Nessa entrevista, o jornalista André Trigueiro nos fala a respeito do tema sustentabilidade e sobre a forma como ele vem sendo tratado na imprensa. Para Trigueiro, a imprensa pode influenciar na construção de políticas públicas voltadas à sustentabilidade à medida que der visibilidade a iniciativas bem-sucedidas neste sentido. O jornalista alerta que ou revertemos o modelo de desenvolvimento atual, ecologicamente predatório e socialmente injusto, ou deixaremos de existir.Mobilizadores COEP – Como você define o conceito de sustentabilidade? R.: Gosto da definição dos biólogos: é o equilíbrio dinâmico que caracteriza o balanço de perdas e ganhos, de matéria-prima e energia, em um determinado sistema. Ser sustentável significa buscar o equilíbrio, respeitar os limites da natureza e aprender com eles. Mobilizadores COEP – Qual o perfil do jornalismo ambiental hoje no Brasil? R.: Entendo o Jornalismo Ambiental como um gênero de cobertura bastante sensível aos estragos causados por um modelo de desenvolvimento que vem exaurindo, em velocidade assustadora e numa escala sem precedentes, os recursos naturais não-renováveis do planeta, com impactos negativos sobre a qualidade de vida da população. O Jornalismo Ambiental preconiza um olhar ecológico, inter-relacional, que remete a uma abordagem sistêmica dos assuntos do cotidiano. Invariavelmente desagrada interesses políticos e econômicos contrários à sustentabilidade. Estamos começando no Brasil a preparar nas universidades os profissionais de imprensa para a importância dessa linha de cobertura. Mobilizadores COEP – Na sua opinião, até que ponto a imprensa brasileira se aproximou nos últimos anos do tema sustentabilidade? R.: Estamos hoje melhor do que já estivemos e pior do que estaremos em breve. Há um processo em andamento. Não se muda cultura por decreto. Não basta denunciar o que está errado, é preciso sinalizar rumo e perspectiva. Nesse sentido, há muito trabalho pela frente. Mobilizadores COEP – Você acredita que a imprensa pode influenciar na elaboração de políticas públicas voltadas à sustentabilidade? De que forma? R.: Sim, mostrando o que funciona, onde é possível compatibilizar sustentabilidade com produção de riqueza, geração de emprego e renda. Há inúmeras realizações importantes que merecem visibilidade. Elas podem mudar o jogo político, os interesses econômicos imediatistas, o planejamento medíocre baseado apenas no retorno financeiro. Mobilizadores COEP – O planeta vivencia o mais veloz processo de urbanização de sua história. Atualmente, metade da população mundial vive em cidades e eles convivem com diversos e graves problemas ambientais, como habitação inadequada, falta de saneamento básico, enchentes periódicas, que causam deslizamentos de encostas e alagamentos de bairros. Como a mídia lida com esses problemas? De que forma a cobertura poderia ser mais eficaz para reverter esses problemas? R.: Promovendo a alfabetização ambiental nas redações. O jornalista é antes de mais nada um contador de histórias. Ele precisa entender a importância desse gênero de assuntos, a enorme atratividade que essas pautas contêm. Vendem-se mais jornais e revistas quando se revela o que deve ser feito para termos qualidade de vida, paz e felicidade. Sustentabilidade é sinônimo de sobrevivência. Não há nada mais importante do que a vida. Mobilizadores COEP – Você coordenou e é também um dos autores do livro ?Meio Ambiente no século 21?, onde denuncia nosso modelo de desenvolvimento. Quais os principais problemas desse modelo? É possível revertê-lo? De que forma? R.: Desde a Rio -92, descreve-se o modelo de desenvolvimento que está aí como “ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”. Estamos vivendo um impasse civilizatório: ou corrigimos o rumo ou deixaremos de existir. Não é o planeta que está ameaçado, somos nós enquanto espécie. Depredamos os recursos naturais não-renováveis, que são fundamentais à vida (como a água) sem nos darmos conta do risco iminente de um colapso em escala global. Isso é muito sério, é real, e as pessoas precisam se dar conta do que está acontecendo. Ser sustentável não é uma opção, é uma necessidade. Mobilizadores COEP – Como vê o movimento pela neutralização do carbono? E a divulgação do tema na imprensa é adequada? R.: Vende-se por aí a falsa idéia de que a neutralização de carbono seria o suficiente para tornar uma empresa ou empreeendimento sustentável. Nada mais equivocado. A solução real é emitir menos gases estufa ou simplesmente deixar de emitir. Compensar não resolve o problema, apenas atenua os impactos causados pelo lançamento desses gases. Se a emissão é inevitável, pode-se investir em projetos de neutralização, mas com a consciência de que ali não se está resolvendo nenhum problema alusivo ao aquecimento global. Falo isso com a autoridade de quem pertence à equipe do primeiro programa de TV neutro em carbono no Brasil, o “CIdades e Soluções”, exibido semanalmente na Globo News e no Canal Futura. Pelo contrato assinado com a Rede Globo, a organização Iniciativa Verde planta mudas de espécies nativas de mata atlântica em matas ciliares destruídas. Nosso objetivo é apenas atenuar os impactos causados pelo consumo de energia elétrica e combustíveis no processo de gravação, edição e transmissão do programa. É o que está ao nosso alcance fazer. Todos os programas “Cidades e Soluções” bem como os comentários na rádio CBN podem ser acessados pelo site www.mundosustentavel.com.br É fácil, instrutivo e divertido. São todos bem-vindos. Entrevista concedida à: Renata OlivieriEdição: Eliane Araujo
Esperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.