As manifestações que começaram em um bar novaiorquino deram origem às Paradas LGBT que hoje acontecem pelo mundo.
Nos Estados Unidos, durante as décadas de 1950 e 60, o sistema legal/judiciário era abertamente contra o comportamento homossexual; à época, todos os estados americanos consideravam crime a “sodomia”, mesmo que o ato fosse consentido entre adultos – à exceção de Ilinois, que descriminalizou a sodomia em 1961.
A rebelião que ocorreu em Stonewall Inn, em Nova Iorque, no ano de 1969, não foi a primeira demonstração de descontentamento por parte de indivíduos LGBT, mas representou um marco na luta pelos direitos da comunidade.
O Greenwich Village, em Nova Iorque, era o bairro onde homossexuais e pessoas trans se reuniam à noite e o bar Stonewall Inn, que pertencia à máfia, era conhecido por sua popularidade entre os mais pobres e marginalizados da comunidade gay, como drag queens, transgêneros, jovens homens efeminados, sem-teto e michês. Portanto, era comum que acontecessem batidas policiais de surpresa no local.
Mas em 1969, as tensões entre LGBTs e a polícia culminaram em uma série de protestos que se repetiram por várias noites seguidas, ficando conhecidos como Stonewall Riots (ou “Rebelião de Stonewall”).
Drags, crossdressers, transgêneros e gays efeminados participaram ativamente dos levantes. Naquela época, a ideia de transgeneridade não era difundida, e a verdade é que mulheres trans eram confundidas com crossdressers, pessoas que se vestem como alguém do outro gênero. Por lei, no entanto, mesmo as crossdressers tinham que usar pelo menos 3 peças de roupas que indicassem seu gênero “de nascimento”.
Diz a lenda, foram as crossdressers as primeiras a resistirem fisicamente à força policial em Stonewall (em entrevista para o documentário Pay it no Mind: Marsha P. Johnson, o escritor David Carter revela que algumas testemunhas oculares lhe contaram ter visto Marsha gritar “Eu tenho meus direitos civis!” e jogar um copo no espelho, dentro do Stonewall Inn, e foi justamente esse o ato a deflagrar os protestos).
Contudo, essas pessoas são hoje, com frequência, deixadas à margem do movimento LGBT, por desafiarem um padrão de “respeitabilidade” estabelecido inclusive para homossexuais, que devem ser “discretos” e permanecer “no armário” socialmente.
O que aconteceu em Stonewall inspirou as pessoas LGBT a se organizarem para lutar por seus direitos. Um ano após os motins, em 28 de junho de 1970, aconteceram as primeiras marchas do Orgulho Gay (à época, o termo “gay” era usado para designar a todos os membros da comunidade, usado inclusive por manifestantes trans), nas cidades de Nova Iorque, Los Angeles, São Francisco e Chicago, em comemoração aos levantes. Posteriormente, as marchas foram organizadas em outras cidades e se espalharam pelo mundo, acontecendo preferencialmente em junho.
O ano de 2016 trouxe outro marco, dessa vez negativo, para o movimento LGBT, no mesmo mês em que celebramos Stonewall: o atentado à boate Pulse. Mais uma vez, somos lembrados que é preciso ter força para garantir a conquista de nossos direitos, muitos deles ainda negados por governos no mundo todo.
Se, infelizmente, até entre nós há os que insistem no discurso de “respeitar para ser respeitado”, é preciso que tenhamos em mente que LGBTs jamais foram respeitados, mesmo quando mantiveram posturas respeitosas de se omitir e se manter “dentro do armário”. Sendo assim, não é a invisibilidade que vai nos trazer conquistas.
A demonstração de carinho em público é uma forma de protesto para nós, LGBTs, que ainda afrontamos o sistema com nossa simples existência, como é possível notar pelos discursos conservadores e fundamentalistas que andam se propagando. Não podemos nos dar ao luxo de reprimirmos uns aos outros dentro da comunidade, pois é isso que querem de nós os que são contra nós – a separação dos grupos, a desunião, as tensões.
Fonte: Blastingnews