André Iranzo Chamusca, gestor em São Paulo e no Rio Grande do Sul do Programa Bem Receber – Qualidade Profissional e Gestão Sustentável do Instituto de Hospitalidade, nos explica os princípios do turismo sustentável, o que é fundamental para promove-lo, além de dar exemplos de diversas iniciativas que podem ser adotadas por empreendimentos turísticos para reduzir o impacto sócio-ambiental. Ele destaca também o papel do turista, que deve ser atraído ?não apenas por destinos de beleza natural, mas por localidades onde haja também forte respeito à autenticidade cultural e prática da aventura segura?.
Mobilizadores COEP – O que é o turismo sustentável?
R. O Turismo Sustentável (TS) é aquele que atende às necessidades dos turistas atuais e das regiões receptoras e ao mesmo tempo protege e fomenta as oportunidades para o turismo futuro, ou seja, é desenvolvido respeitando, ao mesmo tempo, a gestão econômica responsável, a integridade cultural dos povos receptores, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas que sustentam a vida. Perceba que, a partir desta definição, fica claro que o conceito de TS não diz respeito apenas ao impacto da atividade econômica no meio ambiente, como muito se imagina, mas se refere também às conseqüências dessa relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura. Em simples palavras, pode-se dizer que a idéia de praticar o turismo sustentavelmente está em desenvolvê-lo em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades de melhoria em sua qualidade de vida e de suas condições de sobrevivência. Esta idéia busca a manutenção de um equilíbrio entre os três eixos sobre os quais se apóia: suportável ecologicamente, viável economicamente e eqüitativo desde uma perspectiva ética e social.
Mobilizadores COEP – Quais os principais aspectos que envolve?
R. A sustentabilidade do turismo é fundamentada por um conjunto de sete princípios. A referência nacional para estes princípios foi definida pelo Conselho Brasileiro para o Turismo Sustentável (CBTS), que constitui em:
1 – Respeitar a legislação vigente no Brasil em todos os níveis e as convenções internacionais de que o país é signatário;2 – Garantir os direitos das populações locais, buscando e promovendo mecanismos e ações de responsabilidade social, ambiental e de eqüidade econômica, inclusive a defesa dos direitos humanos e de uso da terra, mantendo ou ampliando, a médio e longo prazos, a dignidade dos trabalhadores e comunidades envolvidas;3 -Conservar o ambiente natural e sua biodiversidade. Em todas as fases de implantação e operação, o turismo deve adotar práticas de mínimo impacto sobre o ambiente natural, monitorando e mitigando efetivamente os impactos, de forma a contribuir para a manutenção das dinâmicas e processos naturais em seus aspectos paisagísticos, físicos e biológicos, considerando o contexto social e econômico existente;4 – Considerar o patrimônio cultural e valores locais, reconhecendo e respeitando o patrimônio histórico-cultural das regiões/localidades receptoras. Deve também ser planejado, implementado e gerenciado em harmonia com as tradições e valores culturais, colaborando para seu desenvolvimento; 5 – Estimular o desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos, contribuindo para o fortalecimento das economias locais, qualificação das pessoas, geração crescente de trabalho, emprego e renda e fomento da capacidade local de desenvolver empreendimentos turísticos; 6 – Garantir a qualidade dos produtos, processos e atitudes, avaliando a satisfação do turista e verificando a adoção de padrões de higiene, segurança, informação, educação ambiental e atendimento estabelecidos, documentados, divulgados e reconhecidos;7 – Estabelecer o planejamento e a gestão responsáveis, estabelecendo procedimentos éticos de negócio, visando engajar a responsabilidade social, econômica e ambiental de todos os integrantes da atividade, incrementando o comprometimento de seu pessoal, fornecedores e turistas em assuntos de sustentabilidade, desde a elaboração de sua missão, objetivos, estratégias, metas, planos e processos de gestão.
Mobilizadores COEP – Qual é a importância da participação das populações locais para o desenvolvimento de atividades turísticas sustentáveis? Qual é o melhor processo para o envolvimento dos moradores?
R. A importância é total, porém não há uma única ?fórmula? pré-definida para que isso ocorra. A situação ideal é aquela onde a comunidade esteja positivamente envolvida tanto nos processos produtivos (produção de artesanato, agricultura que abasteça meios de hospedagem, restaurantes, etc.) até a prestação de serviços (guias de turismo, monitores ambientais, como trabalhadores nos estabelecimentos turísticos locais, etc). A população local deve sentir-se parte da cadeia produtiva turística, percebendo os reais benefícios da atividade para sua qualidade de vida. Contudo, para que isso de fato ocorra, é fundamental que haja coalizão entre todas as partes interessadas neste processo: governo, iniciativa privada, órgãos de fomento e capacitação, associações e sindicatos locais de modo a viabilizar a necessária qualificação desta comunidade para atuar no segmento turístico. Afinal de contas, o social, o cultural e o ambiental, em vez de serem componentes restritivos ao desenvolvimento do setor, passam a ser fundamentais para que a rede de organizações voltadas para o setor turístico seja competitiva de forma sistêmica.
Mobilizadores COEP ? Quais os principais benefícios do turismo sustentável?
R. A prática do turismo sustentável gera benefícios ambientais, econômicos, sociais e culturais. Do ponto de vista ambiental, ela contribui para a conservação da biodiversidade e auxilia na manutenção da qualidade ambiental dos atrativos turísticos e na proteção de espécies ameaçadas. No que tange ao desenvolvimento econômico, ela viabiliza as áreas utilizadas pelo turismo, proporciona um diferencial de marketing, gerando vantagens competitivas para os empreendimentos e facilitando o acesso a novos mercados, principalmente o internacional. Nas esferas social e cultural, a certificação do turismo estimula boas condições de trabalho, enfatiza a preservação do patrimônio cultural e promove o respeito aos direitos dos trabalhadores, povos indígenas e comunidades locais. Por fim, no âmbito político, ela promove o respeito à lei e à cidadania. Em resumo, um destino que desenvolve o turismo de forma sustentável gera divisas, cria oportunidades de trabalho e renda, conserva sua riqueza natural e seu patrimônio sociocultural, melhorando, assim, a qualidade de vida de sua população.
Mobilizadores COEP – Utilizando como exemplo uma atividade turística tradicional, explique como seria essa mesma atividade desenvolvida dentro dos princípios do turismo sustentável.
R. Analisemos o exemplo dos meios de hospedagem, uma vez que possuem um caráter ?centralizador?, sendo ?consumidos? por todos: quem viaja a negócios ou a lazer, com finalidades terapêuticas ou científicas, etc. Um meio de hospedagem que deseja desenvolver suas atividades atendendo aos princípios de sustentabilidade deve adequar sua operação à Norma NBR 15401, uma vez que esta norma apresenta os requisitos mínimos de um Sistema de Gestão da Sustentabilidade, que se soma aos demais modelos de sistemas de gestão já existentes, dentre os quais se tem como principais referências a ISO 9000 e a ISO 14000. A Norma determina a tomada de ações que minimizem os impactos negativos da operação dos empreendimentos ao meio ambiente e comunidade/população, além de estimular as atividades que oportunizem renda, integração, conservação e educação ambiental, entre outros.
Mobilizadores COEP ? Poderia nos citar exemplos de atividades que podem minimizar impactos negativos?
R. Vamos citar exemplos em diversas áreas:
– Gestão e conservação da água: implementar medidas que assegurem que a captação e o consumo de água não comprometam o nível dos corpos d?água, nem mesmo sua disponibilidade para as comunidades locais, flora e fauna. Tais medidas podem ser atingidas através de ações como a utilização de dispositivos de economia de água, válvulas redutoras de consumo em lavabos, chuveiros e descargas, etc. Outra medida bastante eficaz em relação à diminuição do consumo de água é a implantação de programas de desestímulo às trocas diárias de enxoval (roupas de cama e banho). Captação e o armazenamento de águas pluviais surgem como alternativa extremamente aplicável, uma vez que pode ser usada de modo a economizar recursos financeiros, pois fornece a vantagem de se possuir um sistema paralelo ao da rede pública de abastecimento, podendo ser amplamente utilizado em jardins e piscinas, usado para descargas em sanitários e limpeza em geral, desde lavagem de áreas sociais até louças, roupas, veículos e equipamentos.
