O projeto Favela Orgânica, criado, em 2011, no Morro da Babilônia, zona sul do Rio de Janeiro (RJ), ensina moradores da região a aproveitarem os alimentos em sua totalidade, seja como ingredientes na cozinha ou como adubo, em pequenas hortas. A idealizadora e coordenadora da iniciativa é a empreendedora social Regina Tchelly, que adquiriu experiência na cozinha, trabalhando como empregada doméstica.
A ideia do projeto é transformar hábitos de consumo dos moradores, evitando o desperdício e os danos ao meio ambiente. Duas vezes por semana, a população se reúne na Associação de Moradores do Morro da Babilônia para criar e testar receitas com os alimentos aproveitados da feira. São receitas simples, baratas e saborosas.
A iniciativa, que alia permacultura, consumo consciente, nutrição, gastronomia alternativa e produção de horta urbana, em pouco tempo virou um bufê, que vem sendo muito procurado, principalmente para cafés da manhã e eventos corporativos.
Rede Mobilizadores – Quais os objetivos do projeto Favela Orgânica? Quando foi criado?
R.: O projeto pretende modificar a relação que moradores de comunidades têm com os alimentos, incentivando uma relação consciente em cada etapa do ciclo da alimentação: no planejamento das compras, no consumo, no preparo e no descarte do alimento, de forma a criar, nos participantes, hábitos e práticas alimentares responsáveis em relação ao meio ambiente, e saudáveis para a família e a comunidade. O projeto foi criado na minha casa, em 24 de setembro de 2011, reunindo seis mães de família e R$140,00.
Rede Mobilizadores – Onde é desenvolvido o projeto? Qual o seu público alvo? Qual a realidade socioeconômica desta comunidade?
R.: O projeto é desenvolvido na minha casa com a produção do bufê e as oficinas, em parceria com a associação de moradores da comunidade Babilônia e Chapéu Mangueira. Os principais beneficiados são mães de família e pessoas nas comunidades que tomam as decisões alimentares dentro de casa, como planejamento, compra e preparação alimentar. A comunidade é de renda média, um mercado consumidor.
Rede Mobilizadores – Onde é adquirido o alimento utilizado nas oficinas? Que partes dos alimentos são reaproveitadas? Todo alimento pode ser aproveitado integralmente?
R.: Nas feiras livres e no comércio local. Aproveitamos talos, cascas, folhas, sementes de legumes e frutas e casca de ovos. Na verdade, todo alimento pode ser aproveitado integralmente. A ideia é ensinar receitas simples, baratas e saborosas. Os participantes do projeto aprendem a preparar desde bolo de cascas de maracujá e de banana, a pastas de talo de agrião com requeijão e sanduíches de couve com queijo.
Costumo pedir que os feirantes guardem os alimentos descartados, para que eles não tenham contato com o chão.
Rede Mobilizadores – Quais as principais linhas de atuação do projeto? Como cada uma delas é trabalhada com a comunidade?
R.: O projeto consiste na implementação, em diversas comunidades do Rio de Janeiro, do “ciclo do alimento”, uma abordagem sustentável e global das diferentes etapas do alimento. Em cada uma dessas etapas promovemos práticas saudáveis e sustentáveis de alimentação através de uma série de oficinas teóricas e práticas, realizadas com os parceiros de cada área do ciclo do alimento.
Rede Mobilizadores – Quais os principais benefícios de um projeto como este?
R.: Percebemos uma transformação nos hábitos de consumo dos participantes, que desperdiçam muito menos, passam a valorizar o que é realmente essencial e entendem que o supérfluo causa danos ao meio ambiente. O consumo se torna muito mais saudável e consciente. Notamos transformações nos hábitos alimentares das pessoas, que ganham um novo prazer em ir para a cozinha. Muitas pessoas que não sabiam (ou não tinham interesse) em cozinhar passaram a cozinhar com frequência. Há um maior respeito pelo alimento e um interesse maior em plantar e cultivar alimentos em casa.
Rede Mobilizadores – Tais benefícios já podem ser sentidos na comunidade?
R.: Sim. Com economia domiciliar, implementação de cinquenta pequenas hortas, e geração de renda através do bufê Favela Orgânica.
Rede Mobilizadores – Como vencer a resistência cultural das pessoas em geral ao aproveitamento de alimentos?
R.: A partir da degustação. Elas vencem todo preconceito e se deliciam.
Rede Mobilizadores – A iniciativa vai ser estendida a outras comunidades de baixa renda? Em caso positivo, quais e a partir de quando?
R.: Sim. Quando houver iniciativa de parceiros e investimento. Mas já atuo em outras comunidades do Rio de Janeiro: Cantagalo, Complexo do Alemão e Verdejar.
Rede Mobilizadores – As receitas ensinadas estão sendo disponibilizadas? Em que local?
R.: Ainda não. Mas a partir de junho serão disponibilizas do Blog do Favela Orgânica (http://favelaorganica.blogspot.com.br/).
Rede Mobilizadores – Um dos objetivos do projeto foi criar hortas. O que motivou essa iniciativa?
R.: O que motivou é que orgânico é para todos. A partir das hortas em pequenos espaços e com os recursos disponíveis, como por exemplo: bacias, baldes, latas de tinta, garrafas PET e caixas de leite; terra preta da própria comunidade; sementes de alimentos, raízes ou com aquisição de sementes por R$1,00. Essas hortas são implantadas nas casas das comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira e, em breve, haverá uma horta comunitária no Chapéu Mangueira.
Rede Mobilizadores – Qual deve ser o papel das escolas na promoção da alimentação saudável?
R.: A escola tem um papel importantíssimo como um instrumento de educação ambiental, onde a natureza é compreendida de um modo dinâmico e sustentável, estimulando, assim, a alimentação saudável dos alunos.
Assista também ao vídeo “Era uma vez uma empregada doméstica”, com Regina Tchelly.
Entrevista do Eixo Erradicação da Miséria
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo
Perfeito adorei essa iniciativa, quero ter mais informações… sobre o projeto…