Além de inclusão digital e possibilidade de geração emprego e renda, os telecentros instalados nas comunidades COEP do Semi-árido nordestino vão possibilitar a criação de uma rede colaborativa entre estas comunidades. Confira na entrevista com Marcos Carmona, coordenador de projetos do COEP.
Mobilizadores COEP ? Com que proposta o COEP iniciou a implantação de telecentros comunitários?
R.: Na verdade, os telecentros surgiram a partir de uma demanda de algumas comunidades rurais no semi-árido nordestino ? onde o COEP implementa o Programa COEP Semi-árido ? por telefones públicos, os populares orelhões. Na época, tais comunidades não se enquadravam nos parâmetros da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para instalação dos telefones, pois havia um escalonamento que levava em consideração o tamanho da comunidade, o agrupamento das casas em vilas, dentre outros quesitos. Assim, na busca por políticas públicas para implantação de telefones públicos, o COEP acabou tomando conhecimento do Gesac (Programa Governo Eletrônico ? Serviço de Atendimento ao Cidadão), que viabilizou a inclusão digital destas comunidades e acabou, suprindo, por tabela, a demanda por telefones. As comunidades passaram a ter acesso ao telefone via internet (Telefone IP-VoIP) e a outras Tecnologias da Comunicação e Informação (TICs).
Pode-se dizer que facilitar a inclusão digital de comunidades afastadas dos grandes centros é a grande função dos telecentros. A partir deles, é possível um maior intercâmbio de informações e gerar oportunidade de trabalho e renda. Além disso, com os telecentros, a implementação de projetos e políticas públicas na área social podem ser mais eficazes.
Mobilizadores COEP ? Em breves linhas, o que é o Programa Comunidades Semi-árido?
R.: O programa surgiu de uma conjugação de vários outros projetos implementados pelo COEP, desde 1999, na região do Semi-árido nordestino e atua em cinco eixos principais: convivência com o Semi-árido; geração de trabalho e renda ? através da produção de algodão ou mamona e da caprino-ovinocultura ? inclusão digital; educação; e organização comunitária. O escopo e área geográfica do programa cresceram e buscamos, a partir da participação ativa das comunidades, seu desenvolvimento socioeconômico e humano.
Para implementação do programa, o COEP conta com o apoio financeiro, logístico e/ou humano de diversas entidades parceiras, como órgãos do governo, empresas e seis universidades. Estas atuam diretamente nas comunidades, formando a Rede de Universidades Cidadãs.
Mobilizadores COEP ? Como ocorre a implantação dos telecentros nas comunidades?
R.: Os equipamentos de acesso à Internet (antena, modem etc) e a conexão ficam a cargo do Gesac. O programa e o COEP capacitam jovens das comunidades para atuarem nos telecentros. Eles ficam responsáveis por gerenciá-los, ajudar os usuários a utilizarem computadores, capacitar outros jovens da comunidade em informática, multiplicar o conhecimento, dentre outras coisas.
Cabe às comunidades encontrar um local para instalação dos telecentros, bem como buscar parcerias e outras formas de mantê-los. Em algumas, os telecentros foram montados em escolas públicas, associações comunitárias ou em prédios próprios, que foram conseguidos pelos moradores.
Mobilizadores COEP – Quantas comunidades COEP possuem, hoje, telecentro?
R.: A Comunidade de Quixabeira, em Água Branca, Alagoas, foi a primeira a receber o telecentro de informática, em 2004. Hoje, temos 24 telecentros instalados e 22 em fase de instalação, que deverão estar funcionamento até setembro de 2009. Todos na região do Semi-árido.
Mobilizadores COEP ? Fale um pouco da participação das comunidades na gestão dos telecentros.
R.: A manutenção do telecentro fica sob responsabilidade da associação de moradores. Se precisarem de uma peça nova, por exemplo, cabe à comunidade mobilizar-se para obter recursos para comprá-la. É comum buscarem apoio das prefeituras e de outros parceiros locais, bem como promoverem bingos beneficentes, gincanas, almoços para arrecadarem a quantia de que necessitam. Muitas vezes, o Programa também oferece apoio até que as comunidades possam resolver o problema por elas mesmas. As associações, em geral, também guardam uma porcentagem do fundo de reserva decorrente de alguma atividade econômica ? como o beneficiamento do algodão, plantio de áreas coletivas ? para manter os telecentros. Os agentes de desenvolvimento comunitário, bolsitas do CNPq, uma das entidades associadas ao COEP, ajudam no que for preciso, mas a idéia é deixar que as próprias comunidades busquem modos de auto-gerir seus telecentros.
