Mesmo sem políticas públicas que ajudem a fortalecer a iniciativa, diversas cidades em todo o país contam com práticas de agricultura urbana. A atividade contribui para a segurança alimentar e nutricional, especialmente das populações de baixa renda, que têm a possibilidade de produzir alimento fresco, em suas residências ou em áreas próximas, e, assim, suprir suas necessidades alimentares.
Além disso, este tipo de agricultura tem um grande potencial para gerar renda e/ou economia para as famílias que a praticam, uma vez que se deixa de comprar os alimentos cultivados, e os excedentes podem ser comercializados.
Nesta entrevista à Rede Mobilizadores, Marcos José de Abreu, engenheiro Agrônomo do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro) e presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina (Consea-SC), afirma que, com a agricultura urbana, as cidades podem tornar-se espaços mais humanos, agradáveis e que seguem o ritmo da natureza. Mas para isso, afirma, é preciso que a atividade seja regulamentada, subsidiada e contemplada pelas políticas públicas e, em especial, pelos planos diretores das cidades.
Rede Mobilizadores – O que caracteriza a agricultura urbana? Qual sua importância para a segurança alimentar das populações de baixa renda?
R.: A agricultura urbana é caracterizada principalmente por ser uma prática agrícola nas cidades, porém esta é uma descrição rasa, tendo em vista a ampla dimensão da atividade. É sempre difícil caracterizar e apresentar as tipologias de agriculturas urbanas; mesmo assim podemos arriscar que ela é praticada por pessoas, individualmente, em suas residências, quintais, lajes, terraços, telhados, lotes, chácaras, sítios, terrenos baldios, laterais de estradas, ruas e áreas publicas ociosas. E também pode ser praticada, coletivamente, em escolas, creches, asilos, centros de saúde, associações, enfim instituições públicas ou privadas. Há ainda a agricultura urbana comunitária, que pode acontecer de forma institucionalizada, com apoio de ONGs e do poder público, ou espontânea, a partir dos recursos próprios do grupo.
Nestes espaços e com estas estruturas organizativas, se produzem alimentos, plantas bioativas [aquelas que possuem alguma ação sobre outros seres vivos, como ervas medicinais, aromáticas, condimentares, inseticidas, repelentes], e ornamentais. Temos hortaliças, verduras, legumes, plantas medicinais, flores, arranjos, mudas, frutíferas, brotos, plantas nativas, exóticas, enfim, toda a diversidade que temos na agricultura.
Diante disso, podemos afirmar que a agricultura urbana contribui para a segurança alimentar e nutricional (SAN) dos povos, especialmente das populações de baixa renda. Através da agricultura urbana estas famílias podem produzir alimento fresco, ao lado de suas residências, de maneira segura, e suprir necessidades alimentares. No entanto, para isto acontecer, é necessário que a agricultura urbana conte com políticas públicas consolidadas para subsidiar famílias empobrecidas na implantação de seus projetos.
Devemos também salientar que a agricultura urbana não somente contribui para a SAN das famílias e pessoas praticantes, mas também é um forte elemento para a qualidade de vida, pois tem um potencial terapêutico, de manutenção das tradições e raízes rurais nas cidades, além de refletir histórias de vida relacionadas à prática. Com este tipo de agricultura, as cidades podem tornar-se espaços mais humanos, agradáveis e próximos ao ritmo da natureza.
Rede Mobilizadores – Quais os locais mais adequados nas cidades para o desenvolvimento da agricultura urbana?
R.: A Agricultura urbana pode ser praticada nos locais mais diversos possíveis, conforme descrevi anteriormente. Pode ser no espaço que tiver disponível, ou onde haja interesse, subsídios e insumos necessários. Neste caso, os insumos são terra boa [com matéria orgânica], mudas, sementes, sol e disponibilidade de água. Na agricultura urbana é comum encontrarmos as mais diversas estratégias para conseguirmos estes insumos. Um exemplo é a reutilização de materiais como potes, vasos e louças, como canteiros; a transformação dos resíduos orgânicos urbanos através da compostagem para aquisição de adubo orgânico; a utilização da água do telhado; e o melhor aproveitamento da luz do sol.
