Músicos em Cuzco – PeruApresentação dança em Bali
A Mobilizadora Cecília Bastos é turismóloga e pesquisadora do Turismo. Seu maior prazer é entrar em contato com outras culturas, conviver com as pessoas, exercitar o olhar para apreciar o diferente e nele reconhecer a beleza, a sabedoria e a magia que fazem parte das pessoas e dos lugares. Nessa entrevista, ela conta um pouco de suas viagens e da forma como elas a têm ajudado a ver o mundo de forma diferente.
Mobilizadores COEP – Que tipo de turismo você costuma fazer?
R. Eu costumo viajar ou sozinha ou com meu namorado. A gente nunca utiliza agência de viagem, nem pra comprar as passagens. Acredito que seja um turismo independente, ou alternativo, não sei… Só sei que odeio viajar em pacotes, onde você tem que fazer tudo o que te mandam fazer e não pode sentir o clima do lugar, nem ir tomar um chá na casa de alguém… não dá pra conhecer o lugar se você não conhece as pessoas de lá…
Mobilizadores COEP – Que culturas diferentes você conheceu fazendo turismo alternativo?
R. Bom, fomos ao México e à América Central, depois fomos ao Peru, Bolívia e Equador, depois ao Egito e Marrocos. Em seguida, a Tailândia, Laos, Camboja e Indonésia e a última viagem foi para a Índia. Sempre viajamos pelo país em transporte público e aproveitamos a oportunidade pra conhecer pessoas e nos relacionarmos com elas, sejam turistas ou a população local.
Mobilizadores COEP – O que mais te causou impacto em cada uma dessas viagens?
R. Bem, uma das coisas que mais me impressionou nas viagens pelas Américas foi ver tamanha diversidade cultural e étnica em países que estão tão perto do Brasil, mas onde as pessoas são completamente diferentes. No Egito e Marrocos foi conhecer o mundo árabe e ver o lado positivo desta cultura tão depreciada atualmente. Me impressionou ver os egípcios em pleno Cairo rezando em pontos de ônibus e onde quer que estivessem. Também no Marrocos, ao conhecer o povo berbere, tive uma experiência de ?conversar? com uma senhora que estava me ensinando a fazer pão. Ela nem árabe falava, somente berbere e eu não preciso nem comentar… nos comunicamos através de gestos e sorrisos… foi marcante, com certeza. Na Índia foram tantas coisas, mas o que mais gostei foi de me ver comendo com as mãos e cumprimentando as pessoas com as mãos junto ao peito, como é feito localmente. Mas é claro que a pobreza e tantas doenças também chocam, porque estão ali na sua cara, e pessoas te pedindo dinheiro, é duro. Mas a cultura do país é muito rica e tem muitas raízes, e o que mais gostei foi principalmente o fato de estar em meio a tão diferentes referenciais…
Mobilizadores COEP – Você acredita que uma pessoa que atua na área social e que tem de lidar com várias culturas distintas da sua, pode aprender a interagir com a diferença e o diferente por meio de viagens de turismo? Por quê?
R. Se a pessoa viaja e deseja aprender sobre a cultura que está visitando, se ela se informa sobre esta cultura antes da viagem e durante a mesma, se a pessoa está disposta a conhecer as pessoas, a interagir e está aberta a dialogar, com certeza ela poderá refletir sobre suas diferenças. Nestas circunstâncias acredito que o turismo seja um meio de colocar diferentes culturas em contato e um meio de troca e aprendizagem. É o meio pelo qual a cultura se torna dinâmica e pelo qual a criatividade humana se desenvolve.
Mobilizadores COEP – Sua maneira de olhar os conflitos sociais em nosso país e de exercer sua cidadania mudaram a partir dos contatos que vocês estabeleceu com outras culturas? Em que medida isso se deu?
R. Estes contatos com outras culturas me fez ver a beleza e riqueza do ser humano: através da arte, do artesanato, das cores expressivas, da maneira como cada cultura é diferente, esta é sua beleza. De volta destas viagens resolvi ajudar as pessoas daqui e fui voluntária por algum tempo em um projeto para crianças de rua. Trabalhando lá pude perceber que o que falta mais pra gente é esta raiz, os valores nos quais acreditamos. Tento passar um pouco disto conversando e apenas me relacionando com as pessoas. Acho que o que estas pessoas com as quais me relacionei nestas viagens me ensinaram foi ser honesta e simples. Percebi que esta é a beleza deles.
Rio Ganges – Índia