Em janeiro de 2010 teve início a pesquisa ?Mudanças Climáticas, Desigualdades Sociais e Populações Vulneráveis no Brasil: Construindo Capacidades”, que o COEP vem coordenando no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. A pesquisa é dividida em dois subprojetos: populações eempresas. O levantamento de dados do setor empresarial será coordenado pela socióloga Anna Peliano, pesquisadora e ex-diretora de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Nesta entrevista, ela conta quais serão os critérios e objetivos da pesquisa, comenta como as ações empresariais bem-sucedidas podem ser incorporadas em políticas públicas e defende o controle da sociedade para motivar o setor privado a ter condutas mais responsáveis e sustentáveis.Mobilizadores COEP – Quais os principais objetivos da subpesquisa com as empresas, que você coordena?
R: Procurar conhecer o que as empresas públicas e privadas estão fazendo em caráter voluntário, nas comunidades pobres, a fim de prepará-las para enfrentarem as consequências das mudanças climáticas. Vamos fazer uma primeira pesquisa exploratória, com uma amostra de 20 empresas sediadas nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal. São grandes empresas de diversas áreas de atividades econômicas. Vamos pegar uma multiplicidade de áreas. Provavelmente, metade será de empresas públicas e a outra metade, privadas.
Mobilizadores COEP – Qual será o período de realização da pesquisa? Que critérios serão levados em conta? Que aspectos ou áreas das empresas serão analisados?
R: Um dos critérios será o reconhecimento de que elas já têm algum tipo de atuação nesta área ambiental e de mudanças climáticas. Nós vamos então avaliar o que elas estão fazendo direcionado a comunidades pobres e como elas estão vinculando [a questão ambiental] à questão de pobreza e mudanças climáticas.
As empresas serão visitadas e nós aplicaremos um questionário em cada uma dessas empresas. Elas ainda não estão escolhidas. Estamos atualmente pesquisando e montando os critérios e definindo que empresas, de diferentes setores, que já têm alguma atuação nessa área de mudanças climáticas.
Um dos principais critérios é a diversidade de setores econômicos. Queremos pegar empresas de serviços, indústria, comércio etc. Mas, dentro dessas áreas, de diferentes setores. O segundo é o que já citei: de terem sede em Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, em função, inclusive, de questões operacionais.
Vamos investigar qual a percepção que as empresas têm sobre essa relação mudanças climáticas X pobreza, ver qual o perfil desta atuação (a quem se destina, o que elas estão fazendo; que critérios utilizam para definir suas atividades e para escolher beneficiários; qual a participação das comunidades na decisão e no desenvolvimento do projeto; que recursos são investidos; que peso têm dentro da área social, as ações que promovem com o objetivo de adaptar populações para mudanças climáticas etc.)
Pretendemos terminar a pesquisa no final deste ano. Mas o trabalho de campo deve acontecer entre abril e maio.
Mobilizadores COEP – Já existem dados preliminares sobre a atuação das empresas no combate às mudanças climáticas?
R: É isso que nós estamos começando a organizar e levantar. Temos buscado alguns prêmios existentes, estamos buscando nos sites de algumas empresas de que a gente já tem conhecimento, mas ainda não temos informações organizadas. É importante ressaltar que não vamos divulgar o nome das empresas, vamos citar por setor de atividade: talvez duas de cada setor. Estamos avaliando a possibilidade de misturar duas do setor público e duas do setor privado da mesma área. Vamos fazer uma combinação para ter uma multiplicidade de experiências. Esta é a ideia da pesquisa.
Mobilizadores COEP – E de que maneira as empresas podem agir para atenuar o impacto das mudanças climáticas sobre as populações vulneráveis?
R: Bom, elas têm uma série de atividades que podem ser desenvolvidas. Há muitas atividades da área de educação, isto é, de conscientização. Tem muitos projetos na área de geração de renda que estimulam pequenas cooperativas para reaproveitamento, reciclagem ou tratamento de lixo. Tem atividades na área de saneamento, de acesso à água e de tratamento de água. Há uma séria de atividades que elas podem estar desenvolvendo nessa área nas comunidades.
Mobilizadores COEP – E principalmente nas comunidades do seu entorno?
R: Isso nós vamos ver. As pesquisas têm mostrado que as empresas têm uma tendência a trabalhar majoritariamente com a comunidade do seu entorno. O que a gente observa é que, quando se trata de grandes empresas, elas perdem um pouco esse vínculo. Quando são marcas nacionais, elas têm uma atuação muitas vezes de caráter nacional [e amplo] e em comunidades bem longe de onde estão suas sedes.
Mobilizadores COEP – Qual é a expectativa em termos de atividades e projetos que podem ser empreendidos a partir dos resultados da pesquisa? De que forma esta pesquisa pode vir a influenciar a atitude das empresas, tanto as que já têm projetos de sustentabilidade, quanto as que ainda não têm?
