Iniciativa do COEP Nacional, o Programa Comunidades Semiárido visa promover ações de desenvolvimento social e econômico do semiárido nordestino, em parceria com instituições governamentais e entidades civis. Atualmente, cerca de 2,6 mil famílias de 30 comunidades, inseridas numa região considerada de alta vulnerabilidade social, integram as iniciativas, que vão do cultivo de algodão orgânico à implantação de telecentros de informática comunitários. As comunidades são beneficiadas em projetos de inclusão digital, educação ambiental e cidadania, geração de trabalho e renda e organização comunitária.
Para estimular a participação de jovens lideranças nessas regiões, através da implementação e reaplicação de tecnologias sociais nas comunidades atendidas pelo programa, foram realizados, em julho de 2013, Pré-fóruns de Lideranças Jovens do Semiárido.
Nesta entrevista, Marcos Carmona, coordenador de Projetos do COEP, explica um pouco mais sobre o projeto e a dinâmica de envolvimento comunitário e desenvolvimento local.
Rede Mobilizadores – O que são os Pré-fóruns de Lideranças Jovens do Semiárido? Quais foram os objetivos da iniciativa? Por que os jovens foram escolhidos como público-alvo?
R.: Todo ano, o COEP Nacional faz uma série de reuniões preparatórias com as comunidades para o Fórum de Lideranças Jovens do Programa Comunidades do Semiárido. Este ano, o objetivo é debater a reaplicação de tecnologias sociais de convívio com o Semiárido e discutir estratégias para o fortalecimento da rede de jovens formada por estes grupos familiares.
Os jovens foram escolhidos porque se mostram mais envolvidos com os novos projetos, têm uma capacidade maior de se adaptar, de se renovar e são potenciais disseminadores de informação. Além disso, é importante estimular a formação de novas lideranças nessas comunidades para que o conhecimento não fique restrito somente a uma geração.
Rede Mobilizadores – Em que locais do Semiárido eles foram realizados e como foi a dinâmica destes pré-fóruns?
R.: Os pré-fóruns aconteceram em etapas regionais. Em Campina Grande (PB), reunimos comunidades do agreste da Paraíba e também de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. Em Água Branca (AL), participaram as comunidades de Alagoas e Sergipe. Em Milagres (CE), reunimos o sertão da Paraíba e o Ceará. Por último, reunimos as comunidades do Piauí, em São Braz do Piauí.
Cada pré-fórum teve duração de dois dias, nos quais foram realizadas oficinas sobre constituição de redes, apresentados e discutidos exemplos de tecnologias sociais, certificadas pela Fundação Banco do Brasil, com potencial de serem reaplicadas nas comunidades que fazem parte do Programa. A dinâmica, portanto, é mais ou menos a mesma em cada comunidade envolvida. Cumprida esta etapa, é feito um roteiro e escolhidas cerca de 15 tecnologias sociais para cada comunidade. Depois, serão discutidas e analisadas com as comunidades quais das tecnologias pré-selecionadas são mais viáveis e possíveis de serem reaplicadas.
Rede Mobilizadores – Quais foram as principais tecnologias sociais discutidas pelas comunidades durante os pré-fóruns? E qual sua importância para o protagonismo comunitário?
R.: As principais tecnologias discutidas para essas comunidades são aquelas que envolvem o trabalho conjunto e levam em consideração os recursos e as necessidades existentes, como por exemplo, as mini-agroindústrias, padarias comunitárias e bancos de sementes.
As tecnologias sociais possibilitam a articulação das comunidades em prol de seu próprio fortalecimento. A discussão acerca do que é melhor para uma comunidade, sendo realizada com a participação de todos, gera aprendizado e fortalece as relações comunitárias. É um processo participativo com o intuito de gerar também trabalho e renda, oportunidades de negócios, injetar recursos na economia local e fazer com que esses recursos circulem, sejam distribuídos e beneficiem a todos.
Rede Mobilizadores – Como será a implantação dessas tecnologias nas comunidades?
R.: Estas tecnologias serão discutidas por multiplicadores nas comunidades, em assembleias organizadas pelos integrantes dos Comitês Mobilizadores. Esses comitês são formados por lideranças locais com a incumbência de organizar e acompanhar a implantação das ações previstas no Programa Comunidades Semiárido.
Na verdade, a ideia é se construir um projeto participativo de reaplicação das tecnologias e buscar apoio em conjunto para sua realização. Como disse, a implantação de qualquer tecnologia social é um processo participativo e, algumas vezes, demorado. Também depende da tecnologia escolhida e como a comunidade vai conseguir desenvolver o processo.
Rede Mobilizadores – Quando será realizado o Fórum de Lideranças Jovens do Semiárido? Qual é o objetivo desta nova etapa?
R.: A ideia é que cada comunidade apresente no Fórum de Lideranças Jovens do Semiárido, que ainda não tem data marcada, uma relação de tecnologias sociais prioritárias, com base na discussão sobre potencialidades e condições de viabilidade definidas em processos participativos nestes territórios. O Fórum pretende fazer uma avaliação do que já foi realizado, fortalecer a rede e capacitar as comunidades para os temas relacionados ao projeto.
