Chuvas, inundações, estiagens, vendavais, alagamentos e escorregamentos. Ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil não é um país livre de tragédias naturais. Estudos do Banco Mundial lançados recentemente mostram quão devastadores foram os últimos desastres no país para as economias locais. As perdas estimadas somam aproximadamente 15 bilhões de reais.
O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais mostra que, nos últimos vinte anos, foram registradas 31.909 catástrofes no País, das quais 73% ocorreram na última década, sendo uma média de 1.363 catástrofes por ano, de acordo com levantamento do Ministério da Integração Nacional.
Se não podemos influenciar na ocorrência de eventos naturais, podemos tentar prevê-los e, o mais importante, tentar reduzir a vulnerabilidade das comunidades, eliminando ou reduzindo o risco de desastres.
Nesta entrevista, o diretor do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ceped/UFSC), Antônio Edésio Jungles, ajuda a entender o que caracteriza um desastre natural e como podemos trabalhar na gestão do risco dos desastres, aliando prevenção e resposta eficaz.
Mobilizadores Coep – O que caracteriza um desastre natural? Como podemos classificá-lo?
R.: Para que se caracterize um desastre é necessário que ocorra um evento (natural) adverso com magnitude, e que haja um local receptivo vulnerável aos efeitos do evento. Esta interação com o cenário deve provocar danos e prejuízos mensuráveis. Para que ocorra o desastre, o impacto deve romper a capacidade local de resposta. Desastres são classificados quanto à intensidade, evolução e origem.
Mobilizadores Coep – Quais são os desastres naturais mais comuns no Brasil? Existem características regionais?
R.: Os mais comuns são as chuvas e inundações. Na região Sul, é comum a ocorrência de alagamentos, inundações bruscas e graduais, escorregamentos, estiagens, vendavais, tornados, granizos, geadas, nevoeiros e ressacas. Já a região Sudeste sofre com chuvas intensas, vendavais, baixa umidade do ar e nevoeiros, enquanto as demais regiões concentram fenômenos relacionados a chuvas, incêndios e seca.
Mobilizadores Coep – O que é o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais? Qual é seu objetivo?
R.: O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais é um produto de pesquisa resultado do acordo de cooperação entre a Secretaria Nacional de Defesa Civil e o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina (Ceped UFSC).
A pesquisa teve por objetivo compilar e disponibilizar informações sobre os registros de desastres ocorridos em todo o território nacional nos últimos 20 anos (1991 a 2010), por meio da publicação de 26 Volumes Estaduais e um Volume Brasil.
Mobilizadores Coep – É possível prevenir um desastre natural? Como o país está trabalhando esta questão?
R.: É possível evitar e minimizar os efeitos causados pelo desastre. Na gestão do risco de desastres devem ocorrer dois fenômenos: a ameaça e o local vulnerável. Quanto as ameaças de eventos naturais, pouco se pode influenciar, a não ser a sua previsibilidade. No entanto, é possível reduzir a vulnerabilidade eliminando o risco de desastres. O Brasil tem constituído o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil que visa desenvolver toda a política de gestão de risco de desastres. Grandes avanços têm ocorrido nos últimos anos.
O Ceped UFSC atualmente trabalha num projeto que prevê a avaliação e classificação de indicadores de vulnerabilidade a desastres. Estabelecer critérios e construir indicadores de vulnerabilidade ao risco de desastre é uma necessidade nacional, já que o país ainda não disponibilizou estudos e metodologias nesta área, que contemplem a sua realidade de risco. A proposta apresentada tem a finalidade de contribuir para a construção de indicadores, que permitam a avaliação dos riscos no município e a gestão dos riscos direcionando as ações nas áreas prioritárias. Também possibilitará produzir dados e informações que orientem a reflexão sobre os processos de vulnerabilização ao risco de desastre no Brasil, ainda que a metodologia não abranja, por si só, todas as problemáticas relacionadas.
Mobilizadores Coep – Qual é o papel do cidadão na prevenção de desastres? Que meios existem para aqueles que desejam participar mais ativamente dos esforços para prevenção de desastres naturais?
R.: O cidadão pode exercer seu papel conhecendo o sistema de prevenção e os possíveis riscos de um desastre em seu ambiente. Além disso, pode ser voluntário, por exemplo, em um Núcleo Comunitário da Defesa Civil (Nudec), que são subdivisões da Defesa Civil e são coordenados por moradores das próprias comunidades.
Mobilizadores Coep – E como podemos reduzir os impactos causados pelos desastres naturais?
R.: Através da redução de vulnerabilidades e previsibilidade das ameaças. Além disso, devemos também elaborar ações de prevenção estruturantes e não estruturantes. As ações estruturantes envolvem obras de engenharia para melhoria da infraestrutura eobras para contenção de encostas, dragagem de rios e canais, drenagem e outras. Já as açõesnão estrutrantes envolvem treinamentos e a preparação das comunidades para que aumentem a resiliência e possam responder melhor aos impactos dos eventos naturais.
Mobilizadores Coep – Pode-se dizer que, no Brasil, os desastres naturais estão intimamente ligados ao crescimento populacional e à falta de uma política habitacional?
R.: Sim. A implantação de uma política habitacional constitui um dos fatores de maior importância para a redução dos desastres.
Mobilizadores Coep – Este ano, a presidenta Dilma Rousseff lançou o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais. O que ele prevê? Quais são as expectativas em relação aos seus resultados?
R.: Ele prevê um investimento de 18 bilhões, até 2014, em obras de prevenção, compra de equipamentos e monitoramento de áreas de risco, a fim de proteger a população brasileira dos efeitos dos desastres naturais. Existe uma grande expectativa quanto ao Plano. Os recursos disponibilizados poderão promover as ações estruturantes através de construções de infraestrutura física necessárias a redução de vulnerabilidades.
Mobilizadores Coep – O que são e como funcionam os simulados? Em que regiões brasileiras eles estão sendo realizados? Eles são eficazes?
R.: Os simulados são preparações dos atores envolvidos em um cenário de risco de desastres para a resposta a uma possível ocorrência do desastre.
Neles, são treinados os atores para as ações de emergência. São realizadas também atividades que testam equipamentos e ações desenvolvidas pelos projetos de pesquisa. Através deles, podemos analisar e colocar em prática o que foi idealizado em teoria, de forma que as pessoas envolvidas se familiarizem com as suas tarefas, tirem dúvidas e possam sugerir melhorias.
Seu correto emprego aumenta a eficiência e a eficácia dos trabalhos de comando, amplia a segurança dos envolvidos e reduz a perda de vidas, bens e também possíveis danos ambientais. O Ceped UFSC já desenvolveu diferentes simulados em várias regiões brasileiras juntamente com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Mobilizadores Coep – Os estados mais vulneráveis contam com infraestrutura técnica adequada para a prevenção de desastres? Quais equipamentos são indispensáveis? É necessário investir mais esforços neste sentido?
R.: Todos os estados brasileiros estão sob ameaças de eventos naturais. No entanto, alguns estados registram mais desastres. Podemos citar que têm mais registros de impacto os estados de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco. Nenhum estado conta com uma infraestrutura para ser autossuficiente. Eles não podem prescindir de ajuda da federação. O investimento, principalmente em prevenção, é necessário. Apesar de existir a resposta ao desastre, precisamos avançar muito no âmbito da prevenção.
Mobilizadores Coep – Em que consiste o trabalho do Ceped? Quando ele foi criado? Houve alguma motivação?
R.: O Ceped UFSC atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à redução de riscos de desastres, com a finalidade de cooperar para o desenvolvimento técnico, científico e cultural da sinistrologia e de sua difusão junto à sociedade.
Foi constituído pelo Acordo de Cooperação Técnica assinado em 13 de novembro de 2000, atende à Política Nacional de Defesa Civil e posteriormente ao Decreto nº 5.376 de 17 de fevereiro de 2005.
A cooperação se estabelece entre o Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil; o Estado de Santa Catarina, por meio do Departamento Estadual de Defesa Civil; e a Universidade Federal de Santa Catarina.
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Entrevista para o Eixo Meio Ambiente, Clima e Vulnerabilidades
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo.
Gostaria de saber mais sobre o “Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais”, recentemente lançado pela Presidência da República, pois creio ser essa a consolidação da política pública brasileira para lidar com o aspecto preventivo e reativo aos eventos extremos de caracter natural. Penso que tal plano seja a estratégia de operacionalização de ações para a Política Nacional de Defesa Civil no campo dos desastres naturais, sendo fundamental seu conhecimento e compreensão.
Acredito que o primeiro passo é o planejamento por parte dos governantes, pois com um planejamento sério e bem elaborado fica mais facil de envolver a populaçao!!!
gente apois este oficina nós alunos como podemos ajudar nesta comunicação? devemos usar as redes sociais para divulgar e tiramos a duvidas de amigos, caso diante da pergunta não saibamos responder entraremos em contato com o professor da oficina. certo, concodam.
Temo as ONG`s que trabalham e buscam tecnologias adaptaveis e viaveis para conviver com a seca, isso pode ser um solução para se prevenir desse fenomeno
nós da região nordeste estamos no meio de um fenomeno natural a seca, que esse ano assola fortemente o nosso sertão.
O melhor seria a prevenção e posteriormente serem trabalhados juntos, sociedade e serviços publicos.
Prezado Antônio,
Parabenizo mais uma vez pela abordagem. A temática exige uma atenção maior. Como o título da entrevista nos sinaliza: Trabalhar na gestão de risco de desastres é uma necessidade nacional. Parabéns a todos(as) por esta iniciativa.
Mara Eneida
Precisamos mudar o foco em relação ao desastre, ainda não há no Brasil uma cultura de prevenção, digo isso de todas as areas, não so nos desastres, devemos começar educando para a prevenção já nos municipios, com uma secretaria de defesa civil atuante que tenha suporte da prefeitura para evitar o aumento da ocupação das areas de risco, promover planos para retirada permanente de pessoas das areas em que há indicis de ocorrencias periodicamente.
Não podemos todo o ano gastar milhões em uma mesma area, temos que mapear o que e de risco iminemte e desocupar, e fazer planos de ação para eventos esporadicos.
Isso podera ser feito o dia em que os orgãos responsáveis tratarem com seriedade esta questão.
O problema no Brasil é a falta de infraestrutura, plano diretores e uma maior fiscalização,nas construções e preservações dos locais,diminuição das areas de risco e investimento e capacitação de pessoal na orientação e no pronto atendimento a esse tipo de ocorrencia ou seja qualificação para evitar desatres e pessoal tecnico capacitado caso eles ocorram.
Aqui no Acre, região norte os desastres são em duas temporadas, inicio do ano temos as enchentes, no ano de 2011 foram mais de 7000 pessoas alojadas em abrigos públicos. Depois das chuvas com a seca sofremos com as queimadas, existem medidas para reduzir os impctos, porém quando chegam as medidas não são suficientes.
O melhor caminho ainda é a prevenção, para diminuir essas ameaçãs e os impactos que ocorrem…….
Intervenções humanas agrava em muito os impactos que estão diretamente associado ao desrespeito à natureza, através dos desmatamentos, queimadas, assoreamento de rios, acúmulo de lixo, ocupação desordenada, edificações mal construídas, tudo isso com a presença de plano diretor,Estatuto da Cidade, e outras Leis que regulam o uso da propriedade em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. É muito importante a participação da comunidade, mas o mais importante e a fiscalização do poder publico no processo de construção de ações no combate aos efeitos resultantes dos desastres naturais.
Também acredito que a população tem uma parcela de culpa, mas que talvez seja por falta de conhecimento das exigências da natureza!
A necessidade de ampliação, divulgação e exequibilidade das políticas públicas é urgente em função das necessidades peculiares de cada lugar e de seus sujeitos em função de suas diversidades características no tocante aos recursos naturais.
A política da Educação do Campo associada a outras políticas devem promover o debate acerca das formas da melhor forma de se relacionar com o ambiente, conhecendo-o, explorando-o a partir do reconhecimento de seus limites e potencialidades.
Saber entender o significado de limite, necessidade, possibilidade, contribui para maior entendimento do que realmente necessitamos construir/destruir/construir no meio em que vivemos e no qual nos relacionamos.
Intervenções humanas podem agravar ou minimizar os impactos, O agravamento está diretamente associado ao desrespeito à natureza, através dos desmatamentos, queimadas, assoreamento de rios, acúmulo de lixo, ocupação desordenada, edificações mal construídas, ausência de plano diretor. A Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
A minimização ou redução do impacto, dos desastres dá-se através de medidas preventivas.(antes, durante e depois).
Eu gostaria que a sociedade civil se organizarem também para questionar os reais responsável,pois entre eles estão os gestores publico e muitos sabem muito bem o que se tem a fazer,incluímos alguns profissionais do ramos imobiliária, que se articulam com gestores burlam leis, pergunto- Cabe a nos sermos os socorristas? Até que entendo que sim,mais não podemos se esquecer que nesta história existem culpados.
É muito importante a participação da comunidade no processo de construção de ações no combate aos efeitos resultantes dos desastres naturais. Sou de Pelotas/RS e este ano foram implantados os NUDEC’s, que estão buscando fazer parte desse trabalho de preparação da comunidade frente aos desastres naturais
Seria possível os centros de comunidades tem acesso a estas informações deixando mais conscientes?
Estou de acordo com meus companheiros mobilizadores em tudo que eles citaram sobre a natureza. Ela apresenta a beleza e também sua força pelos fenômenos naturais que ocorrem periodicamente.Há necessidade de uma maior divulgação dos serviços com os quais a população pode contar num momento de catástrofe. Resgatar e estabelecer laços de confiança com representantes do setor de segurança e é fundamental num momento de grande aflição e angústia,isso, para facilitar o salvamento da pessoa em risco, caso necessário.
Estou maravilhada com essa entrevista. A questão das simulações muito me chamou atenção. Porém acredito muito na inclusão social no planejamneto territorial. Muito bom esse primeiro momento.
Penso que o primeiro passo a mobilização da comunidade. É fundamental que a comunidade participe e conheça as ações relacionadas as políticas públicas.Sem a efetiva participação da comunidade é impossível trabalhar ações preventivas…
A preocupação que está tendo por parte de muitos órgãos tanto GOV quanto NAOGOV tem sido muito grande, porque então que a cada dia há mais desastres no planeta no que diz respeito ao meio ambiente?
se possível seria capaz te termos um treinamento com a população toda sobre o assunto?
Bom dia? meu nome é FÁBIO JUNIOR moro no Estado de Alagoas e a minha cidade é santana do mundaú, onde em 2010 sofremos uma grande catástrofe natural que foi a enchente que umas das mais atingidas foi mundaú devastando tudo.minha preocupação é a seguinte como devo agir diante de um desastre natural se a minha cidade não tem conhecimento sobre o assunto? e que logo acima sda cisdasde em PERNAMBUCO tem uma barragem que ameça as cidades do próprio estado e a do estado de Alagoas, pois minha cidade e a que faz divisa entre os dois estados e que não tomaram nenhuma providencia ainda? nos no deveríamos tem um sial de alerta para avisar a população?qual a medida que devemos tomar diante desta situação existente?
Sendo que todos os estados brasileiros estão sob ameaças de eventos naturais, acredito que preparar a população para lidar com os impactos naturais aos quais estão sujeitos, deveria tambem funcionar como uma politica educacional, aplicada em todas as escolas, principalmente naquelas presentes nos estados que mais registram ocorrencia desastres naturais como o RJ, RS, SC, PE e BA.
A invasão em massa de população morando em áreas de risco. Mas a princípio os governos estaduais e municípais estão cientes dos riscos e mesmo assim permite a ocupação. Quando acontece os desastres é ai que querem tomar providencia e muitas vezes é tarde demais. Tem que haver uma política séria e fiscalização das áreas para que nao tenham problemas futuros.
Gostaria de obter maiores informações sobre as principais ameaças e impactos com relação ao Estado de Pernambuco e sua vulnerabilidade aos eventos naturais.
Caro Antônio Edésio Jungles
como a maioria dos desastres está ligado a questão da água e neste caso também em relação ao uso do solo, vc não avalia que deveria haver maior integração entre as políticas públicas de gestão de recursos hídricos, gestão do território e gestão de desastres? Se concorda, como avalia que isto deve ser feito?
Os simulados desenvolvidos são de suma importância uma vez que preparam os mobilizadores para uma resposta rápida, diminuindo assim os riscos e os danos.