R: O que nós temos observado, inclusive com pesquisas anteriores, é que os resultados sempre têm sido considerados pelas empresas como referência na sua atuação. Ou seja, tivemos esse resultado com as outras pesquisas [o Ipea realizou duas edições da Pesquisa Ação Social das Empresas], e imaginamos que essa vai ser do mesmo jeito. E os resultados da pesquisa vão subsidiar também o trabalho do COEP, que nasceu com o objetivo de mobilizar empresas públicas e agora está expandindo também para mobilizar empresas privadas a atuarem nessa área social. E o COEP agora também abre esse campo para atuar na área social, porém atento à questão das mudanças climáticas. Por isso, a pesquisa vai trazer subsídios também para o COEP, porque vamos perguntar às empresas quais são as dificuldades, quais são as sugestões de atuação.
Mobilizadores COEP – E como a pesquisa poderia influenciar políticas públicas governamentais, por exemplo?
R: Isso aí vai depender dos resultados. O que a gente tem observado é que experiências bem sucedidas no campo social das empresas privadas acabam sendo absorvidas e incorporadas como políticas públicas. Portanto, este vai ser um debate que teremos a posteriori. Não sabemos o quanto elas já estão desenvolvendo em termos de tecnologia de atuação nessa área. Por isso vai depender dos resultados. Mas, sempre que se identificam boas práticas com possibilidade de serem expandidas, elas terminam por serem incorporadas de uma forma ou de outra nas políticas públicas ou são implementadas em parceria com políticas públicas.
Mobilizadores COEP – Existe a intenção de que a pesquisa impacte a atitude dos consumidores? Quais são as consequências possíveis dos resultados da pesquisa sobre o consumo?
R: A partir da questão da informação, da qualidade do resultado e da divulgação isso acaba acontecendo. Cada vez mais os consumidores vão tomando consciência de que eles podem cobrar, porque há o que ser feito por parte do setor privado. Ou seja, existe como ser cobrado e tem o que ser cobrado.
Nesse papel da conscientização e mobilização, a COP 15, por exemplo, teve um efeito muito grande. Se ela não trouxe muitos resultados [práticos], sem dúvida colocou o tema no debate político e expandiu o conhecimento sobre o tema. Hoje, há indicativos de que a população já está muito mais atenta ou pelo menos já tomou conhecimento do problema. Ainda não há uma mobilização, uma conscientização suficiente para uma atuação mais concreta. Isso tudo é processo e leva tempo. E o primeiro passo é a informação. E eu acho que a pesquisa traz essa informação e o papel da divulgação vai ser muito grande para levar essa informação para o consumidor.
Mobilizadores COEP – Para muitas empresas, o assunto das mudanças climáticas e as questões ambientais ainda são encaradas como empecilho ou aumento de custos de produção. Como fazer para mudar esta cultura?
R: É uma questão ainda de informação: a partir do momento que a sociedade começar a pressionar por empresas que tenham mais atenção à questão da sustentabilidade, do meio ambiente, da pobreza, da preservação do planeta, as empresas vão começar a dar essa resposta. As empresas atuam muito em resposta às pressões sociais, às pressões dos seus consumidores e em função da sua imagem na sociedade.
Por isso, toda vez que se está divulgando, dando informação ou conscientizando a população, você reflete isso nas empresas, porque elas vão tentar responder a essas novas pressões. E acredito que vai ter uma pressão, um fator de competitividade, não só no mercado interno, mas no mercado internacional. Hoje, a questão responsabilidade já é um fator de competitividade e essa preocupação com a questão das mudanças climáticas também será o fator de competitividade no mercado internacional. Nós já estamos vendo algumas bolsas de valores considerando esses fatores, dando selos e dando distinções às empresas que atuam mais vinculadas e mais preocupadas com essa questão.
Então, acho que vai ser uma percepção de que é bom para os negócios e, também, uma resposta à cobrança da sociedade. Quando é bom para a imagem, as empresas já consideram bom. E vamos acabar demonstrando isso com a pesquisa.
Porém, não vamos entrar no assunto do impacto nos custos de produção. O quanto que se vai economizar em energia, que impacto isso tem no custo de produção da empresa etc. São assuntos que não estão no nosso objetivo. Mas, sem dúvida, mudança e melhoria de imagem traz retornos econômicos e diferencial de marca – e as empresas sabem disso. Isso também se traduz em resultados econômicos.
Mobilizadores COEP – Qual é a importância desse trabalho que o COEP vem desenvolvendo junto com outros parceiros no sentido de relacionar as mudanças climáticas à pobreza?
R: O COEP tem um papel central nessa questão. Mais uma vez ele está se antecipando em temas que vão chegar [ao grande público] em algum momento. Ele está saindo na frente no esforço de vincular mudanças climáticas à pobreza e analisar o papel das empresas nesse contexto. E, com isso, marca mais uma vez um avanço na sua forma de atuar, desenvolvendo um trabalho que vai trazer subsídios para sua atuação.
Entrevista concedida à: Maria Eduarda MattarEdição de: Eliane Araujo
Diria que os aspectos da corresponsabilidade se inseram
permeando os eixos, quase que sutilmente, a sensibilisar pela
proposta dialogada e desarmada (cultura de paz ).
PARABÉNS,
PENSO QUE ESTE É O CAMINHO. A SOCIALIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES É O MAIOR INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAÇÃO
DAS AÇÕES.
eu estava leno igoste muito parabem pelo trabalho de vc contenui sepre assi?