A mobilizadora Cátia Regina Rodrigues é jornalista e contadora de histórias para crianças hospitalizadas. Ela participa, desde 2001, da ONG Viva e Deixe Viver, em São Paulo. Nessa entrevista ela conta um pouco dessa experiência voluntária que contribui para a cura das crianças e é uma fonte de gratificação pessoal.
Mobilizadores COEP – Desde quando você conta história para crianças hospitalizadas?
R. Conheci a Associação Viva e Deixe Viver (www.vivaedeixeviver.org.br) muito por acaso. Fui entrevistar um comerciante, o Bachir Saade Neto, que tinha um restaurante no Centro de São Paulo. Ele inventou umas tiras de polipropileno revestidas com velcro, que são usadas no encosto das cadeiras, para evitar furtos de bolsas em seus restaurantes. Depois da entrevista, ele me convidou para almoçar. Entre um conversa e outra ? por sinal, bastante agradável ? , o Bachir começou a dizer que adorava o trabalho no restaurante, mas o que, naquele momento, estava lhe dando mais prazer era o trabalho voluntário como contador de histórias. Fiquei bastante interessada e quis saber mais sobre o trabalho voluntário que ele fazia e sobre a entidade. Anotei o telefone da entidade, e, dias depois, entrei em contato. Isto aconteceu no final de 2000. Então, resolvi ir pessoalmente à entidade. Chegando lá, preenchi uma ficha de cadastro. E, pouco tempo depois, já estava participando do processo de seleção para futuros voluntários contadores de histórias. O Viva, como é conhecida, é formada por voluntários que contam histórias para crianças hospitalizadas. Nosso objetivo é entreter os pequenos que estão internados. É levar a magia, a beleza, o encanto, a paixão das histórias infantis para dentro do hospital. Acreditamos que assim conseguimos amenizar, por algumas horas, o sofrimento dos pequenos. A gente tem o compromisso de atuar como voluntário pelo menos uma hora por semana. Mas quase sempre ficamos muito mais tempo no hospital, envolvidos nas brincadeiras com as crianças. O Viva existe há oito anos, foi fundado em 17 de agosto de 1997. A sede da entidade fica em São Paulo. E, ao longo desse tempo, a entidade abriu filiais em sete cidades: Ribeirão Preto (SP), Salvador, Recife, Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba e Rio de Janeiro. Comecei a atuar como voluntária em fevereiro de 2001. O primeiro hospital onde atuei foi no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. E hoje estou no Hospital Sírio Libanês. É o terceiro hospital onde atuo, quer dizer, atuava. Pedi para me afastar, temporariamente, das atividades. Como estou trabalhando e fazendo mestrado, estou com tempo muito corrido. Não conseguiria realizar bem as atividades. Mas é um afastamento temporário. Assim que tiver um pouco mais de tempo, voltarei ao meu trabalho voluntário, com certeza.
Mobilizadores COEP – O que te motivou a fazer esse trabalho voluntário?
R. Já pensava em fazer um trabalho voluntário, mas não sabia exatamente o quê. No início de 2000, estava repensando seriamente minha profissão ? sou jornalista ? , e a utilidade da minha atividade profissional. E acho que essas reflexões me impulsionaram a procurar um novo sentido paraminha vida pessoal. Na verdade, queria fazer algo que me fizesse sentir: Puxa, estou sendo útil, de alguma forma, para alguém! Estou ajudando alguém (e, no fundo, a mim mesma)! Antes da conversa com o Bachir,estive numa unidade do Sesc, em São Paulo, para fazer também uma entrevista. E uma senhora insistiu em falar comigo. Ela começou a conversa falando que fazia um trabalho voluntário, que contava histórias para idosos. Aí parei o que estava fazendo para escutar a história daquela senhora. Então a vontade de fazer um trabalho voluntário voltou a falar mais alto. E depois veio o encontro com o Bachir. Muita coincidência? Achei que não. Depois desses dois encontros, decidi conhecer o Viva. Gosto de lidar com as crianças. Na verdade, gosto muito de conversar com as pessoas, de saber suas histórias, como vivem, do que gostam. Entrei para uma entidade que trabalha em prol de crianças hospitalizadas, mas me sentiria também muito bem fazendo trabalho voluntário para idosos.
Mobilizadores COEP – Quais são os principais retornos que você obtém nesse contato com as crianças?
R. É muito, muito, gratificante estar com as crianças, seja contando histórias, brincando com elas, ouvindo suas histórias. Sinto muita alegria quando percebo que elas confiam em mim, a ponto de contar o que fazem em casa, na escola, quem são seus amiguinhos, o que gostam de fazer. Ou seja, sinto muito alegria de ser confidente delas. Conquistar a amizade delas. Conseguir arrancar um sorriso, ao final de uma história ou de uma brincadeira, de uma criança que mal olhava para você assim que entrou no seu quarto, me faz ganhar o dia. E quais são os maiores presentes que elas me dão? Elas me fazem me tornar uma pessoa legal, menos exigente, mais flexível, mais humana.
