A arquiteta Eneida Bueno Benevides é vice-coordenadora do Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE), da Universidade de Brasília (UnB), e nesta entrevista ao Mobilizadores COEP explica como o programa atua para a inclusão social dos alunos portadores de necessidades especiais dentro da universidade.
Mobilizadores COEP – Como e quando surgiu o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE) da UnB?
R. – A partir das demandas de alunos portadores de necessidades especiais, foi formada uma comissão multidisciplinar, que culminou com a criação do PPNE, em 1999, como um programa diretamente ligado à Vice-reitoria da UnB. O trabalho desenvolvido no programa visa estimular a permanência dos alunos com necessidades especiais, regularmente matriculados, na universidade. Eles fazem um esforço dobrado para entrar na UnB e, sem um apoio formal, muitas vezes acabariam desistindo.
Mobilizadores COEP – Quantos alunos integram o programa atualmente? Quais as maiores expectativas destes alunos?
R. – São 67 alunos cadastrados no PPNE, matriculados em diversos cursos; outros 33 já se formaram desde a implantação do Programa. O trabalho desenvolvido pelo PPNE tem a perspectiva de ouvir aquele que necessita da adequação, recebendo, muitas vezes, contribuição direta para a solução ideal ou possível. O objetivo é que a universidade esteja, o mais rapidamente possível, adequada em termos físicos, tecnológicos e humanos aos portadores de necessidades especiais.
Mobilizadores COEP – A equipe do PPNE é formada por profissionais de que áreas?
R. – A formação da equipe depende do tipo de ação; estamos sempre trabalhando de forma multidisciplinar. No núcleo da coordenação atual há profissionais de Pedagogia, Arquitetura e Assistência Social. Já os grupos de trabalho envolvem alunos, professores e funcionários da UnB, tendo entre eles profissionais de diversas áreas, como Jornalismo, Psicologia, Engenharia Mecatrônica, Advocacia etc. Vários destes profissionais possuem algum tipo de necessidade especial.
Mobilizadores COEP ? O trabalho dos estudantes é voluntário?
R. – O envolvimento dos estudantes na tutoria especial ? que está funcionando de forma experimental, mas será efetivada nos próximos dias ? pode ser voluntário ou remunerado, através de bolsa. Em ambos os casos, eles recebem dois créditos por sua participação. Geralmente os estudantes que participam da tutoria são escolhidos pelos próprios portadores de necessidades ou indicados por professores, de acordo com os critérios da resolução que institucionaliza o PPNE, para prestar o apoio solicitado.
Mobilizadores COEP ? Como o PPNE facilita a permanência dos alunos portadores de necessidades especiais na UnB?
R. – Realizamos ações que contam para o dia-a-dia destas pessoas. Por exemplo, se for preciso, providenciamos a troca de turma de alunos cadeirantes para salas mais acessíveis; lidamos com os tutores especiais; apresentamos, através de cartas, os alunos com necessidades especiais aos professores, informando-lhes o tipo de apoio que necessitam; atendemos à imprensa, dentre outras coisas. No caso dos portadores de necessidades especiais visuais, fornecemos apoio acadêmico aos estudantes de graduação e/ou pós-graduação através do LDV ? Laboratório de Apoio ao Deficiente Visual ?, onde podem ser feitas gravações, escaneamentos, digitalizações, impressões em braille, fotocópias ampliadas. O PPNE também promove cursos para a comunidade universitária, com o objetivo de informar, conscientizar e propiciar um convívio sem barreiras atitudinais entre as pessoas; e estuda transformações na parte física/arquitetônica e urbanística no campus da UnB para melhorar a acessibilidade física.
Mobilizadores COEP ? Você poderia citar algumas alterações feitas no campus da UnB para atender aos portadores de necessidades especiais?
R. – Estamos reformulando nossas calçadas e construindo novas, todas com inclinação adequada e rebaixamento de meios-fios. Além disso, as novas construções estão sendo projetadas de acordo com dicas do PPNE aos arquitetos envolvidos. Ás vezes, não reparamos que estamos construindo barreiras.
Mobilizadores COEP – Que tipo de mobilização o PPNE tem conseguido gerar?
R. – Posso dizer que, a cada dia, mais e mais interessados nos procuram. São alunos das mais diversas áreas, interessados em conhecer melhor a realidade das pessoas portadoras de necessidades especiais para relacionar exercícios das disciplinas que cursam com o tema. Por exemplo, alunos da disciplina Laboratório de Publicidade, da Faculdade de Comunicação, montaram, no segundo semestre de 2005, a campanha do ?Cidadão Especial, Seja Um?. Produziram peças publicitárias, debates, vivências, procuraram vários departamentos e fizeram parceria com a assessoria de comunicação da Reitoria, articulando um bom movimento estudantil em torno do tema. E o interessante disso tudo foi que eles inverteram a ótica vigente, apresentando o cidadão especial como aquele que respeita os direitos de cidadania da pessoa com necessidades especiais. Além disso, em breve, estaremos organizando uma ação conjunta com o Centro de Educação a Distância da UnB e firmando parcerias com outras entidades que atuam para a inserção social dos portadores de necessidades especiais.
Mobilizadores COEP – Os empregadores dizem que uma das grandes dificuldades para contratação de portadores de necessidades especiais é sua falta de qualificação. O PPNE tem informação de quantos dos alunos que passaram pelo programa estão inseridos no mercado de trabalho?
R. -Embora não façamos esta estatística após a conclusão da universidade, até onde sabemos, por retornos informais, quase 100% estão empregados. A maioria passou em concursos públicos, ocupando vagas especiais. Entre estes, vários são ainda estudantes. Acreditamos que estas pessoas, por sua bagagem de conhecimento e pela própria adaptação que tiveram no PPNE, informem os empregadores sobre suas necessidades de adequação para o bom desempenho de funções.
Mobilizadores COEP – Quais as novidades no PPNE para o ano de 2006?
R. – Com o ?start? ativado por uma verba do MEC/SESU, estamos implantando uma Biblioteca Virtual Sonora. A iniciativa está repercutindo bem dentro e fora da universidade, com outras instituições. Com certeza, o projeto renderá frutos valiosos para as pessoas portadoras de necessidades especiais, para os pesquisadores, estudantes, voluntários e sociedade em geral.
Iniciativas como esta devem ser divulgadas ao máximo, objetivando que sejam seguidas por outras escolas e univercidades, públicas e privadas.
Uma boa oportunidade para o MEC pegar como exemplo e levar para outras Universidades espalhadas pelo Brasil.