Rede Mobilizadores – O Programa Comunidades Semiárido foi implantado pelo COEP há 12 anos. O que é o programa e quais os principais resultados obtidos?
R.: O Programa Comunidades Semiárido é uma iniciativa do COEP que visa promover ações de desenvolvimento social e econômico do semiárido nordestino, em parceria com instituições governamentais e entidades civis. Atualmente, cerca de 2,6 mil famílias de 30 comunidades integram as iniciativas, que vão do cultivo de algodão orgânico, construção de cisternas e de barragens subterrâneas à implantação de telecentros de informática comunitários. As comunidades são beneficiadas em projetos de inclusão digital, educação ambiental e cidadania, geração de trabalho e renda e organização comunitária.
As comunidades envolvidas no programa se fortaleceram na medida em que demonstram ter mais organização e mobilização para se articularem. A inclusão digital através dos telecentros comunitários é uma conquista, pois possibilita interação, formação de novos profissionais, com apoio das universidades, acesso a novos mercados e produtos, e melhoria nas práticas agroecológicas. O fortalecimento das atividades produtivas gera mais trabalho e renda e, por conseqüência, mais autonomia e empoderamento.
Rede Mobilizadores – Qual é o perfil dos municípios e comunidades atendidos pelo Programa? Quais suas maiores dificuldades e potencialidades?
R.: As comunidades atendidas pelo programa estão em regiões consideradas de alta vulnerabilidade social, e encontram-se no interior dos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Tais comunidades ficam em pequenos municípios e têm uma população que varia de 20 a 100 famílias, tendo graves deficiências estruturais, como dificuldades de deslocamento, convivência com a seca, escolas e postos de saúde precários, falta de assistência técnica para produção. A principal atividade produtiva é a agricultura familiar.
Como pontos fortes, podemos citar a vocação para o turismo rural – ainda pouco explorada -, o potencial para o artesanato, os elementos formadores das culturas locais, as riquezas naturais da região, e também o surgimento de lideranças jovens nessas comunidades e seu crescente interesse de se envolver em processos sociais participativos.
Entrevista para o Eixo de Participação, Direitos e Cidadania.
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo
O projeto das comunidades semiarido tem sem duvida elencado um avanço enorme a essas comunidades, um verdadeiro marco histórico nessas regiões. Realidades que jamais os governos locais poderiam transformar em tão pouco espaço de tempo. Em pouco mais de uma decada nossas comunidades geram trabalho, renda, se organizam, conquistam direitos, formam pessoas e dão espaço para estabelecerem muitos outros objetivos.
Caro Marcos, considero um dos melhores projetos do COEP o trabalho desenvolvido nas comunidades do semiárido. Gostaria muito de trabalhar em conjunto com você, as tecnologias usadas são ótimas e melhoraram, em muito a qualidade de vida das famílias assistidas. Só com compromisso, seriedade e solidariedade é que se consegue diminuir as disparidades soiais existentes nas comunidades.
Parabéns! É de lideres assim que o nosso país precisa. Ser agente transformador da sociedade, enquanto sujeito histórico.
Muito bom o trabalho do COEP na região do Semiárido! As parcerias das instituições governamentais e não governamentais com essas comunidades, contribui muito para a superação das dificuldades. Difundir as tecnologias sociais, o trabalho coletivo, o envolvimento das famílias em projetos produtivos, principalmente na agricultura familiar, gerando trabalho, renda e desenvolvimento local é muito interessante e certamente muito gratificante. Que muitas outras experiências como estas possa acontecer neste nosso lindo Brasil, parabéns a todos e todas!
vejo a Rede de tecnologias Sociais como uma rede solidária, onde todos estão inseridos em um mesmo propósito, que é o fortalecimento comunitário.
Toda a dinâmica envolvida no programa é a da Economia Solidária, que tem trabalhado junto aos empreendimentos solidários as questões relativo ao coletivo, pois sozinho não conseguimos as conquistas necessárias para organização da produção e geração de renda.
Esse programa é muito importante por envolver regiões vulneráveis e por trabalhar de forma participativa, onde todos tem direito a voz.
Trabalhar com a agricultura familiar é muito gratificante e mais ainda qdo vemos resultados do trabalho que vcs fazem junto as comunidades de agricultores familiares. Parabéns!!!
Parabéns pelas ações. Somente juntos será possível enfrentar o poder do capital e vencer as adversidades. Sonho que se sonha só, é um sonho só! Sonho que se constrói junto, logo, logo será uma realidade!
Ótimo trabalho do COEP na região do Semiárido nordestino em parceria com essas comunidades, embora as dificuldades ainda existam o programa Comunidades Semiárido agora com apoio da FBB procura difundir tecnologias sociais de uso coletivo para as comunidades COEP podendo envolver as famílias em projetos produtivos na agricultura familiar utilizando técnicas alternativas de convivência com o Semiárido gerando renda e desenvolvimento local para as famílias atingidas. Grande Marcos Carmona, parabéns!
Muito bom o processo adotado para que uma tecnologia seja aplicada em outra comunidade. Percebe-se que há um processo democrático e participativo. Esperamos que tais tecnologias que trás uma outra forma de ver e de viver no mundo seja expandida em todas as partes do Brasil e além Brasil.