Mônica MacDowell, diretora-presidente da ONG Natal Voluntários, que reúne pessoas e empresas do Rio Grande do Norte, acredita que o voluntariado tem grande potencial de transformar da realidade social, desde que seja respaldado pelo compromisso individual e pela articulação de parcerias. Nesta entrevista ao Mobilizadores COEP, Mônica conta um pouco da trajetória da ONG Natal Voluntários, que em apenas cinco anos de existência já se tornou uma referência no país na mobilização da sociedade em torno de questões sociais.A ONG foi nomeada pela Youth Service America e Global Youth Action Network como Agência Nacional de Coordenação do Dia Global do Voluntariado Jovem no Brasil, até 2007. O evento, realizado anualmente em diversos países, celebra e incentiva o voluntariado jovem.Uma outra iniciativa do Natal Voluntários, o programa ?Tempo?, foi considerado pelaONU um dos projetos de voluntariado mais inovadores do mundo. O ?Tempo? se caracteriza por uma série de campanhas que abordam temas específicos e estimulam diferentes setores da sociedade a atuar de forma articulada, visando solucionar uma necessidade concreta, como a coleta seletiva de lixo, o combate ao caramujo gigante africano ou a construção de rampas de acesso às calçadas. O programa está atualmente na oitava edição.
Mobilizadores – O Natal Voluntários promove mensalmente, desde 2001, o Fórum de Responsabilidade Social. Ao longo desse tempo, você identificou mudanças no interesse dos empresários sobre os temas relacionados à área social? Em que aspectos houve maiores transformações na atuação social das empresas no Nordeste?
R. Lançado em 2001, o Fórum é um espaço para o debate de temas relacionados à responsabilidade social e ao investimento social privado e tem como objetivo incentivar a prática empresarial ética, consciente, solidária e estimular o investimento social privado. Por meio do Fórum de Responsabilidade Social, o Natal Voluntários e seus parceiros já trouxeram a Natal 32 renomados palestrantes, lideranças empresariais e sociais ? representantes de empresas e organizações destacadas pela sua contribuição para o desenvolvimento social. As experiências apresentadas, aliadas ao contexto nacional que vem discutindo uma participação mais efetiva das empresas na área social, certamente contribuíram para uma maior atuação das empresas do RN nessa área. Podemos citar um grande avanço com relação ao Voluntariado Empresarial com empresas e organizações como Cosern, Multidia, Marquise, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Tribunal Regional do Trabalho, Correios, Ecocil, entre outras que vêm estimulando seus funcionários a participarem de ações voluntárias na comunidade. Além disso, várias empresas têm demonstrado grande interesse em desenvolver ações sociais, razão pela qual em 2005 diminuímos a quantidade de edições do Fórum e estamos realizando em parceria com o GIFE, o curso Ferramentas de Gestão. Já realizamos 3 módulos desse curso e de mais de 60% dos participantes são provenientes do setor empresarial. São empresas que estão desenvolvendo programas sociais e estão buscando qualificar seus projetos.
Mobilizadores – O Tempo, promovido pelo Natal Voluntários em parceria com empresas e ONGs, foi considerado um dos projetos de voluntariado mais inovadores do mundo pela ONU. Nos fale um pouco sobre o que é esse programa e os fatores que têm sido determinantes para seu sucesso.
R. O Natal Voluntários busca, sobretudo, a formação de uma nova mentalidade da sociedade civil. Uma sociedade civil que se perceba como responsável porsua cidade e,por isso mesmo, se sinta capaz de transformá-la.A idéia central é despertar nas pessoas, em todos os segmentos da sociedade, a consciência e o sentimento da cidade como sendo sua e leva-las a entender que, por isso, cada um deve trabalhar dentro de sua capacidade e máxima potencialidade. O Tempo baseia-se na idéia de que somente aindignação não é suficiente.É preciso ação. Buscamos com o TEMPO uma ação conjunta entre todos os setores da sociedade. Identificamos uma temática e convidamos todos a participarem dando sua contribuição e buscando resultados concretos. Por exemplo, o 8º TEMPOprocura dar acessibilidade a todos nas calçadas. Cada um fazendo a sua parte, a sociedade caminha melhor. Assim, a população deverá construir rampas nas esquinas (o que está inclusive previsto em lei) e tirar os obstáculos das calçadas. Os motoristas serão advertidos e conscientizados de quea calçada épasseio público e que não podemestacionar sobre elas. A STTU – Secretaria de Trânsito e Transportes Urbanos dará treinamento aos grupos e acompanhará toda a ação e na semana seguinte atuará multando os motoristas que continuarem a cometer a infração. As Secretarias responsáveis pelos serviços urbanos relacionados ao tema estão sendo convidadas a participar, disponibilizando engenheiros, arquitetos e indicando os locais mais adequados e a maneira correta de se construir as rampas, e a Urbana que irá recolher os entulhos. E finalmente as empresas participam de diversas maneiras. Algumas doarão cimento, outras construirão rampas, outras divulgarão a campanha; enfim, o TEMPO é um programa de multiparcerias em que todos devem participar na solução dos problemas de todos.
