De acordo com dados do Ministério das Cidades, de 2010, a água potável está disponível para 82% da população brasileira, embora não se possa afirmar que este percentual disponha de água 24 horas por dia. De acordo com o presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, se comparado ao acesso à coleta e tratamento de esgoto, o quadro é bastante positivo.

No entanto, Édison ressalta que a principal fonte de contaminação das águas urbanas no Brasil é o despejo de esgoto sem tratamento em rios, mares, oceanos, e que para resolver esse problema é preciso garantir que toda a população seja atendida com a coleta dos esgotos, e que todo o esgoto coletado seja tratado.

Quanto ao controle da qualidade da água oferecida à população, Édison explica que é feito pelas próprias empresas operadoras nas cidades, e que a qualidade deve atender às normas do Ministério da Saúde para proteger a saúde das pessoas, evitando doenças como as diarreias e hepatite A.

Rede Mobilizadores – Como deve ser a água para o consumo humano?

R.: O acesso à água potável se dá através do abastecimento pelas companhias, privadas ou estaduais, de saneamento básico. O abastecimento se caracteriza pela retirada da água da natureza, adequação de sua qualidade, transporte até os aglomerados humanos e fornecimento à população em quantidade compatível com suas necessidades. As partes do sistema de abastecimento de água são: manancial, captação, adução, tratamento, reservação [reserva], reservatório de água tratada de jusante [rio abaixo] e distribuição para a população.

Rede Mobilizadores – Como é o acesso à água potável no Brasil?

R.: Pelos números de 2010 do Ministério das Cidades, a água potável está disponível para 82% da população. Isso não significa que esta porcentagem tenha água 24 horas por dia, pois há intermitência em várias cidades.

O acesso à água potável no país apresenta um quadro bastante positivo se comparado com o quadro do acesso à coleta e tratamento do esgoto. Hoje, segundo dados do Ministério das Cidades, através do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, é sabido que a água chega a quase 90% da população urbana, enquanto que o acesso à coleta não chega a 50%.

Rede Mobilizadores – Quais os órgãos responsáveis pelo controle da água que os brasileiros consomem?

R.: O controle da qualidade da água servida à população é feito pelas próprias empresas operadoras nas cidades. A qualidade deve atender às normas do Ministério da Saúde e que são específicas para proteger a saúde das pessoas. Já a qualidade da chamada água mineral é feita pelas empresas que embalam estas águas e as colocam no mercado. Em todos os casos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária é quem fiscaliza os produtos.

Rede Mobilizadores – Quais as principais fontes de contaminação da água no Brasil? Tem sido feito alguma coisa para resolver esse problema? O quê?

R.: A principal fonte de contaminação das águas urbanas no Brasil é o despejo de esgoto sem tratamento nas águas (rios, mares, oceanos). Para resolver esse problema é preciso garantir que toda a população seja atendida com a coleta dos esgotos e que todo o esgoto coletado seja tratado. O governo tem anunciado diversos investimentos em saneamento, especialmente através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas é sabido que devido a inúmeros entraves no setor de saneamento, essas obras demoram a evoluir.

Rede Mobilizadores – Quais os maiores riscos à saúde causados pela ingestão de água de má qualidade?

R.: O maior risco são as diarreias. No mundo, 88% das mortes por diarreias são causadas por condições precárias de saneamento, que inclui o problema de ingestão de água de má qualidade e o contato com os esgotos não coletados nem tratados. Além das diarreias, há diversas outras doenças, como hepatite A, febres entéricas, esquitossomose, leptospirose, teníases, helminíases, micoses, conjuntivites e tracoma.

Rede Mobilizadores – Comente sobre os problemas no abastecimento de água no meio urbano e rural.

R.: Na área urbana, o principal problema é o crescimento desordenado das cidades, em especial das metrópoles. As cidades crescem, mas as redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento dos esgotos não conseguem acompanhar esse crescimento, pois as obras de saneamento básico são demoradas. Assim, sem acesso a uma rede coletora de esgoto, a população acaba enviando seus dejetos e, muitas vezes, resíduos sólidos, direto para o meio ambiente, poluindo rios, lagos, praias e mananciais.

Em áreas rurais, as casas ficam muito distantes uma das outras, encarecendo em muito a instalação de um sistema de rede de coleta de esgoto e, por isso, é muito comum nessas áreas o uso do sistema de fossa rudimentar ou fossa séptica que são tanques abertos no solo ou feitos com tubos de concreto enterrados no quintal ou em algum outro ponto do terreno.

O grande problema das fossas é que exigem manutenção constante, o que geralmente não é feito pela população. Assim, sem manutenção, o esgoto acaba transbordando ou infiltrando diretamente no solo contaminando a própria água dos poços. O contato da população com este solo, água contaminada ou esgoto a céu aberto, ocasiona várias doenças, como citado ateriormente.

Rede Mobilizadores – Que cuidados a população deve ter em relação à água que chega as suas residências, em caso de enchentes e inundações?

R.: Nas enchentes, muitas vezes a água das chuvas invade os córregos e as redes de esgoto, misturando-o à cidade. Estas águas também trazem à tona o lixo dos bueiros e redes pluviais. O ideal, em momento como esses, é somente consumir água comprada ou buscar água numa fonte segura até que o fornecimento seja restabelecido.

Rede Mobilizadores – Por favor, fale um pouco sobre o trabalho desenvolvido pelo InstitutoTrata Brasil. Quais suas principais linhas de ação?

R.: O objetivo do instituto é mobilizar a sociedade civil a cobrar a universalização do saneamento básico. Para tanto, procuramos reunir o maior número possível de segmentos sociais, de empresas a ONGs, passando por especialistas em saúde e igrejas, para atuar como multiplicadores e embaixadores do movimento em nível nacional.

Além disso, através de nossas pesquisas e projetos, queremos informar e sensibilizar a população sobre a importância e seu direito de acesso à coleta e tratamento de esgoto e mobilizá-la para que participe das decisões de planejamento do setor em seu município e em seu bairro.

Entrevista do Eixo Meio Ambiente, Clima e Vulnerabilidades
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo