De 7 a 12 de outubro, acontece, no Rio de Janeiro, a sexta edição da Feira Brasil Rural Contemporâneo – Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (http://feira.mda.gov.br). Realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a feira leva para a área urbana todos os produtos da agricultura familiar e a diversidade da cultura rural. Além de exposição de produtos artesanais e comestíveis, o evento terá uma programação cultural, que inclui desde Gilberto Gil ? atração de estreia ? até o grupo argentino Tanghetto, passando por grupos regionais brasileiros. Nesta entrevista, José Batista,coordenador-geral de Planejamento e Implementação de Projetos do MDA eum dos coordenadores do evento, fala sobre como a feira tem ajudado a disseminar e valorizar a agricultura familiar.
Mobilizadores COEP – Quantos expositores vão participar? De quais áreas do país?
R. São 650 expositores, de todos os estados do Brasil. Não contabilizamos por município, mas sim pelos estados. A própria feira é dividida por regiões e estados. No ano passado, foram 547 expositores. A feira é realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e tem um comitê de coordenação, formado por várias secretarias do ministério e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Mobilizadores COEP – Qual o objetivo da feira? O que os participantes podem esperar encontrar?
R. É um espaço de promoção, comercialização e divulgação dos produtos da agricultura familiar. Os visitantes podem esperar produtos de boa qualidade e até se surpreenderem em relação a isso. Tem muitos produtos, cada vez com melhor qualidade.
Mobilizadores COEP – Esta não é a primeira edição. Como foram as outras experiências, inclusive quanto à aceitação dos produtos da agricultura familiar?
R. Foram todas boas. Estamos vindo em um processo crescente. A cada ano, melhoram os produtos e também nosso entendimento. Vamos aprendendo com todas as edições e fazendo melhor. Ficamos satisfeitos, assim como os agricultores. Na maioria das feiras, eles vendem praticamente tudo. Dos produtos que vêm para o evento, retornam para casa apenas 15% ou 20%.
Mobilizadores COEP – O que muda na edição deste ano?
R. Neste ano não vai haver a participação dos estandes dos países do Mercosul, por opção deles, que não tinham como vir. No mais, é a mesma lógica das outras edições: organização por estados e também por estandes temáticos.
Mobilizadores COEP – Tem-se visto, ao longo dos últimos anos, uma valorização da agricultura familiar, apesar de ainda não ser o ideal. Essa maior divulgação e disseminação tem sido um estímulo para os agricultores, principalmente os que participam da feira?
R. A maioria desse pessoal que vem para a feira – talvez a totalidade – foi beneficiada, de uma forma ou de outra, por alguma política do Ministério do Desenvolvimento Agrário, seja o crédito através do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], de capacitação, ou de assistência técnica. Essa tem sido a nossa grande batalha: fazer com que as políticas públicas cheguem de fato até o meio rural, aos agricultores, àqueles que precisam e devem ser os beneficiários das nossas políticas. Esse é o nosso incentivo. Estamos avançando ano a ano, crescendo na aplicação das políticas, na destinação de recursos. Só o Pronaf já demonstra isso: em 2003, eram menos de R$ 2 bilhões à disposição do Plano Safra*; hoje estamos com R$ 15 bilhões.
Temos também um aumento considerável no número de capacitações aplicadas neste ano. São milhares de técnicos e agricultores capacitados em uma nova forma de produção, que considera a agroecologia, a produção orgânica, a produção sustentável. E a feira vem mostrar um pouco dessas políticas públicas também.
Mobilizadores COEP – Essa valorização da agricultura familiar tem se revertido em termos práticos para os expositores do evento? Vocês têm dados sobre isso?
R. Com certeza. Temos feito um esforço muito grande, com capacitação e preparação. Eles têm melhorado a forma como comercializam seus produtos, inclusive na apresentação e na embalagem dos mesmos. Para os expositores selecionados, fomos até os estados, fizemos uma reunião, explicando as questões de apresentação do produto, sanitárias, tributárias, formas de lidar com o visitante etc. E aprendemos isso nas próprias feiras. Ensinamos que não é bom ficar apenas retraído, atrás do balcão, mas sim conversar, chamar, fazer uma degustação etc.
Trabalhando nas seis feiras, eu pessoalmente tenho visto não só a melhoria na apresentação do produto, mas também na qualidade e no desenvolvimento de novas opções, como o aproveitamento da castanha do baru [fruto comum no Cerrado, cuja castanha normalmente é comida ao natural] para fazer paçoquinha. Há uma infinidade de subprodutos como esse sendo feitos. Tem havido um avanço considerável também nessa questão de desenvolvimento de produtos, mostrando para o consumidor que o produtor pode vender os produtos in natura, mas também já processados, acaramelados, em doces etc. Alguns produtos estão sendo vendidos também para a merenda escolar.
Mobilizadores COEP – O Coep realiza anualmente a Jornada da Cidadania nas Escolas. Como fazer para estimular a agricultura familiar, sua valorização e seu incentivo nas escolas?
R. A educação no nosso país continua em um mesmo padrão. Não se olha se a escola está no meio rural ou se está em zona urbana. A forma, as metodologias, o currículo escolar são os mesmos, independente da área em que a criança mora. Nas escolas rurais, é preciso trabalhar mais a questão da agricultura, ensinando algumas técnicas, porém introduzindo o assunto de acordo com a série das crianças e aprofundando o tema da agricultura familiar, para que o aluno tenha amor por essa função e queira ficar no campo. Pois, normalmente, percebemos que a cabeça dos alunos é: “estou estudando e, depois que concluir o Ensino Médio, vou me mandar, buscar emprego na cidade”, ou algo assim.
Nas escolas das áreas urbanas, é importante mostrar aos alunos o que é a agricultura familiar, fazê-los conhecer o meio rural, promover intercâmbios, apresentar uma agroindústria, uma plantação. Às vezes, nos deparamos nas cidades com pessoas que não sabem nada sobre o meio rural. Durante o processo de preparação para a feira, peguei um táxi aqui no Rio de Janeiro e o motorista não sabia o que é um hectar. Expliquei o que é, quanto mede [10 mil metros quadrados] etc. Existem essas coisas, existe essa distância. As pessoas vão ao mercado, compram um legume, uma fruta e não sabem de onde vem. Ou seja, é fundamental fazer esse intercâmbio para que a gente possa fortalecer a agricultura familiar e a própria cultura do nosso povo, incluindo valorização da cultura local.
* O Plano Safra da Agricultura Familiar 2009/2010 fortalece e amplia políticas públicas do Governo Federal que beneficiam 4,1 milhões de unidades produtivas familiares em todo o Brasil. Os produtores familiares, que respondem por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, têm à disposição R$ 15 bilhões, um aumento de 531% em relação aos R$ 2,38 bilhões aplicados na safra 2002/2003. Os recursos atendem às linhas de custeio, investimento e comercialização do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
ServiçoBrasil Rural Contemporâneo ? VI Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária Quando: De 7 a 12 de outubro de 2009 Onde: Marina da Glória (não há estacionamento no local)Ingressos: só a feira – de R$ 2 a R$ 5; feira + shows – de R$ 10 a R$ 20; Vendas na bilheteria do local.Horários da Feira: de quarta a sexta ? 13h a 22h; de sábado a segunda – 10h a 22hO Coep sorteou convites da feira para 20 mobilizadores. Clique aqui e veja quem ganhou.
Entrevista concedida a: Maria EduardaEdição: Eliane Araújo