Apesar de ser obrigatório as empresas terem um determinado número de pessoas com deficiência no seu quadro de pessoal, muitas organizações não cumprem a lei sob alegações diversas, em geral decorrentes de uma resistência cultural de conviver com a diferença. A consultora Andrea Goldschmidt, da Apoena Social, explica nessa entrevista o que é preciso fazer para integrar as pessoas com deficiência e os benefícios que essa integração pode trazer para a empresa e para os demais funcionários.
Mobilizadores COEP – O Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, estabelece que empresas devem reservar um percentual de seu quadro de funcionários para pessoas com deficiência. Apesar disso, muitas empresas não cumprem a lei. Por quê? Quais as principais dificuldades encontradas pelas empresas na hora de contratar uma pessoa com deficiência?
R. – Acredito que a principal barreira que impede as empresas de cumprir as cotas de deficientes seja cultural. É comum que as pessoas coloquem muitos obstáculos, nem sempre reais, que dificultam o início do processo. Não quero com isso dizer que seja fácil contratar deficientes. Há, sem dúvida, dificuldades de seleção de pessoas com experiência anterior e com formação acadêmica completa, além das dificuldades de seleção de pessoas que tenham uma boa adaptação à vaga, levando-se em consideração a deficiência que têm.
Mobilizadores COEP – Como planejar e estruturar a inclusão da pessoa com deficiência no ambiente de trabalho da empresa? Que fatores devem ser levados em conta? Há condutas específicas para cada tipo de deficiência?
R. – O primeiro passo deve ser o planejamento da inclusão. Incluir uma pessoa é mais do que dar-lhe uma oportunidade de trabalho, é garantir que tenha realmente condição de desempenhar a sua tarefa tão bem quanto qualquer outro funcionário, que possa estar em todos os lugares dentro da empresa, que possa fazer parte de todas as equipes, seja durante o período de trabalho ou nos momentos de lazer. Para garantir um processo de inclusão bem-sucedido, o primeiro passo deve ser a realização de um mapeamento das funções existentes dentro da empresa. Com base nas descrições de cargo e na análise do local de trabalho, a empresa deve avaliar quais os tipos de deficiência que apresentarão melhor grau de adaptação. Isso servirá como base para o início do recrutamento. Em geral, não há necessidade de lidar de forma especial com um deficiente, mas há pequenas dicas que podem ser úteis, como por exemplo falar sempre de frente com um deficiente auditivo, já que a sua compreensão depende da realização da leitura labial. Ao mesmo tempo, deve-se providenciar alterações físicas que garantam o acesso destas pessoas a todas as áreas da empresa (sinalizadores, rampas, etc.) e a compra de equipamentos que facilitem o seu trabalho (softwares específicos para pessoas com deficiência visual, por exemplo). Além disso, durante todo o processo de inclusão a empresa deve manter um acompanhamento do que está acontecendo, agindo rápida e firmemente no sentido de corrigir possíveis problemas e enfrentar as dificuldades naturais de um processo novo. Os maiores problemas geralmente estão relacionados a erros de contratação e de falta de entrosamento entre as pessoas que geralmente ocorrem quando a empresa contrata pessoas com deficiência sem um planejamento adequado.
Mobilizadores COEP – Como promover a interação entre a pessoa com deficiência e o quadro de funcionários, para obter um ambiente saudável e produtivo?
R. – Acredito que o mais importante seja a sensibilização inicial dos funcionários sobre as peculiaridades no trato das pessoas com deficiências e a oportunidade de esclarecer dúvidas antes de começarem a trabalhar com os colegas deficientes. Desde que se sintam preparados para lidar com uma situação nova, os funcionários receberão bem os novos colegas, e o ambiente será saudável e produtivo de forma natural. Muitas vezes, por falta de oportunidades anteriores de convivência, os funcionários sentem-se inseguros com relação aos novos colegas, o que pode gerar dificuldades de relacionamento e de entrosamento.
Mobilizadores COEP – Que benefícios a inclusão pode trazer para a empresa?
R. – Em primeiro lugar, sem dúvida, a melhora no clima organizacional. Ao lidar com pessoas diferentes, é comum que haja uma reflexão sobre os relacionamentos no ambiente de trabalho, e a tendência é que as pessoas tornem-se mais humanas, mais solícitas, mais dispostas a colaborar mutuamente. Além disso, todo tipo de diversidade traz benefícios relacionados a processos. Ao incluir pessoas com deficiências, a empresa passa a ter acesso à opinião de uma importante fatia do mercado consumidor e, entendendo melhor este público, pode encontrar soluções melhores para as suas necessidades e expectativas.
Mobilizadores COEP – De que forma é possível otimizar o desempenho da pessoa com deficiência dentro da empresa, potencializando suas habilidades?
R. – Selecionando pessoas de acordo com suas habilidades e competências, como é feito com qualquer outro funcionário. Uma pessoa alocada em uma função em que não se adapta certamente terá dificuldades de desempenhar bem seu papel, seja ela deficiente ou não. No caso dos deficientes, a análise das habilidades deve levar em consideração a formação acadêmica, os conhecimentos técnicos, as habilidades de relacionamento e também as limitações impostas pela deficiência que tem. Desde que as pessoas com deficiência estejam adequadas à função que exercem, sua produtividade deve ser tão boa como a de qualquer outro funcionário.
Mobilizadores COEP – Todos os tipos de pessoas com deficiência podem ser incluídas no ambiente de trabalho? Existe algum tipo deficiência que impeça essa inclusão? Em caso afirmativo, que limitações seriam essas?
R. – Todos os tipos de deficientes podem ser incluídos em algum ambiente de trabalho. O importante é que as habilidades da pessoa e as exigências do cargo sejam compatíveis. Acredito que o ideal, em qualquer processo de seleção, seja encarar todas as pessoas como seres que têm limitações, algumas mais óbvias, como a falta de um membro ou a perda completa de audição ou visão e outras menos, como a falta de habilidade de falar em público, que pode acontecer com qualquer pessoa. Somos todos deficientes em algum sentido e desde que o selecionador consiga alinhar bem as competências necessárias a cada cargo não deve haver maiores dificuldades no processo de inclusão.
Concordo com as colocações e realmente temos que perseguir a sensibilização das pessoas para o convívio com as diversidades. Na minha experiência com pessoas portadoras de deficiência no ambiente de trabalho vivenciei algumas situações de maior dificuldade no meio familiar;as expectativas eram muitas, existiam comportamentos de super proteção. Foram superadas a partir de acompanhamento da equipe técnica com informação e orientação, demonstrando-se a necessidade de se buscar a autonomia do deficiente mas respeitando suas limitações.
Li a fala de nossa colega Fabiana e lembrei de um case da CPFL que eu assisti durante o Congresso sobre Reabilitação Profissional CPFL, justamente pelo fato da baixa qualificação profissional das pessoas com deficiência, esta empresa desenvolve um projeto em que num determinado periodo a pessoa com deficiência permanece na empresa e em outro a mesma participa de cursos supletivos no Ensino Médio através de uma parceria com a UNICAMP e SESI; percebemos então que as empresas que realmente sejam responsáveis socialmente terão esta preocupação.
Acredito que antes de qualquer coisa, é preciso haver a sensibilização dos colegas de trabalho. Quando estes já tiverem rompido a barreira do preconceito, aí sim poderão começar a preparar o ambiente e local de trabalho. A seleção de vagas e funções para cada tipo de deficiência, o preparo físico dos ambientes à acessibilidade, somente se dá por completo e com qualidade e eficiência depois que se trabalha contra o preconceito e a subestima à pessoa com deficiência. Um grande trabalho, de muita luta e conquistas. Parabéns à Andrea!
Estou trabalhando desde fevereiro no RH de uma Empresa Estatal, onde são convocados através de concurso público os portadores de deficiência que são aprovados no concurso (percentual em edital). Pela primeira vez estou trabalhando com empregados portadores de deficiência e acredito que esta inclusão traz um crescimento para a equipe.
Cara Lauciene,
Obrigada pela mensagem!! Não deixe de participar do fórum entre 31 de janeiro e 06 de fevereiro.
Abraços, Renata
O que tenho observado é que muitas empresas para cumprir requisitos da Lei de Responsabilidade Social e ISO 14 000 abrem vagas para Portadores de Deficiencia mas nao se preparam para tal ou seja: nao preparam o ambiente fisico : barreiras arquitetônicas e muito menos preparam o ambiente profissional – as pessoas para trabalharem com PPD’s. Ai geram exclusão social dentro da propria empresa. Nao ministram cursos de Libras por exemplo. Por outro lado tenho visto experiencias exitosas da BOA INCLUSÃo.
Acredito que a inclusão perpassa também pelo preparo e adaptação social que o portador de deficiência deve ter seja no ambiente de trabalho ou fora dele. Trabalho numa empresa em que há vagas específicas para contratação de portadores de deficiência como prestadores de serviço, vinculados a entidades assistenciais como ADFEGO e Associação dos Surdos. Infelizmente essas pessoas acabam mesmo sendo segregadas no ambiente da empresa pela especificidade técnica ou capacitação profissional, que determinada área comporta. As próprias entidades conveniadas reclamam que as empresas solicitam profissionais com deficiência, desejam fazer a inlcusão, mas outro lado, a maioria desses profissionais não apresentam a qualificação técnica necessária ao cargo que poderiam assumir. A inclusão como você disse é além de ofertar emprego, perpassa pela inlcusão social do próprio deficiente que deve buscar se qualificar o quanto pode (a duras penas, sabemos disso) pois as empresas são selecionadoras mesmo e precisam de bons profissionais, simplesmente não pensam somente em ofertar emprego. Infelizmente a PD fica a margem da empregabilidade em função da baixa qualificação profissional. Esse é um outro lado da exclusão.
Parabens pela entrevista!
O assunto é muito interessante, porém à divulgação do mesmo, ainda é pequena. Nos meios de comunicação audivisuais o assunto do portador de deficiência só é abordado em campanhas de ajuda (TELETON). Pouco se vê, lê ou se ouve, divulgação de nomes empresas que cumprem a lei da inclusão do portador de deficiência no trabalho.
Vejo ainda que grandes empresas ainda usam o trabalhador com deficiência em sua empresa como “trabalhador propaganda”, puro jogo de imagem.