– Uso de Energia: implantar medidas para diminuir o consumo de energia, especialmente a utilização de fontes de energias alternativas como a solar, a eólica e a de biomassa. Um exemplo bastante comum da aplicação do uso destes recursos é o aquecimento solar de água que, além de contribuir para minimizar a degradação ambiental, elimina a dependência energética, evitando situações de desconforto como em casos de racionamentos e/ou apagões. Assim, além da razão mais elementar para que se opte pelo uso de energias alternativas ? a redução da conta de luz ? deve se considerar a existência destas alternativas para situações de emergência onde, inclusive, a não interrupção do uso de energia pode configurar-se como diferencial mercadológico. A implementação de um sistema para assegurar que luzes e equipamentos permaneçam ligados somente quando necessário também é uma alternativa fundamental que alia economia financeira à minimização do consumo de recursos energéticos. Como opção, podem ser usados economizadores de energia que são acionados somente com a presença do usuário do ambiente, tais como sensores de presença e minuteiras, bem como bloqueadores de circuito. Além disso, reforçar os cuidados na aquisição de insumos e equipamentos no momento de avaliar os índices de desempenho que diferenciam umas marcas de outras, também deve ser considerado critério determinante da escolha. Dentre os insumos mais comuns, estão as lâmpadas. A simples substituição das lâmpadas incandescentes (quentes) por lâmpadas fluorescentes (frias) gera impactos significativos no que tange ao consumo e, conseqüentemente, à economia. Os veículos usados em atividades diversas nos meios de hospedagem também devem estar adequados a uma boa política de consumo energético, visando à eficiência de sua utilização. Além da manutenção regular, o uso dos veículos deve estar condicionado ao treinamento de motoristas e funcionários quanto à escolha de trajetos, roteiros e horários que otimizem esta eficiência. Nos planejamentos das construções deve-se buscar a eficiência energética através de medidas como o isolamento térmico de paredes e forros, a otimização do aproveitamento da sombra, iluminação e ventilação natural, além da minimização de perdas ou ganhos de calor nas instalações hidráulicas, de aquecimento ou refrigeração.
– Flora e Fauna Nativas: os hotéis não devem permitir a comercialização de espécies silvestres no empreendimento sem autorização legal; não devem domesticar ou manter animais em cativeiro, exceto para reabilitação temporária ou como parte de programa de reprodução e reintrodução, também desde que com as devidas autorizações legais. Deve-se prevenir a coleta, captura, molestação, transporte ou uso de espécies silvestres por parte dos clientes ou pessoas envolvidas nas atividades do empreendimento que devem também prevenir o uso predatório de matéria-prima proveniente destas espécies.
– Geração de Resíduos Sólidos: um programa de gerenciamento de resíduos eficiente pode reduzir despesas com transporte e remoção. O uso repetido e reciclagem de produtos pode cortar os custos de compra de muitos outros produtos. Uma boa alternativa seria começar por rever os tipos e quantidades de resíduos produzidos e métodos de remoção atuais e seus custos, desenvolver programas de gerenciamento de resíduos sólidos ao comprar produtos a granel e com menores embalagens para reduzir a geração de resíduos. Por conseqüência, substituir itens descartáveis por reutilizáveis, tais como baterias recarregáveis, recipientes para sabonetes e xampus recarregáveis e sacos de pano para roupa suja, solicitando, inclusive, que os vendedores levem de volta estrados e caixotes onde insumos foram trazidos. Um exemplo prático desta situação é a opção por bebidas em garrafa de vidro em vez de latas de alumínio, uma vez que aquelas retornam ao fabricante e, depois, voltam novamente cheias. Em relação aos hóspedes, separar os resíduos na fonte, em vez de ter que vasculhar todo o lixo depois de coletado. Por exemplo, recipientes para recicláveis nas UHs e lixeiras específicas em áreas onde haja geração dos mesmos, tais como lavanderia e cozinha. Onde houver mercado para recicláveis, reciclar itens como papel, vidro, metal e plásticos. Manter os resíduos sólidos num local reservado e seguro até ser removido pela coleta pública, trabalhando com outras empresas, organizações e o governo local para apoiar o desenvolvimento de separação de resíduos, coleta, reciclagem e sistemas de tratamento eficientes. A grande verdade, acima de tudo, é que mais do que simplesmente criar novas rotinas e fazer com que funcionários e hóspedes as adotem, implantar um programa de redução de lixo em um hotel exige uma verdadeira mudança de mentalidade, partindo daqueles que comandam o empreendimento, àqueles que trabalham e àqueles que utilizam os serviços. Cartazes e informativos em pontos estratégicos do hotel podem ser usados como alternativa simples e fácil para treinar colaboradores e orientar hóspedes quanto às boas práticas ambientais.
– Geração de Efluentes Líquidos: deve-se planejar e implementar medidas que visem a minimizar os impactos provocados pelos efluentes líquidos ao meio ambiente e à saúde pública. O tratamento das águas residuais de processos diversos como alimentação, higiene e lavagem deve ser obrigatório. Quando não houver disponibilidade de conexão à rede pública, deverá haver estações de tratamento próprias do empreendimento. Os resíduos líquidos de motores, tais como óleos lubrificantes, fluidos, etc., deverão possuir destinação final adequada.
– Seleção e Uso de Insumos: os empreendimentos hoteleiros devem implementar medidas para minimizar a utilização de insumos com potenciais impactos negativos ao meio ambiente. Para tanto, faz-se necessária uma análise prévia dos fornecedores destes insumos, através do estabelecimento de critérios para sua especificação e posterior seleção. Os produtos de higiene e limpeza devem possuir característica neutra e biodegradável, formulados a partir de matérias primas não tóxicas ou corrosivas. Para o uso adequado destes produtos, deve-se valer da utilização de dosadores, que determinem as quantidades específicas ao uso em questão. Além de visar à economia do insumo em si, proporciona também um conseqüente menor consumo de água, uma vez que o número de enxágües necessários para a eliminação do produto será menor. Além disso, a concentração ou diluição inadequada destes produtos pode provocar irritações à pele e olhos de funcionários e hóspedes, bem como manchas e corrosões nas superfícies a serem limpas, tais como madeiras, fórmicas, mármores, metais, louças, etc. O uso de dosadores contribui, finalmente, pois diminui o excesso de resíduos líquidos a serem gerados após os processos de limpeza e/ou higienização.
– Emissão de Gases e Ruídos: deve-se planejar e implementar medidas para minimizar a emissão de gases e odores provenientes de veículos, instalações e equipamentos, bem como a emissão de ruídos gerados por estes, de modo a não perturbar o ambiente natural, o conforto dos hóspedes e das comunidades locais. Sugestões para esta minimização incluem desde o uso de combustíveis com menores impactos ambientais como gás natural ou gás liquefeito de petróleo (GLP), até programas de manutenção periódica de veículos e maquinário e a substituição de equipamentos com motores de dois tempos por alternativas menos poluentes. A utilização de aparelhos de ar-condicionado, bem como o uso de demais gases refrigerantes deve ser minimizada, dada sua característica de emitir clorofluorcarbonetos, prejudiciais à camada de ozônio.
– Poluição Visual: a arquitetura e a infra-estrutura do meio de hospedagem deve estar integrada à paisagem local, minimizando os impactos desde a construção, implementação, operação ou quando houver obras de reparo, ampliações ou outras alterações. Nestas ocasiões, não deverão ser utilizados materiais derivados de espécies ameaçadas, sejam eles usados em acabamentos ou decoração. Os resíduos ali gerados devem receber uma destinação final adequada. Deve-se ter cuidado, ainda, de modo a prevenir as alterações significativas na paisagem e no entorno do empreendimento, bem como de minimizar a impermeabilização do solo e a remoção da vegetação nativa. O planejamento e operação do paisagismo do empreendimento devem ser efetuados de modo que reflitam o ambiente natural do entorno, inclusive com o uso de espécies nativas, desde que não sejam oriundas de extração ilegal, sendo aconselhável existir instrumentos de informação aos hóspedes quanto às características naturais do local.
– Comunidades locais: o empreendimento deve se engajar em ações ou iniciativas voluntárias, promovidas por organizações comunitárias, governamentais ou não-governamentais, que tenham o objetivo de contribuir com o desenvolvimento das comunidades locais. A direção do empreendimento deve participar e encorajar o envolvimento dos seus trabalhadores em atividades comunitárias. O empreendimento deve apoiar a capacitação de pessoas das comunidades locais para a prestação de serviços e fornecimento de insumos ou atividades complementares às do empreendimento.
– Aspectos culturais de populações tradicionais: o empreendimento deve promover a divulgação da cultura local entre os seus clientes e deve planejar e implementar medidas para assegurar o respeito aos hábitos, direitos e tradições das populações tradicionais.
Mobilizadores COEP – Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento do turismo sustentável?
R. Primeiramente, é importante lembrar que, além dos empresários, governos, comunidades, associações, sindicatos, etc., o papel do turista nesta missão também é essencial. E o turista sustentável é aquele que têm intenso compromisso com a responsabilidade social e é atraído não apenas por destinos de beleza natural, mas por localidades onde haja também forte respeito à autenticidade cultural e prática da aventura segura. Desta forma, o principal adversário do turismo sustentável é o próprio turismo tradicional ou ?de massa?. Isto porque o TS considera como seus fundamentos: a quantidade de turistas e capacidade de carga de um destino; as receitas geradas no destino; a satisfação dos turistas; os patrimônios ambiental e cultural conservados e o bem-estar da população, enquanto o tradicional ignora questões como vazamento de receitas; custos públicos na manutenção do destino; depreciação do patrimônio ambiental e cultural e a satisfação da população. Percebe-se, portanto, que o desafio está na construção coletiva desta nova mentalidade, consciente da necessidade de rever seus conceitos e adequar-se a práticas sociais, administrativas e ambientais saudáveis, sob risco da atividade desaparecer.
Mobilizadores COEP – Você poderia citar um exemplo bem-sucedido de turismo sustentável?
R. Na península de Maraú, distrito de Itacaré, no Sul da Bahia, há um dos melhores exemplos conhecidos. A Pousada Lagoa do Cassange se destaca por apresentar um conjunto de iniciativas que evidenciam o comprometimento do empreendimento para com o Turismo Sustentável, o que demonstra na prática que consolidar boas práticas de sustentabilidade na operação do empreendimento significa melhorar o desempenho e a competitividade. No que tange à eficiência energética, os aparelhos de ar-condicionado foram substituídos por climatizadores de ar, que consomem menos do que uma lâmpada de 100 watts e reduz em até 10°C a temperatura ambiente, proporcionando 90% de economia de energia em relação a um ar condicionado de 7000 BTU/h. Nos chuveiros, a utilização do aquecedor solar apresenta diversas vantagens. As principais são que a energia solar é uma fonte de energia inesgotável, 100% natural, gratuita, ecológica, totalmente limpa, que promove a total preservação do meio ambiente. Para cada um metro quadrado de coletor solar instalado, evita-se a inundação de 56 metros quadrados de terras férteis com a construção de novas usinas hidrelétricas, permite-se economizar 55 quilos de GLP (gás de cozinha) por ano ou 66 litros de diesel por ano ou ainda 215 quilos de lenha por ano. Quanto à iluminação, em locais estratégicos foram instalados sensores de presença, que evitam que lâmpadas sejam esquecidas acesas e, assim, economizam energia. Nas lanchas que fazem a travessia dos hóspedes pela lagoa foram instalados motores de popa quatro tempos, menos poluentes e menos ruidosos. A sede administrativa da pousada foi toda construída com placas de isopor, que garantem um isolamento térmico aos ambientes evitando, assim, o uso de condicionadores de ar. Também utilizam a casca da palmeira da piaçava como isolante térmico em paredes e telhados, proporcionando os mesmos benefícios do isopor. O telhado da sede foi feito utilizando-se telhas constituídas por fibras minerais e vegetais. Este tipo de telha proporciona uma cobertura, leve, resistente, eficiente, livre de materiais poluentes e nocivos à saúde (ao contrário da telha de amianto), além de ser mais durável e impermeável. Os bangalôs foram construídos de forma adequada ao clima local e estão orientados em relação aos ventos, de forma a aproveitá-los, ao sol, às chuvas e à vegetação. Isso faz com que eles sejam termicamente agradáveis. Também foi respeitada a topografia local e as construções foram incorporadas à paisagem sem agredi-la. Evitou-se ao máximo a impermeabilização do solo e foram usados materiais e técnicas de construção saudáveis e sustentáveis. Toda a vegetação nativa foi preservada e as áreas degradadas foram recuperadas. Dentre as ações socioculturais, é importante destacar que a mão-de-obra é 100% local, e os funcionários da pousada têm treinamento e qualificação profissional constantes. Faz parte da rotina do empreendimento o envio de funcionários ao exterior para aprimorar-se e aprender uma língua estrangeira. Ainda dentre estas iniciativas, está a de transformar espaços da pousada em salas de aula, onde os funcionários, seus filhos e membros da comunidade local recebem instrução e alfabetização. Os valores culturais locais, como a pesca, o artesanato e a coleta de caranguejos nos diversos manguezais da região foram preservados e foram incluídos nos roteiros turísticos da pousada, gerando renda para a comunidade.
Mobilizadores COEP – Se uma comunidade quiser desenvolver o turismo de forma sustentável, qual seria o primeiro passo e os principais pontos a serem focados?
R. Pensando a longo prazo, penso que é a implementação de iniciativas de educação ambiental e cívica para o turismo, nas escolas, desde as séries iniciais. Afinal, são estes os futuros empresários, gestores públicos e, como muitas vezes já são turistas, serão importantes canais de multiplicação do ideal sustentável. Já em uma análise mais imediata, volto a repetir que o desafio está na conscientização destes atores. À população, cabe exigir dos governos a execução de obras de infra-estrutura (acesso/ transportes, saneamento, comercialização, educação, segurança, etc.), uma vez que a sustentabilidade de um destino requer a prosperidade econômica na localidade e estas questões, sob esta ótica, são básicas. Entretanto, esperar por ações governamentais não é o bastante. A sociedade mobilizada também é responsável por promover esta sustentabilidade e, através da prática do associativismo e da cooperação, muito pode (e deve) ser feito.Esperamos que tenham gostado da entrevista. Lembramos que o espaço abaixo é destinado a comentários. O entrevistado não se compromete a responder as perguntas aqui postadas.
Realmente, são muito práticas as posições expostas por Andre Chamusca.
Mas, com todo respeito , peço licença para propor , que todas as empresas envolvidas em projetos de turismo sustentável tenham em seus documentos constitutivos , uma cláusula específica, assumindo a responsabilização con os princípio descritos no Código Mundial de Ética do Turismo, que traz como fundamentos os seguintes princípios :
I. ?1- Contribuição do Turismo para a compreensão e o respeito mútuo entre homens e sociedades?
II. ?2 – Turismo, enquanto instrumento de desenvolvimento individual e coletivo?
III. ?3 – Turismo, fator de desenvolvimento sustentável?
IV. ?4 – Turismo e a proteção do patrimônio histórico e cultural da humanidade?
V. ?5 – Turismo, como atividade benéfica para os países e para as comunidades de destino?
VI. ?6 – Obrigações dos agentes de desenvolvimento turístico?
VII. ?7 – Direito ao Turismo?
VIII. ?8 – Liberdade do deslocamento turístico?
IX. ?9 – Direito dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística?
X. ?10 – Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo?
E mais, no Brasil, que os empreendimentos turísticos incorporem, acatem , divulguem e empreendem ações práticas para atender os Princípios do Acordo de Mohonk , das Resoluções e demais diretrizes oriundas do Conselho Brasileiro para o Turismo Sustentável, adotando como parâmetro para suas atuações em Turismo Sustentável , o conteúdo da definição proposta pela Organização Mundial de Turismo e PNUMA : ?Um desenvolvimento sustentável do turismo satisfaz as necessidades dos turistas atuais e das regiões receptoras enquanto protege e aumenta oportunidades no futuro. Assuma-se que leva a um manejo de todos os recursos, de uma maneira que necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser satisfeitas enquanto a integridade cultural, processos biológicos essenciais, diversidade biológica e sistemas de suporte da vida são mantidos.?
Parabéns pela iniciativa e obrigada pela oportunidade.
Rosangela Xavier de Campos
Parabenizo ao André pela excelente entrevista, trazendo um volume considerável de informações importantes à sustentabilidade prática para desenvolvimento da atividade turística. O difícil em praticar a sustentabilidade está na execução dessa infinidade de detalhes indispensáveis ao perfeito gerenciamento do verdadeiro ecoturimo, definido em documento editado pelo MICtur;MMA;EMBRATUR;IBAMA (Direetrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo, 1994, p.19). Mas o exemplo citado demonstra a existência de um empreendimento que apresenta condições extraordinárias de habilitação e aproveitamento ecológico. Há que se ter esperanças.
Precisamos com urgência considerar a importância de atiutudes como estas. Não há mais tempo a perder. EStamos jogando fora o que pode ser melhor para todos nós. A sustentabilidade é o caminho… O brasileiro está precisando nascer de novo , recomeçar, repensar sues valores…
Foi oportuna essa entrevista, pois estou participando do treinamento Voluntariado Ambiental e o conteúdo acima veio agregar mais conhecimentos. Parabenizo o entrevistado por sua capacidade em transmitir informações técnicas de uma forma simples e assimilável.
Parabenizo ao André por essa importante abordagem do Turismo Sustentável. A experiência em Maruá mostra que esse é o caminho se quisermos que as gerações futuras possam usufruir dos recursos naturais existentes.
A Bíblia diz em Gênesis 2:15 ?Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Édem para o lavrar e guardar.? O que temos feito ao nosso planeta?
É necessário qua ações como essa se proligerem e que nós todos assumamos esse compromisso. Não há mais o que esperar.
A iniciativa de turismo sustentavel ´e de excelente iniciativa, precisamos trabalhar com consciencia a população, pois se não soubermos a importancia da conservação do meio ambiente, nada vai adinata tentamos implantar, pois vejo em minha regiâo a falta de conhecimento e de educação voltada para o meio ambiente.