A adoção de práticas de agricultura urbana individual, coletiva ou comunitária depende muito do contexto em que as iniciativas começam a ser desenvolvidas, pois elas podem surgir devido ao apoio de ONGs ou do poder público, de interesses individuais ou privados; em alguns casos são práticas tradicionais numa cidade; em outras, o espaço surge rural e acaba sendo transformado em urbano; em outros ainda, a iniciativa surge a partir da busca pelo direito à cidade ou em decorrência de movimentos organizados coletivamente.
Rede Mobilizadores – As práticas de agricultura urbana costumam adotar os princípios da agroecologia, ou seja, o cultivo sem agrotóxico, o consórcio de espécies etc?
R.: Pelo fato de tentar aproveitar os recursos disponíveis na cidade, podemos dizer que grande parte das práticas de agricultura urbana costuma adotar princípios da agroecologia, especialmente a adubação orgânica, o controle de pragas e doenças, o policultivo, as agroflorestas, e a manutenção da biodiversidade através de sementes tradicionais. Esta última é clássica, pois há pessoas praticando agricultura urbana motivadas pela tentativa de multiplicar sementes que vinham sendo cultivadas há gerações por seus familiares. Muitas vezes, estas pessoas vêm para as cidades e fazem questão de manter as sementes vivas e prosperando.
Mas também devemos ter clareza de que nem todas as práticas de agricultura urbana são agroecológicas. Existem casos em que os praticantes de utilizam agrotóxicos e adubos químicos. Devido à ausência de políticas públicas e à falta de visão dos gestores públicos com relação a esta prática, pouco se avança na sua qualificação. Além disso, temos dados que mostram que as cidades são grandes consumidoras de agrotóxicos, especialmente os herbicidas, pois as pessoas os utilizam para “limpar” quintais e terreno baldios, e empresas e estruturas públicas, especialmente, os adotam para manutenção de vias, parques e canteiros nas cidades. Isto é um grande problema!
Rede Mobilizadores – De que forma a agricultura urbana pode fortalecer uma comunidade? É possível gerar renda com as hortas comunitárias?
R.: Com certeza a atividade pode gerar renda. Além disso, a agricultura urbana contribui para a diminuição dos gastos com a alimentação familiar, além de possibilitar o acesso a uma maior diversidade de alimentos frescos. Outro fato a considerar é que os alimentos que chegam às cidades às vezes percorrem centenas de quilômetros, sendo oferecidos ao consumo com baixa qualidade e aparência ruim. A agricultura urbana pode contribuir para que os alimentos frescos estejam bem próximos do consumidor, aumentando sua qualidade e diminuindo os custos de logística e transporte. Por estes fatores, podemos concluir que a produção de alimentos nas cidades tem um grande potencial de geração de renda e/ou economia.
Rede Mobilizadores – A agricultura urbana pode ser um instrumento para o desenvolvimento sustentável das cidades? Comente.
R.: A agricultura urbana é um poderoso instrumento para o desenvolvimento sustentável das cidades com certeza! Costumo dizer que a agricultura urbana é uma prática “invisibilizada”, isto é, ela acontece, muitas pessoas, grupos e instituições a praticam, porém ela nunca aparece nos planos de desenvolvimento das cidades, não existem políticas públicas que a incluem, não é subsidiada, não é regulamentada, não está na pauta das discussões dos planos para a cidade. Isto faz com que esta prática fique marginalizada, vulnerável e desprotegida. Mesmo assim as pessoas a praticam e apresentam suas experiências como uma alternativa para melhorar a relação com o ambiente urbano, como forma de gerar renda e trabalho, de se atingir segurança alimentar e nutricional, de manter as pessoas ocupadas de maneira saudável nas cidades, como estratégia da manutenção de uma cultura agrária, e de desenvolver relações comunitárias mais sólidas.
A agricultura urbana deve ser considerada nos planos diretores das cidades, nas discussões de uso dos solos e das áreas, no traçado de corredores ecológicos, nos critérios de instalações de empreendimentos, na construção de casas populares e rodovias, nos planos de gestão de resíduos, nos programas de saúde e educação, nas estratégias de ampliação de trabalho e renda nas cidades e, especialmente, nos programas de segurança alimentar e nutricional.
Tudo isto porque esta agricultura contribui para aumentar a infiltração da água das chuvas e multiplicar as áreas verdes nas cidades, além de estimular a reciclagem dos resíduos orgânicos, facilitar o acesso a alimentos frescos, tirar a monotonia da ocupação dos espaços urbanos, aumentar a relação das pessoas com os ciclos da vida, e trazer aspectos rurais para a cidade, ao manter atividades agrárias ao lado de outras características dos centros urbanos.
