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Plantas medicinais, usadas tradicionalmente pela população do Semiárido, serão estudadas e terão seu uso difundido pelo projeto ?Farmácia Viva?, coordenado pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Pedro Dantas Fernandes, coordenador de Pesquisa do Insa e supervisor da Farmácia Viva, diz que o principal objetivo da iniciativa, que começou em 2009, é resgatar e valorizar a sabedoria e a cultura popular do Semiárido, desenvolvendo, de forma científica, informações que beneficiarão a comunidade em relação aos recursos fitoterapêuticos locais.
O pesquisador também ressalta na entrevista que é preciso utilizar as plantas medicinais de forma correta, pois muitas delas, se usadas erroneamente, podem trazer danos à saúde.
Mobilizadores COEP ? Quais os objetivos do projeto ?Farmácia Viva??
R.: Objetivamos implantar uma unidade piloto de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e difusão, envolvendo espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas de plantas medicinais do Semiárido brasileiro, visando ao seu uso seguro com fins terapêuticos.
Podemos detalhar esse objetivo macro, em outros específicos: resgatar e valorizar a sabedoria e a cultura popular no que se refere à utilização de plantas medicinais do Semiárido brasileiro; identificar e caracterizar os constituintes químicos dessas plantas, com potencialidades para uso fitoterápico; desenvolver estudos sobre partes das plantas com maior efeito medicinal e sobre formas e doses (concentração) de sua utilização; estender os estudos de prospecção farmacológica para outras espécies da região; interagir com comunidades, visando ao uso correto das plantas medicinais, através de palestras e materiais educativos (informativos,
cartilhas); desenvolver sistemas de produção para cultivo orgânico das espécies, a fim de orientar o público interessado, inclusive sobre propagação e proteção segura contra pragas e enfermidades; gerar conhecimento para o uso das plantas medicinais, garantindo a preservação da biodiversidade regional; treinar/capacitar técnicos e agricultores em práticas e experiências de cultivo das plantas medicinais; incentivar a implantação de farmácias vivas, em comunidades, associações, grupos escolares, com orientações sobre o uso seguro das plantas medicinais; incentivar a obtenção e produção de matéria-prima para a produção de produtos fitoterápicos, seguindo princípios do Sistema Único de Saúde na região do Semiárido brasileiro; desenvolver e manter um Catálogo Virtual sobre plantas medicinais do Semiárido brasileiro, no segmento sobre Fitocaatinga, parte do Sistema Nacional de Rede Fito Caatinga [o Fitocaatinga é coordenado pelo Insa, dentro do Núcleo de Gestão da Biodiversidade, organizada pela Farmanguinhos/Fiocruz].
Mobilizadores COEP ? Onde será implantado o projeto?
R.: A base do projeto Farmácia Viva do Semiárido Brasileiro é a Estação Experimental do Insa, em Campina Grande (PB), onde estão sendo instaladas as atividades de propagação (viveiro) e de cultivo das plantas, a serem utilizadas em demonstrações e treinamentos.
Mobilizadores COEP – Que plantas da região serão usadas?
R.: Pretendemos trabalhar com as plantas medicinais de uso corriqueiro no Semiárido brasileiro, mas, com especial atenção para as espécies nativas da região. Segundo o Ministério da Saúde (2009), atualmente 71 espécies de plantas são reconhecidas como medicinais, podendo ser utilizadas como medicamentos fitoterápicos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Farmácia Viva do Insa iniciará suas atividades com 27 dessas espécies: alecrim, pimenta, alfavaca, arruda, babosa, batata de purga, cajueiro, cana do brejo, capim-santo, chambá, colônia, cumaru, espinheira santa, favela, fedegoso, goiabeira, vermelha, guaco, poejo, macela, mastruz, melão-de-são-caetano, mentrasto, mororó, quebra-pedras, quina-quina, quixabeira, romã e velame. Várias delas têm origem fora do Semiárido, mas são de uso tradicional das comunidades locais. Com o desenvolvimento do projeto, incluiremos outras espécies, com prioridade para as da região.
Mobilizadores COEP – O uso de plantas medicinais requer cuidados?
R.: Há um grande equívoco de pensar que, por serem plantas, seres da natureza, o seu uso não trará perigos para a saúde humana. Mesmo sendo plantas, dependendo da forma de utilização e da dose (concentração), o que poderia curar também pode intoxicar e causar problemas sérios à saúde (até a morte…). A babosa, por exemplo, é, reconhecidamente, de valor medicinal, mas seu uso deve ser externo (cicatrizante, anti-inflamatório, cosmético…); o seu uso interno, na forma de lambedor (é fácil se encontrar no comércio de Campina Grande vidros de lambedor à base de babosa), pode causar câncer de fígado, segundo estudos já realizados.
Vale ser ressaltado que a maioria dos produtos farmacêuticos tem origem sintética, isto é, não são produtos naturais; várias empresas produtoras de fármacos estão pesquisando, atualmente, em todo o mundo, a identificação de produtos similares na natureza, para substituir os sintéticos. Uma grande vantagem será o preço.
Chamamos, ainda, atenção para os riscos de, no uso extrativista de nossas reservas naturais, ocorrer erosão genética (perda de genótipos, espécies), empobrecendo a nossa biodiversidade. O uso correto, através de cultivos sistemáticos ou de manejo apropriado das plantas da vegetação, garantirá os benefícios para as gerações futuras.
Mobilizadores COEP ? Que utilização medicinal podem ter as plantas?
Inicialmente, vale lembrar que o fator medicinal pode ser de origem variada: em algumas espécies, o produto que se deseja se concentra mais em raízes; em outras plantas, na casca, em caules novos, flores, frutos ou sementes. Em qualquer caso, será muito importante a coleta do material, no momento certo em que a substância desejada esteja presente na planta, em maior concentração e atividade.
As plantas medicinais, em geral, têm alta variabilidade, no tempo e no espaço, na produção de substâncias com atividades terapêuticas. O ponto de colheita varia segundo o órgão da planta, estágio de desenvolvimento, época do ano e hora do dia. Como exemplos: no jaborandi (Pilocarpus microphyllus), é baixo o teor de pilocarpina (alcalóide*1) quando a planta é jovem; o alecrim (Rosmarinus officinalis) tem maior teor de óleos essenciais após a floração, sendo considerada uma exceção dentre as plantas medicinais, pois maior concentração de princípios ativos, em geral, ocorre no início ou durante o florescimento; essa observação não é válida quando o produto desejado é fruto ou semente.
Há uma grande variação na concentração de princípios ativos durante o dia: alcalóides e óleos essenciais concentram-se mais pela manhã, os glicosídeos*2, à tarde. A estação do ano também tem efeito nos teores das substãncias, sendo que, em raízes, as melhores épocas para coleta são o começo do inverno ou o início da primavera; a coleta de raízes deve ser pela manhã.
Com relação à forma de uso, deve ser valorizado o uso da planta medicinal para fins terapêuticos nas suas formas farmacêuticas mais tradicionais: infusões, decoctos [cozimentos], sumos, emplastros, garrafadas. Além de se pesquisarem novas formas de utilização, envolvendo biossíntese*3, biocatálise*4, etc.
Mobilizadores COEP – De que forma as comunidades vão ser capacitadas para o uso das plantas medicinais?
R.: O trabalho com as comunidades tem como objetivo difundir conhecimentos sobre propagação/multiplicação, cultivo e manejo das plantas, com a participação dos profissionais do nosso instituto. Outro ponto a ser considerado é a difusão de práticas e cuidados de uso seguro das plantas como fontes de medicamentos; nessa esfera, o Insa contará com parceiros nas áreas de medicina e de fitofármacos. Serão organizadas exposições, palestras e oficinas, escalonadas durante o ano, com divulgação ampla para as comunidades.
Mobilizadores COEP ? Quais os principais benefícios que a Farmácia Viva vai trazer para as comunidades envolvidas?
R.: O uso de substâncias naturais no tratamento de doenças, em seres humanos e em animais, trará diversos benefícios para as comunidades, considerando-se o fácil acesso das pessoas aos cultivos próprios, e a orientação para uso seguro das plantas medicinais, na forma de fitoterápicos, destacando-se: ampliação das opções terapêuticas e melhoria da atenção à saúde dos usuários, a um custo muito inferior ao dos fármacos tradicionais; garantia do uso sustentável da biodiversidade brasileira; valorização e preservação do conhecimento tradicional de comunidades e povos tradicionais; fortalecimento da agricultura familiar; crescimento com geração de emprego e renda, redução das desigualdades sociais e regionais; desenvolvimento tecnológico e industrial; inclusão social; participação popular e controle social.
Mobilizadores COEP – Quais os parceiros do instituto na iniciativa?
R.: Dentre vários parceiros, igualmente relevantes, destacamos os seguintes: Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF/UFPB), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária Paraíba S/A (Emepa), Embrapa Semiárido e Embrapa Agroindústria Tropical, Secretaria de Saúde da Paraíba e Prefeitura Municipal de Campina Grande. Destacamos, também, a importância do trabalho do Insa em articulação com o Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS)/Fiocruz.
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Alcalóide*1 – substância de caráter básico derivada principalmente de plantas, que contém, em sua fórmula, basicamente, nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e carbono. No grupo dos alcalóides estão substâncias (entorpecentes) que afetam o sistema nervoso do indivíduo, com destaques para quinina, cafeína, nicotina, cocaína, morfina, estriquinina, etc.
Glicosídeo*2 – composto químico formado pela união de moléculas de glúcido (geralmente monossacarídeo) e um composto não glucídico. Os glicosídeos desempenham funções importantes nos organismos vivos. Muitas plantas armazenam produtos químicos sob a forma de glicosídeos inativos, que podem ser ativados por hidrólise enzimática; parte do princípio ativo de plantas consideradas como venenosas é constituída de glicosídeos. Entre eles, estão a digitalina, estrofantina, apocinina, oleandrina, nerina, entre outras.
Biossíntese*3 – fenômeno em que são produzidos compostos químicos complexos, como proteínas e ácidos nucleicos, a partir de reagentes mais simples, geralmente catalisados por enzimas. Ao contrário da síntese química, a biossíntese ocorre normalmente dentro dos organismos vivos e é uma parte vital do metabolismo.
Biocatálise*4 ? processo em que um catalisador biológico é utilizado para converter um substrato num número limitado de etapas enzimáticas.
Entrevista concedidaa: Renata Olivieri
Edição: Eliane Araujo
acho o projeto muito importante.
Estamos implantando em nossa escola “Escola Classe 29 de Ceilândia, DF” o cultivo de plantas medicinais para trabalhar com os alunos.