Trabalhar com a criação de peixes e ter alternativas para aumentar a renda foi o que produtores de Paragominas aprenderam, em meados de julho, com técnicos da Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura (Sepaq), no Sítio Paraíso, a 24 quilômetros do centro da cidade.
O evento faz parte da programação do Mutirão Arco Verde Terra Legal, que prossegue com visitas técnicas e atendimentos sobre legalização fundiária. O Dia de Campo de Piscicultura e o plantio de mudas do Programa Um Bilhão de Árvores para a Amazônia foram atividades especiais do encontro na Região do Rio Capim.
Este é o terceiro dos 16 municípios paraenses selecionados para participar do mutirão, cujas medidas emergenciais atingem diretamente 92 municípios da Amazônia Legal, considerados campeões em desmatamento. Paragominas teve carvoarias fechadas durante a Operação Arco de Fogo, ação que reduziu a agressão à natureza, mas deixou trabalhadores desamparados.
Medidas que levem à geração de rendas e emprego, com desenvolvimento rural sustentável são metas dos governos estadual e federal, que pretendem evitar situações como a do lavrador João Mourão, um dos 12 participantes da atividade de campo. Ele reconhece que no seu sítio, onde mantinha uma carvoaria, não há mais floresta virgem.
Áreas degradadas pela pecuária e derrubada de árvores necessitam que o solo seja tratado com o maquinário correto e outros cuidados. A mecanização (retroescavadeira, trator etc), lembra o lavrador, é essencial para tratar este tipo de solo, como por exemplo no caso da retirada dos tocos, que restam nos locais de exploração madeireira.
Vizinho de Mourão, o lavrador Edivaldo Caldeira conta que preservou boa parte da mata de sua propriedade. Empolgado, ele assistia atento às explicações de Thiago Cruz e Bráulio José Silva, engenheiros de pesca da Sepaq. Privilegiado geograficamente com uma nascente d’água em um ponto alto de seu terreno, o produtor pensa em investir no novo ramo.
O apoio de órgãos oficiais é fundamental para o desenvolvimento da população e o aproveitamento correto de seus recursos naturais. Para se ter uma ideia, uma cabeça de gado no sistema extensivo precisa de 1 hectare, correspondente a 10 mil m², e de três anos para ficar no ponto de corte, alcançando o valor de cerca de R$ 4 reais/quilo.
Na mesma área, criam-se aproximadamente 10 mil peixes (um peixe por m²), que, em apenas uma ano, atingem o ponto de venda e são revendidos por uma média de R$ 5 reais (valor do tambaqui), alcançando o preço final de R$ 6 a R$ 8 reais. Em três anos, portanto, cerca de 36 mil quilos de peixe podem ser comercializados.
O piscicultor Silmar Sampaio é proprietário do Sítio Paraíso (Projeto de Assentamento Reunidas), pioneiro na atividade de piscicultura no município, iniciada em 1992, com seu pai, Eliezer Sampaio, que foi ao Maranhão adquirir conhecimentos básicos sobre o assunto. Com sete viveiros e dois berçários – onde cria carpa, curimatã, piauaçu e tilápia – o sítio de 2,7 hectares gera dois empregos diretos e cinco indiretos, com rendimento médio de 50 toneladas de peixe por ano.
Com o intuito de trocar experiências, desenvolver a piscicultura e gerar novos meios de trabalho, Silmar criou uma associação, em fase de legalização e com 14 sócios fundadores. “O objetivo é mostrar também o potencial produtivo da região. Queremos levar esta atividade para outras pessoas, como os madeireiros e pessoas que trabalham em grandes áreas”, comenta.
Piscicultor há 12 anos, Walney Rocha revela que já perdeu milhares de peixes pela inexperiência, mas não reclama: seu sítio de 3,5 hectares começou a produção com quatro tanques e, hoje, abriga oito viveiros. Para ele, a orientação técnica e o licenciamento ambiental são fundamentais.
“Estamos trabalhando nessa desburocratização. A LAS (Licença Ambiental Simplificada) está em fase final de regularização”, esclarece o engenheiro Thiago, acrescentando que a proposta é que o serviço sejá gratuito para produtores com áreas de até três hectares, que obedeçam aos critérios estabelecidos.
O lavrador Edivaldo Caldeira é presidente da Colônia Nova Vida, que abriga 50 famílias. Determinado a entrar no negócio, ele pretende aproveitar a água do subsolo para construir cinco viveiros. Melhorias que poderão ajudar também seu vizinho e as demais famílias da colônia, através de visitas da Sepaq e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que tem programação agendada para este mês.
Durante a exposição, todos aprenderam que os solos planos são mais favoráveis, bem como a qualidade, a temperatura e o PH da água, especialmente na transferência dos peixes do berçário para os viveiros. Também conheceram técnicas de sistemas de bombeamento, tipos de viveiro (escavado, semi-escavado e construído fora do chão) e de barragens. Outro destaque foi a maneira de lidar com espécies que se alimentam de outros peixes, como o tucunaré, a traíra e outros tipos de predadores (morcegos, aves etc).
O engenheiro Bráulio José ficou surpreso com a quantidade de espécies presentes na região, que, segundo ele, pode crescer muito com investimento e orientação técnica correta. Já Thiago Cruz acredita que é necessário, para alavancar o setor, apoio técnico e finaceiro, que poderá ser agilizado com a implementação da associação de piscicultores. Ele aposta que, em cinco anos, haverá um grande avanço da piscicultura na região.
*Com informações da Agência Pará/Luciane Fiuza