Mobilizadores – Além do Programa TEMPO, o Dia Global do Voluntariado Jovem e a divulgação dos Objetivos do Milênio são alguns exemplos de mobilizações sociais promovidas pelo Natal Voluntários com bastante sucesso. A partir de sua experiência, o que você apontaria como fundamental para se mobilizar pessoas em torno de um programa ou de uma ação social?
R. Os 3 programas citados por você têm alguns aspectos em comum, ou seja, buscam resultados concretos, têm grande grau de articulação e procuram resolver problemasreais da comunidade. Acreditamos que esses aspectos são fundamentais para as ações sociais e possibilidades de programas continuados. O Dia Global do Voluntariado Jovem é uma oportunidade sensacional de despertar nos jovens o sentimento de que eles são hoje capazes de resolver problemas de suas comunidades. Os resultados de 2005 foram expressivos, como podem ser observado no relatório resumido que lançamose que está disponível no site (www.diaglobal.org.br/relatorio01.htm). A forma como o Natal Voluntários vem trabalhando os Objetivos do Milênio vai além da divulgação. Propõe que pessoas, organizações e empresas desenvolvam ações concretas que respondam positivamente às metas locais desses objetivos. No caso do indivíduo, o Voto do Milênio (http://www.natalvoluntarios.org.br/sistema/obj1.asp) apresenta sugestões de como cada pessoa pode se envolver diretamente nos diversos objetivos.
Diversas empresas já estão firmando parcerias conosco e com o PNUD para se engajarem em programas que atendam aos ODMs ediversas escolas já estão adaptando seus currículos, de modo a contemplar os ODMs.
Mobilizadores – Como tem evoluído no Rio Grande do Norte o envolvimento da população com atividades voluntárias? Há um descompasso entre as pessoas que desejam doar uma parte de seu tempo e de suas habilidades e as instituições que precisam desse trabalho voluntário? Que saídas você apontaria para incrementar o voluntariado?
R. No RN, o voluntariado tem se definido mais por ações diretamente voltadas para a comunidade. Certamente o Programa TEMPO contribuiu para essa tendência. Natal recebeu da ONU e do BID o prêmio “Cidade com Coração”, como resultado desse voluntariado urbano e com maior possibilidade de transformação, inclusive porque amplia o controle social. Claro que existe o voluntariado voltado para as instituições sociais e a expressão da solidariedade nesse tipo de trabalho é importante. O descompasso existente é basicamente devido ao fato de que o voluntário muitas vezes não tem a noção de que trabalho voluntário é coisa séria e que o compromisso, assumido livremente, deve ser cumprido. Por outro lado, certamente parte das organizações não está preparada para receber voluntários de forma profissional, nãooferecendo tarefas que desafiem o voluntário e dêem a oportunidade de eles perceberem que de fato são úteis. Além disso, muitas organizações não cobram dos voluntários posturas mais comprometidas, pois ainda entendem o voluntariado como favor e não como compromisso social.
Mobilizadores – O Natal Voluntários trabalha tanto com as empresas como com a sociedade civil. De que forma você acredita ser possível aproximar ainda mais esses dois mundos e levá-los a promover parcerias inovadoras? Que tipo de ações de parceria são possíveis e ainda não foram implementadas?
R. Todas as nossas ações e projetos procuram se basear em parcerias, preferencialmente entre os 3 setores. Claro que nem sempre é fácil. Tem sido um exercício diário. Na realidade, às vezes temos encontrado maiores dificuldades em realizar parcerias com outras organizações do terceiro setor. Pensamos que o importante é procurar definir interesses comuns, ou seja, que problema queremos resolver? Quem tem interesse em resolver esse problema? Quem pode contribuir na solução desse problema? Conosco tem funcionado dessa maneira. Procuramos os parceiros preferencialmente já indicando de forma objetiva o que esperamos deles e, claro, também estamos abertos a novas possibilidades. Com as empresas e com o governo têm funcionado assim. Cada um participa contribuindo com suas competências. Temos também atendido solicitações nessa lógica, dando nossa contribuição para diversos projetos de terceiros naquilo que está relacionado à nossa missão. Nossas experiências demonstram que parcerias focadas nas causas, e não apenas nas organizações, têm mais possibilidades de êxito.
Mônica, adorei saber que a ONG Natal Voluntários, está em destaque na Pagina do COEP, gostaria de informa que aqui em Nova Cruz/RN, existe um o Projeto do COEP, Algodão Tecnologia e Cidadania e está dando certo, está atuando em uma área de Assentamento da Reforma Agrária em Nova Cruz/RN, Associação do Projeto de Assentamento e Reforma Agrária “José Rodrigues Sobrinho”, estamos convidando para conhecer o Projeto.