Desde 1999, o COEP Nacional promove projetos de desenvolvimento social e econômico no semiárido nordestino, em parceria com organizações governamentais e entidades da sociedade civil.
As atividades são realizadas em 90 comunidades rurais, situadas em sete estados do Nordeste. Entre as ações desenvolvidas destacam-se iniciativas de organização comunitária, inclusão digital, educação ambiental, promoção da cidadania, geração de trabalho e renda e valorização da cultura local. Um dos alvos prioritários é a juventude, uma vez que a participação dos jovens tem contribuído para ampliar o envolvimento e o desenvolvimento comunitários.
Numa tentativa de ampliar a comunicação e a mobilização dos participantes do projeto, em 2013 foi criado um grupo no Facebook que já conta com cerca de 1.500 pessoas, entre moradores, parceiros do projeto e até mesmo alguns representantes do poder público.
Nessa entrevista, o coordenador de Projetos do COEP Nacional, Marcos Carmona, fala sobre as mudanças que tem percebido após o início do uso da rede social.
Rede Mobilizadores – Por que surgiu a ideia de criar um grupo no Facebook destinado aos participantes do projeto Comunidades COEP Semiárido?
R.: Tínhamos dificuldade de acesso aos jovens das comunidades do semiárido nordestino com as quais trabalhamos devido à distância física. Por mais que tenhamos agentes de campo que fazem a interface com eles, o ideal é poder falar diretamente. Como percebemos que muitos jovens dessas comunidades já usavam o Facebook, em 2013, resolvemos tentar usar esse canal para estreitar nosso contato com eles e também ampliar os canais de comunicação entre as diferentes comunidades, o que acaba fortalecendo a rede.
Logo, o pessoal começou a aderir, e rapidamente o grupo cresceu. Hoje, nós temos cerca de 1.500 participantes, a maior parte deles jovens. Além dos moradores das comunidades atendidas pelo COEP, parceiros que apoiam o projeto, como integrantes da Fundação Banco do Brasil e da Embrapa, também têm participando do grupo, o que possibilita a eles interagir com os comunitários e avaliar diretamente a adesão dos moradores às iniciativas que promovemos e o impacto delas nas comunidades.
Ou seja, o grupo, que surgiu informalmente como uma tentativa de melhorar nossa comunicação com os moradores das comunidades, hoje é um canal que nos permite uma comunicação direta com as 90 comunidades onde atuamos, além de permitir interação entre os moradores dessas comunidades e funcionar como um instrumento informal de avaliação e acompanhamento do projeto.
Rede Mobilizadores – Quais são as questões que vocês mais tratam via Facebook?
R.: São muitas questões. No grupo temos um retrato do dia-a-dia, do andamento das atividades. Divulgamos as atividades que queremos fazer, comunicamos de resultados, difundimos informações de interesse das comunidades, como editais, cartilhas.
Nós também já promovemos algumas atividades de capacitação e mobilização usando o grupo no Facebook. Um exemplo foi o curso Vídeo de Bolso, no qual ensinamos os princípios básicos para que eles fizessem vídeos, usando principalmente o celular, para retratar questões relacionadas às suas comunidades. Eles fizerem vídeos sobre eventos culturais, sobre problemas que enfrentam, sobre iniciativas que promovem. E tanto o curso quanto a exibição dos vídeos aconteceu por meio do grupo no Facebook.
Rede Mobilizadores – Você percebe mudanças na mobilização dos jovens após o uso do grupo no Facebook? Pode exemplificar?
R.: Sim, há muitas mudanças. O grupo tem ajudado a ampliar o relacionamento entre os jovens de diferentes comunidades e estimulado a realização de algumas iniciativas em conjunto.
Uma vez ao ano realizamos um fórum presencial reunindo jovens de várias comunidades e, nessas ocasiões, eles criam vínculos que depois são mantidos e ampliados por meio do grupo no Facebook.
Essa interação já rendeu frutos. Um exemplo recente foi um jornal comunitário que eles prepararam para o último fórum que realizamos em agosto, em Campina Grande (PB). Nós havíamos trabalhado em conjunto com eles na produção de duas ou três edições, mas esse último número foi iniciativa deles, que fizeram todo o processo sozinhos. Isso é muito legal.
Rede Mobilizadores – A rede já foi utilizada para resolver alguma questão prática das comunidades? Pode exemplificar?
R.: Frequentemente, os jovens pedem auxílio uns aos outros para tentar resolver problemas que aparecem no telecentro, com equipamentos de informática ou em atividades comunitárias, por exemplo. Já houve casos também de venda de produtos da comunidade por meio do grupo, mas tudo ainda de maneira muito informal.
Acontece também a exibição de experiências que estão desenvolvendo, como a de um criatório de peixes, na comunidade de Lagoado, no município de Anísio de Abreu, no Piauí, ou de conquistas que obtiveram a partir da mobilização social, como o Centro de Convivência do Idoso inaugurado na Comunidade de Baixa Grande, no município de Cachoeira dos Índios, na Paraíba.
Isso tudo são resultados que elevam a motivação dos jovens para construir soluções coletivas e criar caminhos para o desenvolvimento local, melhorando as condições de vida.
Rede Mobilizadores – Na sua avaliação, as redes sociais são um instrumento eficaz para promover mobilizações sociais? Por quê?
R.: Hoje em dia, tudo acaba passando por redes sociais. É um canal privilegiado. Imagina como seria manter contato com todas essas 1.500 pessoas das comunidades não fosse por uma ferramenta assim.
Até dá para alcançar fisicamente essas pessoas, por outros meios, mas a comunicação seria muito fria e ineficiente. Não haveria esse sentimento de unidade, de pertencimento, nem a possibilidade de os integrantes das diferentes comunidades interagirem, se ajudarem e planejarem ações conjuntas.
Entrevista concedida a: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa