Edisônia Moreira de Lima, 24 anos, é coordenadora do Coletivo Regional Juventude e Participação Social em Quixabeira (Bahia) e integrante da iniciativa desde sua criação, há quatro anos. Ela conta sobre as dificuldades vividas pelos jovens do semi-árido baiano, da falta de políticas públicas específicas para esse público e apresenta a experiência de articulação e mobilização social de jovens de 25 municípios da região.
Mobilizadores COEP – Quem são os jovens do semi-árido e quais são as principais ameaças a seus direitos?
R. São jovens de baixa renda e de comunidades rurais. A principal ameaça a seus direitos é a inexistência de políticas públicas voltadas para a juventude, principalmente municipais. A maior necessidade é a geração de trabalho e renda. Muitos jovens têm que sair daqui, ir para as grandes cidades, como São Paulo e Salvador, para trabalhar. A educação também é precária, de pouca qualidade: muitos profissionais não têm a formação necessária para proporcionar uma educação de qualidade, nem sempre são dadas todas as aulas. Isso acaba desmotivando os jovens; alguns dizem que não vão estudar mais e nós temos que conversar pra que eles façam a matrícula.
Mobilizadores COEP – Qual é a realidade da participação social e política dos jovens na região?
R. Os jovens da região estão bem organizados através dos Coletivos Municipais de Jovens, que existem em 25 municípios da região Sisaleira e Jacuípe, na Bahia. Nos Coletivos, são discutidos e debatidos os problemas sociais enfrentados pela juventude e os jovens são incentivados a participar e intervir nos espaços de decisões como, por exemplo, conselhos municipais, associações, sindicatos, rádios, sessões das Câmaras de Vereadores etc, sempre priorizando os espaços de decisões políticas.
Mobilizadores COEP – Como surgiram os Coletivos Municipais de Jovens?
R. Eles têm quatro anos e surgiram a partir da demanda da juventude que participava de um trabalho de formação e de oficinas de elaboração de projetos, realizado pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC). Os jovens queriam ter um espaço próprio de formação e decisão política e daí acabou surgindo o projeto de criar os coletivos em 22 municípios da região. Atualmente, são 25 coletivos, que fazem o trabalho de organização e formação dos jovens e capacitações para qualificação profissional, como cursos de digitação. Já tivemos, também, um projeto de criação de caprinos e ovinos, em parceria com o MOC. Os Coletivos são autônomos, mas o MOC continua apoiando. Os 25 coletivos compõem uma única organização que é o Coletivo Regional Juventude e Participação Social (CRJPS), que é um fórum onde se reúnem jovens desses municípios do semi-árido baiano para discutir a realidade da juventude nessa região.
Mobilizadores COEP – De que forma essa participação pode ajudar a construir políticas públicas mais atentas aos direitos de crianças, adolescentes e jovens e a beneficiar a região do semi-árido?
R. Fazemos formação política, falamos de organização de jovens para que eles participem dos espaços de decisão de políticas públicas. Alguns coletivos já realizaram sessões especiais sobre juventude nas Câmaras de Vereadores de seus municípios. Nos anos de eleição (como 2004, o primeiro ano de trabalho do Coletivo), realizamos debates públicos com os candidatos a vereadores e prefeitos para eles apresentarem as propostas para a juventude. Os jovens podem contribuir através da articulação e organização para cobrarem e, juntos, construírem suas idéias em busca de dias melhores e de sua auto-sustentabilidade, ajudando no desenvolvimento do semi-árido com suas potencialidades.
Mobilizadores COEP – Como professores, pais ou coordenadores de projetos sociais, governos, entre outros atores sociais, podem contribuir para criar espaços que acolham a participação dos jovens?
R. Discutindo as problemáticas enfrentadas pela juventude e buscando soluções.
Mobilizadores COEP – Como os Coletivos funcionam e como mobilizam os jovens?
R. Funcionamcomreuniões mensais. Os jovens são mobilizados através das entidades parceiras nos municípios, com reuniões de base nas comunidades, por telefone, e-mails etc. São mais de 500 jovens da região envolvidos, direta e indiretamente, no processo de organização, participando das reuniões dos coletivos municipais, do regional, e através dos programas e projetos desenvolvidos pelos mesmos. Há coletivos nos seguintes municípios: Capim Grosso, Nova Fátima, Pé de Serra, Riachão do Jacuípe, Serrinha, Conceição do Coité, Nordestina, Quijingue, Retirolândia, Valente, São Domingos, Quixabeira, Santaluz, Antonio Cardoso, Araci, Tucano, Ichu, Barrocas, Capela do Alto Alegre, Santo Antonio de Jesus, Queimadas, Cansanção, Candeal, Euclides da Cunha e Monte Santo.
Mobilizadores COEP – Poderia citar alguns exemplos de experiências de mobilização bem-sucedidas e os principais resultados alcançados?
R. Há jovens atuando em diretorias de entidades, como associações, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), rádios, conselhos tutelares, conselhos de saúde e de educação. Foram criados Conselhos Municipais de Juventude em alguns municípios. Através das capacitações desenvolvidas na região com os projetos, alguns jovens tiveram oportunidades de geração de renda e acesso ao crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Jovem. Os jovens também participaram de projetos, como o Jovem Prevenção, uma parceria do MOC com o Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância], para capacitar e habilitar jovens dos municípios para desenvolverem ações comunitárias de orientação e prevenção das DST/Aids e da gravidez na adolescência. Os jovens realizaram trabalhos de base, reuniões nas comunidades dos municípios, orientando outros jovens sobre práticas de prevenção. Alguns também participaram do Consórcio Social da Juventude Rural, que tem o objetivo de qualificar profissionalmente os jovens para desenvolverem melhor as atividades rurais, como a criação de abelhas, caprinos etc. Os jovens foram capacitados tecnicamente e puderam orientar até os próprios pais sobre como trabalhar melhor. Outro propósito do projeto era permitir que os jovens pudessem desenvolver o empreendedorismo e o auto-emprego. Outro projeto foi a Pesquisa Diagnóstico da Alimentação Escolar. Cinco jovens de cada município participaram desse projeto em parceria com o MOC e o Ministério da Educação. Eles receberam treinamento e fizeram um levantamento nas escolas municipais sobre a merenda escolar distribuída para os alunos, com o objetivo de verificar se estava valorizando os produtos da agricultura familiar, os produtos locais. A organização é o primeiro resultado bom. Os Coletivos contribuíram para que os jovens pudessem se inserir em espaços de decisão e até mesmo nos trabalhos da comunidade. Ajudou muito porque temos jovens que eram muito tímidos, tinham medo de falar na frente das pessoas, e, agora, estão se envolvendo mais nas comunidades. Um dos jovens compõe a diretoria de uma associação (como tesoureiro). Eles acabam desenvolvendo o que aprendem na própria comunidade.
Entrevista concedida a: Danielle Bittencourt
Edição: Danielle Bittencourt e Eliane Araujo
exelente entrevista e aborda uma questão crucial: a mobilização de jovens. parabens pelo trabalho. Se puder me viem mais informações acerca dessa experiência para profsoeiro@hotmail.com
Abraços, Antonio Carlos Soeiro Vigia – PA