O Grupo Reabilitação: Portadores de Necessidades Especiais reproduz entrevista com Luiz Carlos Pacola, presidente da Leão Leão Infra-Estrutura e Serviços, ao Portal do Voluntário.O executivoconta um pouco de sua experiência com a integração de portadores de necessidades especiais na empresa. O Grupo Leão Leão é um dos maiores empregadores de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e conta com mil e trezentos colaboradores diretos na área de construção pesada, engenharia, limpeza urbana e coleta de lixo.
P. – Há uma lei que determina uma cota mínima de contratação de portadores de necessidades especiais pelas empresas. Esta meta costuma ser cumprida?R. – A empresa fez várias tentativas para cumprir a meta estabelecida em lei, mas não conseguiu resultados, pois as dificuldades de contratação são muitas, principalmente em função do perfil de atuação da empresa, que é de limpeza pública e construção pesada. Ou seja, nosso maior número de contratações é para ocupar vagas em funções operacionais, como coleta de lixo, varredura de ruas e nas obras de construção viária. Atualmente, temos em nosso quadro de colaboradores 16 portadores de necessidades especiais, mas a meta é contratar mais, a partir da parceria com o Senai, e assim, atingir a cota estabelecida em lei.
P. – Quais os principais obstáculos enfrentados na contratação dessas pessoas (por parte delas próprias e por parte da empresa)? R. ? O principal obstáculo para contratação é a falta de qualificação dos portadores de necessidades especiais. Tivemos várias experiências que não deram certo. Nosso objetivo não é contratar por assistencialismo, mas pela competência do portador de necessidade especial, pois acreditamos que, como qualquer outra pessoa no mercado de trabalho, ele tenha condições de desempenhar bem as funções operacionais ou administrativas. O problema é que falta qualificação para essas pessoas, muitas nem ao menos chegaram a completar o primeiro grau. E sabemos que o mercado é competitivo e exige capacitação constante.
P. – O que é preciso fazer?R. – O Estado estabeleceu as cotas para contratação dos portadores de necessidades especiais, mas não se comprometeu efetivamente em dar condições para que a lei possa valer. Exemplo disso é o próprio despreparo das escolas públicas para receber o portador de necessidades especiais. Não há professores especializados em linguagens de sinais ou adaptações físicas para receber o deficiente. Existe um esforço nesse atual governo para mudar essa situação. Aguardamos uma mudança efetiva nesse sentido. A empresa, no entanto, optou por se antecipar e, junto com outras empresas da região, selar uma parceria com Senai em Ribeirão Preto. Assim, iniciamos um trabalho para inclusão dos portadores de necessidades especiais.
P. – Como vocês está sendo feito esse trabalho?R. – Concluímos em dezembro o censo para levantar quantos portadores existem na região, idade, grau de estudo, tipo de deficiência, entre outras informações. Após a tabulação dos resultados, será feito o levantamento do perfil para encaixe do portador nas empresas parceiras desse trabalho, incluindo o Grupo Leão Leão. Após essa etapa, acontece a qualificação e posterior inclusão do portador de necessidade especial em nosso quadro de funcionários.
P. – Como são tratados os funcionários com necessidades especiais?R. – Apesar de não conseguirmos contratar o número suficiente, já temos 16 colaboradores, dentre os quais destacamos na empresa casos de sucesso com a contratação de portadores. Um deles é José Alvim, que ocupa cargo de feitor, ou seja, ele coordena obras como construção de pontes, viadutos, passarelas, entre outros dispositivos viários. José Alvim começou a trabalhar como pedreiro, passando depois a mestre de obras. Seu crescimento na empresa foi significativo. Ele responde bem às metas estabelecidas e é um eficiente coordenador de equipe. Também temos uma experiência muito positiva com o Vilmar de Moura, encarregado de controle de frota. Ele trabalha com supervisão da nossa frota de caminhões, controlando pedidos de reposição de peças, entre outras funções relacionadas. Também se adaptou muito bem à função. Tem um excelente desempenho. Acho que ele também se sente realizado, pois temos a informação que, depois da contratação na empresa, ele teve condições até de comprar a casa própria. Acredito que isso realmente seja um passo importante na vida dele e na sua inclusão social. Tratamos os portadores de necessidades especiais com profissionalismo, porém atentos a suas necessidades.
P. – Que tipo de adaptações a empresa precisa fazer para recebê-los?R. – A empresa está pronta para mais contratações. Fizemos uma adaptação arquitetônica há cerca de dois anos, com a colocação de rampas para cadeirantes em todas as passagens da empresa. Também adaptamos nossos banheiros. P. – Como funciona a parceria da Leão Leão com o Senai? De que forma esta parceria pode ser positiva aos portadores de necessidades especiais? R. – A empresa, junto com outras da região, participa financiando o censo e também apoiando o processo de qualificação. O portador de necessidade especial é um dos maiores beneficiados, pois esse trabalho é pioneiro na medida em que irá selecionar o portador de acordo com vagas e funções apropriadas, considerando-se também o tipo de deficiência que apresenta. Além disso, sabemos que ele receberá qualificação específica de acordo com a função que irá ocupar. Por isso, as chances de adaptação e sucesso na contratação são maiores.
P. – Quando a Leão Leão começou a se preocupar com esta causa? R. – Sempre tivemos a preocupação em atingir a cota estabelecida em lei, bem como com a nossa responsabilidade social, pois já contratávamos portadores de necessidades especiais antes da vigência da lei. E, até por isso, passamos por experiências negativas e positivas relatadas acima até chegarmos à parceria com o Senai, no ano passado. Acreditamos que esse é um caminho para atingir a cota.