Daniela Almeida, uma das assessoras da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (Rede MG), conta nesta entrevista como a organização vem unindo agroecologia, tecnologias alternativas e capacitação comunitária na cidade de Belo Horizonte e em seu entorno. Ela explica como é realizado o projeto de agricultura urbana da organização e esclarece sobre as diversas vantagens ? ambientais, de saúde, econômicas, ocupacionais, sociais e culturais – que a atividade pode ter.
Mobilizadores COEP – Qual a importância da agricultura urbana?
R: Temos destacado dois aspectos da agricultura urbana no nosso trabalho: um é o da multifuncionalidade da agricultura urbana, pois ela tem diversas funções na cidade. Ela é promotora de saúde, tem relação com a educação, com a dimensão ambiental e a econômica. Em cada situação, uma dessas funções pode ser mais evidente do que a outra.
Com relação à saúde, ela dá acesso a uma alimentação mais saudável e a recursos locais para saúde, pois é muito forte o cultivo de plantas medicinais na agricultura urbana. No aspecto da educação, gera dinâmicas de aprendizado, de troca de conhecimentos e de saberes dentro da família, entre gerações e entre vizinhos, tanto na parte da culinária e da alimentação, quanto na de remédios caseiros.
Com relação à questão ambiental, proporciona contato da população com a natureza, o que, na cidade grande, é cada vez mais difícil. Na periferia, então, é pior, pois a população não tem acesso a áreas de lazer, a parques etc. E oferece ainda benefícios ambientais diretos, como aumento da área de permeabilização de água de chuva [que ajuda a evitar enchentes e deslizamentos], aumento da biodiversidade urbana, além do aumento de área verde. Neste ponto, existe uma discussão muito incipiente sobre o sequestro de carbono. Ainda não nos aprofundamos muito, mas também é uma questão que precisa ser estudada.
Com relação à dimensão econômica, o primeiro aspecto é a economia financeira. Mesmo que feita em um pequeno espaço e que a produção não seja muito significativa para o abastecimento de alimentos de uma família, a agricultura urbana gera uma economia através na chamada renda indireta, ou seja, das trocas. Em áreas maiores, observamos aumento da renda da família, através de venda dos excedentes, de comercialização, de beneficiamento. Por exemplo: tem família que tem um pé de manga e um pé de goiaba em casa. Se ela congela essas frutas, faz polpa, aí faz geladinho, chup-chup (sacolé), suco, geleias etc., mesmo com um pé de fruta, isso pode proporcionar uma renda à família.
E a última dimensão que destacamos muito é a sociocultural: é impressionante a força que a agricultura urbana tem para populações rurais que vão para as cidades, pois oferece oportunidade de inovação: não dá para simplesmente a pessoa transferir o que aprendeu na roça para a cidade. Tem que recriar, adaptar para o contexto urbano. Então, ela reafirma muito essa identidade. Mas temos observado cada vez mais famílias que não têm essa tradição rural, não é gente que veio da roça, mas por uma necessidade de se conectar com a terra, descobre um novo universo e fica, no domingo, debaixo de chuva, na horta, sem largar a enxada. Ou seja, na família, nas relações sociais, de neto aprendendo com a avó, por exemplo, entre vizinhos, é muito importante.
O outro aspecto é contemplar a agricultura urbana como atividade permanente na cidade. Nos Planos Diretores das cidades, a agricultura urbana não é considerada, com raríssimas exceções. A prática agrícola não é tida como uma atividade urbana e, por isso, não se planeja nem se destina espaços para ela. O caminho que vemos para ampliar essa prática é experimentar em uma região e dialogar com a prefeitura formas de inserir a agricultura urbana no planejamento dessa região. Se isso acontecer, mais famílias podem ser inseridas no projeto e em políticas públicas.
Mobilizadores COEP – É uma atividade passível de ser implementada em qualquer cidade do país?
R: Consideramos que sim. Não é questão de ser implementada, ela já é uma realidade. Todas as oportunidades que tivemos de fazer diagnósticos em cidades de grande, médio e pequeno portes, vimos que a agricultura na cidade é uma realidade, uma prática antiga. Desde que existe cidade, tem agricultura na cidade. Só que ela é invisível, não está considerada no planejamento da cidade. E, cada vez mais, em função dos processos de expansão urbana e de especulação imobiliária, vemos diminuindo as zonas de plantio (neste caso, estamos falando de zonas rurais perto de cidades). Mas a agricultura urbana é uma realidade antiga, basta olhar.
Mobilizadores COEP – Como é desenvolvido o trabalho de agricultura urbana da Rede MG? Que cuidados são tomados e que critérios são observados?
R: A Rede MG, apesar do nome, é uma organização. Como ela nasceu de um projeto em rede e manteve o nome. O nosso trabalho institucional foca no acompanhamento direto das famílias e grupos comunitários na região nordeste de Belo Horizonte. Temos procurado vincular a agricultura urbana à recuperação de bacias hidrográficas urbanas. E temos também um trabalho de capacitação, formação política e fortalecimento de participação comunitária que abrange toda a região metropolitana.
Tomamos o cuidado de, antes de começar qualquer intervenção, fazer um diagnóstico. Podem ser diagnósticos rápidos, não precisam ser acadêmicos, mas temos de identificar as iniciativas mais adequadas. Não podemos correr o risco de implementar sem saber o que já existe. Identificamos o que já é feito, nos quintais, as iniciativas familiares, no âmbito privado, no âmbito coletivo e comunitário; depois procuramos conhecer os atores locais que apoiam ou que têm interesse nesta prática. É muito forte o interesse, por exemplo, de centros de saúde, de escolas e até de associações comunitárias. Procuramos, portanto, partir do que já existe e valorizar essas experiências.
Mobilizadores COEP – Em quais grupos comunitários de Belo Horizonte a instituição trabalha? Qual foi o critério de escolha?
R: A região específica da nossa intervenção em Belo Horizonte é a Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Onça. Nesta região, existe o Movimento “Deixem o Onça Beber Água Limpa”, integrado por atores locais, que luta para revitalizar essa bacia hidrográfica, como caminho para melhorar as condições de saúde, de educação e até de auto-estima da população dessa região, que é muito vulnerável a enchentes e desabamentos. A população de baixa renda está sujeito, principalmente em épocas de chuvas, a problemas de saúde causados por vetores de doenças infecciosas.
Trabalhamos com grupos de famílias que têm quintais e também com iniciativas comunitárias, sejam elas em centros de saúde, em espaços públicos, ou em praças. Atualmente, são cerca de 50 famílias envolvidas diretamente.
O principal critério de escolha do local foi a existência anterior de experiências que precisassem ser visibilizadas. Nesta área, há pessoas trabalhando em seus quintais, mas sem nenhum tipo de incentivo ou de apoio. Então, o principal critério é valorizar quem já está sendo feito. O outro critério está no campo socioeconômico: escolhemos famílias vulneráveis. Para isso, dialogamos com centros de saúde e com instituições que atuam localmente e que já tinham um mapeamento dessas famílias.
Mobilizadores COEP – Como tem sido a aceitação dos grupos comunitários que não adotavam hortas urbanas em relação à incorporação dos novos hábitos e atividades?
R: É importante destacar duas coisas: nos diagnósticos que temos feito, percebemos que a agricultura urbana é uma atividade muito forte e espontânea. Mas é muito pouco organizada, e tem base comunitária muito fraca, muito incipiente. As famílias estão um pouco isoladas, tanto as que já têm experiências, quanto as mais vulneráveis. É nos trabalhos de capacitação, nos encontros promovidos para trocas de experiências que elas vão se agrupando: um grupo de vizinhos, um grupo de famílias que se dispõe a trabalhar em uma área ociosa no centro de saúde – dessa forma elas vão se agrupando, mas ainda é muito incipiente essa formação de base. Porém, a aceitação é muito forte. Os benefícios são citados pelas pessoas já no segundo mês, pois certas plantas já estão crescidas. A parte da saúde mental e da terapia ocupacional é gritante. Outro dia, tivemos um encontro e relataram o caso de uma senhora que, depois de dois meses trabalhando com a terra, parou de tomar antidepressivo.
Mobilizadores COEP – Que benefícios (de saúde, segurança alimentar etc.) a agricultura urbana tem trazido para os moradores do local em que é implementado e para os habitantes da cidade em geral? O que as pessoas costumam relatar?
R: Com relação à saúde, essa parte da saúde mental e da disposição física é muito forte. Muitas pessoas se interessam pelas hortas porque estão com dificuldade em casa, doentes, porque perdeu o pai, ficou desempregado, está deprimido etc. O primeiro retorno que as pessoas dão é sobre como isso as fortalece: dá energia esse contato com a terra. Outro relato muito forte é o da relação familiar: por exemplo, cuidam da horta mãe e filha, ou avó e neto. Outro exemplo é o de vizinhos que passam a se conhecer. As pessoas falam: “Poxa, ela mora do lado da minha casa e foi a partir dos encontros que eu a conheci. Eu não sabia que o meu vizinho plantava”; ou então: “Tem 20 anos que eu moro aqui na rua e nunca tinha entrado na casa dele”. Esses são os resultados que as pessoas relatam a curto prazo. A longo prazo, os resultado são relacionados às dimensões que já citamos.
Percebemos também que nosso trabalho amplia a capacidade de as pessoas se expressarem, principalmente as mulheres (a maioria absoluta do público com o qual a Rede MG trabalha é de mulheres). Muitas vezes, no início, elas sequer abrem a boca para falar. A partir desse processo de conhecerem os vizinhos e de poderem mostrar o que sabem, e também a partir de todo o processo na formação política que fazemos – de estímulo para que integrem dinâmicas coletivas e participem de conselhos, incidam nos espaços de políticas públicas -, hoje muitas são educadoras e lideranças de base.
Existem, portanto, os resultados de curto, de médio e de longo prazo. Na saúde, vemos muito isso, principalmente nas doenças respiratórias. Nos encontros, a pessoa aprende a preparar um remédio em que pode usar a planta medicinal que tem na horta, e isso também gera um resultado imediato fortíssimo. Muitas mães pelejam levando o filho para centros de saúde, fazendo nebulização e dando remédios, e agora ficam felizes porque os remédios caseiros cortam mesmo as doenças respiratórias. E os resultados em médio e longo prazo são mais na parte socio-organizativa, política e econômica.
Na economia, eles relatam, por exemplo: “tem dois meses que estou fazendo a horta e este mês eu já não comprei verdura”. Se pensarmos em famílias que têm renda na faixa de um salário mínimo, para ela ter um consumo adequado a uma alimentação saudável em termos de verduras, isso impacta o orçamento, ainda mais se for uma verdura agroecológica [que tende a ser mais cara que as convencionais].
Mobilizadores COEP – Qual o papel da agricultura urbana na preservação de hábitos e tradições culturais e alimentares da região?
R: Além daquilo que já citamos sobre a preservação de hábitos e tradições de pessoa que vieram do campo para a cidade, existe um outro aspecto que é interessante. Temos reforçado muito em nosso trabalho atualmente a valorização das plantas espontâneas, das plantas rústicas, essas que nascem livremente na horta: capeba, caruru, capoeraba. O conhecimento sobre seu uso e receitas não são difundidas, não se acha em qualquer lugar. E temos visto que a população tem um conhecimento riquíssimo sobre o uso dessas plantas, tanto para uso medicinal, quanto culinário. E podem ser uma alternativa alimentar riquíssima, são fontes de nutrientes que não levamos em conta. Isso, então, é também um resgate e uma valorização de hábitos culturais. Às vezes, é um conhecimento que a pessoa aprendeu com a avó, com a mãe, que está adormecido. Nas nossas dinâmicas, isso tudo emerge.
Mobilizadores COEP – O que costuma motivar a adoção de hortas urbanas? Qual o objetivo dos grupos e comunidades que as implementam?
R: Temos os casos em que a pessoa está ociosa em casa, desempregada, ou até deprimida, e procura uma ocupação. No nosso público, a procura é mais pela ocupação do que pela renda, pois trabalhamos muito com quintais, e não com hortas muito grandes. Para a pessoa ter uma renda direta significativa, precisaria ter uma horta grande. As motivações que aparecem primeiro em nossos diagnósticos são a saúde, a cultural (vontade de ter contato com a terra) e, depois, a renda. É importante mencionar que, hoje em dia, tudo é muito fragmentado. Separamos muito as coisas, o trabalho do lazer, a saúde da alimentação. A pessoa se entope de junk food e vai malhar para poder gastar [as calorias ingeridas]. É tudo muito separado. Envolver-se com agricultura urbana, com esse tipo de prática nas cidades, é um retorno a essa integralidade da pessoa e da relação dela com o ambiente, o que é uma oportunidade na cidade, nessa loucura que são as cidades. Por isso, quando você pergunta qual a motivação, falamos da saúde, mas uma coisa vai puxando a outra. É uma busca maior que as pessoas têm. Não posso falar que elas não estão interessadas na renda, mas às vezes isso não é a primeira motivação.
É importante fazer uma diferenciação: além da motivação pessoal, familiar ou comunitária, há também uma motivação institucional, governamental. Há poucos avanços em organizações de base popular na agricultura urbana. Mas, se analisarmos os últimos cinco, dez anos, é incrível como aumentou o número de programas e projetos por parte de governos locais e até de universidades. Tem no âmbito no Ministério do Desenvolvimento Social e, há poucos dias, descobrimos que, em Belo Horizonte, existem dois projetos de lei tramitando na Câmara Municipal; em São Paulo também tem; no Rio de Janeiro, idem. Só que existe um descompasso entre o que se avançou em termos de organização popular e nos programas institucionais e percebemos que o principal objetivo destes últimos é a renda. E isso é um contraponto do que estávamos falando, daquele sentido integral que as pessoas têm quando se envolvem com agricultura urbana – tem a ver com a saúde, mas também com a renda, com ter uma ocupação, com a alimentação etc. Os programas governamentais buscam primordialmente a geração de renda e muitas vezes não é esse o principal resultado da atividade. O programa pode, então, ser mal avaliado e não ser significativo. Os programas públicos muitas vezes têm o olhar muito fechado, de geração de trabalho e renda, e não percebem a amplitude, a integralidade.
E o descompasso que citei refere-se ao que se avançou no âmbito da organização popular. Há em Minas Gerais uma lei estadual sobre agricultura urbana aprovada e regulamentada. Mas não existe uma organização popular, associações de agricultores e agricultoras urbanas, não existe uma cooperativa, que possa monitorar a lei, cobrar a implementação dela, propor ajustes e melhorias. Então, existem mais avanços no papel do que na prática.
Mobilizadores COEP – A agroecologia – linha de agricultura adotada pela Rede MG – prevê, entre outras coisas, a existência de árvores em conjunto com as áreas de cultivo. Como isso pode ser implementado nas cidades, onde o espaço é limitado e o crescimento de árvores é prejudicado?
R: Isso que você cita é a dimensão técnica da agroecologia. Mas temos hoje no Brasil uma construção e um acúmulo de experiências de agroecologia em todas regiões do país, que apontam para um outro modelo de agricultura no país. É mais do que a questão tecnológica. Parte das experiências que estão sendo feitas aponta para um outro modelo de agricultura, que é mais respeitosa com o ambiente e com a vida, de modo geral, valorizando as pessoas que produzem. Faço essa ressalva, pois não devemos olhar somente o aspecto técnico tecnológico.
Mas respondendo a esta questão mais técnica: a ideia é trabalhar com os princípios da agroecologia, que é “imitar os processos da natureza”. Na natureza, se você tem uma área de mata, cai uma árvore e vira uma clareira, vai tendo um processo de sucessão ecológica e tem a recomposição da vegetação natural ali. Como acontece isso nas hortas? A gente vive esse problema, que é bastante presente. As pessoas começam o cultivo de horta em áreas antes degradadas ou somente de terra, e deixam crescer as plantas espontâneas (dentro da perspectiva da agroecologia). Pelo próprio processo da sucessão natural, vão surgindo árvores ou a pessoa introduz uma árvore e aquela área acaba virando uma agrofloresta. Hoje, temos exemplos concretos disso. Não dá mais para ser apenas horta, porque a sombra não permite. Mas ali tem árvores frutíferas, espécies nativas, plantas medicinais. Nestas situações, tentamos promover uma ampliação de área. Estamos atualmente negociando algo parecido com a Prefeitura de Belo Horizonte, pois, ao lado da área degradada que virou uma agrofloresta, existem outras áreas degradadas que podem virar hortas. Tentamos driblar a situação dessa forma, pois a natureza foi recomposta, há mais verde. Não podemos cortar as árvores para fazer horta!
Realizamos uma pesquisa nos quintais de uma área onde trabalhamos há dez anos, vimos que tinha muito poucas hortas. Fazendo pesquisa aprofundada com certas famílias, percebemos que uma das razões foi uma campanha de arborização que fizemos dez anos antes e que deu resultado. Então os quintais estavam com muitas árvores frutíferas e sombreados e, por isso, não dava para ter horta [pois elas precisam de sol para prosperar].
E isso derruba um mito: parece que a cidade não tem espaço. Fizemos um mapeamento em Belo Horizonte em 2007, com aprofundamento na região do Barreiro, que derruba o mito de que as cidades não têm espaço, mesmo as maiores e mais populosas. E aí se entra no debate mais político da reforma urbana, pois a cidade tem muito espaço ocioso, tem muita terra, mas o problema é o acesso. Ela está indisponível por causa da especulação imobiliária. Ficam esses estoques de terra parados, totalmente ociosos. O dinheiro gasto pelos municípios para manutenção dessas áreas poderia ser destinado para a agricultura. A gente quer que existam muitas árvores e, se elas tomarem o lugar das hortas, a gente vai buscando novas localidades e fazendo a cidade mais verde, mais produtiva e mais viva.
Mobilizadores COEP – Que tecnologias alternativas são usadas em conjunto com as técnicas de agricultura urbana?
R: Dá vontade de responder: um monte! Existem tecnologias que são de aproveitamento de pequenos espaços e de recipientes, como embalagens, caixas, etc. Parece pouco, mas existem quintais em que se aproveita até caixinha de leite para plantas pequenas. Temos casos em que a plantação é toda feita em caixas de madeira e em carcaças de geladeira nas lajes das casas, criando um teto verde e reaproveitando o espaço. Isso é uma questão bem específica da agricultura nas cidades: aproveitamento de recipientes e potencialização de pequenos espaços.
Outra questão é a diversificação de cultivos: buscar, pesquisar que plantas combinam entre si. A parte de adubação envolve a busca por mais autonomia no sistema de produção, para se utilizar o menos possível coisas de fora. Isso inclui o reaproveitamento de recipientes, já citado, e também duas outras questões básicas: o próprio adubo e a água. Você pode produzir o seu adubo através da compostagem, utilizando restos de alimentos. A ideia é ser o mais autônomo possível, o menos dependente de insumos externos.
Ainda em relação a adubos, também se faz a adubação verde: utilizam-se plantas (guandu, feijão de porco, mucuna) que são plantadas para serem podadas e depois incorporadas no solo [são utilizadas tal qual um fertilizante convencional, sendo jogadas no solo]. Elas se tornam adubos, pois têm a capacidade de puxar nutrientes do solo e disponibilizá-los para outras plantas, assim não precisamos usar adubos químicos. Há também o reaproveitamento da água utilizada na casa, ou a captação de água da chuva.
Mobilizadores COEP – Como e por que surgiu o projeto de agricultura urbana da Rede-MG? Ou seja, por que a atuação na área urbana? Existe a intenção de ampliar o projeto para outras cidades, além de Belo Horizonte?
R: Com relação à atuação urbana da Rede, foi um desafio que nos colocamos, entendendo que, para pensar um outro modelo de desenvolvimento para o Brasil, era necessário pensar o sistema de consumo alimentar das cidades e a relação do campo com a cidade. Não se pensa um projeto de país só a partir do trabalho no campo. O que oportunizou nosso trabalho na cidade foi um convite da Prefeitura de Belo Horizonte, em 1993, para conceber e coordenar os Centros de Vivência Agroecológica (Cevaes) na cidade. Foi muito na esteira da ECO-92, quando se estava pensando processos de desenvolvimento local, alternativas de sustentabilidade do planeta e das cidades. A prefeitura estava sensível a esta questão e queria pensar, entre outras coisas, o abastecimento da cidade, o sistema de consumo agroalimentar na cidade. E aí surgiu essa ideia de trazer esse acumulado do rural para o urbano. O convênio com a prefeitura durou seis anos e foi uma experiência muito rica.
Sobre ampliar para outras cidades, hoje em dia está muito difícil a sustentabilidade das organizações não-governamentais. Existe uma dificuldade muito grande de acesso a recursos públicos, está tudo muito burocratizado. A nossa principal fonte de recursos, que era a cooperação internacional, está cada dia mais difícil. Como o Brasil tem uma economia forte, eles acreditam que há recursos no próprio país. Isso nos desafia e dificulta a ampliação do trabalho de intervenção direta. Tínhamos vontade de trabalhar em mais comunidades, mas a cada dia que passa está mais difícil. Tanto que anteriormente já trabalhamos em quatro regiões de Belo Horizonte e hoje atuamos em uma apenas. Nossa estratégia tem sido, então, trabalhar nessa região da forma mais ampla possível, envolvendo todas aquelas dimensões que citei no início.
Mobilizadores COEP – E como tem sido o trabalho de articulação metropolitana de iniciativas de agricultura urbana?
R: Este trabalho envolve organização política. Desde 2004, temos um trabalho que não é de acompanhamento direto das famílias, mas sim de identificação e mapeamento, na região metropolitana de Belo Horizonte, de organizações e experiências de referência. Trata-se de mapear essas iniciativas da região metropolitana e criar um espaço de encontro para pensar estratégias para fortalecer cada uma delas e de estabelecer um debate político e de incidência nas políticas públicas. A gente fez isso durante dois a três anos, depois houve um momento de fragilização dessa articulação e, em 2009, ela se tornou forte de novo. Hoje, estamos fazendo um mapeamento da agrobiodiversidade urbana (a ideia é fazer um mapa, mesmo) para dar visibilidade à realidade e à potencialidade que ela traz. Qual é a biodiversidade cultivada nesse conjunto de experiências? Em um encontro que realizamos em outubro, depois de apenas 20 dias de mobilização, as pessoas levaram 113 espécies diferentes para troca. Eram sementes e mudas que elas tinham nas suas hortas, nos seus quintais, nas suas áreas.
Um outro mapeamento que estamos fazendo é das demandas, para que as pessoas se organizem e saibam quais são as necessidades práticas para essas experiências se fortalecerem. É cerca, adubo, incentivo fiscal? Queremos conhecer essas demandas para promover uma organização maior entre os grupos. Entrevista concedida a: Maria EduardaEdição: Eliane Araújo
Parabéns Daniela Almeida! Podemos tê-la como parceira nos projetos do Instituto Vida Sustentável?!!!! Favor faça contato!! moraes@vidasustentavel.org.br
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Feliz 2010…11…!!…
Como é feito o contato com as pessoas que estão em casa ociosas para participar do projeto?
A adesão é fácil?