Por que, depois de passar por um primeiro processo de gravidez precoce, adolescentes engravidam pela segunda vez? Essa foi uma das questões que nortearam as discussões sobre gravidez precoce no 1º Congresso Internacional de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, que aconteceu no dia 22 de março, na cidade de São Paulo.
Segundo a médica e coordenadora do Programa Saúde do Adolescente da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, Albertina Duarte Takiuti, 60% das meninas que engravidam novamente possuem um novo parceiro. A segunda gravidez acontece, em média, de um a dois anos após o primeiro parto. “Essas meninas não conseguiram desenvolver um auto-cuidado, mesmo depois da primeira experiência”, explicou a médica.
Segundo Takiuti, os adolescentes e jovens cada vez mais conhecem os métodos contraceptivos e sabem da importância do uso de preservativos, no entanto, não seguem a recomendação de usá-los. “Para efetivar o uso dos métodos contraceptivos é preciso que os jovens consigam substituir o medo de dialogar por um pouco mais de segurança, interiorizando a importância do auto-cuidado para a sua proteção”, disse.
A médica afirmou ainda que os adolescentes e jovens necessitam de mecanismos facilitadores para que compreendam o que está ocorrendo com eles. Nesse sentido, ela cita as ações com esse objetivo promovidas pela Casa do Adolescente [projeto da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo para o atendimento especializado a adolescentes]. Na instituição, tanto meninas que nunca engravidaram quanto as que já passaram por alguma gestação participam de ações que visam fortalecer estilos de vida saudáveis, utilizando como ferramenta atividades artísticas, corporais e esportivas.
“Muitas vezes a gravidez surge como uma oportunidade de atrair atenções, do jovem ter seus quinze minutos de fama”, afirmou Chafi Abduch, médico urologista que atende os jovens pais na Casa do Adolescente. “A participação dos jovens em atividades desse tipo fortalece seu reconhecimento de outra forma. Ele passa a ser conhecido por ser protagonista de uma peça de teatro, por ser um bom artista, um bom bailarino. Ele muda seu foco de vida”, disse.
O médico destaca que 88% dos jovens pais não têm mais contato com seus filhos. Entre os 15 adolescentes que atende, apenas quatro ainda visitam o filho, mas nenhum mora na mesma casa que a criança. “Os jovens pais ainda utilizam discursos ultrapassados, como não saber se o filho é deles, como justificativa para não assumirem sua função de pai”, conta Abduch.
O médico destacou ainda que o machismo e a baixa auto-estima são fatores predominantes nos casos de gravidez precoce. Segundo ele, muitas das meninas ainda citam a intenção de “segurar o namorado” como justificativa para a gravidez. “Quando a menina não se sente desejada e capaz de encontrar pessoas que a amem, ela tenta se aproximar o máximo possível de qualquer pessoa que chega perto dela. E nesse sentido é muito fácil que ela caia nesse tipo de jogo”, disse.
Fonte: Aprendiz (http://aprendiz.uol.com.br), com base em matéria de Cassia Gisele Ribeiro.