A Cooperativa dos Produtores de Abacaxi de Itaberaba (Coopaita)vem desempenhando importante papel na comercialização do fruto, com reflexos positivos não só na renda de seus associados, como também na dos demais produtores, devido à regulação do preço dos frutos de abacaxi.
Nesta entrevista, Tatiana Piedade Santos, gerente comercial da Coopaita, conta um pouco sobre a cultura do abacaxi no município, que responde por mais de 60% da produção da fruta no estado e constitui alternativa de geração de emprego e renda, dinamizando a economia local.
Além de abastecer o mercado baiano, o abacaxi de Itaberaba é vendido também em Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e outros estados do país.
Mobilizadores COEP – Onde fica Itaberaba? Qual a base da economia local?
R.: Itaberaba é um município do sertão baiano, localizado na porta da Chapada da Diamantina. Às margens da BR 242, rodovia federal que interliga a Bahia ao Distrito Federal, a economia de Itaberaba gira em torno da fruticultura, principalmente do abacaxi, e do comércio local.
Mobilizadores COEP – Como é feita a produção do abacaxi? Explique como é a cultura do sequeiro. Neste tipo de cultura, é grande a dependência dos fatores climáticos?
R.: O abacaxi é o principal produto de Itaberaba. A cultura se destaca por ser principalmente familiar. Na região, as chuvas têm distribuição irregular, com totais anuais entre 600 e 800 mm. Apesar da ocorrência de períodos relativamente longos de deficiência hídrica ao longo do ciclo do abacaxizeiro, a lavoura não é irrigada devido à disponibilidade muito reduzida de água nas propriedades. Utiliza-se, então, a cultura de sequeiro, ou seja, sem irrigação, dependente de várias técnicas de cultivo.
A cultura da fruta é de aproximadamente 1 ano e 8 meses, dividida em fases, como preparação do solo para plantio e sistema de adubação adequado. Quando a planta está, em média, com 8 a 9 meses recebe nova adubação; depois de 1 ano e 3 meses do plantio, ocorre a indução floral; depois de 40 dia da indução, vem o controle de pragas e doenças, e depois de 5 meses da indução, ocorre a colheita.
São 90 milhões de frutas produzidas numa área plantada de 5 mil hectares. A atividade emprega cerca de 6 mil pessoas, do plantio à colheita. Deste total, mais da metade vem da agricultura familiar.
Mais de 60% da produção de abacaxi do estado sai de Itaberaba. Além de abastecer o mercado baiano, o abacaxi de Itaberaba é vendido também em São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Rio de Janerio (RJ) e outros estados do país.
Mobilizadores COEP – O clima da região vem sofrendo alguma alteração? Em caso positivo, como isto vem impactando a cultura do abacaxi?
R.: Nos últimos anos, o clima do mundo vem sofrendo grandes alterações devido às agressões ao meio ambiente, e para nós não está sendo diferente. A cada ano o clima se comporta de forma diferente, e isso provoca alterações no ciclo da cultura do abacaxi, na qualidade da fruta e também o surgimento de algumas doenças desconhecidas no abacaxi, como a trinca do fruto. No ano de 2003, por exemplo, uma estiagem danificou cerca de 70% da safra.
Mobilizadores COEP – Quando e com que objetivo foi fundada a Cooperativa dos Produtores de Abacaxi de Itaberaba (Coopaita)?
R.: A Cooperativa de Abacaxi foi fundada em 2000 com o objetivo de diminuir a ação dos atravessadores na região. Somos uma cooperativa de comercialização e industrialização de frutas, e hoje já estamos com uma fábrica de desidratação de frutas, cujo carro chefe é o abacaxi.
A maioria das empresas que desidratam frutas possui pequena capacidade instalada e temdificuldade de acesso à matéria prima com preços acessíveisque viabilizem a produção.Mas, no caso da Coopaita, como a desidratação vai ser feita próxima às lavouras de abacaxi, temos uma melhor condição de trabalho.
Contamos com duas máquinas de desidratar que podem processar até quatro toneladas de abacaxi por dia. A casca, a coroa e otalo centralda fruta são destinados ao processo de compostagempara ser usado na adubaçãodas lavourase também na alimentação animal. Como o período de safra é de junho a dezembro, na entressafra pretendemos processar outras frutas, como jaca e manga.
A fábrica de desidratação foi construída com recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza em convênio com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA).
Mobilizadores COEP – De que forma a cooperativa atua na produção e comercialização do abacaxi?
R.: Na produção, temos parcerias com órgãos de assistência técnica e pesquisa como a EBDA, que dá assistência aos produtores, e a Embrapa Mandioca e Fruticultura, que fomenta a pesquisa para melhoria da variedade e busca novas tecnologias para o incremento da cultura e controle de pragas e doenças.
Na comercialização, estamos buscando novos mercado e melhores preços para os produtores. Temos uma parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Bahia (Sebrae-BA), no projeto Comércio Brasil*1, para a abertura de mercados consolidados. Sem o apoio do Sebrae-BA, não teríamos chegado onde estamos. A entidade assessorou os produtores desde a formação da cooperativa até a elaboração do diagnóstico e dos projetos de implantação da agroindústria.
Temos outros parceiros, como Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Project Management Institute (PMI), Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), dentre outros.
Mobilizadores COEP ? Quais os principais benefícios trazidos pela Coopaita?
R.: Maior organização dos produtores; geração de emprego e renda; redução da inadimplência, pois a cooperativa assegura o pagamento aos agricultores, sem a ação dos intermediários; exportação direta dos frutos via cooperativa, também sem a ação de intermediários; e abertura para a agroindústria familiar na região, como a fábrica de desidratação do abacaxi citada anteriormente.
Mobilizadores COEP ? E quanto às principais dificuldades que a cooperativa enfrentou no decorrer destes anos?
R.: Foram várias. No início, havia dificuldades relativas à gestão e abertura de novos mercados. Além disso, podemos citar a resistência das pessoas em aceitar o sistema de cooperativismo e o controle da fusariose, doença causada pelo Fusarium subglutinans, que acarreta perdas de plantas, mudas e frutos, e é considerada o câncer do abacaxi. Depois de muitos esforços, a fusariose está controlada*2 no município. Temos ainda grandes desafios, como compra em conjunto e a sustentabilidade da cultura do abacaxi.
Mobilizadores COEP – Que dicas daria a outros produtores que enfrentam dificuldades para comercializar seus produtos?
R.: Que venham participar do nosso grupo, pois estamos sempre de portas abertas para novos sócios. Mas, pela nossa experiência, podemos dizer que é fundamental a união dos pequenos produtores para enfrentar os atravessadores, e a organização e capacitação, para a conquista de novos mercados.______________
*1 O projeto, por meio de uma rede de agentes especializados, procura identificar novas oportunidades de mercado, disponibilizando mecanismos para abertura e expansão do mercado das empresas participantes.
*2 O controle da fusariose começa com a eliminação dos restos de cultura do plantio anterior, de preferência por incorporação ao solo. 0 segundo passo é a utilização de mudas sadias para o início de novos plantios. Durante o desenvolvimento do cultivo, plantas que apresentarem sintomas da fusariose devem ser identificadas e descartadas; essas plantas devem ser queimadas ou enterradas.Entrevista do Grupo Geração de Trabalho e RendaConcedida à: Renata OlivieriEditada por: Eliane Araujo