Rede Mobilizadores – Em que estágio está agricultura urbana no Brasil? Existem políticas públicas voltadas a ela?
R.: Infelizmente, o cenário nacional em relação a políticas públicas para agricultura urbana é desolador. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) vinha apoiando a agricultura urbana desde 2003, mas este ano parou. Hoje, não temos nenhuma política pública, nem sequer um programa do governo federal que apoie esta prática. A avaliação que os movimentos sociais e as ONGs que atuam com agricultura urbana no Brasil sempre fizeram é que a estratégia do MDS era equivocada, pois não podíamos acessar os recursos e, principalmente, construir juntos as verdadeiras demandas e limites da agricultura urbana no país.
Já como prática, a agricultura urbana está presente em várias cidades do Brasil. Temos casos e instituições que se dedicam há mais de 15 anos ao tema, como a Rede de Intercâmbios, em Belo Horizonte; a ASPTA, no Rio de Janeiro; o Instituto Polis, a Cidades Sem Fome e os Hortelões Urbanos, em São Paulo; o Cepagro, em Santa Catarina, e a Pastoral da Saúde e a Pastoral da Criança em todo o Brasil. Portanto, temos referências e ações consolidadas espalhadas pelo país, e, a partir delas, podemos fazer um plano que oriente programas e políticas públicas especiais para a agricultura urbana. Devemos também considerar experiências estrangeiras que nos apontam caminhos como os casos de Cuba, Argentina, Nova Iorque (EUA), Londres (Inglaterra) e outras cidades europeias.
Pensando em como a agricultura urbana pode interagir com outros programas e políticas de governo, traçamos uma proposta para que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a inclua nos planos municipais de gestão de resíduos – pois os resíduos orgânicos são insumos para a agricultura urbana -, nos projetos de áreas de preservação ambiental, nos corredores ecológicos e nas ações de educação ambiental. No Ministério da Saúde (MS), a agricultura urbana pode estar associada aos programas de controle da obesidade e hipertensão, por meio da utilização de plantas medicinais no SUS; na atenção básica nos centros de saúde, com a implantação de hortas de alimentos e plantas medicinais; nos hospitais, como locais para laborterapia; nas estratégias de desintoxicação de dependentes químicos, etc. Nos ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) podem ser feitas a identificação dos agricultores e agricultoras urbanos como critério de acesso a crédito para fomento e apoio às atividades, e adotada uma política para pesquisa e extensão na área de agricultura urbana. O Ministério da Educação (ME) pode prever atividades como hortas escolares e ações de educação ambiental, além de incluir o tema nos currículos escolares. O Ministério das Cidades pode contemplar a agricultura urbana nos projetos de parques, na elaboração de planos diretores, nos estudos para zoneamento e fazer um levantamento das práticas existentes. Enfim, há uma diversidade enorme de ações ministeriais que podem consolidar a prática da agricultura urbana como uma ação estratégica para o governo.
Rede Mobilizadores – O que seria necessário para fortalecer a prática no país? O que podemos aprender com outros países do mundo que já a adotam?
R.: O primeiro passo seria o fortalecimento da articulação entre as instituições que praticam a agricultura urbana, pois muitas das que aqui foram citadas, como o Cepagro, a Rede de Intercâmbios e a ASPTA, já vêm se encontrando há mais de oito anos, trocando experiências, se articulando, porém, o poder público precisa investir no fortalecimento desta articulação. A partir disso, é preciso fazer um diagnóstico e verificar as tipologias e as características das agriculturas urbanas existentes no Brasil. Depois, seria importante implantar programas e políticas públicas para o fomento, pesquisa, extensão, investimento e manutenção destas práticas.
Os países que já adotam políticas na área nos mostram que a agricultura urbana é uma das primeiras respostas em momentos de crise, seja econômica, ambiental, política ou social. Isso porque a alimentação é nossa necessidade básica mais urgente, e produzir alimentos é inerente à cultura humana. Os países que investiram ou apoiaram esta prática encontraram nela refúgio para sair de suas crises. Este é o grande aprendizado, pois, aqui mesmo no Brasil, dispomos de tecnologias, técnicas e metodologias as mais diversas e adaptadas a nossa realidade, porém ainda “invisibilizadas”.
Rede Mobilizadores – O que é o Projeto Revolução dos Baldinhos? Como surgiu e que atividades envolve?
R.: Em outubro de 2008, após um surto de leptospirose na comunidade Chico Mendes, situada em Florianópolis (SC), surgiu a ideia de se retirar o alimento dos ratos, que proliferavam devido ao grande volume de resíduos que ficavam expostos nas ruas. Em janeiro de 2009, iniciou-se o trabalho com dois jovens da comunidade para sensibilização e conscientização das famílias, visando enfrentar um problema até então sem solução. Foram distribuídos aos moradores pequenos recipientes para separação na fonte dos resíduos orgânicos. Surgia assim o “Projeto Revolução dos Baldinhos” (PRB), resultado de uma interação do Cepagro com a comunidade.
O objetivo do projeto é a reciclagem descentralizada dos resíduos orgânicos através da técnica de compostagem termofílica, produzindo um composto orgânico que é distribuído aos moradores participantes do projeto no intuito de fortalecer a agricultura urbana e a segurança alimentar, com produção de alimentos. A educação ambiental é realizada por jovens da comunidade, de casa em casa, com visitas periódicas e promoção de oficinas de compostagem e implantação de hortas.
A comunidade Chico Mendes apresenta o menor IDH de Florianópolis, reflexo do crescente êxodo rural e inchaço das cidades. Com 4,5 anos, o projeto já envolve aproximadamente 200 famílias, recicla cerca de 15 toneladas de resíduos orgânicos por mês, conta com hortas em 30 quintais e 09 escolas. Trabalham no projeto seis jovens da comunidade que são assessorados pelo Cepagro e recebem apoio através de prêmios ambientais e seleções públicas, além de articularem organizações comunitárias e públicas para realização do trabalho.
A iniciativa mostrou que o processo de gestão comunitária de resíduos orgânicos e a agricultura urbana envolvem e conscientizam os moradores, que usufruem dos benefícios da reciclagem. Além disso, os custos da prefeitura com coleta e destinação dos resíduos são reduzidos. No entanto, é preciso uma articulação com políticas públicas que beneficiem tais práticas, tanto com repasse de recursos, como com estruturas para que a atividade seja realizada com qualidade e possa ser replicada em outras localidades.
Rede Mobilizadores – Quais os principais méritos deste projeto?
R.: Além dos resultados já apresentados, podemos destacar que o PRB é um exemplo de reação de uma comunidade à falta de apoio do poder público aos problemas das cidades e, em especial, das periferias, como a falta de saneamento ambiental, de espaço para a prática da agricultura, do consumo de drogas, da juventude envolvida com violência e tráfico, da falta de trabalho e renda, entre outros. Portanto, o resultado primeiro do PRB é a visibilidade da existência de vida nesta comunidade, uma demonstração de que o povo unido e com um apoio mínimo consegue transformar sua realidade, modificando ambientalmente o espaço da comunidade e criando possibilidade de trabalho e renda para os jovens.
Podemos também dizer que o PRB é hoje um exemplo vivo da gestão comunitária de resíduos orgânicos que impulsiona a agricultura urbana e a produção de alimentos numa cidade. Exemplo no qual qualquer bairro, cidade, gestor ou liderança pode se espelhar. Toda a metodologia, os passos, acertos e erros foram sistematizados e estão disponíveis. Mesmo assim, os gestores não fazem esta opção, que é mais inclusiva, mais barata e mais sustentável do que a contratação de uma grande empresa para gestar os resíduos das cidades e mandar para o aterro. Isto acontece pelo fato de os gestores estarem comprometidos com empresas e seus contratos. Em geral, a gestão de resíduos está entre o segundo e o terceiro maior gasto público de uma prefeitura.
Rede Mobilizadores – Que cuidados devem ter outras comunidades que desejem replicar ou reaplicar o projeto Revolução dos Baldinhos?
R.: O PRB está sendo implantado também no bairro Monte Cristo, onde ainda é preciso construir um pátio de compostagem adequado, incluir o elemento de pesagem no elode ligação entre a coleta e o destino final, e a remuneração do grupo comunitário pelo trabalho realizado de tratamento dos resíduos orgânicos. Esta ampliação estaria contribuindo para o alcance das metas de desvio dos resíduos do aterro sanitário, adequação à lei 12.305/2012, diminuição dos custos de coleta e utilização de todo o capital social adquirido nestes 44 meses de PRB analisados.
Na perspectiva de replicação do modelo de gestão comunitária de resíduos sólidos orgânicos do PRB para outras comunidades ou bairros, deve-se considerar especialmente as etapas de sensibilização em agricultura urbana. Também se faz necessária a constituição de um grupo comunitário efetivo, atuante e comprometido, composto por moradores do bairro ou da comunidade, capaz de mobilizar capital social para o sucesso das ações. É necessário também um terreno para a implantação de um pátio de compostagem adequado e capaz de comportar o montante de resíduos orgânicos coletados. Por fim, a construção das etapas de gestão comunitária dos resíduos orgânicos.
Rede Mobilizadores – O que é o Cepagro? A organização apoia outros projetos de agricultura urbana?
R.: O Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro) foi fundado em 20 de abril de 1990, por um grupo de pequenos agricultores e técnicos interessados na promoção da agricultura de grupo, como forma de viabilização das pequenas propriedades rurais. É declarado entidade de Utilidade Pública municipal e estadual e, em 2008, obtivemos o credenciamento nacional junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para realização de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural. Neste momento, a entidade está pleiteando o acesso à Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social na Área de Educação (CEBAS), através do Conselho Municipal de Assistência Social.
Ao longo destes anos, e através de profunda e contínua reflexão crítica, o Cepagro vem se reestruturando para melhor atender a atual realidade sociocultural e econômica do estado de Santa Catarina – no que tem obtido bons resultados através dos projetos que executa, atuando sempre em forma de rede e por meio de parcerias e convênios. No âmbito desta reestruturação e com o objetivo de propiciar a adequada institucionalidade ao desenvolvimento de suas atribuições, traçou uma proposta de Projeto Institucional que reafirma a importância de se manter o Cepagro atuante e com propósito de trabalho orientado para organização popular de comunidades rurais e urbanas, ampliando sua atuação na agroecologia de forma participativa junto às famílias beneficiárias.
Cabe ressaltar que o Cepagro integra diferentes espaços públicos: Conselho Estadual do Pronaf, Comissão Estadual de Produção Orgânica, Conselho Estadual do Desenvolvimento Rural, Centro Ecumênico de Apoio ao Desenvolvimento (CEADes), Rede Temática Nacional de Alternativas para a Cultura do Tabaco, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Rede Monte Cristo, além de coordenar os fóruns Estadual e Regional de Economia Solidária e a Rede Ecovida. Por serem espaços representativos e deliberativos, nos possibilita a interlocução com diferentes esferas de governo e com a sociedade civil, favorecendo a criação/implementação de programas e políticas públicas voltadas para o interesse da agricultura familiar e de comunidades urbanas, reforçando a relação entre micro e macro esferas.
Nossa organização desenvolve diversos programas de agricultura ecológica em espaços rurais e urbanos através de colaboradores próprios, de pessoas ligadas às instituições que compõem o Conselho Administrativo e de entidades parceiras. Para viabilizar suas atividades, o Cepagro elabora acordos de cooperação técnica com entidades públicas e privadas do estado e fora dele. Neste contexto, o Cepagro coordena as ações do Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida de Agroecologia, que é composto pelos grupos de famílias agricultoras de diferentes municípios da grande Florianópolis, no qual o Grupo Garopaba, constituído por 10 famílias, está inserido. O Cepagro assessora o Grupo Garopaba desde a sua fundação, em 2003, fortalecendo suas atividades, oferecendo assessoria técnica na produção, facilitação da comercialização e implantação do Sistema Participativo de Garantia.
Desde 2005, o Cepagro vem implantando o Projeto de Agricultura Urbana que tem como objetivo a produção de alimentos nas cidades, através da mobilização comunitária, trabalhando temas transversais da agroecologia, como educação ambiental, segurança alimentar e nutricional, planejamento urbano, direito humano à alimentação adequada, direito à cidade, compostagem, plantas medicinais, entre outros. Desenvolve ações ligadas diretamente a hortas comunitárias, gestão comunitária de resíduos, quintais produtivos e hortas escolares.
Como exemplo prático, há quatro anos, o Cepagro assessora o Projeto Revolução dos Baldinhos, e há um ano assessora o Sesc no gerenciamento de resíduos orgânicos, nos pátios de Florianópolis, onde recicla 30 toneladas por mês; e de Blumenau e Lages, reciclando 10 toneladas/mês em cada município. Em relação ao trabalho com hortas escolares, desenvolvemos atividades desde 2005. Construímos uma metodologia que concilia o calendário escolar com o calendário agrícola, e todo o trabalho é baseado na Agroecologia. Desde 2010, assessoramos o município de Florianópolis no Projeto Educando com a Horta Escolar e a Gastronomia (PEHEG). Este ano, estamos assessorando 83 Unidades Escolares, participando da formação de educadores, merendeiras, e atuando diretamente com os alunos, duas vezes por mês.
Mais recentemente, as ações de incidência política, através do Consea-SC e do Grupo de Trabalho de Agricultura Urbana deste Conselho vêm trazendo importante resultados, pois contribuem para a construção de políticas públicas, programas e ações no estado de Santa Catarina articulada com outras organizações.
Entrevista do Eixo Erradicação da Miséria
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo
Fico muito contente em saber que as pessoas se preocupam com cidade, com o campo e com as pessoas. Precisamos cultivar o cuidado com o próximo, precisamos proporcionar a garantia de direitos para os cidadãos.
Parabéns pelo projeto!A iniciativa é ótima! Espero
que possa se expandir rapidamente para outras regiões.
Excelente iniciativa do Projeto Revolução dos Baldinhos, melhor seria ainda se esse projeto se expandisse p/ todos os Estados, e chegando assim, em tantos lugares que precisam de iniciativas renovadoras. Parabéns aos jovens que participam desse trabalho.
Moro aqui em S. Mateus (Zona Leste), um “Cinturão Verde” histórico.
Porém o que os governos tem trazido para a região… Aterros, Prolongamento de avenida ligando Aeroporto ao Porto.
Agora com o Debate da IV Conferência de Meio Ambiente, vamos retomar com mais força ainda este tema, embora de forma indireta haja vista que o tema central não é este.
Tive o prazer de na vida Técnica trabalhar em Parelheiros (um Paraíso na terra) e conhecer bem de perto as hortas e a Casa do Agricultor, um trabalho muito bom e que garante emprego e renda aliado a uma prática de Segurança Alimentar e Nutricional.
É uma pena que trabalho tão importante que serve de base para uma melhoria generalizada das populações, de baixo investimento não seja conhecida em todo Brasil.
Muito bom conhecer experiências praticas de Agricultura urbana e identificar atores que vem liderando a temática no Brasil. Seguramente o campo de vinculacao da agricultura urbana com políticas publicas é muito fértil e intersetorial!
Gostei desta matéria muito esclarecedora,estou apoiando um projeto horta da E.E.B Laurita Dutra de Souza, gostaria de aplicar algumas destas praticas nesta escola e como faço para recrutar voluntários para apoiar o projeto da escola.
Iniciei práticas de agricultura urbana em creches e tem sido um sucesso, tive uma experiência com crianças de três anos de idade, as crianças plantaram temperos em garrafas PET que estão sendo utilizados na produção da merenda, também foi oferecido aos pais das crianças folderes com orientações para a reprodução da atividade em suas casas. Abraços a todos!
Considero muito importante o papel da educação, seja alimentar, ambiental,nas áreas urbanas ou rurais, já que o intenso processo de industrialização nos tem afastado dos ciclos da natureza, citados pelo Eng.Abreu.
Há poucos dias ouvi um aluno comentar que não comeria mais morangos (depois que soube como eram cultivados) porque eles vinham da terra e a terra é suja. Quantos preconceitos e impecilhos a superar para que a agricultura urbana se consolide !
Ah! Esqueci de dizer que ainda não tive a oportunidade de ver de perto mas o projetop da Eletronuclear me parece muito bom, até já foi premiado. Itaipu também tem algo semelhante. São atividades relacionadas as questões de Responsabilidade Social Empresarial. Muitas empresas possuem um departamento que atua com RSE. Isso pode ser uma oportunidade para apresentar um projeto e buscar apoio.
Muitas vontades, muitos sentimentos, muitas idéias… Sou assim e estou aprendendo a dosar e elencar as prioridades em relação às condições. sendo assim acho que conseguirei aprender a melhor forma de ter uma produção,para consumo próprio, dentro do meu apartamento, de forma a fortalecer a vontade de expandir e disseminar a prática entre visinhas(os), amigas(os), parentes etc. Preciso aprender para praticar e exemplificar. Acho que com essa oficina eu conseguirei bastante embasamento. As informações diferenciadas (políticas públicas, gestão comunitária, tecnologia social, Ongs… também são importantíssimas porque sabemos a quem apoiar e a quem pedir ajuda, sabemos como “andam as coisas”). obrigada pela oportunidade de interação.
