Por acreditar no potencial transformador do jovem, a Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (Rejuma), criada em 2003, mobiliza e articula jovens em todo o país para atuarem em seus estados, municípios e comunidades em prol de uma educação ambiental crítica e emancipatória e de ações transformadoras e sustentáveis.
Nesta entrevista, Diogo Damasceno, um dos articuladores da rede, explica como a Rejuma funciona e diz que o fundamental para mobilizar jovens é que eles se sintam agentes de sua própria história. Para Diogo, o diálogo de jovens para jovens facilita a atingir objetivos em comum, mas ele ressalta também que é de suma importância não deixar de lado a interação entre gerações neste processo de aprendizagem.
Mobilizadores COEP – Na sua opinião, o que é primordial para mobilizar as pessoas em torno de questões sociais?
R.: Acredito muito no processo de sensibilização das pessoas, a partir das suas realidades e perspectivas locais. Não tem sido difícil falar de juventude e meio ambiente por onde quer que a gente vá. Basta convidar as pessoas para conversar, que elas se mostram receptivas. E quando você mostra as experiências que estão dando certo e são feitas, muitas vezes, de maneira bem simples, as pessoas começam a interagir, a participar.
Os jovens, de um modo geral, são sensíveis ao que acontece no mundo, embora nem sempre se percebam fazendo alguma coisa. A atuação das juventudes, diferentemente de como era vista há alguns anos, hoje é difusa e plural, acontecendo de maneira muito diversa, seja no movimento do Hip Hop, do esporte e do lazer, do Movimento de Gênero, do Movimento contra o Racismo, dos LGBTTTs [acrônimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros ; o ´s significa simpatizantes] e, é claro, em torno da questão ambiental.
A Rejuma, por exemplo, mantém um portal na internet (www.rejuma.org.br), que, na verdade, é uma grande comunidade de prática, onde divulgamos as nossas experiências e construímos o diálogo de diversas formas, possibilitando conectar pessoas e experiências. Nossa lista de comunicação nacional conta com a participação de cerca de 600 jovens de todas as partes do Brasil, na sua maioria, envolvidos em práticas sustentáveis, nos Coletivos Jovens de Meio Ambiente, além de tantos outros movimentos e instituições que atuam em torno da temática Juventude e Meio Ambiente. Contudo, a internet não pode ser o único caminho para se estabelecer a rede. Ela facilita com certeza, mas só se faz uma rede através do contato entre as pessoas, portanto, os momentos presenciais, mais cedo ou mais tarde, têm de acontecer!
Cada Coletivo Jovem (CJ) de Meio Ambiente tem a sua metodologia de mobilização; vale a pena consultar o portal da Rejuma e procurar se conectar com o movimento em seu estado. Um exemplo é o Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás (www.coletivojovemgoias.blogspot.com), que reúne em seu blog várias das experiências e mobilizações que acontecem no estado.
Mobilizadores COEP – Em muitas ocasiões, vemos mobilizações sociais tendo início a partir dos jovens. Por que isso acontece? Os jovens têm potencial multiplicador nas comunidades? Por quê?
R.: Querer fazer algo de diferente é um sentimento que sempre esteve presente em meio às juventudes, portanto, nada mais natural do que canalizar esta energia em torno de algo positivo, de alguma luta ou de algum objetivo específico. No movimento de Juventude e Meio Ambiente, atuamos a partir do principio de que “Jovem Educa Jovem”, exatamente por ser mais fácil o diálogo de jovem para jovem, quando podemos aprender uns com os outros e de certa forma também podemos chamar mais a atenção uns dos outros para as questões que nos envolvem.
A partir deste princípio, temos realizado grandes processos de transformação, através de uma Educação Ambiental crítica e emancipatória, que, na prática, tem ajudado a transformar a sociedade através de ações de sensibilização, de uma educação em que pautamos as preocupações ambientais pelo que conhecemos e aprendemos juntos, comprometendo a sociedade e contribuindo para a mudança de hábitos e atitudes, que gerem, sobretudo, pessoas mais conscientes e responsáveis com o futuro do planeta.
Realmente, é muito mais fácil para estes jovens realizarem projetos e ações transformadoras no espaço onde vivem, pois o conhecem bem. Com toda certeza, a partir destas ações, mais e mais jovens se interessam e se mobilizam em torno de causas em comum.
Mobilizadores COEP – Como estimular a participação dos jovens?
