Nessa entrevista, Airton Medeiros, idealizador do programa Escola Brasil, mostra que é possível promover a melhoria da educação por meio de um programa de rádio que fala sobre direitos, deveres e responsabilidades numa linguagem em que o povo entende.Mobilizadores COEP – Quando foi criado o programa de rádio Escola Brasil e qual sua proposta inicial? R.: Sempre tive vontade de ter um programa de rádio voltado para educação. Era um sonho antigo. Como professor de Educação Física, em Santa Rosa (RS), já tinha experimentado a difícil missão de ensinar, e a experiência de radialista me fez ver que o rádio pode fazer muito mais do que tocar música e dar notícias. Em 1997, a partir de informações sobre desvios de verbas da educação que pipocavam a toda hora, surgiu a idéia de fazer um programa que fosse um pouco mais além da denúncia e falasse sobre direitos, deveres e responsabilidades de cada um para a melhoria da educação. E hoje, com a parceria da Secretaria de Educação a Distância, do Ministério da Educação, temos um programa super variado, com entrevistas esclarecedoras, experiências de sucesso na escola, brincadeiras, desafios que nos levam à reflexão e… um pouquinho de música relacionada ao tema da educação. Mobilizadores COEP – Qual o perfil dos ouvintes do programa? R.: O nosso ouvinte está mais no interior e periferias das cidades. A maioria das cartas que recebemos é de estudantes, professores, mães e pais que muitas vezes não tiveram oportunidade de seguir os estudos e encontram no programa um incentivo para voltar pra sala de aula e também para acompanhar o estudo dos filhos. O programa atinge todas as regiões do Brasil, mas principalmente as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As rádios Nacional de Brasília (AM) e Nacional da Amazônia, emissoras da Radiobrás, mantêm parceria com o MEC para a retransmissão gratuita do Escola Brasil. Isso é muito bom, porque a Nacional da Amazônia, voltada exclusivamente para a Região Norte do país, tem um potencial de audiência de 17 milhões de pessoas. A Rádio Nacional de Brasília, AM, pode ser ouvida em todo o Brasil, principalmente à noite, quando opera em alta potência. Há ainda as 72 rádios que retransmitem o Escola Brasil gratuitamente nas diferentes regiões. São rádios comunitárias, universitárias e até comerciais. Não temos nenhuma dúvida de que é só o começo de uma imensa audiência pelo Brasil afora. A meta agora é a ampliação dessa pequeníssima Rede de Rádios pela Educação. Acho que o produto que fazemos chega em boa hora para ser veiculado nesse rádio brasileiro tão carente de programação com um conteúdo que não seja só música, notícia e religiosidade. Mobilizadores COEP – O Escola Brasil mostrou que é possível trabalhar uma forma de educação inclusiva a partir do rádio. Qual a importância do rádio para as populações do interior do país? Ele ainda é um meio eficiente para promoção da educação? Você vê nos outros meios de comunicação este potencial? Por quê? R.: Nesse interior do Brasil existem áreas em que, muitas vezes, o rádio é o único meio de comunicação. Essas pessoas precisam de informação e de conhecimento sobre seus direitos para o exercício da cidadania. E é disso que tratamos no programa. O rádio é um meio muito eficiente porque vai com você pra onde você for. E o que é melhor, não é preciso deixar de fazer outras coisas enquanto se ouve rádio. Você anda de bicicleta, de ônibus, de carro, de barco, trabalha na roça ouvindo rádio… O que não é possível fazer com a televisão, com o jornal, com a revista ou com o computador. Mobilizadores COEP – Qual a importância da internet para ampliar o alcance do programa?R.: Bem, a rede mundial de computadores permite que o programa seja ouvido por qualquer pessoa, a qualquer dia e qualquer hora. Basta entrar no site www.escolabrasil.org.br. É pela internet que as rádios parceiras têm baixado o programa para retransmissão. E o nosso site tem sido descoberto por um número maior de pessoas a cada dia. A internet também nos permite receber os comentários dos internautas que se dispõem a contribuir para a educação brasileira. Sem dúvida é um meio que veio pra ficar e que vamos aproveitar ao máximo, até porque tem tudo a ver com o rádio.Mobilizadores COEP – O programa é transmitindo num horário em que a concorrência dos programas de tv como telejornais e novelas é bastante forte. A audiência é grande ainda assim ou é maior o público que acessa pela internet? R.: A Radiobrás não possui pesquisas de audiência para podermos citar números. Nosso termômetro são as cartas. Recebemos mais de 27 mil cartas entre novembro de 2006 e junho de 2007, entre repostas às promoções, reclamações sobre a educação no município ou elogios à programação. E as rádios parceiras transmitem o programa do dia em horas diferentes, o que nos permite fugir da concorrência do horário, porque no conteúdo acreditamos que uma coisa não concorre com a outra. E na internet, de 7de novembro a 10 de julho, dos 13.420 acessos ao site, 5.645 baixaram o programa para ouvir ou gravar pra retransmissão. Mas logo após a criação da rede, o número de downloads cresceu consideravelmente. Em 70 dias entre maio e princípio de julho, o número de downloads foi de 3.400. Isso demonstra o potencial de crescimento da rede.Mobilizadores COEP – Na sua avaliação, o que fez o programa ser tão bem aceito pelo público ouvinte? R.: Acho que o que faz o programa ser tão bem aceito em qualquer parte do Brasil é a diversidade e a diversão. A forma de apresentação é dinâmica, e os quadros, variados. Temos um casal de apresentadores que cativa a audiência, com sua naturalidade e simpatia. E tratamos dos mais variados assuntos de forma leve, numa linguagem fácil e sempre que possível divertida. Sempre há uma maneira de falar do tema mais difícil de uma forma interessante. Até sobre violência ou morte. Temos uma equipe de redatores e atores para produzir dramatizações, como por exemplo os causos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Fundação Telefônica, que conta histórias reais de pessoas que usaram o Estatuto para garantir os direitos da criança. O cuidado começa na produção, com a escolha dos assuntos, dos entrevistados, dos temas dos quadros, dos personagens… Temos, por exemplo, o personagem Matuto, que é o destaque do programa. Uma figura incrível. Um caipira, cheio de sabedoria e humor, que já carrega a responsabilidade de ter a preferência de mais de 70% dos ouvintes que enviam cartas pro Escola Brasil. É um personagem engraçado, que fala a ?língua do povo?, onde quer que ele esteja, e por isso é aceito em todo o país. Imagine que o nosso caipira chega ao programa com seu jegue chamado Helicóptero. Haja imaginação! Ele tem uma galinha de nome Jiribita. O ouvinte ri e aprende sem se dar conta. Outro destaque é o professor Neurônio: um cientista maluco, que dá ?aulas? curiosas e divertidas sobre fenômenos da natureza, descobertas científicas e tudo o mais que diga respeito às ciências. Temos as sempre esperadas dicas de português e muito mais. E assim, de personagem em personagem, de história em história, o programa vem ganhando espaço e mostrando o valor do rádio no contexto da educação brasileira.Mobilizadores COEP – De que forma será ampliado o alcance do Escola Brasil? R.: A partir da ampliação dessa rede de rádios pela educação. Neste segundo semestre de 2007 vamos buscar o máximo possível de emissoras para retransmitir o programa nos mais diferentes cantos do país, porque o problema da educação não é pontual, ele está em todo o Brasil. Estamos criando uma coordenação especialmente para estabelecer contatos com as rádios, acompanhar a retransmissão dos programas, e distribuir todo e qualquer conteúdo educativo que vise à melhoria dos sistemas de ensino. O nosso objetivo não é apenas que elas transmitam o programa, mas fazer com que comecem a abrir espaços dentro da própria programação para discutir a problemática local de ensino. Elas podem ter seus próprios programas, envolvendo a comunidade e autoridades locais. O Escola Brasil pode ser um ponto de partida na medida em que discute essas questões nacionalmente, aumenta a audiência e conseqüentemente a visibilidade da emissora. A partir do momento em que a população percebe que o dono da rádio e o radialista se preocupam com a responsabilidade socioeducativa, todos são incentivados a participar. Hoje, as rádios que sabemos que retransmitem o programa são 72, mas já temos 251 emissoras de 24 estados brasileiros querendo começar a retransmissão, mas não têm como baixar o programa pela internet. Estamos estudando as alternativas de distribuição do programa. Qualquer rádio pode fazer parte dessa rede: comunitária, educativa ou comercial. Inicialmente procuramos as comunitárias, pelo significado social que elas têm, mas independente de linha política ou religiosa, todas podem e devem participar dessa mobilização social em torno da melhoria da educação. É só fazer contato conosco, por e-mail escolabrasil@escolabrasil.org.br, ou pelo telefone (61) 32021720, que daremos todo o suporte para que sintam parte da rede e com poder para trabalhar essas questões sociais. O nosso site também tem espaço para entrarem em contato conosco: www.escolabrasil.org.br. Mobilizadores COEP – A replicação do programa terá enfoque regional? Qual a significância da iniciativa para as populações dos quatro cantos do país?R.: O Escola Brasil é um programa nacional, mas trata de assuntos regionais e mostra experiências de diversos estados. Isso é muito bom, porque quem faz educação no Sul e Sudeste tem que ter noção do que se faz no Norte, no Nordeste, Centro-Oeste e vice-versa. É essa a interação que queremos. A troca de experiências, de culturas. Mas como dissemos, procuramos estimular a produção local pelas rádios parceiras.Entrevistaconcedida à: Renata OlivieriEdição: Eliane AraujoEsperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.
Pelas experiências que já tive, e agora ao ouvir com interesse o programa de rádio educativo, acredito que o educando se identifica mais com os que falam a mesma linguagem, como os colegas da escola, do bairro ou da mesma região. O fato do Escola Brasil ter apresentadores profissionais, centrados em Brasília, mesmo bastante comunicativos, a meu ver, pode ser um fator de distanciamento entre ouvintes muito jovens. E se eles mesmos fizessem os programas? As vezes, nossos alunos podem nos surpreender.
A meu ver é através da educação que mudaremos as pessoas(ampliando-se e/ou reformulando-se os conteúdos mentais) e, consequentemente, as localidades, cidades, estados, o país. Enquanto não se coloca em prática uma educação que atenda as necessidades individuais, em primeira instância, e depois, as sociais, deveremos mitigar essa carência de qualidade com iniciativas como essa da Escola Brasil.