Nessa entrevista, a economista Kátia Rousseau nos fala a respeito da Economia de Comunhão, projeto que prevê relações pautadas no respeito, na solidariedade e na parceria. De acordo com Kátia, que pesquisou o assunto para desenvolver sua tese de doutorado ?A Natureza dos Facilitadores e Dificuldades Inerentes a um Processo de Mudança Transformadora em Organizações Produtivas ?, o projeto é implementado por empresários que têm como objetivo de vida não só mudar as relações econômicas, mas, em especial, tentar mudar a sociedade. A economista também ressalta as semelhanças entre os princípios da Economia de Comunhão e da Responsabilidade Social Empresarial.Mobilizadores COEP – O que é Economia de Comunhão? R.: A Economia de Comunhão é um projeto que reúne empresários preocupados em questionar o papel da organização produtiva na sociedade. Em outras palavras, esses empresários acreditam que os integrantes da organização podem ser guiados por objetivos mais amplos do que o ?objetivo individual?. Para os que conhecem um pouco da economia solidária, a Economia de Comunhão é considerada por Paul Singer e André Ricardo Souza, no livro ? A Economia Solidária no Brasil? (Editora Contexto, 2000), como um tipo de economia solidária. Ela surgiu a partir do Movimento dos Focolares ? ligada à Igreja Católica – e das idéias de Chiara Lubich, sua fundadora, que tinha o intuito de ajudar os que sofriam com a devastação provocada pela guerra. Isto se deu durante a Segunda Guerra Mundial, em Trento, na Itália, mais especificamente em 1943. Membros do movimento dos Focolares começaram a chegar ao Brasil em 1958 e fundaram quatro pequenas cidades (cidadelas ou mariápolis). Sobrevoando São Paulo em viagem ao Brasil, em 1991, Chiara se impressionou ao ver grandes extensões de favelas que circundavam uma das maiores concentrações de arranha-céus do mundo. Ao chegar à atual Mariapolis Ginetta (São Paulo), Chiara percebeu que a comunhão dos bens praticada no âmbito do Movimento dos Focolares não tinha como suprir por completo as necessidades básicas de seus membros. É quando ela lança a Economia de Comunhão, ainda em 1991. As empresas do projeto não têm regras pré-estabelecidas. O que há é um conjunto de princípios sobre participação, solidariedade e liberdade. Com respeito à participação, por exemplo, são objetivos básicos: reinvestimento, formação de pessoal para a cultura da partilha e ajuda aos pobres, e remuneração dos acionistas. Algumas empresas do projeto conseguem mesmo atingir esses objetivos e ainda distribuir lucros aos funcionários. Algumas pessoas podem, erroneamente, tomar os princípios de participação como principais no conjunto de princípios. Mas a Economia de Comunhão é muito mais que isso. É uma filosofia de vida. Mesmo quando não há lucro para a partilha, a empresa não deixa de fazer parte do projeto. Saber que mais pessoas compartilham dos mesmos ideais é de suma importância pra esses empresários, pois é como se eles tivessem um ?porto seguro? e uma forma de trocar experiências. Mobilizadores COEP – Que novos parâmetros a Economia de Comunhão propõe para as relações econômicas? Como se dá a relação de propriedade e qual é o tipo de relacionamento que se estabelece entre empresários, funcionários, fornecedores, clientes? R.: Os empresários das empresas do projeto de Economia de Comunhão acreditam que todos – empresários, funcionários, fornecedores, clientes e mesmo concorrentes ? só têm a ganhar se suas relações estiverem pautadas no respeito, na solidariedade e na parceria. Muitos dos empresários que eu entrevistei contaram casos de como solucionaram problemas com concorrentes por meio de uma relação de parceria e solidariedade. Chega a ser difícil falar dessas empresas de uma maneira geral, porque elas diferem entre si nas suas formas de gestão. Há níveis hierárquicos nessas empresas sim. Porém, e não querendo generalizar, eles acreditam que as pessoas são diferentes e, portanto, podem exercer papeis diferentes na vida e funções diferentes na empresa, lembrando, entretanto, que todos merecem o mesmo respeito. Podemos então dizer que existe a hierarquia, mas que uma maioria está satisfeita com o seu trabalho e acha seu salário justo. Funcionários de algumas empresas dizem mesmo que possuem canal de comunicação direto com os donos, diretores e presidentes da empresa e não os vêem como em um nível social tão discrepantemente acima dos seus. Mobilizadores COEP – Existe similaridade entre os princípios da Economia de Comunhão e da responsabilidade social? Em que pontos? As empresas de Economia de Comunhão costumam praticar os princípios da RSE? R.: Tanto empresas de Economia de Comunhão quanto as que praticam os princípios da RSE são organizações de mudança, que têm em mente a busca por expandir os limites de suas operações. O que eu quero dizer é que elas vão muito além do lucro imediato e dos objetivos individuais. Elas consideram a empresa como parte de um contexto social, e só há ganhos realmente quando o ambiente ao redor da organização também ganha com suas operações. O lucro é conseqüência de todo esse processo, e não objetivo. Tem um trecho da minha tese que acho que pode elucidar algumas questões: ?Se a empresa faz parte da sociedade e se vê como tal, ela assume como sua responsabilidade toda ação que possa afetar o meio da qual faz parte. Já, se a empresa é considerada a partir de uma visão fragmentada de mundo, ela não se sente responsável diretamente, mas ?pode contribuir? para este ambiente que é externo e independente de suas ações. Há uma diferença aí entre a responsabilidade assumida por um lado versus a responsabilidade que é atribuída por obrigação muitas vezes. No primeiro caso, da responsabilidade ?assumida?, os conceitos de ética, responsabilidade e sustentabilidade são centrais na gestão estratégica da empresa?. Teoricamente, os princípios das empresas de Economia de Comunhão, assim como o conceito de Responsabilidade Social Corporativa 4 (RSC4), estão relacionados à empresa que ?faz parte da sociedade e se vê como tal?.Patrícia Ashley afirma que a responsabilidade social corporativa representa ?mais do que mera resposta dos negócios às novas pressões sociais e econômicas criadas pela globalização?. Ela representa um novo ethos que determina a maneira como são feitos os negócios em todo o mundo. Trata-se de um conceito polêmico (responsabilidade social corporativa – RSC1) que vem se transformando ao longo dos anos, mas que desde a década de 1970 vem adquirindo uma forte conotação normativa (responsividade social corporativa ? RSC2). Já ?a retitude social corporativa – RSC3 – inclui a necessidade de uma ética normativa para que a responsabilidade social corporativa vigore na prática? . O RSC4, por sua vez, responde a um novo paradigma, ?descartando os modelos de responsabilidade social corporativa que se dizem normalmente neutros e que enfatizam apenas medições de desempenho social da empresa? O conceito de RSC4 é o único dos conceitos de RSC que corresponde à idéia de transformação?..Mobilizadores OCEP – Que empresas brasileiras são mais representativas da proposta da Economia de Comunhão? Por quê? R.: Como lembra Mário Pinto em sua tese de doutorado ?A Economia de Comunhão Sob o Olhar da Teoria dos Stakeholders?, a Fundição, Engenharia e Máquinas Ltda. ? Femaq, situada em Piracicaba, SP, é, com certeza, a empresa que simboliza com maior clareza as propostas da Economia de Comunhão?(http://www.femaq.com.br). Os diversos prêmios recebidos ao longo dos anos só vêm consolidar o trabalho da empresa. A decisão dos donos de aderir ao projeto de Economia de Comunhão estava fundamentada em um objetivo maior, de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Uma característica marcante desse tipo de empresa e, principalmente da Femaq, é a preocupação com todas as etapas do processo produtivo, desde o primeiro fornecedor, até o último cliente. Na escolha de seus parceiros, é importante que eles compartilhem dos mesmos princípios de colaboração, solidariedade e parceria. As empresas buscam se relacionar com outras que compartilhem dos mesmos ideais. A mesma coisa eles diziam acontecer com os funcionários. Funcionários que não compartilhassem dos mesmos princípios e que tivessem, por acaso, entrado na empresa, se sentiam deslocados e acabavam saindo. Desta forma, a empresa opta por não escolher como clientes empresas que pertençam a indústrias consideradas nocivas à saúde e à sociedade. Desta forma, indústrias de cigarros e indústria bélica não fazem parte de seus interesses. A preocupação ética e a transparência da empresa são fatores fundamentais, os funcionários têm poder de tomar decisões, têm acesso aos demonstrativos de resultados da empresa e participam nos lucros, quando há. Além disso, os funcionários possuem canal aberto para a diretoria. Mobilizadores COEP – Fale um pouco do Pólo Empresarial Spartaco, complexo formado por seis empresas e criado em 1994, em Cotia (SP), para servir de exemplo para o mundo todo de como a Economia de Comunhão pode funcionar. R. : O Pólo Empresarial Spartaco foi o primeiro a surgir no Brasil. Teve como objetivo agrupar as empresas que vivessem mais intensamente o projeto de Economia de Comunhão, como em um laboratório. Além do desafio da comunhão, essas empresas garantiriam um modelo de gestão transparente, eficiente e responsável. Foi criada, a princípio, uma empresa nos moldes de sociedade anônima ? a Espri S/A, Empreendimentos, Serviços e Projetos Industriais. Seus sócios não tinham a preocupação característica dos acionistas comuns, de focar exclusivamente a rentabilidade do investimento, pois sabiam que seus recursos estavam destinados a um projeto maior. Hoje são seis empresas instaladas no pólo, de um total de dez que foram previstas inicialmente. Mobilizadores COEP – O número de empresas que aderiu à Economia de Comunhão em todo o mundo é pequeno – 735 empresas de diversos portes, sendo: 241 nas Américas; 458 na Europa; 31 na Ásia; 01 na África; e 02 na Austrália. A que você atribui essa baixa adesão? Você vê possibilidade de a Economia de Comunhão crescer? Por quê? R. : O projeto de Economia de Comunhão é composto, principalmente, por empresários que têm como objetivo de vida não só mudar as relações econômicas, mas, principalmente, tentar mudar a sociedade como um todo. O que eu pude perceber das minhas entrevistas com alguns empresários, era que eles tinham um objetivo em mente de contribuir de alguma forma para um mundo melhor e que, no projeto de Economia de Comunhão, eles podiam encontrar outras pessoas com objetivos semelhantes, trocar experiências e aprender uns com os outros. Essas empresas não divulgam, necessariamente, sua adesão ao projeto. Eles têm sim, bem sólidos, seus princípios e os praticam no seu dia-a-dia. Alguns funcionários dessas empresas nem mesmo sabem do projeto. Eles dizem perceber que o relacionamento dentro da empresa é completamente diferente de tudo que eles já experimentaram em outras organizações e compartilham dos seus princípios, mas não necessariamente sabem explanar com exatidão o significado da Economia de Comunhão, embora a exerçam em cada detalhe de seus dias de trabalho. O que eu quero dizer é que é nas pequenas ações do dia-a-dia que se dá a transformação. Não há um manual, nem mesmo um método eficaz e infalível, mas, sim, valores que são postos em prática por cada um desses indivíduos, dentro e fora do ambiente de trabalho. A transformação se dá de dentro para fora. É claro que uma transformação que se dá primeiramente no interior de cada pessoa – para depois passar para o plano das organizações e da sociedade – acontece de forma muito gradual. Não há uma estratégia de marketing para conseguir a adesão do maior número possível de empresários. Ao mesmo tempo, muitas mudanças também podem ocorrer de fora para dentro. A empresa pode aderir como ?moda? e terminar por compartilhar dos valores e conceitos, apesar de não ser este o objetivo do projeto de Economia de Comunhão. Muitas empresas que nem conhecem o projeto, e se relacionam com as empresas do projeto, terminam por aderir e compartilhar dos seus valores, mesmo sem saber que estes compõem a Economia de Comunhão. Muitos empresários percebem gradualmente as vantagens de trabalhar de forma ética, responsável e solidária. Eles experimentam, vêem surtir seus resultados e aderem aos princípios. Não há atualmente o interesse de montar uma estratégia de marketing para divulgar a Economia de Comunhão, até mesmo porque esse tipo de marketing confrontaria com seus verdadeiros princípios. Mobilizadores COEP – De que maneira as empresas de Economia de Comunhão podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, tão debatido atualmente? R.: Acredito que a preocupação com a sustentabilidade é intrínseca aos princípios da Economia de Comunhão. A empresa que realmente os seguir estará contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Entrevistaconcedida à: Renata OlivieriEdição: Eliane AraujoEsperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.
Em que pese reconhecer o mérito da idéia de recrutar empresas para que integrem um amplo projeto de desenvovimento participativo e sustentável, vejo uma certa fragilidade da designação. E um movimento desse porte começa por uma desiganção que em si traduza com mais força o alvo que se pretende alcançar. Parece-me que um encaminhamento como – Empresas de Economia Solidária ou simplesmente empresa solidária constituiria um ela bem mais vigoroso.
Pensarei mais sobre o tema, prometendo retornar com novas contribuições, ainda neste Fórum sobre televisão.
De imediato observo que a designação poderia ser outra. O
A todos uma boa tarde,
lendo a entrvista da Katia, sobre empresas de economia de comunhão, dá para entender que a coisa não é muito desejavel pelo corpo empresarial, uma vez que só 735 empresas no mundo fazem parte desse modelo de economia comunitária. No meu entender, percebo que será uma forma de valorizar e de dar possibilidades para um estreitamento entre do tão delatado poder economico entre os seres humanos, seria uma forma de trazer do mais simples colaborador ao mais destacavel as possibilidades de comungar do processo de renumeração com os lucros liquidos da empresa, é o modelo que pode alavancar os interesses do corpo produtivo de uma empresa, pois sabe que está trabalhando para o seu proprio bem. Não significa dizer que todos aderem a um sistema ssim, tem gente que gosta mesmo é de ficar encima do muro esperando para ver o que vai acontecer, e assim acaba deixando de cumprir com sua parte.
Sebe-se que nunca será tão grande o numeros de empresas que queiram trabalhar no sistema de economia de comunhão, pois a maioria, foca o bem está proprio de seu grupo do alto escalão para sungar da base o que for possivel para gerar lucros que os levarão as altas rendas, confortaveis manções, transportes mais diversos e rápido e confortáveis, esquecendo, que essas atitudes é que estão ltornando o mundo num campo de batalha acirrada em busca do ter mesmo que seja nas formas de assaltos, roubos, furtos e tudo mais , assim vejo que a desigualdade social é a principal responsável para violencia existente hoje no mundo e em especial no Brasil, onde o indece de criminalidade por violencia urbana ou ate rural é maior que em muitos paises em guerra declarada.
è preciso dar oportunidade a todos para que assim tenhamos um pais melhor
Antonio Pedro