Mobilizadores COEP – Vocêrecebe capacitação para a condução do trabalho?
R. Todos os candidatos ao trabalho voluntário passam por processo de seleção. E os aprovados passam por treinamento antes de iniciar o trabalho voluntário nos hospitais que escolheram. E todos os meses, temos atividades extras (oficinas, palestras) para tentar melhorar nosso desempenho com as crianças. E temos ainda encontros mensais com psicólogos.
Mobilizadores COEP – Quais são os aspectos mais difíceis para realização do trabalho e como você lida com eles?
R. É driblar os preconceitos de alguns pais e a falta de conhecimentos que eles têm sobre os objetivos do nosso trabalho. Alguns até impedem que a gente entre nos quartos! E nós só queremos ajudar! Mas essas barreiras me dão mais força para seguir adiante com o trabalho. E, no outro extremo, existem pais que gostam tanto do nosso trabalho, que acabam até nos sobrecarregando. Eles querem que a gente dê atenção a todo momento aos seus filhos, como se não existissem outras crianças no hospital para serem atendidas. E, às vezes, é a equipe de enfermagem que nos sobrecarrega. Uma vez, eu estava já me preparando para deixar o hospital e a enfermeira-chefe quase me implorou para eu passar no quarto de um adolescente. Ela tinha lhe prometido que eu iria lhe contar uma história. Pensei rapidamente e, mesmo já atrasada para meu compromisso profissional, voltei, coloquei meu avental e fui visitar o rapaz. Quando entrei no quarto, lhe expliquei que não poderia contar uma história porque já estava de saída, mas que tinha lhe trazido umas revistas e uns livros e quedeixaria tudo com ele. Acho que ele compreendeu a minha situação. Não me senti muito bem fazendo aquilo, mas acho que foi uma atitude sensata e justa, para mim e para ele.
Mobilizadores COEP – Você tem alguma sugestão para quem quer fazer a mesma coisa e não sabe o caminho?R. Sugiro entrar em contato com entidades idôneas que recrutam voluntários. Aqui, em São Paulo, fica a sede do Centro de Voluntariado de São Paulo (www.voluntariado.org.br). Quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre voluntariado e algumas organizações sociais deveria acessar o site. E vai encontrar também o endereço e o telefone de outros centros de voluntariado espalhados pelo País. E se o futuro voluntário já escolheu determinada entidade, acho muito importante conhecer de perto o que ela realmente faz. Vale a pena também conversar com pessoas que são voluntárias da tal entidade, conhecer sua diretoria e a infra-estrutura que é oferecida. A gente não pode esquecer que estamos doando um tempo precioso nosso para ajudar outras pessoas. Por isso, acho que temos que ser bastante cautelosos, antes de ingressar de coração aberto numa entidade que mal conhecemos.
Parabéns. O Brasil está precisando de pessoas como você. Que Deus lhe dê muita força para continuar o seu trabalho e que a sua atitude sirva de exemplo para todos nós.
Parabéns por esse lindo trabalho, espero que volte logo para esse trabalho que com toda certeza é maravilhoso.
Parabéns,
Luiz Carlos Lauria
Maravilhoso trabalho, Cátia! Espero que mesmo em meio a esse período de atividades pessoais mais intenso consiga tirar, nem que seja uma vez por mês, um tempinho para continuar esse trabalho ou outro em que o tempo de dedicação fique mais sob controle. Seja feliz e que o seu exemplo possa ser seguido por outros.
Parabéns Cátia, como você disse na entrevista será que foi coincidência entrevistar duas pessoas que eram contadoras de histórias antes de você dicidir-se por isto. Creio que não, não existem coincidências em nossa vida. Nós somos levados a passar por experiências, que as vezes pensamos serem maléficas pra nós, mais não, na maioria das vezes nos fortalecem. No seu caso, só lhe fez bem, pois você sentiu-se imensamente gratificada, e com certeza era a experiência que você precisava naquele momento e que lhe engrandeceu como pessoa.
Mas uma vez parabéns.
Que Deus continue iluminando seu caminho, e fazendo no mundo novos voluntários.
Parabéns!
Letícia Toniato Simões
Se todas as pessoas pudessem ler o que ela faz, que é tão simples, é apenas ter amor ao seu irmão, sem distinção de raça e crença, que tenho certeza que o mundo seria menos cruel.
Voce minha amiga, que Deus te abençoe por muitos anos!