Participar sempre da aquisição de conhecimento através das experiências em comunidades é fundamental para criarmos atalhos positivos para implantação de projetos cuja finalidade se baseia na produção alimentar em cidades.
Muito interessante a abordagem desse tema, que nos faz reflexionar como podemos auxiliar na divulgação e prática dessa possibilidade tão viável e que falta incentivo e interesse dos governantes. Já pratico o plantio de temperos em casa e estou iniciando um mini projeto de “hortinha com garrafa pet” numa escola para estimular aos alunos esta pratica em suas casas. Espero que esta oficina nos dê alem de bons conteúdos, muitas idéias e trocas de experiencias, para desenvolvermos, direta ou indiretamente, agricultura urbana.
Com certeza a agricultura urbana é uma das melhores alternativas para lidarmos com a crise ambiental,econômica, social e cultural que vivenciamos, pois além de possuir um pequeno investimento é inclusiva e sustentável. Parece que está faltando mesmo é vontade política, ou será que existem outros interesses por trás disso?
Excelente entrevista, sou professora e trabalho com uma Horta escolar, tenho muita dúvida ainda, mas muitas informações já foram bem esclarecedoras. Gostaria de promover sobre a importância da da agricultura urbana.
Muita vontade de desenvolver projeto nessa área. Ainda estou me enterando melhor sobre o assunto, mas aceito sugestões.
Sou Agente comunitária de saúde e coordeno um pequeno grupo de mulheres e estas informações foram de suma importancia tendo em vista as inumeras dificuldades enfrentadasquanto a questão da alimentação pelas comunidades atendidas pela atenção primaria.Espero que com o decorrer da oficina uma luz se mostre e a possibilidade de mudanças se concretize de fato.
Varias informações foram novidades e já que sou agente comunitária de saúde. E de grande importância esse projeto espero poder contribuir para o nosso municipio de Manga-MG.
Parabéns pela matéria esclarecedora e com certeza muito educativa também, eu acho fundamental essa questão do incentivo a produção agrícola nos seus diversos locais ( rural e urbana). A agricultura urbana é um importante instrumento, que pode ser utilizado pelos segmentos organizados e também pela administração publica, com a parceria de empresas privada poderíamos conquista mais espaços. Uma horta oferta uma oportunidade impar e cria uma possibilidade de produzir alimentos de boa qualidade e com custo reduzido e garantindo a segurança alimentar das famílias.
Olá, boa noite.
Li a entrevista com o Marcos e senti muita propriedade nas palavras dele.
Sou nutricionista e o tema Segurança Alimentar, faz parte do meu dia a dia em todos os sentidos, tanto em relação a disponibilidade quanto à qualidade.
Já faz algum tempo que gostaria de começar uma micro-horta em casa. Digo micro porque não tenho espaço de terra. E, gostaria de fazer essa experiência, inclusive visando repassar a prática a pacientes que não tem condição financeira de comprar regularmente hortaliças. Como vou começar em vasos e floreiras, gostaria de saber sobre profundidade desses recipientes. Obrigada pela atenção. Graça Kantikas.
Brilhante entrevista. O conteúdo foi bem focado no tema: agricultura urbana. Marcos caracteriza a questão, que é muito abrangente e consiste numa forma inovadora e ao mesmo tempo antiga de vida civilizatória; compreende um modelo responsável, equilibrado, ecologicamente correto que considera o processo de conscientização, utiliza o ciclo natural de vida dos materiais, especialmente o orgânico, capaz de fomentar e melhorar a qualidade de vida da população sob os diversos aspectos.
Gostaria de reforçar que o tema está na pauta como solução adequada para o destino dos resíduos sólidos. Para registrar, destaco as primeiras prioridades, entre as 20 definidas pela Conferência regional da Grande Florianópolis sobre o Meio Ambiente, que tratou sobre os resíduos sólidos: A prioridade número um, a garantia de recursos federal, estadual e municipal para educação ambiental e a prioridade número dois a criação de centros de gerenciamento de resíduos orgânicos e centros produtivos agrícolas e destinação de espaços para a prática da agricultura urbana.
Quero registrar também o desenvolvendo de um Projeto Piloto de Agricultura Urbana no Município de Florianópolis, em área de interesse social, no Maciço do Morro da Cruz. Estamos empenhados nesse novo desfio, onde o Projeto Revolução dos Baldinhos e a Cepagro são referências.
Esperamos que a oficina contribua com a multiplicação da rede de mobilizadores e apoiadores dos projetos de agricultura urbana.
João Maria Lopes
Gostaria muito de começar a fazer agricultura em minha residência e incentivá-la no meu bairro, e como a área que tenho para cultivo é pequena e possuo animais de estimação, como poderia fazer para cultivar com segurança e evitar que os mesmos acabassem com a plantação?
Muito bom o material, muito explicativo e esclarecedor.Muito bom para vermos como anda essa questão no Brasil e nos locais que já tem algo sendo feito. Trabalho com alimentação e acho fundamental essa questão da agroecologia e do incentivo a produção agricola nos seus diversos locais, e a importÂncia disso para a sociedade em seus diversos pontos. Realmente temos que aprender e começar colocar em prática o que estamos aprendendo, esse é meu objetivo com esse curso.
Quero divulgar a agricultura urbana entre os meus alunos do curso de gastronomia. Muito bom!
Estas informações me foram úteis. Serão fulcro para idealização e projeção de ações adaptadas ao município que pertenço. Enquanto lia, me surgiram ideias ótimas. Muito obrigada!
Parabéns pelo matéria esclarecedor e com certeza muito educativo tambem
Excelente o ponto de vista apresentado pelo eng° Marcos José de Abreu.
A agricultura urbana é um importante instrumento, que pode ser utilizado pelos segmentos organizados e também pela administração publica.
Um bom exemplo, seria a pratica da compostagem, processo onde os resíduos orgânicos são manipulados para obtenção de adubos para lavouras/hortas.
Essa pratica, em uma comunidade estudantil, com certeza criará cidadãos com um melhor senso critico, sobre sua produção de lixo e sobre a forma como destina-lo corretamente, sem exercer grande pressão sobre aterros sanitários.
Uma horta sistematizada em uma escola oferta ao aluno, uma oportunidade impar de se interar com a possibilidade de produzir o alimento que irá se integrar a sua merenda escolar, e com isso melhorando a qualidade da mesma, reduzindo seu custo e garantindo a segurança alimentar destes jovens.
Muito bom o material, estou participando com a vontade de impulsionar esta pratica no municipio de Uberlandia pois , a Agricultura Urbana pode gerar oportunidade de emprego para jovens, idosos e mulheres;
diminuir os riscos de insegurança alimentar por oferecer uma maior quantidade de alimentos
frescos, nutritivos e baratos; e ainda, uma sensível melhoria das condições de vida e saúde dos citadinos, na medida em que se criam espaços verdes, de produção de oxigênio e bem-estar.
Nesse sentido é que a FAO enfatiza as possibilidades da AU promover uma situação de
“sustentabilidade” nas cidades do mundo (COAG/ FAO, 1999).
No entanto, não são apenas benefícios que essa prática traz, podendo gerar também sérios
problemas para a sociedade, dentre eles, a contaminação do meio ambiente pelo uso indevido de insumos, sejam eles orgânicos ou químicos, a possibilidade de contaminação dos alimentos
produzidos com produtos químicos ou patologias provenientes do uso de águas contaminadas
para irrigação, entre outros.Por isso acredito que deve ser bem planejado esta ação, e esta formação vem agregar valor ao tema.
Um material muito interessante, ja que abriu e ampliou de como ver e lidar com a questao do residuo organico, em uma comunidade, bairro e junto a ministerio inteirando a participacao de todos.
Algumas informações foram novidades para mim que muito me enriqueceram; já que sou da Comissão Permanente 3 de Direito Humano a Alimentação Adequada, do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável – CONSEANS PA. Entendo como importante e necessário um grande projeto de Intersetorialidade, para impulsionar ações da agricultura urbana, devido interdisciplinaridade do tema.
Algumas informações foram novidades para mim que muito me enriqueceram; já que sou da Comissão Permanente 3 de Direito Humano a Alimentação Adequada, do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável – CONSEANS PA. Entendo como importante e necessário um grande projeto de Intersetorialidade, para impulsionar ações da agricultura urbana, devido interdisciplinaridade do tema.