Apatrona do Grupo Ação Social das Organizações e coordenadora geral da Pesquisa Ação Social das Empresas, Anna Peliano, fez uma palestra sobre o voluntariado durante o II Encontro Internacional – Capital Social, Ética e Desenvolvimento Sustentável, que a Federação das Indústrias do Estado de Minas Geraisrealizou nos dia 9 e 10 de maio, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG).
Anna Peliano lembrou que as empresas, no Brasil, estão buscando modificar o conteúdo de suas práticas sociais. Em paralelo à postura filantrópica tradicional, elas vão assumindo, gradativamente, novas responsabilidades e manifestam seu compromisso social com uma atuação mais agressiva e melhor estruturada. “Vem ganhando força a idéia de que a filantropia, associada no país a um sentimento humanitário e religioso, ainda que essencial, não é suficiente para o enfrentamento da pobreza e da exclusão”, afirmou.
Com base nos dados da Pesquisa, ela fez um paralelo entre o comportamento próprio da filantropia empresarial tradicional no país e aquele que caracteriza um maior engajamento sociale disse queos dirigentes empresariais mais comprometidos com a questão social se entendem responsáveis pelo enfrentamento dos problemas sociais e acreditam que todos na sociedade têm um papel a desempenhar. “Mais do que atender às demandas que lhes batem às portas, as empresas mais comprometidas têm uma participação proativa, apóiam projetos melhor estruturados, e buscam uma relação de parceria com seu público-alvo”.
A diretora do Ipea lembrou ainda que àmedida que a participação social evolui, ela é incorporada aos valores da empresa e partilhada com os trabalhadores, passando a fazer parte da missão institucional. “Verifica-se ainda um maior compromisso com os resultados e com a transparência dos projetos sociais. Neste sentido, a divulgação é percebida como um instrumento de prestação de contas à sociedade e de estímulo e multiplicação de experiências. Essas empresas tendem também a se aproximar do Estado e a estabelecer um novo padrão de relações com os órgãos governamentais, como forma de ampliar o alcance de suas ações e de manifestar sua responsabilidade com as questões públicas”.
Anna Peliano ressaltou que apesar dos avanços já observados, as empresas se ressentem de resultados mais efetivos na redução da pobreza. “Para alcançar resultados mais efetivos, as empresas precisam ir mais fundo na participação e enfrentar os desafios exigidos pela complexidade dos problemas sociais do país. Não basta desenhar e implantar bons projetos sociais. É preciso garantir espaços de participação ativa da sociedade na busca e no encaminhamento das soluções de seus problemas”. Ela lembrou ainda que a distribuição da riqueza requer a distribuição do poder e nas suas estratégias de atuação as empresas deverão estar atentas às possibilidades de promover o empoderamento das próprias comunidades. “Pelo fato de a iniqüidade ser um problema de ordem política as empresas precisam estender sua participação ao campo das políticas públicas exigindo mudanças e ajudando a construir uma agenda de compromissos sociais a ser assumida pelo Estado e pela sociedade”, observou.
Veja a seguir alguns números apresentados por ela, sobre o voluntariado no Brasil:
Voluntariado Empresarial
· Segundo pesquisa do IPEA, 59% das empresas privadas realizaram, em caráter voluntário, algum tipo de ação social para comunidade (?Pesquisa Ação Social das Empresas 1999/2002?).
· Essas empresas aplicaram em 2000, aproximadamente R$ 4,7 bilhões em ações sociais.
· Em 76% das empresas se declara que são as motivações humanitárias que movem o atendimento social.
Voluntariado nos Abrigos para Crianças e Adolescentes
· 64% dos abrigos contam com a colaboração de profissionais não remunerados.
· Os voluntários representam 35% do total de profissionais desses abrigos.
· 59% dos abrigos são dirigidos por voluntários.
· Um terço dos dirigentes voluntários trabalha em horário integral (acima de 40h /semana).
· Dois terços dos dirigentes voluntários participam de algum fórum ou conselho de políticas referentes a crianças e adolescentes
Voluntariado no Brasil
· 23% dos adultos no Brasil, o equivalente a 19,7 milhões de pessoas, doam alguma parte de seu tempo para ajudar a outros.
· A maioria desses voluntários ? 13,9 milhões de indivíduos ? presta serviços em instituições.
· A média de horas de trabalho doadas no país pelos voluntários é de 6 horas mensais.
· Nos Estados Unidos, considerados campeões do trabalho não remunerado, 49% dos adultos (ou 90 milhões de pessoas) doam, em média, cerca de 17 horas por mês
· Se esse trabalho fosse remunerado os recursos envolvidos seriam da ordem de R$ 7,8 bilhões em 2002. Este valor é equivalente ao total de recursos repassados pelo governo federal, naquele ano, para programas de transferência direta de renda.