Mobilizadores COEP – Qual o perfil dos usuários dos telecentros nas comunidades?
R.: A maioria dos usuários são jovens, embora as pessoas mais velhas também os utilizem.
Mobilizadores COEP ? Os telecentros são usados com que objetivos pelas comunidades?
R.: Para comunicação, acesso a informações em geral, acesso a serviços públicos, retirada de documentos, dentre outros. O telefone (Telefone IP-VoIP) é bastante utilizado. Algumas pessoas das comunidades também usam os telecentros para voltar a estudar, por meio do programa Educação de Jovens e Adultos, do Ministério da Educação (EJA/MEC), e completar os anos da Educação Básica. Há também quem faça faculdade a distância, estude para o vestibular, faça trabalhos escolares etc. O MSN e o Orkut também são bastante usados.
Mobilizadores COEP – Quais as principais dificuldades encontradas para implantação e gestão dos telecentros?
R.: A sustentabilidade dos telecentros é o grande desafio. Normalmente, a manutenção dos equipamentos é relativamente cara e o custo da energia também é uma dificuldade. Em geral, as comunidades buscam apoio de parceiros locais e de prefeituras. Mas é sempre um desafio.
Mobilizadores COEP – É possível identificar mudanças na comunidade após a instalação dos telecentros? Quais?
R.: O acesso à informação de uma forma geral melhorou muito. Os telecentros também vêm abrindo novas possibilidades de geração de renda. Os jovens da comunidade Barreiros, em Cajazeiras (PB), por exemplo, foram capacitados e agora, por meio de uma parceira com a prefeitura da cidade, montaram um curso de informática para 40 pessoas da comunidade. Vão atuar como instrutores e receberão da prefeitura pelo serviço. Além disso, as pessoas da comunidade, normalmente, são capacitadas em informática antes do resto da cidade, o que aumenta as chances de conseguirem empregos em lan houses, bancos, cartórios, usando os conhecimentos adquiridos nos telecentros.
Os telecentros também contribuem para a organização dos jovens, aproximando-os de suas comunidades. Eles passam a atuar como multiplicadores de informação e vêem oportunidades de permanecer em suas próprias comunidades, pois podem estudar a distância. Há exemplos recentes de jovens que conseguiram passar no vestibular.
Mobilizadores COEP – Todos os telecentros possuem a mesma estrutura?
R.: A estrutura básica dos telecentros é de cinco computadores; às vezes têm impressora, outras, não. A conexão é sempre via satélite. Possuem, em geral, dois ventiladores, um quadro de avisos e mobiliário, que varia de comunidade para comunidade. Há prédios mais bem estruturados que outros.
Mobilizadores COEP – Que dicas você daria para comunidades que desejem implantar telecentros?
R.: Acho que o primeiro passo é formar um grupo local, em parceria com instâncias da sociedade civil, terceiro setor, governo, empresas privadas, para atuar na gestão do telecentro. Feito isso, é buscar por parcerias e/ou políticas públicas que possam facilitar a inclusão digital. A conexão via satélite foi a única solução encontrada para conectar, com o resto do país, comunidades rurais do semi-árido localizadas longe dos grandes centros. Mas, dependendo de onde estejam localizadas as comunidades,há outras possibilidades de conexão, via cabo, via rádio, o que pode sair muito mais em conta. Mobilizadores COEP – Quais as metas do COEP em relação aos telecentros para 2009?
R.: Expandir a implantação dos telecentros para todas as comunidades COEP Semi-árido e formar uma rede colaborativa entre essas comunidades. Assim, poderão criar seus próprios sites, apresentar seus próprios projetos, trocar informações sobre tecnologias sociais e caminhos de desenvolvimento, divulgariniciativas e ter acesso a oportunidades de emprego, a atividades socioculturais etc.Entrevista concedida à: Renata OlivieriEdição: Eliane AraujoEsperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.