O diabetes é uma doença metabólica crônica que compromete inúmeros setores do meio interno e diferentes órgãos, devido aos níveis elevados de glicose no sangue. Estes níveis elevados de glicose no sangue se devem a redução da produção de insulina ou a ação inadequada deste hormônio nos órgãos e tecidos. Nos últimos anos descobriu-se que um dos tipos de Diabetes pode ser evitado. O diabetes tipo 2 pode ser evitado através da modificação dos hábitos de, isto é da manutenção do peso, da prática de atividades físicas e uma alimentação equilibrada.
Nesta entrevista, o doutor Leão Zagury, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), fala sobre os principais sintomas do diabetes, formas de tratamento e sobre a importância de exames periódicos. Para ele, o esclarecimento da população sobre a doença é um dos principais métodos de prevenção ao diabetes.
Mobilizadores COEP – O que é o diabetes? Quais seus tipos mais comuns?
R.: O diabetes é uma alteração do metabolismo dos açúcares, no qual a glicose fica elevada, devido à deficiência da produção de insulina – que é o hormônio produzido pelo pâncreas e que faz com que a glicose entre nas células para produzir energia -, ou pela ação inadequada da insulina nas células dos tecidos.
Os tipos mais comuns são o diabetes do tipo 1 [insulino ? dependente: células do sistema imunológico agridem as células produtoras de insulina, destruindo-as, resultando na diminuição ou cessação da produção de insulina. As pessoas com este tipo de diabetes precisam aplicar injeções diárias de insulina, para controlar a doença, que, em geral, se inicia na infância ou na adolescência]; o diabetes do tipo 2 [não insulino-dependente, que atinge entre 80% e 90% dos diabéticos, ocorre na grande maioria dos casos entre os adultos. Neste tipo de diabetes, a produção de insulina pelo pâncreas é normal ou quase normal, mas os tecidos do corpo se tornam resistentes à ação da insulina, impedindo a absorção da glicose, elevando, assim, a taxa de açúcar na corrente sanguínea]; e o diabetes gestacional [patologia que acomete mulheres não diabéticas que engravidam].
Mobilizadores COEP – Em relação a este último tipo, a mulher que teve diabetes gestacional, ao final da gravidez continua a conviver com a doença?
R.: Cerca de 60% podem se tornar diabéticas; nas demais pode haver reversão. É possível desencadear novamente o diabetes em uma nova gravidez.
Mobilizadores COEP – Quais os principais sintomas da doença? Como diagnosticá-los?
R.: Os principais sintomas da doença são decorrentes da elevação do nível de glicose no sangue. Dentre eles, podemos citar: urinar muito, ter muita sede e emagrecer, apesar de ter muita fome. Pelo fato da maior parte das pessoas não chegar a apresentar esses sintomas, a melhor sugestão para o diagnóstico precoce é que as pessoas acima de 40 anos com familiares diabéticos ou histórias de diabetes gestacional, ou ainda obesidade, submetam-se a exames de glicose periodicamente.
Mobilizadores COEP – Quais as diferenças entre hipoglicemia e hiperglicemia? E quais os principais efeitos no organismo de cada um deles?
R.: A hiperglicemia é a glicose elevada, e a hipoglicemia, a glicose baixa. Os efeitos da hiperglicemia são os sintomas do diabetes. Quando a glicose permanece elevada por muito tempo, pode gerar complicações secundárias, como o comprometimento dos olhos, dos rins e dos nervos.
A hipoglicemia, no caso do diabetes, é uma baixa de açúcar, na maioria das vezes, ocasionada por uso de excessivo de medicação, ou por prática de atividade física sem a orientação adequada ou por não ingestão das refeições nos horários recomendados. As conseqüências vão desde mal-estar até à perda da consciência.
Mobilizadores COEP – É possível prevenir o diabetes? Em que casos e de que forma?
R.: O diabetes tipo 2 pode seguramente ser evitado. Pessoas que têm tendência a se tornarem diabéticas, se perderem peso, praticarem exercícios diários de cerca de 30 minutos, mesmo de baixa intensidade, podem reduzir a possibilidade de desenvolverem o diabetes em torno de 60%.
Mobilzadores COEP – E a alimentação balanceada seria importante neste contexto?
R.: A alimentação balanceada é boa para todos diabéticos ou não. O diabético deve receber uma orientação adequada para o seu caso, mas já existem estudos que mostram que o diabético pode comer quase de tudo. Os diabéticos obesos têm que fazer uma dieta restritiva para perder peso. Os que têm peso normal devem também receber uma dieta adequada para manutenção; e no caso dos diabéticos considerados magros, uma dieta com mais calorias para que adquiram seu peso ideal. Tudo isso compensado com a medicação adequada para cada caso.
Mobilizadores COEP – A que tipo de tratamentos as pessoas diabéticas são submetidas e em que casos é necessário insulina?
R.: Os diabéticos do tipo 1 necessitam de insulina. Durante muitos anos, se pensou que os do tipo 2 não precisassem, mas, como se entende atualmente que mais importante é manter a glicose no nível da normalidade, a utilização mais precoce da insulina vem sendo uma prática adotada. Todo diabético, ou ao longo de sua vida, pode vir a necessitar de insulina.
Mobilizadores COEP – O diabetes pode trazer outras conseqüências à saúde da pessoa?
R.: Além das complicações secundárias anteriormente citadas, que são o comprometimento dos olhos, no qual o indivíduo pode inclusive perder a vista, caso não controle adequadamente o nível de açúcar, pode haver comprometimento dos rins e dos nervos. Hoje em dia, sabemos que até a incidência de enfarto do miocardio e de obstrução de artérias, por exemplo, pode ser devida ao diabetes. Aconselhamos sempre que as pessoas procurem o endocrinologista para não desenvolverem tais complicações.
Mobilizadores COEP – É possível determinar quantas pessoas têm ou terão nos próximos anos diabetes no Brasil?
R.: Acredito que, hoje, cerca de 9% a 10% da população brasileira seja diabética. Esta taxa provavelmente crescerá nos próximos anos. Detectou-se uma tendência maior de crescimento desta taxa nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos, porque, com o acesso à alimentação, inclusive à industrializada, e o maior consumo de hidratos de carbono e de gorduras, a probabilidade de que as pessoas se tornem diabéticas é muito maior. Inclusive no caso de crianças.
Mobilizadores COEP – Na sua opinião, os serviços públicos do país estão preparados para diagnosticar e atender pacientes com diabetes?
R.: Nos últimos 15 anos, houve uma grande evolução na compreensão da importância do tratamento do diabetes pelos administradores da saúde. Acredito que os dirigentes têm informações, mas ocorre que os gastos com os problemas ocasionados pelo diabetes são crescentes e, em vários lugares do Brasil, os serviços de saúde ainda não são aparelhados, tanto do ponto de vista técnico, quanto operacional. Entretanto, observo que os governos têm procurado aprimorar o fornecimento de medicação e a atenção aos diabéticos.
Mobilizadores COEP – O que é preciso fazer para diminuirmos a incidência do diabetes no país?
R.: Na saúde a educação também, é fundamental. Da população em geral, no sentido de entender o que representa uma pessoa com diabetes, como também dos próprios diabéticos. Está provado que, quando se educa um paciente diabético, ele compreende os motivos pelos quais tem que tomar os cuidados em relação a seu problema, e os resultados são muito melhores. Ainda sobre este enfoque, a redução da incidência de obesidade é um item extremamente importante, bem como o aumento da atividade física. Outras questões relevantes são as consultas. Disponibilizá-las para os pacientes é fundamental. Além disso, precisamos, neste contexto, fornecer medicamentos.
Para mais informações e esclarecimentos, recomendo a leitura do livro que publiquei e que há 20 anos tem servido de ?bíblia? aos nossos pacientes diabéticos: ?Diabetes sem medo?, da Editora Best Seller.
Entrevista do Grupo Promoção da Saúde
Concedida a: Marcelo Copelli
Editada por: Eliane Araujo e Renata Olivieri