A Rede por um Futuro Melhor (ou em inglês: Better Futures Network – BFN) foi lançada em novembro de 2013, no Rio de Janeiro, durante um fórum internacional, promovido pelo COEP Nacional e pelo Centro para Inovação Comunitária da Universidade de Carleton (Canadá).
Integrada por universidades e organizações de vários países, o objetivo da rede é criar um espaço de diálogo, aprendizagem e ação, envolvendo comunidades e parceiros, numa tentativa de pensar soluções para problemas desafiadores que têm ajudado a perpetuar a desigualdade e a exclusão em diversos locais do mundo.
O pesquisador John Saxby, de Ottawa, Canadá, e autor do livro “Cotton, Computers and Citizenship ”, que integra a Coleção COEP Cidadania em Rede, é um dos integrantes da BFN e colaborador do COEP há mais de 13 anos. Nesta entrevista, ele destaca a importância da parceria entre organizações da sociedade civil, universidades e governo para o empoderamento de comunidades pobres, e dos desafios e obstáculos institucionais que dificultam essa cooperação.
Rede Mobilizadores – Como é a parceria com o COEP? Como começou esse trabalho?
R.: Minha parceria com COEP é individual e começou no início do ano 2000, como pesquisador. Tenho trabalhado em diferentes questões, como por exemplo, análise da história do COEP, como exemplo de uma rede voluntária na “área de fronteira” entre a sociedade civil e o Estado; e análise da história, êxitos, fatores de sucesso, evolução da metodologia, e desafios de sustentabilidade do Programa Comunidades Semiárido, etc. Atuo também como conselheiro no contato com diversas organizações internacionais como, por exemplo, os membros potenciais da Rede por um Futuro Melhor ou Better Futures Network (BFN).
Rede Mobilizadores – O que é a Better Future Network? Qual é o objetivo desta Rede de colaboração internacional e quem faz parte dela?
R.: A BFN é uma rede internacional “under construction” [em construção], que tem como foco o uso de conhecimentos práticos para promover empoderamento e transformações sociais em comunidades e seus parceiros. Entre os membros da rede estão universidades, organizações de pesquisa, agências operacionais, organizações da sociedade civil, e – isto é muito importante – membros das comunidades que trabalham estas diferentes organizações.
Rede Mobilizadores – Que tipo de conhecimentos serão partilhados na rede BFN?
R.: Quando falamos de conhecimentos, imaginamos conhecimentos práticos e acadêmicos, mais particularmente, conhecimentos que podem ser aplicados para fortalecer os ativos coletivos de comunidades. Neste momento, temos identificado, por meio do trabalho de diversas entidades com comunidades, diferentes temas essenciais, que podem servir de guia para a rede. Entre esses temas estão trabalho e renda; mudanças climáticas, vulnerabilidade e adaptação; liderança jovem; soberania/segurança alimentar; cidadania e direitos humanos; e combate à violência contra as mulheres.
Rede Mobilizadores – Como o COEP pode contribuir para o fortalecimento da BFN e das comunidades?
R.: Acho que COEP pode fazer algo muito útil simplesmente mantendo sua trajetória, suas práticas atuais de trabalho com comunidades, bem como a cooperação com universidades e outros membros da BFN. A rede também pode ser fortalecida pela parceria com a Carleton University, pois há sempre um desafio de recursos financeiros e pessoais.
Rede Mobilizadores – Como é o trabalho com comunidades, em nível internacional?
R.: Não sou especialista no que diz respeito à cooperação entre universidades e/ou organizações de pesquisa e comunidades. Mas, de acordo com minha experiência como participante em dois fóruns recentes sobre este assunto (o Fórum da BFN no Rio de Janeiro; e o fórum de aprendizagem do Instituto Internacional Coady, no Canadá), parece que existe um grupo de professores e pesquisadores, relativamente pequeno, mas com compromisso forte, que têm muito interesse nesta área de trabalho. É um grupo disperso internacionalmente, com ligações formais e informais. Não se trata de uma rede, mas de várias redes. Como exemplo temos: a “Talloires Network”; Unesco Chair in Community-Based Research and Social Responsibility in Higher Education; Global Alliance for Communityt-Engaged Research (GACER ); Global University Network for Innovation.
Mas, existem obstáculos institucionais (sistema de incentivos, burocracia, prioridades diferentes e poucos recursos, etc.) que dificultam essas parcerias. Há poucos doadores interessados e/ou prontos a comprometer recursos nesta área. Isso deve fazer parte de uma reflexão sobre prioridades institucionais das universidades e, igualmente, das autoridades públicas.
No entanto, há algumas exceções. No Canadá, por exemplo, há conselhos de pesquisa e agências como IDRC/CDRI que têm destinado recursos para essa área. No entanto, participantes do fórum de aprendizagem do Instituto Internacional Coady disseram que o exemplo canadense não é comum.
Entre as organizações da sociedade civil existem outros exemplos interessantes de na cooperação com as comunidades. Nem sempre são eficazes, mas isso depende do projeto, das organizações, etc. E, neste mundo, a tendência é investir recursos nos programas operacionais, e não em pesquisa, por exemplo. E não digo isso como crítica, é simplesmente a realidade.Entrevista para o Eixo de Erradicação da Miséria
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo