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Predisposição genética mais o hábito de ingerir bebidas podem levar ao alcoolismo

27 de junho de 2011

Roberto Oliveira Dantas, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, fala sobre o alcoolismo, problema que afeta cerca de 3% da população brasileira e pode causar, além de acidentes no trânsito, descontrole no trabalho e em família, doenças como cirrose hepática, pancreatite crônica, alterações do sistema nervoso central e aumento da chance do aparecimento de câncer, como o do esôfago.



De acordo com o professor, a predisposição genética mais o hábito de ingerir bebidas podem levar ao alcoolismo. Quando uma pessoa não consegue controlar mais o hábito de beber se torna um alcoolista, termo que, atualmente, substitui alcoólatra.




Mobilizadores COEP – O que é alcoolismo?



R.: Alcoolismo é um termo difícil de definir. O melhor entendimento é de que se trata de uma situação em que o hábito de ingerir bebidas alcoólicas traz consequências negativas para a vida do indivíduo, sua família, as pessoas com as quais convive e afeta sua capacidade para o trabalho, vida familiar, lazer e para manter amizades. As mulheres têm menor capacidade para tolerar bebidas alcoólicas, portanto estão mais sujeitas a terem problemas com o hábito. Outra maneira de entender o alcoolismo é quando o sujeito é dependente da ingestão de bebidas alcoólicas, não mais conseguindo controlar o seu hábito.



As taxas de mortalidade por causas associadas ao abuso de álcool em alguns países da América Latina, onde o alcoolismo se apresenta como grande problema de farmacodependência, estão entre as mais elevadas do mundo.




Mobilizadores COEP – A doença afeta, em média, quantas pessoas no Brasil? Trata-se de um problema de saúde pública?



R.: Não há estatísticas recentes que sejam resultados de métodos de avaliação precisos. Estima-se que um pouco mais da metade da população ingere bebidas alcoólicas com frequência e que 3% sejam alcoolistas. O termo alcoolista substituiu o termo alcoólatra. É observado que o hábito tem se tornado mais freqüente entre os jovens e entre as mulheres, o que indica a possibilidade de sérios problemas no futuro. Sendo assim, é um problema de saúde pública. O alcoolismo é mais freqüente entre os 30 e 50 anos, o que também indica a gravidade do problema. Nesta faixa de idade a pessoa trabalha, tem família que pode depender dela, e, geralmente, os filhos estão com pouca idade.




Mobilizadores COEP – Quando uma pessoa pode ser considerada alcoolista?



R.: Não há uma quantidade de ingestão de bebida estabelecida. Devido a fatores genéticos uma pessoa consegue ingerir maior quantidade que outra sem ter problemas.




Mobilizadores COEP – Quais os principais efeitos do álcool sobre o organismo? Quanto tempo, em média, uma pessoa demora para manifestar doenças decorrentes do alcoolismo? Há diferenças entre as áreas urbanas e rurais?



R.: O álcool tem efeitos agudos e crônicos sobre o organismo. Os agudos estão relacionados com o comportamento. Brigas, confusões, comportamento inconveniente, acidentes no trânsito, descontrole no trabalho, com a família e outros. A preocupação com acidentes de trânsito é evidente, porque põe em risco a vida do alcoolista e de pessoas inocentes que são suas vítimas.


Do ponto de vista crônico (hábito de ingerir bebidas com freqüência por vários anos, geralmente mais de dez anos), as consequências podem ser para o fígado (cirrose hepática), pâncreas (pancreatite crônica), sistema nervoso periférico (neurite periférica), alterações do sistema nervoso central (encefalopatia alcoólica), e aumento da chance do aparecimento de câncer, como o do esôfago. Se a pessoa não ingerir alimentos em quantidade adequada ela pode vir a ter desnutrição e pelagra (doença da pele e do sistema nervoso).



Não há diferenças entre área urbana e rural. É uma somatória de predisposição genética e o hábito de ingerir a bebida. Pessoas com história de parentes com doenças consequentes ao alcoolismo têm maior predisposição a se tornarem alcoolistas.




Mobilizadores COEP – Por que a ingestão de bebidas no campo é um hábito tão frequente? A partir de que idade os jovens começam a beber? Eles percebem a bebida como um vício?



R.: No campo, há informações de que bebidas são oferecidas aos trabalhadores. Fatores sociais, como o isolamento, favorecem o hábito. Muitos alcoolistas começam a dependência com idade em torno dos 18 anos e, ao menos no início, não se sentem como dependentes da bebida.





Mobilizadores COEP – Qual a relação entre alcoolismo e acidentes de trabalho?



R.: O alcoolismo provoca acidentes no trabalho e fora dele. A pessoa não tem o controle de suas atitudes e movimentos como gostaria, e deveria ter. Não conheço estatísticas sobre a dimensão do problema. No trânsito, por exemplo, a diminuição da presença de motoristas alcoolizados diminui o número de acidentes.



Mobilizadores COEP – E quanto à convivência com a família? Que consequências o uso de álcool traz?



R.: O alcoolismo tem sido um grande desagregador de famílias. Esposa(os) e filhos convivem com dificuldade com alcoolistas. Muitas vezes a distância é a única maneira de superar as dificuldades de convivência.




Mobilizadores COEP – O alcoolismo tem cura? Onde procurar ajuda? Todos os municípios apresentam um serviço público destinado ao tratamento de alcoólatras?



R.: É possível abandonar o alcoolismo. Entretanto, não há sistema de apoio eficiente a estas pessoas. Não tenho informações precisas, mas a maioria dos municípios não tem equipes para atender estes pacientes. Da mesma maneira que não tem para atender viciados em drogas. Abandonar o hábito é difícil e precisa de muita vontade, dedicação e apoio psicológico. É possível ter sucesso, mas precisa de determinação, não só por parte da pessoa, como daqueles envolvidos no tratamento.




Mobilizadores COEP – O que fazer quando uma pessoa com problemas de alcoolismo se recusa a procurar ajuda?



R.: Quando a pessoa se recusa a procurar ajuda, a família tem um grande problema. A primeira coisa que precisa acontecer é reconhecer que está havendo, de fato, um problema. Que a ingestão de bebidas alcoólicas ultrapassou os limites e está trazendo consequências. Precisa de muito empenho da família. Se a pessoa não tiver familiares dificilmente conseguirá sucesso. A propaganda, a vida social, enfim o meio em que se vive dificulta a recuperação.



Entrevista do Grupo Promoção da Saúde


Concedida à: Renata Olivieri


Editada por: Eliane Araujo


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