desenvolver uma atividade similar e puramente filantrópica. A Acredito tem por finalidade estatutária investir no potencial humano de criar e empreender, a partir da orientação e concessão de apoio financeiro necessário à formação profissional e à compra de equipamentos, materiais ou mercadorias a serem utilizados em atividades profissionais para fins de subsistência.
Mobilizadores COEP – Que serviços a Acredito em Você oferece para investir no potencial empreendedor e como são selecionados os beneficiários?
R. Os beneficiários são selecionados com o auxílio das entidades parceiras da Acredito. São entidades beneficentes que atuam muito próximas às comunidades de base. O critério seletivo abarca a análise do projeto a ser desenvolvido pelo beneficiário, seu nível de comprometimento e sua proximidade com a entidade parceira, dentre outros. Registre-se que a única garantia é a confiança que a entidade deposita no beneficiário. Não há necessidade de fiador e o auxílio pode se estender a beneficiário que possui restrição de crédito, inclusive com o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). O essencial é que o beneficiário tenha consciência de que ao pagar seu empréstimo ele dará a outro beneficiário a mesma oportunidade que teve.
Mobilizadores COEP – Qual é o valor médio dos empréstimos concedidos aos empreendedores e de onde vêm os recursos da Associação para o financiamento? Como os beneficiados realizam os pagamentos?
R. Os recursos são originários de doações de pessoas físicas e jurídicas que conhecem a seriedade do trabalho desenvolvido pela Acredito, seus integrantes e suas entidades parceiras. O valor do empréstimo não excede a R$ 500,00 por beneficiário e a freqüência depende da disponibilidade dos retornos dos empréstimos e do caixa da Acredito. Como regra geral, os beneficiários/empreendedores devolvem os recursos, mensalmente, às entidades parceiras que já podem repassar para os próximos beneficiários, em eventual lista de espera. É concedido, no mínimo, quatro semanas de carência para o início da restituição do apoio, possibilitando que a atividade apoiada apresente os primeiros resultados. A conscientização é fortemente trabalhada no sentido de que o beneficiário sabe que, ao pagar, estará dando ao seu próximo a mesma oportunidade que teve, pois o dinheiro não volta para a Acredito, mas fica na entidade parceira para que efetue logo um novo repasse a um novo beneficiário.
Mobilizadores COEP – Após o pagamento dos empréstimos, a Associação continua prestando assessoria aos grupos empreendedores?
R. É desejo da Acredito nunca perder o vínculo com o beneficiário. Entretanto, muitas vezes a vida vai tomando caminhos diversos e nem sempre é possível a manutenção de alguns vínculos, ao longo do tempo. Mas é certo que, em sua maioria, busca-se o fortalecimento da relação por meio de visitas periódicas que objetivam averiguar e motivar o beneficiário na caminhada da vida.
Mobilizadores COEP – Que exemplos bem sucedidos você pode citar de pessoas que conseguiram desenvolver alguma atividade produtiva a partir de empréstimos conseguidos por meio da Acredito em Você?
R. Cito as histórias de duas usuárias beneficiadas pela Acredito em Você em 2006. Elisabete Silveira Lima de Sousa buscou na área da beleza uma profissão que pudesse realizar sem sair de casa. Com a ajuda da Associação Acredito em Você, que concedeu um empréstimo de R$ 500, ela montou um salão dentro da sala do seu apartamento no Conjunto Singapura. Hoje, tem uma clientela fixa que foi fruto da divulgação boca a boca. Elisabete conseguiu o envolvimento de todos da família no empreendimento: o marido, aos sábados, sai para passear com as filhas para não atrapalhar as clientes; a filha mais velha fez o cartão de visita para o salão e sempre ajuda na marcação da agenda. A renda obtida tem sido investida na casa e a última aquisição foi o computador para toda a família. É gratificante verificar o quanto a usuária aproveitou a oportunidade e tem conseguido a prosperidade do empreendimento. Tem ainda a Núbia Alves dos Santos Rodrigues, que conheceu a Associação Evangélica Beneficente por meio de uma amiga. Ao ver que tinha a possibilidade de realizar seu sonho, ter seu próprio negócio, começou a participar do curso de Geração de Renda em Panificação. Os cursos desenvolvidos ajudaram a melhorar sua auto-estima e o seu relacionamento interpessoal, e ela fez novas amizades. Em agosto de 2005, a Acredito em Você contribuiu para a compra de uma batedeira planetária [batedeira caseira, um pouco maior que as convencionais], que possibilitou que Núbia agilizasse seu trabalho, podendo ter mais encomendas e vender em domicílio. A usuária retornou em setembro de 2006 para um novo empréstimo – também de R$500 – desta vez para a aquisição de um forno elétrico. Hoje, além dos salgados, faz marmitas para vender em domicílio. São aproximadamente 100 marmitas vendidas por semana no Parque Ibirapuera e em uma obra na Av. Vereador José Diniz. Núbia relata que quer regularizar sua situação, pois a empreiteira precisa de nota fiscal do serviço. O marido, nos finais de semana, ajuda nas compras e nas entregas e ela já pensa em arrumar uma ajudante de cozinha e tirar carteira de motorista para facilitar as entregas durante a semana.
acredito que através do crédito solidario o trabalhador adquire maior confiança e comprometimento para ingressar neste mercado.
O crédito solidário efetiva a ação reforçando a auto estima do indivíduo, possibilitando-o de exercer plenamente sua cidadania. Estas ações precisam ser multiplicadas para dar sustentabilidade aos projetos de responsabilidade social implantados nas comunidades
Gostaria de entender um pouco mais o processo de capitalização da Acredito. É possível crescer (e fazer os outros crescerem e melhorarem de vida) sem uma remuneração da aplicação ou uma taxa de juros?.Com seis meses de carencia e sem a cobrança de uma taxa de remuneração isso não seria um risco de descapitalização a médio e longo prazos e além disso com são cobertos os custos operacionais da Acredito?.
Existe inadimplencia na Acredito? Se existe(o que deve ser provável), como recuperar a capacidade de investimento social?. A Acredito não financia empreendimentos coletivos(cooperativas)? Se não, por que?
As EPC não seriam uma forma interessante de atuação da Acredito?
Finalizando meus parabéns e votos d sucesso a Acredito. Afinal, eu ainda Acredito que podemos fazer alguma coisa para melhorar a situação social e combater a pobreza e as dificuldades de trabalho e renda. E a saida está no empreendedorismo individual ou coletivo. ACREDITO EM VOCÊS.