Filas para conhecer uma exposição de arte são cada vez mais comuns no Brasil. Em 2012, segundo o The Art Newspaper – uma importante publicação na área -, das 20 exposições mais vistas no mundo, três eram brasileiras, sendo que duas estavam entre as dez que atraíram maior público, ambas no Rio de Janeiro: a mostra “Amazônia: Ciclos de Modernidade”, foi a segunda mais vista, com uma média de 7.928 visitantes diários; e a mostra “Antony Gormley: Corpos Presentes”, ficou em 7º, com uma média de 6.909 pessoas por dia.
Para a diretora do Museu Histórico Nacional, Vera Tostes, o momento reflete, principalmente, investimentos em infraestrutura nos museus brasileiros, que estão mais preparados para abrigar importantes e raras coleções, em função de incentivos e aportes financeiros governamentais. E o fato de a população brasileira, de todos os segmentos sociais, estarem correspondendo a esta expectativa e comparecendo em massa aos museus. Confira a entrevista.
Rede Mobilizadores – Segundo o jornal ‘The Art Newspaper’, somente em 2012, das 20 exposições mais vistas no mundo, três eram brasileiras, sendo que duas estavam entre as dez primeiras. Na sua avaliação, o que isso quer dizer?
R.: No momento em que o Rio entrou para o calendário de grandes exposições internacionais com alto padrão de qualidade de obras, a população respondeu comparecendo em número anteriormente não visto. O que prova que quando se tem qualidade, o público, mesmo diversificado, corresponde. Nas últimas exposições, pessoas de todos os seguimentos sociais têm comparecido. Para que isso acontecesse foi necessário que os museus e centros culturais estivessem preparados para abrigar essas coleções no que diz respeito à segurança e espaços bem conservados. Nos últimos anos, os museus do Rio receberam um forte apoio e aporte de dinheiro para se modernizarem e, como consequência, passaram a atrair mais público.
Rede Mobilizadores – Em 2013, somente no Rio de Janeiro foram inaugurados dois importantes museus: a Casa Daros e o Museu de Arte do Rio, conhecido como MAR. Como avalia o cenário brasileiro atual no que se refere a museus e exposições?
R.: O Rio vive um momento especial com investimentos em novos equipamentos urbanos e culturais. A criação de novos museus vem para somar. O público ganha novas possibilidades e as instituições, novos desafios para atrair cada vez mais público. Sou favorável ao investimento em espaços “musealizados”. É importante que esses espaços ganhem áreas diversificadas da cidade e se espalhem pelos subúrbios.
Rede Mobilizadores – Além do incentivo do setor público, você enxerga outros atores neste cenário?
R.: É importante frisar que, em paralelo às restaurações dos espaços e das coleções, o que vêm possibilitando a ampliação de novas galerias abertas ao público, os setores educativos também se renovaram com parcerias com as secretarias de Educação e programas para professores. Assim, os conteúdos das exposições – sobretudo museus de História como o Museu Histórico Nacional -, podem ser trabalhados segundo os currículos e com mais eficiência nas salas de aula.
Rede Mobilizadores – Qual a importância do acesso à cultura para o fortalecimento de uma sociedade? Qual o papel dos museus neste contexto?
R.: Hoje, a compreensão da importância das instituições culturais e museus – tidos como locais onde o passado e o presente se juntam para ampliar o conhecimento e poder projetar o futuro -, vem crescendo, tanto nas esferas governamentais como também na sociedade de um modo geral. Sem o conhecimento do passado não é possível entender o presente. Mesmo no mundo atual onde, sobretudo os jovens são mais imediatistas, deve-se preservar a memória do passado na luta contra o esquecimento. Temos que estar sempre atentos à permanente atualização nos meios tecnológicos para que o diálogo seja aberto à compreensão e aos anseios da atualidade.
Rede Mobilizadores – Como é vista a cultura popular em nosso país? Como podemos fortalecê-la?
R.: Entendo a arte popular e a participação dos artistas chamados populares como parte do processo cultural brasileiro. Não devem ser discriminados. Afinal, o que é ser popular? Será maior ou menor? Na minha opinião, a arte popular não deve ser tratada à parte, mas sim como parte do todo, da Nação, nas diferentes vertentes de suas manifestações, populares ou não. Popular é, na essência, só uma denominação a mais.
Rede Mobilizadores – Qual a proposta do Museu Histórico Nacional (MHN)? Quando ele surgiu e quais as principais características de seu acervo?
R.: O Museu surgiu em 1922, por determinação do então presidente Epitácio Pessoa, a partir do fechamento de uma antiga prisão que abrigava escravos faltosos, no Forte de São Tiago da Misericórdia, erguido em 1603 para proteger os portugueses das invasões estrangeiras. Aos poucos, a área dedicada aos eventos culturais foi ocupando diversos espaços do antigo Forte e abrigando um museu dedicado à História do Brasil, como almejava Epitácio Pessoa.
O MHN trabalha com projetos de médio e longo prazos. Essa prática vem possibilitando grandes reformas no pensar científico museológico e uma atuação próxima às universidades de história, tanto no Brasil quanto no exterior. Ele é o maior e mais importante museu de história brasileiro e guarda 80% das coleções dos museus ligados ao Ministério da Cultura. Seu acervo reúne documentos e obras de importantes períodos da história nacional, como gravuras, cartas e fotos da Família Imperial brasileira, a coleção do compositor Carlos Gomes, com partituras de suas obras, entre diversos outros.
Entrevista para o Grupo Participação, Direitos e Cidadania
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo