O projeto Pintadas Solar promove o uso de tecnologias de irrigação e bombeamento de água com o objetivo de fortalecer a agricultura de pequena escala, a segurança alimentar e a geração de renda no sertão, ajudando os pequenos produtores a se adaptarem às mudanças do clima. O projeto leva o nome do município, de apenas 11 mil habitantes situado a 250 quilômetros de Salvador. Nesta entrevista, a coordenadora do projeto, Thais Corral, fala um pouco sobre a iniciativa.Mobilizadores COEP – De que forma as mudanças climáticas tendem a afetar o quadro socioeconômico e ambiental do Semiárido brasileiro?R.: Existem várias incertezas ainda sobre o verdadeiro impacto da mudança do clima no Semiárido brasileiro. Em linhas gerais, uma mudança do clima vai trazer uma intensificação dos extremos. Isso significa ter períodos com chuvas mais fortes e secas prolongadas.Mobilizadores COEP – No que se baseia o Projeto Pintadas Solar? Por que recebeu este nome?R.: O projeto Pintadas Solar surgiu a partir da experiência, no município de Pintadas, na Bahia, de irrigação por gotejamento, usando bombeamento por energia solar. A ideia era trazer tecnologias de irrigação para fortalecer a agricultura de pequena escala, a segurança alimentar e a geração de renda, através de sistemas de bombeamento mais limpo do que o bombeamento movido a óleo diesel, que é o tipo mais comum. Então, o projeto foi chamado “solar” pelo uso de bombeamento movido à energia solar fotovoltaica. Depois foi entendido que o bombeamento solar é ainda muito caro e não viável economicamente se não tiver subsídios governamentais, e que para o agricultor do sertão o mais importante é renda. A contribuição de bombas fotovoltaicas para diminuição (mitigação) de gases de efeito estufa é também muito baixa. Então, o projeto se focou muito na questão de geração de renda.Mobilizadores COEP – Quando o projeto começou a ser implementado? R.: O projeto começou em 2005 e teve uma fase piloto que durou dois anos, de 2006 a 2008.A iniciativa foi considerada uma boa prática pelo prêmio de Dubai/ UN-Habitat, em 2008, e pela organização Wisions, em 2006. Recebeu o prêmio SEED 2008*, escolhido entre mais de 400 projetos no mundo, como uma das cinco práticas que merecem ser trabalhadas em escala.Mobilizadores COEP – Quais os parceiros do projeto Pintadas Solar? R.: Os principais parceiros do projeto foram a ONG Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH), que coordenou o projeto, e o Centro Clima da COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Localmente nossa principal parceria foi com a Rede Pintadas que reúne organizações da sociedade em Pintadas. O município de Pintadas, com apenas 11 mil habitantes, está situado a 250 quilômetros de Salvador. Quase todos os seus 1.600 domicílios rurais contam com cisternas para armazenar água da chuva. Esse fato somado à forte organização comunitária atraiu o interesse de parceiros externos para realização do projeto.Mobilizadores COEP – Qual a área de atuação do projeto? Quantas comunidades participam da iniciativa?R.: A área de atuação potencial do projeto é todo o sertão, mas o foco atual é o estado da Bahia, especificamente, os municípios da Bacia do Rio Jacuípe – 250 quilômetros a oeste de Salvador -, e o município de Brumado, perto de Feira de Santana. Até o momento, instalamos 30 sistemas de irrigação e estamos ajustando o modelo para que possa ser disseminado.Mobilizadores COEP – Como surgiu a rede Adapta Sertão? De que forma atua?R.: A rede Adapta Sertão surgiu como desdobramento do Projeto Pintadas Solar. O projeto deu início ao laboratório de aprendizagem dessa abordagem e acabou transformando-se numa tecnologia social, por seu caráter inovador de articular recursos técnicos, científicos, sociais e de políticas públicas com vistas a gerar renda e adaptar comunidades vulneráveis aos efeitos da mudança climática. Durante o desenvolvimento do projeto, foi entendido que a sustentabilidade de uma iniciativa de geração de renda, ligada à questão climática, precisa articular parcerias público-privadas, colaborando para os mesmos fins. Investimos muito tempo e energia para identificar essas instituições e criar uma ação integrada de sinergia entre elas.A partir da experiência desenvolvida em Pintadas, surgiu a rede Adapta Sertão, que articula municípios, instituições públicas, privadas e do terceiro setor com vistas a integrar recursos técnicos, científicos e humanos para ajudar o pequeno e médio agricultor a se adaptar à mudança climática.Mobilizadores COEP – Como o projeto pretende melhorar a qualidade de vida das comunidades envolvidas? R.: O projeto melhora a qualidade de vida das comunidades ajudando o produtor rural a ter mais produtos e mais renda através de tecnologia de irrigação e bombeamento eficiente. No sertão, por mais absurdo que possa parecer, o método de irrigação mais comum é o manual, utilizando o regador. O acesso à tecnologia continua a ser precário por falta de uma rede de distribuição dessas técnicas na região. Mobilizadores COEP – Que tecnologias de irrigação e geração de energia são implantadas pelo projeto? Como funciona o sistema de gotejamento? R.: Sistemas de gotejamento e organoponia são sistema de irrigação. Bombeamento a diesel e elétrico, na parte de geração de energia. O sistema de irrigação por gotejamento se desenvolveu em função da escassez de água. Este sistema aplica água em apenas parte da área, reduzindo assim a superfície do solo que fica molhada, exposta às perdas por evaporação. Com isto, a eficiência de aplicação é bem maior e o consumo de água menor. Mobilizadores COEP – O que é o sistema de organoponia e para que serve?R.: Na organoponia, a única fonte de nutrientes para as plantas é a solução nutritiva. A diferença entre a hidroponia e a organoponia é o uso de solução nutritiva orgânica ou química. As plantas são colocadas em canais ou recipientes por onde circula uma solução nutritiva, composta de água pura e de nutrientes orgânicos dissolvidos nas quantidades adequadas para atender a necessidade de crescimento de cada espécie vegetal cultivada. Esses canais ou recipientes podem ou não ter um substrato, ou seja um meio de sustentação para as plantas que contribua também para sua alimentação, como resíduos orgânicos (casca de arroz, resíduos de sisal). As plantas são muito sensíveis à variação de solução nutritiva, que tem que ter um controle rigoroso para manter suas características. Periodicamente, é feito um monitoramento de pH e de concentração de nutrientes para que as plantas cresçam sob as melhores condições possíveis. A organoponia trabalha sem uma grande intervenção do agricultor e utilizando conceitos físicos básicos como gravidade, capilaridade, osmose e vasos comunicantes.Mobilizadores COEP – Como funciona a poliprodução? Quais os principais benefícios desta forma de cultivo para os agricultores da região?R.: Em função dos longos períodos de seca, o cultivo de hortaliças e alguns grãos é sazonal. A poliprodução é, portanto, uma estratégia para enfrentamento da seca. Os agricultores, em geral, têm, além da área cultivada, uma ou duas vacas leiteiras, mel. O que descobrimos é que, com a irrigação, a qualidade do alimento das vacas melhorou e a produção do leite também pôde aumentar muito. Mobilizadores COEP – Quais as estratégias usadas pelo projeto para divulgar estas tecnologias e incentivar a participação das comunidades?R.: Os agricultores que participam do projeto são os que melhor divulgam o modelo Adapta Sertão, já que eles sabem explicar melhor do que ninguém o benefício. Temos realizado também o Fórum Adapta Sertão, para o qual são convidados diferentes atores públicos e privados para ampliar a discussão e a divulgação do projeto. Por ser uma iniciativa de adaptação à mudança do clima no Semiárido, o Adapta Sertão tem ganhado muita visibilidade.* A SEED, palavra em inglês que significa semente, é uma rede global fundada pelas organizações União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que tem como missão promover parcerias em prol do desenvolvimento sustentável em sintonia com as Metas de Desenvolvimento do Milênio e a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável também conhecida como Rio +10.Para saber mais, acesseo siteAdapta Sertão. Entrevistaconcedida à: Flávia MachadoEditada por: Eliane Araújo
Esse projeto é muito bom ,porém se fosse estendido pra outras regiões da Bahia seria melhor ainda poder ajudar outros agricultores familiar…
boa noite com esta com vc meus amigo vcs estão de parabem
por que fase este trabalho maravichoso?as.a monitora:rita
Gostaria de saber se essa técnica esta inserida em algum manual e como podemos a aprende-la?