R.: O diálogo é fundamental. Cada vez mais jovens se interessarão por entrar nestas instituições ou formas de organização, caso se sintam protagonistas de suas histórias e possam mostrar a que vieram. O importante é realmente conectar as pessoas entorno de ações concretas que possibilitem a mudança de realidade. Nos municípios Brasil a fora, basta que jovens se encontrem, para começarem a pensar na problemática de suas cidades; um instante depois, já apontam soluções; é isto que importa!
Como exemplo de uma mobilização de jovens que vem dando certo, podemos citar o projeto “Rio do Nosso Bairro – Escolas Cuidando da Água”, realizado pela Entidade Ecológica dos Surfistas (Ecosurfi) e parceiros. A iniciativa estimula a participação de jovens estudantes, em Peruibe (SP), e outras cidades da Baixada Santista, na preservação dos recursos hídricos da região. O projeto tem como objetivo transformar comportamentos e atitudes, renovando a relação da sociedade humana com a água. A iniciativa enfatiza a importância da participação social para a gestão sustentável dos recursos hídricos. Neste sentido, a escola é vista como estrutura ideal para o envolvimento comunitário e a participação da juventude nas questões públicas da comunidade.
Mobilizadores COEP – Nos processos sociais, como estimular a aprendizagem e o trabalho conjunto entre gerações diferentes?
R.: Outro princípio que trabalhamos bastante é do que Uma Geração Aprende com a Outra, porque não estamos aqui para reinventar a roda. Muito pelo contrário, aprendemos um com os outros, numa troca intergeracional. Assim, buscamos sempre pessoas parceiras de outras faixas etárias para ajudar e colaborar com os nossos projetos e ações.
Mobilizadores COEP – Quando foi criada a Rejuma? Quais seus principais objetivos?
R.: A Rejuma surgiu de modo espontâneo em 2003, paralelamente ao Processo da 1ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Jovens de todas as partes do país aproveitaram-se da oportunidade de estarem juntos para criar a rede, e, deste modo, manter as relações de contato e atuação já existentes Brasil a fora.
Horizontalidade, Autonomia, Descentralização, Democracia e Isonomia são alguns dos princípios que guiam a rede. Na prática, estes princípios significam: igualdade nas decisões; construção coletiva; respeito às diferenças; e a não-hierarquização das pessoas no processo de organização da rede, apostando, sobretudo, nos seus elos, ou seja, em todos aqueles que se sentem pertencentes à rede e, portanto, fazem parte dela.
Apostamos também nas experiências coletivas para transformar sonhos em práticas sustentáveis. Construir sociedades sustentáveis, mais justas e equitativas, estão entre os nossos objetivos, e muitos êxitos já podem ser vistos, apontando que estamos no caminho certo, seja através da implantação das agendas 21 em escolas de todas as partes do Brasil, de encontros de juventude e meio ambiente nos estados, ou até mesmo das ações ativistas, como por exemplo as mobilizações contra [a usina hidrelétrica] Belo Monte em que o Coletivo Jovem (CJ) Pará está envolvido.
Mobilizadores COEP – Quantos jovens participam atualmente da rede? De que regiões do país são? O que é preciso para participar da Rejuma?
R.: Diretamente, participam da lista de comunicação da Rejuma (juventudepelomeioambiente@googlegrupos.com) cerca de 600 jovens, de todas as regiões do país, pelo menos um representante de cada estado brasileiro. Para participar da Rejuma, basta trazer consigo sonhos e esperanças de um mundo melhor e ambientalmente sustentável, e, para tanto, solicitar inclusão na lista, através do e-mail: rejuma@gmail.com. Outro modo de participar é se cadastrando no Portal da Rejuma (www.rejuma.org.br) para socializar/publicar suas experiências. Indiretamente, muitos outros jovens estão envolvidos na Rejuma através dos diversos movimentos e organizações de juventude e meio ambiente.
Mobilizadores COEP – Qual a relação entre os Coletivos Jovens e a Rejuma?
R.: Os Coletivos Jovens de Meio Ambiente (CJ) nada mais são do que espaços de articulação dos jovens que se preocupam com a questão ambiental, presentes nos estados brasileiros e em seus diversos municípios. A partir da articulação dos próprios CJs tiveram inicio as primeiras articulações da Rejuma, e todos estes Coletivos, por sua vez, estão enredados na malha da rede, embora também participem dela diversas outras pessoas, experiências e organizações de juventude que foram se agregando nos últimos anos.
No portal da Rejuma você encontrará uma lista de blogs dos CJs nos estados. Basta entrar em contato com o Coletivo Jovem do seu Estado e buscar orientações para formar um no seu município.
Mobilizadores COEP – Existem Coletivos Jovens em áreas rurais? Onde?
R.: Há experiências de jovens ambientalistas por todo o país, inclusive nas áreas rurais. Muitos se organizam em coletivos jovens de meio ambiente como estratégia de mobilização local. A Rejuma possibilita a conexão das juventudes interessadas nesta mobilização e busca sempre colocar as pessoas em contato nas suas regiões. Há exemplos do Coletivo Jovem de Meio Ambiente no interior do estado de São Paulo, por exemplo, que se autodenominam CJ Caipira. Para conhecê-los melhor, visite: www.flexadeluz.org.br. Em Goiás, também há CJs, em municípios como Heitoraí, Rio Verde e Iporá.
Mobilizadores COEP – De que forma a rede incentiva, estimula a mobilização dos jovens do país em torno das questões ambientais?
R.: Um debate importante feito pela Rejuma nos últimos anos diz respeito às Mudanças Ambientais Globais, que estão intrinsecamente ligadas ao nosso dia a dia. No portal da Rejuma, você encontrará uma série de textos e publicações que contribuem para sensibilizar e alimentar o debate, no sentido de promover mudanças de hábitos e atitudes em nossa sociedade.
Toda esta discussão pode ser vista mais de perto nas escolas de todo o país, principalmente nos processos ligados às Conferências Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente, em que cada escola assumiu responsabilidades e definiu ações práticas a serem realizadas de 0 a 3 meses, 3 a 6 meses ou com prazo de até um ano. Muitas destas ações tiveram o apoio direto de muitos dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente e da própria Rejuma. São projetos como Hortas Comunitárias, implantação das Agendas 21 Escolares, projetos de reaproveitamento dos resíduos sólidos e até de reflorestamentos.
Atuamos, sobretudo, calcados no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (Fórum Global/Rio 92), já que as práticas da Educação Ambiental alimentam sonhos e esperanças, daí também fazermos parte da Rede Brasileira de Educação Ambiental e, através dos seus processos de mobilização, temos levado esta mensagem aonde quer que a gente vá.
Mobilizadores COEP – De que forma os jovens podem atuar em relação às políticas públicas fundamentais para suas comunidades? O que eles devem fazer?
R.: Nós nos entendemos como jovens do presente! Portanto é neste momento da história que queremos deixar uma contribuição para o futuro do planeta. O desafio é garantirmos Políticas de Juventudes voltadas para a questão ambiental. Neste sentido, debatemos e propomos políticas para fortalecer a construção do Programa Nacional de Juventude em Meio Ambiente, para que, das ações pontuais, como por exemplo um evento de formação voltado para este público, possa surgir uma política pública real, DE, PARA e COM a juventude, abordando o processo de formação da juventude ambientalista, com o trabalho sustentável, as estratégias de comunicação e mobilização da sociedade.
Neste sentido, atualmente, a Rejuma faz interlocução em alguns espaços de participação e controle social, dentre eles o Conselho Nacional de Juventude, o Comitê Assessor do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (MEC/MMA), além de outros fóruns e espaços de articulação nacionais.
Mobilizadores COEP – Poderia citar situações em que a participação da Rejuma foi relevante para alcançar ganhos para a juventude no país?
R.: A Rejuma como estratégia de mobilização nacional de jovens ambientalistas tem demonstrado fôlego por ser um espaço para a troca de experiências, além de grandes mobilizações. Uma destas mobilizações ocorreu durante a Conferência Nacional de Juventude e também na Conferência Nacional de Meio Ambiente. Em ambas conseguimos garantir as propostas de juventude e meio ambiente como uma das prioridades das conferências.
Na Conferência Nacional de Políticas Publicas para Juventude, a nossa proposta ficou entre as quatro prioridades, buscando “Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que incluísse o programa de juventude e meio ambiente, institucionalizado em Plano Plurianual (PPA), com participação dos jovens no processo de construção, execução, avaliação e decisão, bem como da Agenda 21 da juventude que fortaleça os movimentos juvenis no enfretamento da grave crise ambiental global e planetária, com a construção de sociedades sustentáveis.
Muitas são as experiências desencadeadas a partir dos debates e articulações da rede, que, em muitos casos, viabilizam localmente grandes processos de transformação, desde o envolvimento da rede com os Coletivos Educadores, com as Redes Estaduais de Educação Ambiental, Redes Temáticas, processos de Agenda 21 Local, Agendas 21 nas Escolas, Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola, dentre outros.
Entrevista do Grupo Mobilização Social: Direitos, Participação e Cidadania
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo