A socióloga espanhola Nerea Bilbatua, especialista em Direitos Humanos e Agente do Secretariado Internacional da Aliança Global contra o Tráfico de Mulheres, nos fala um pouco sobre o tráfico de mulheres e sobre o trabalho da Aliança Global contra o Tráfico de Mulheres/Global Alliance Against Traffic in Women (GAATW), onde coordena atividades em conjunto com o Clube de Membros da GAATW na América Latina e regiões do Caribe e Europa.
Mobilizadores COEP – Sabe-se que muitas fundadoras do GAATW são mulheres que tiveram experiências pessoais de migração e deslocamento e que tiveram contato com várias questões de violência contra mulheres. Que tipos de situações de violência têm sido recorrentes no contexto das mulheres migrantes?
R – Nós vemos a violência contra mulheres e a violação dos direitos humanos como questões muito interligadas. As experiências de mulheres, especialmente aquelas com desvantagens históricas (com menos escolaridade, de classes menos privilegiadas, de minorias religiosas e vítimas de racismo), no contexto da migração são freqüentemente relacionadas a problemas como serem enganadas ou sofrerem abusos psicológicos, emocionais e até físicos. Às vezes, elas podem não ser literalmente violentadas, mas seus direitos sociais, políticos e econômicos são violados. Mas também há experiências positivas para mulheres. A migração para trabalho está se tornando uma necessidade, o que leva muitas mulheres a migrarem dentro do país e para o exterior. Nosso trabalho se baseia na premissa de que se a decisão das mulheres é migrar, elas precisam ter sua segurança garantida.
Mobilizadores COEP – Que tipos de promessas são feitas às mulheres por agentes/recrutadores para convencê-las da migração (tráfico), tornando suascondições de trabalho insustentáveis?
R – Esta é uma questão interessante. Inicialmente, há uma necessidade ou desejo de ganhar dinheiro e há também uma falta de oportunidades no lugar de origem. Esta é a situação da qual os traficantes, recrutadores e agentes tiram vantagem. As mulheres não necessariamente necessitam de muito convencimento. Às vezes elas já ouviram falar sobre o tráfico, já foram alertadas de que pode ser perigoso, mas ainda assim se guiam pelos exemplos positivos. Elas esperam que a situação seja melhor no caso delas. Isso é normal: todos os dias nós ficamos sabendo de acidentes, mas isso impede que as pessoas dirijam? Muitos casamentos terminam em divórcio. Isso impede que as pessoas se casem? Todos nós sabemos que as coisas podem dar errado mas vivemos nossas vidas esperando o melhor e correndo riscos. Então, sim, mulheres recebem promessas de bons empregos, com bons salários e elas acreditam nessas promessas. Para algumas mulheres, a necessidade de ir a algum lugar para ganhar dinheiro é realmente forte. Para outras é também o desejo de fazer melhor, de ganhar mais
Mobilizadores COEP – Como o GAATW advoga por condições de trabalho e sustento que provenha às mulheres mais alternativas nos seus países de origem?
R – Se olharmos os setores em que as mulheres estão atuando, como o trabalho doméstico, em pequenas fábricas, em processamento de alimentos, em obras de construção, etc, vamos notar que neles não há garantias legais. Nós da GAATW tentamos advogar por reconhecimento e legalização do trabalho nessas áreas. Onde é viável, tentamos negociar com empregadores e educar as mulheres também. É um trabalho lento e freqüentemente muito frustrante, mas há bons sinais.
Mobilizadores COEP – O que você poderia citar como sendo positivo?
R – Reconhecimento do tráfico como violação dos direitos humanos; de ele acontece em diferentes situações como trabalho doméstico, casamento forçado, prostituição entre outras, e a aceitação da ampliação dos direitos das mulheres traficadas
Mobilizadores COEP – E os principais desafios percebidos?
R – Há muitos desafios. Achamos que o mais importante no momento é nos perguntarmos pelo que estamos lutando. Temos conversado sobre o que somos contra, mas não muito sobre o que queremos ver.O desafio hoje vem das políticas neoliberais dos Estados que criam inseguranças e perda de condições de vida e trabalho para muitas pessoas. Vem também da ineqüidade de gênero e entre pessoas, do racismo, bem como do medo e da suspeita contra migrantes que muitos Estados e pessoas têm.
Mobilizadores COEP – No que a GAATW está empenhada no momento?
R – Queremos analisar e compreender as contradições entre a batalha constante pela liberação do comércio de bens, decorrente do neoliberalismo, e a contínua restrição do mercado de trabalho entre países. Reforçar a idéia de que os migrantes contribuem para nossa economia mais do que tomam nossos empregos.
Considerando a falta de informação das mulheres dos seus direitos, beneficios em outros paises,onde pretendem trabalhar , passear ou mesmo casar; seria interessante que fossem fornecidas informações básicas de seus direitos nestes paises mediante cartilha ou folhetos onde fossem informados locais onde poderiam buscar ajuda e etc.Poderia ser a titulo de campanha quando mulheres fossem tirar seu passaporte, independente do seu motivo de viajem.
Há campanhas nos aeroportos internacionais destinadas a apoiar o combate ao tráfico de pessoas.
E há também organizações que trabalham especificamente com esta questão. O Projeto Trama é um exemplo, que possui, inclusive um passaporte onde existem informações relevantes relacionadas a esta questão (como telefones de consulados, ongs, etc). Em caso de necessidade, esses são os contatos da ONG: telefone: (21) 2507-6464,
e-mail: projetotrama@projetotrama.org.br